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quinta-feira, 9 de julho de 2009

A velha cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo



A velha cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo 
Por Orlando Tambosi



Charles Darwin manteve A Origem das Espécies na gaveta por 20 anos. Temia chocar a mentalidade religiosa de seus contemporâneos: a teoria da evolução demonstrava, afinal, que o homem é apenas um animal entre outros e, como todos os outros, evoluiu a partir de formas simples, através da seleção natural. Nenhum lugar especial está destinado a este parente próximo dos macacos (tão próximo que, sabe-se hoje, seus genes são 99% idênticos aos do chimpanzé). Conclusão: o homem não é, ao contrário do que dizem os textos bíblicos, um ser criado segundo algum "plano divino", mas resultado — como o próprio universo — de um processo cego, sem finalismo, submetido apenas a causas e leis naturais.

Enfim publicada em 1859, a explosiva obra de Darwin marcava o início de uma revolução nas ciências e de uma profunda revisão nas concepções filosóficas e religiosas, gerando persistentes e apaixonadas controvérsias.

A reação foi imediata. "O ateísmo esmagador cai sobre nós", bradavam os dogmáticos; a Bíblia deve ser interpretada e aceita literalmente, proclamava um documento assinado, em Oxford, por 11 mil clérigos anglicanos. A criação seria, daí em diante, o ponto central da discórdia e da rejeição do darwinismo pelas religiões cristãs, embora algumas delas jamais tenham assumido uma posição oficial sobre a evolução. É o caso, por exemplo, das igrejas anglicana, protestante e católica (esta excluiu a Origem do Índex de proibições).

Mas o fato é que, aos poucos, as reações ao evolucionismo tornar-se-iam menos hostis, pelo menos na Europa. Há religiosos que não vêem conflito entre a idéia da criação divina da vida e a evolução das espécies. Em outras palavras, não interpretam a Bíblia tão ao pé da letra.

Se os religiosos europeus, contudo, já não formam cruzadas contra Darwin e a teoria da evolução, o mesmo não acontece nos Estados Unidos, principalmente no sul. Lá, religiões aferradas à criação e ao fundamentalismo ainda acatam — contra todas as evidências científicas — as idéias do bispo Ussher, que proclamou em 1665, com base nas escrituras, que a Terra foi criada exatamente às 9 horas da manhã do dia 23 de outubro de 4.004 a. C.

Literalismo bíblico
Pouco importam os métodos de datação radioativa e os registros fósseis de milhões de anos (embora com lacunas, avidamente exploradas pelos antievolucionistas). Para os adeptos do criacionismo, ninguém pode saber o que realmente aconteceu, pela simples razão de que "não havia gente para observar". Isto significa que não há conhecimento dessas épocas e que a ciência só pode remontar ao início dos registros escritos. Pois ciência, como escreve Henry Morris — um dos velhos ideólogos do movimento criacionista — em seu Scientific creacionism (San Diego, Creation-Life, 1974), "significa conhecimento, e a essência do método científico é a observação experimental" (textos de ambos os lados da controvérsia podem ser encontrados na coletânea organizada e comentada pelo filósofo canadense Michael Ruse em But is it science? The philosophical question in the creation/evolution controversy, Amherst, Prometheus Books, 1996).

Basicamente, o que une os cristãos fundamentalistas norte-americanos em torno do criacionismo é a interpretação literal da Bíblia. O mundo teria começado tal como escrito nos primeiros capítulos do Gênesis, isto é, teria sido criado no espaço de 6 dias, e o Dilúvio seria um fato histórico, assim como a Arca salvadora de Noé.

Essa crença na criação fixou raízes na cultura popular. Uma pesquisa Gallup realizada em 1991 demonstrou que 47 por cento dos norte-americanos acreditam que Deus criou o homem na sua forma atual, num momento "entre os últimos 10 mil anos"; que 40 por cento acham que o homem se desenvolveu a partir de formas de vida menos avançadas há milhões de anos, mas "Deus guiou todo o processo, inclusive a criação do homem"; e que apenas 9 por cento acreditam que o homem evoluiu a partir de formas mais simples, mas "Deus não tomou parte nesse processo".

Por que, então, a controvérsia? Antes de tudo, pesquisas mostram também que a maioria dos cientistas se enquadra no ponto de vista naturalista dessa minoria de 9 por cento da população. É difícil imaginar algo que separe tão profundamente o cidadão comum do homem de ciência. Além disso, a ciência tornou-se uma força dominante na cultura contemporânea, ganhando respeitabilidade e acesso privilegiado às salas de aula da escola pública, em detrimento das religiões — motivos suficientes para que os criacionistas neguem e combatam o trabalho dessa minoria tão poderosa.

Trata-se de uma cruzada que, no curso deste século, tem renovado suas táticas e reciclado seus argumentos. Com um benefício, pelo menos: reavivou o velho problema filosófico da demarcação entre ciência e pseudociência.

A ciência no banco dos réus
Metodistas, batistas e presbiterianos dominaram a campanha antievolucionista nos EUA nas primeiras décadas do século XX. Somente nos anos 20 , mais de 20 legislaturas debateram temas antievolucionistas e quatro Estados (Oklahoma, Tennessee, Mississippi e Arkansas) baniram das escolas públicas o ensino da teoria darwiniana (ver Ronald Numbers, "The creationists", em But is it science?, cit., e Michael Shermer, Why people believe weird things, Nova Iorque, W. H. Freeman, 1997, parte 3).

Vale a pena rememorar, portanto, os principais passos dessa velha cruzada (não extensiva, é bem verdade, a todos os criacionistas) que acabou desembocando nos tribunais, um dos quais seria compelido até mesmo a definir em sentença o conceito de ciência.

Em 1923, Oklahoma aprovou uma lei oferecendo livros gratuitamente para as escolas, desde que nem os livros nem os professores mencionassem a evolução. No Tennessee, em 1925, o Butler Act proibiu o ensino de qualquer teoria que negasse "a história da Divina Criação do homem" (de acordo com a Bíblia), o que foi interpretado como uma violação das liberdades civis (o célebre "Caso Scopes"). A lei, no entanto, só seria revogada em 1967.

Nos anos 60 e 70, entra em campo uma nova geração de criacionistas, que passou a demandar igual tempo para Darwin e para o Gênesis nas escolas. Argumento: a evolução é "apenas" uma teoria, não um fato. A Creation Research Society, fundada em 63, toma a linha de frente das organizações criacionistas e consegue aprovar em algumas legislações a exigência de que os livros escolares incluíssem a advertência de que "a origem e criação do homem e seu mundo não é um fato científico". A Bíblia era designada, uma vez mais, como texto de referência. A Associação Nacional do Professores de Biologia recorre e vence na Suprema Corte em 68.

Os criacionistas, então, mudam de estratégia. Já que a teoria da evolução não podia ser banida, passam a lutar por igual tempo para a "creation-science" e para a "evolution-science". É aqui que entram em cena o citado Morris e seu fiel escudeiro Duane Gish (um PhD em bioquímica, astro dos debates antievolucionistas), organizando o Creacion-Science Research Center, em 72, junto ao Christian Heritage College de San Diego, na Califórnia.

Nos dois anos seguintes, eles espalham os livretes Science and Creation (destinados a alunos de 1.a a 8.a séries) em 28 Estados. A "ciência da criação", sustentavam, deve ter proporcionalmente o mesmo espaço reservado à "ciência da evolução" nos currículos escolares. Ao mesmo tempo, o CSRC desenvolve campanhas em que atribui ao evolucionismo a "decadência moral dos valores espirituais", a "destruição da saúde mental" e o aumento dos divórcios, do aborto e, até, das "doenças venéreas"! (R. Numbers, coletânea citada).

Popper, Kuhn, Feyerabend...
Na defesa da "criação" como alternativa à "ideia de evolução", os criacionistas costumam citar filósofos como Karl Popper (para desgosto do próprio), Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, os dois últimos, curiosamente, caros também à "esquerda acadêmica" nova-iorquina, em geral relativista, multiculturalista e "desconstrucionista" (guardadas as diferenças, o que une criacionistas e "pós-modernistas" é uma visão ideológica das ciências).

A epistemologia popperiana, como se sabe, exige que as teorias científicas sejam falseáveis, isto é, a teoria só é cientifica se um fato ou observação puder refutá-la. O filósofo, aliás, chegou a afirmar que o darwinismo é um "programa de pesquisa metafísica", ao invés de teoria científica passível de prova (cfr. sua Autobiografia intelectual, SP, Cultrix, 2a. ed., 1986). Os criacionistas aplaudem, mas omitem o fato de que Popper reviu sua posição em carta à revista New Scientist (1980), reconhecendo que a evolução da vida na Terra é testável e, portanto, científica.

Kuhn, por sua vez, definiria (em A estrutura das revoluções científicas, SP, Perspectiva, 1976) o progresso científico como competição entre modelos ou paradigmas , termo que virou moda na área de Humanidades. Os criacionistas não perderam a oportunidade: modelo por modelo, não havia razão para que o "paradigma da criação" não competisse, em igualdade de condições, com o "modelo da evolução". A tática deu certo: Arkansas e Lousiana, além de comitês de educação de outros Estados, adotariam o argumento dos "dois modelos". Outro caso (McLean vs. Arkansas) que foi parar nos tribunais.

O relativismo radical de Feyerabend foi, igualmente, providencial para a "ciência da criação". O autor do célebre Contra o método igualaria a ciência aos mitos, ao vodu, à bruxaria e à astrologia. Sua teoria do "vale-tudo" ajudou a devastar muitas áreas das chamadas ciências sociais e, é claro, serviu como luva aos fundamentalistas religiosos: Feyerabend chegaria a defender-lhes o direito de terem sua versão da criação ensinada nas escolas públicas lado a lado com a teoria de Darwin (ver O fim da ciência, de John Horgan, SP, Cia. das Letras, 1998).

Ciência definida (e defendida) no tribunal
O caso do Arkansas foi julgado em 81, contando com testemunhas como o paleontólogo Stephen Jay Gould (vários livros traduzidos no Brasil), o biólogo e geneticista Francisco Ayala e o filósofo Michael Ruse, entre outros. O juiz federal William Overton proferiria uma sentença memorável (reproduzida em But is it science?, cit.) em que, definindo o que é ciência, concluiu que o conceito era inaplicável à autodenominada creation-science.

Descritivamente — escreve Overton —, "ciência é o que é aceito pela comunidade científica" e "o que os cientistas fazem". E completa: "mais precisamente, as características essenciais da ciência são: 1) é voltada para as leis naturais; 2) deve ser explicativa em relação às leis naturais; 3) é testável no mundo empírico; 4) suas conclusões são provisórias, isto é, não constituem necessariamente a palavra final; e 5) é falsificável".

São características que faltam à "ciência da criação", explica o juiz, porque esta faz referência a uma intervenção sobrenatural, a um Criador que teria gerado o universo a partir do nada (creatio ex nihilo), ou seja, conforme escrito nos primeiros 11 capítulos do Gênesis. A creation-science é, na verdade, religião, posto que seus argumentos não são explicativos em relação à natureza, não são testáveis nem falseáveis. Em poucas palavras, pertencem ao terreno da fé. Era inconstitucional, portanto, a lei do Arkansas, por violar a separação constitucional entre Estado e religião.

Duplo erro, o dos criacionistas: ao pretenderem estatuto científico para seus dogmas e ao definir a evolução como evolution-science. Como lembra Ruse, isto não faz sentido, pois não existe no mundo tal disciplina científica. O corpo de conhecimentos que eles assim denominam abrange ciências tão diversas como a astronomia, a cosmologia, a geologia, a biologia, a paleontologia, a química, a física e a botânica.

Isto não implica, obviamente, que a teoria da evolução não seja científica. O próprio Papa João Paulo II reconheceria, em mensagem à Academia Pontifícia de Ciências (22/10/96), que a teoria darwiniana "é bem mais que uma hipótese", sendo hoje aceita amplamente pelos pesquisadores em decorrência das "descobertas em vários campos do conhecimento". A convergência dos resultados de trabalhos conduzidos independentemente, observa ele, "é por si mesma um argumento significativo em favor dessa teoria". Embora, coerentemente com sua doutrina, o Papa ressalve que, se o corpo humano tem origem em substâncias preexistentes, "a alma foi imediatamente criada por Deus".

Os mecanismos da evolução
O que os cientistas entendem por evolução, resume Ruse, é a explicação de como a vida se desenvolveu depois de sua formação: não é objetivo da teoria evolucionária explicar como a vida começou. Além disso, é importante distinguir, em relação ao termo evolução, o acontecimento evolução do modo como aconteceu (o que os criacionistas confundem). Nenhum cientista nega que a evolução seja um fato; o que se discute é como aconteceu, ou seja, quais os mecanismos da evolução.

Criacionistas que admitem de algum modo a evolução — porque é impossível negá-la absolutamente —, limitam-na à evolução interna às espécies (não aceitando sua ocorrência entre espécies). Rejeitam, em conseqüência, que os seres vivos do planeta descendem de um único ancestral, como está inscrito no código genético, literalmente idêntico em todos os animais, plantas e bactérias. Apesar de diferirem em detalhes superficiais, todos eles "são variação do tema DNA e as 30 milhões de maneiras pelas quais ele se propaga" (ver, por ex., de Richard Dawkins, inimigo número 1 dos criacionistas, O rio que saía do Éden, Rio de Janeiro, Rocco, 1996, e A escalada do monte improvável, SP, Cia. das Letras, 1998).

O próprio Darwin fez conjecturas também sobre como aconteceu a evolução, sugerindo que o mecanismo mais importante foi a seleção natural. Sua argumentação, sucintamente: a) as populações tendem a crescer indefinidamente em proporção geométrica; b) num ambiente natural, porém, o número populacional estabiliza-se em certo nível; c) ocorre uma "luta pela existência", porque nem todos os organismos produzidos podem sobreviver e se reproduzir; d) há variação — lenta, gradual — em cada espécie; e) na competição pela sobrevivência, os indivíduos com variações que são mais adaptáveis ao ambiente deixam mais descendentes que os menos aptos. Sobrevivem, portanto, os que conseguem transmitir com êxito seus genes para a geração seguinte.

Quanto à seleção natural, porém, há discordância entre os cientistas. Alguns consideram mais importante o mecanismo da especiação [formação de uma ou mais espécies a partir de espécies existentes, por ex., por anagênese (transformação de uma espécie em outra)]; outros, como Niles Eldredge e Stephen Jay Gould, propõem a teoria do "equilíbrio pontuado", que, negando o gradualismo darwiniano, sustenta que a evolução envolve mudanças rápidas e estase, como se ocorresse aos solavancos; outros, ainda, consideram que o "puro acaso" pode ser um importante fator (ver Ruse e Shermer, citados, e Ernst Mayr, Toward a new philosophy of biology, Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1988). Nas ciências, como se vê, a crítica e a discordância são fundamentais: conjecturas e refutações, como dizia Popper — o oposto do dogmatismo religioso/criacionista.

É claro que, 140 anos depois da publicação da Origem, alguns princípios básicos da obra foram refinados, graças ao impressionante desenvolvimento de ciências como a biologia e a genética moleculares, que vão além do neodarwinismo ou "Nova Síntese" (fusão da genética mendeliana com a teoria darwiniana, entre os anos 20 e final dos 50). As descobertas da genética molecular, nos últimos anos, conduziram a uma outra síntese: conhece-se agora a natureza química do gene, que propiciou uma visão dos processos evolucionários em nível molecular.

Isto comporta, segundo Ayala, notáveis vantagens em relação à anatomia comparativa e outras disciplinas clássicas. A informação "é mais facilmente quantificável: o número de aminoácidos ou nucleotídeos que são diferentes é prontamente estabelecido quando a seqüência de unidades numa proteína ou ácido nucléico é conhecida para vários organismos". É o que acontece, por exemplo, com a seqüência de aminoácidos do citocromo c, que já foi determinada em vários organismos, da bactéria aos insetos e aos seres humanos, fornecendo uma representação clara de como se processou a história evolutiva desses organismos (Ayala, "The mechanisms of evolution", em But is it science?, cit.).

Dawkins, o darwinista ortodoxo que os criacionistas tanto abominam, reitera o exemplo de Ayala. Não há dúvida, comenta ele, de que "os textos de ADN retirados de representantes de espécies diferentes têm sido comparados com grande sucesso, letra por letra, para reconstruir as árvores de família das espécies" — com a possibilidade, inclusive, de estabelecer datas para as ramificações (a controvertida teoria do "relógio molecular", que supõe que as mutações em qualquer parte do "texto" do código genético ocorrem a uma taxa constante por milhão de anos).

Em relação ao citocromo c, "o parágrafo" nos nossos genes que descreve essa proteína tem 339 letras. Esclarece Dawkins: "Doze trocas de letras separam o citocromo c humano do citocromo c dos cavalos, nossos primos muito distantes. Apenas uma troca de letra no citocromo c separa os humanos dos macacos (nossos primos bastante próximos), uma troca de letra separa os cavalos dos jumentos (seus primos muito próximos) e três trocas de letras separam os cavalos dos porcos (seus primos um tanto mais distantes). Quarenta e cinco trocas de letras separam os humanos do levedo e o mesmo número separa os porcos do levedo. Não é surpresa que estes números sejam os mesmos, pois, à medida que subimos o rio que conduz aos humanos, ele reúne-se ao rio que conduz aos porcos muito antes de o rio comum a humanos e porcos se juntar ao rio que conduz ao levedo" (O rio que saía do Éden, cit.).

O verme nematóide, por exemplo, está mais próximo do ser humano do que poderia imaginar alguém que considera aviltante até a proximidade genética com os macacos. A empresa norte-americana Genomium Sequencing Consortium concluiu, em dezembro último, depois de oito anos de pesquisa, o mapeamento completo dos genes desse verme, o primeiro animal a ser completamente desvendado. A conclusão é espantosa: de cada cinco genes do nematóide — ou Caemorhabditis elegans —, dois existem também no homem. Não é pouco, já que seu corpo tem apenas 959 células, enquanto o humano tem 50 trilhões. Habitante do solo, o nematóide tem pouco menos de 20 mil genes, ou seja, três vezes mais que as bactérias e cinco vezes menos que o ser humano (aproximadamente 100 mil).

Todos os mecanismos aqui mencionados excluem o finalismo. Trocando em miúdos, não há um sentido evolucionário. Evolução não quer dizer "progresso" das espécies, nem tampouco significa que o homem seja o ser mais complexo da Natureza, se por isso se entende a complexidade mental. O fato é que não há uma tendência geral de evolução para cérebros grandes.

Como lembra Gould (entrevista a La Recherche, setembro/97), existem mais espécies de bactérias que de animais multicelulares, e mais de 80% das espécies multicelulares são insetos. "Não se pode dizer que o crescimento da complexidade mental caracterize a evolução", mesmo porque, "das quase 4 mil espécies de mamíferos, apenas uma é consciente de si mesma". O traço mais fundamental da "árvore da vida", conclui o paleontólogo, "é a constância da vida bacteriana" — e bactérias e vírus, aliás, evoluem mais rapidamente que nós.

"Intelligent Design", o retorno
A mais recente versão da cruzada antievolucionista, batizada de "Intelligent Design" (idéia antiga, como veremos), tenta agora fixar raízes em universidades seculares. Dela participam intelectuais e líderes políticos conservadores — muitos deles ligados à direita cristã fundamentalista — como Irving Kristol, William Buckley, Jr., Robert Bork, Walter Bradley e Philip Johnson (ver, de Ronald Bailey, "Origin of the specious. Why do neoconservatives doubt Darwin", em Reason magazine, julho 97). Juntam-se ao coro biólogos, matemáticos e bioquímicos como David Berlinski, William Dembsky, Jonathan Wells, Michael Denton e Michael Behe — este, no momento, o mais incensado (por seu livro A caixa preta de Darwin, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997).

Alguns negam ser criacionistas, alegando que se interessam apenas pela existência de um "projeto inteligente" no universo, mas não por um designer (isto é, um Criador). Rejeitam a interpretação literal da Bíblia, a idéia de que a Terra é jovem e até aceitam alguma forma de evolução, desde que complementada pelo "projeto inteligente". São todos, em realidade, criacionistas envergonhados, já que ativos e assíduos participantes em conferências e encontros promovidos por organizações religiosas norte-americanas.

Analisemos com brevidade alguns argumentos dos líderes mais expressivos do movimento. Philip Johnson, professor de Direito Penal na Universidade da Califórnia/Berkeley, é menos conhecido por seus estudos jurídicos que por seus livros contra Darwin e a teoria da evolução, entre eles Darwin on trial (InterVarsity Press, 1991), que exerceu grande influência no recente deslocamento da cruzada rumo à academia.

Seu propósito pode ser resumido na fórmula "naturalismo = materialismo = ateísmo", já que a ciência "declara que a natureza é tudo, e que da matéria veio tudo o que existe". Daí os ataques a Dawkins (de novo), a Carl Sagan e outros "mercadores do ateísmo", cuja agravante é escreverem com clareza e, por isso, serem convincentes. Contra estes, é preciso "preparar a próxima geração de pensadores para que compreendam a diferença entre ciência real e filosofia materialista".

Percebe-se que o advogado e professor Johnson tem pouco apreço pelos dados da biologia evolucionária e molecular ("protegem o materialismo"), da paleontologia, da genética, da embriologia, etc. Na sua visão, a ciência foi "capturada" por uma ideologia a ser desbaratada, o materialismo/naturalismo. "Um por um, os grandes profetas do materialismo revelaram-se falsos profetas e foram deixados de lado. Marx e Freud perderam seu estatuto científico. Agora é a vez de Darwin" — proclama Johnson. O principal objetivo da cruzada para o próximo milênio, por ele traçado, é "separar a filosofia materialista das ciências empíricas" — o evolucionismo seria, no máximo, uma filosofia.

Quanto à militância do autor em favor do teísmo (crença típica da tradição judaico-cristã num Deus pessoal, onisciente e onipotente, criador de tudo o que existe), basta consultar How to sink a battleship: a call to separate materialist philosophy from empirical science, palestra pronunciada na Mere Creation Conference, realizada em Los Angeles, em 1996, sob os auspícios da Campus Crusade for Christ e dirigida por Rich McGee, um especialista em "Velho Testamento" e diretor da International Expansion for Christian Leadership Ministries (este e outros textos aqui referidos estão disponíveis on-line, no endereço ). Entre os membros do comitê diretor da conferência, vale notar sem surpresa, os já citados Michael Behe, Walter Bradley, William Dembsky e, claro, Phil Johnson, que retomaria as argumentações mais tarde, em artigo na Boston Review (fevereiro/março 97), sob o título "Dogmatic materialism".

Proposta do encontro: formular uma alternativa ao naturalismo científico e unir pesquisadores teístas contra o secularismo, dominante nas universidades e nas ciências, além de marcar uma posição sobre as "origens" — calcada, precisamente, no slogan "mera criação" — que possa ser amplamente aceita pelos cristãos. Para tanto, criou-se o jornal Origins & Design, ligado aos "ministros de Cristo" nos campi, que incentivam professores e alunos a assinar uma "Declaração de fé" em que afirmam sua crença na "inspiração divina e na autoridade da Bíblia"; na "divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo" e no "fato histórico de Sua ressurreição corporal"; "na presença e no poder do Espírito Santo em prol da regeneração"; e na "expectação do retorno pessoal do Senhor Jesus" (ver o site da Leadership University, em ).

Para a "grandiosa tarefa" de separar as ciências empíricas da "filosofia materialista", Johnson apela a todos os que possuem "retidão de espírito". "Se você é um cientista", conclama ele, "você pode seguir os passos de Michael Behe" e outros que não se rendem aos "preconceitos materialistas". "Se você é um filósofo", prossegue, "você pode encorajar seus colegas a falar contra outros filósofos e cientistas que abusam de sua autoridade promovendo filosofias dúbias como se fossem empiricamente confirmadas".

E, por fim, faz uma exortação a seus colegas advogados, cuja missão é persuadir os juizes de que "os princípios constitucionais da liberdade de expressão se aplicam à crítica do naturalismo evolucionário", posto que "muitos juizes têm a idéia de que a crítica do naturalismo e do materialismo é 'religião', e, portanto, deve ser proibida nas instituições públicas".

Em relação a Johnson, fiquemos por aqui. Sua ideologia, de motivação nitidamente religiosa, não necessita de mais exemplos.

Do relógio de Paley à "caixa preta" de Darwin
O bioquímico Michael Bee (Universidade de Lehigh, na Pensilvânia) é o mais novo astro das conferências criacionistas — embora afirme não ser um deles — por içar novamente a bandeira do "Planejamento Inteligente", sob o argumento de que alguns sistemas da Natureza são "demasiado complexos" para terem surgido por evolução. Apesar de filosoficamente antigo, o argumento dá nova vida à dicotomia "teísmo versus materialismo" empunhada pelos "ministros de Cristo", que vêem a sociedade cindida na luta entre essas duas vertentes (cf. o artigo "Anti-evolutionists form, fund Think Tank: old-Eart moderates poised do spread Design Theory", de Eugenie C. Scott, diretor do National Center for Science Educacion, que congrega professores de ciências e que há anos vem desenvolvendo atividades fundamentais na controvérsia creacion/evolution).

O Design Argument remonta, na tradição cristã medieval, às chamadas "provas da existência de Deus" (ontológica, cosmológica e teleológica), discutidas sobretudo por Tomás de Aquino (1221-1274). Trata-se, na verdade, do Argumento Teleológico, cuja versão popular foi elaborada pelo teólogo inglês William Paley (1743-1805) em sua obra Natural Theology, que, em sua passagem mais famosa, convida o leitor a imaginar uma caminhada por uma charneca.

"Suponhamos" — escreve o reverendo — "que bati com o pé numa pedra, e alguém me perguntou como a pedra chegou ali. Eu bem poderia responder que (...) ela poderia ter estado ali desde sempre; e talvez não fosse muito fácil demonstrar que a resposta era absurda. Mas suponhamos que eu tivesse encontrado um relógio no chão, e alguém me perguntasse como ele havia chegado ali. Eu dificilmente pensaria na resposta que dei antes, que, por tudo que sabia, o relógio devia ter estado ali desde sempre. Ainda assim, por que essa resposta não serviria para o relógio, assim como havia servido para a pedra?".

Paley faz essa distinção entre objetos do mundo natural e objetos manufaturados para concluir que, examinado o relógio e percebidas a ordem e regularidade de suas engrenagens, só se pode inferir "que o relógio tinha que ser obra de um criador — que deve ter existido, em algum tempo e em um ou outro lugar, um artífice, ou artífices, que o construíram para tal finalidade (...), que compreenderam sua construção e planejaram seu uso" (trechos cits. por Behe, em A caixa preta de Darwin, e por Dawkins, no livro The blind watchmaker, Nova Iorque, W. W. Norton, 3a. ed., 1996, em que resume: se há um relojoeiro, trata-se de um "relojoeiro cego", como demonstra a seleção natural).

A propósito do Argumento Teleológico — que no século XVIII integrou o projeto de uma aproximação entre religião e ciência experimental —, convém recordar que foi submetido a cerrada crítica já pelo filósofo escocês David Hume (1711-1776), na obra póstuma (e sua predileta) Diálogos sobre a religião natural, escrita nos anos 50. Por sua vez, o "idealista" Kant (1724-1804), que não pode ser acusado de espírito anti-religioso, devastaria as três provas metafísicas da existência de Deus — e, com elas, boa parte da filosofia (ou metafísica), de Platão a Leibniz.

Nada disso perturba o bioquímico Behe, que, apesar de criticar Paley, a quem atribui "exemplos medíocres de planejamento", acaba por afirmar que o teólogo "freqüentemente acerta em cheio". Behe atribui a si próprio as provas definitivas em favor do design, "em face da enorme complexidade que a bioquímica moderna descobriu na célula". O resultado desse esforço de investigação da vida no nível molecular, diz ele, "é um alto, claro e agudo grito: 'planejamento!'". Tal trabalho, pontifica, "é uma das grandes realizações da história da ciência". E, pouco modesto, conclui: "a descoberta se compara às de Newton e Einstein, Lavoisier e Schrödinger, Pasteur e Darwin".

A ratoeira de Behe
A inspiração confessa de Behe (cf. entrevista reproduzida em ) são os livros de Philip Johnson (Darwin on trial) e de Michael Denton, que escreveu Evolution: a theory in crisis (Bethesda, Adler & Adler, 1985), em que considera a descendência dos seres vivos de um ancestral comum apenas "uma hipótese altamente especulativa", sem suporte fatual direto. Embora admita que a "microevolução" seja um fato comprovado, Denton sustenta que não há evidências quanto à "macroevolução" — uma tese compartilhada por Behe e, obviamente, também festejada pelos criacionistas.

Os dois autores antievolucionistas exerceram "forte impacto" sobre Behe. O livro de Denton foi particularmente significativo porque, diz ele na entrevista, "critica a evolução sob um um ponto de vista inteiramente científico" e, "como cientista, eu quero chegar a conclusões sobre o mundo físico a partir da experiência". Como "católico romano", entretanto, ele acredita que "Deus criou o mundo e é responsável pela vida nele", mas afirma não cultivar "objeções teológicas a priori em relação à vida ter sido produzida por processos completamente naturais". Diante de tais declarações, fica difícil dizer que Behe não seja criacionista.

O argumento central do bioquímico no livro — bem escrito e informado, por sinal — é o da "complexidade irredutível". Um sistema "irredutivelmente complexo, explica, "é um sistema único composto de várias partes compatíveis, que interagem entre si e que contribuem para sua função básica, caso em que a remoção de uma das partes faria com que o sistema deixasse de funcionar de forma eficiente". Um sistema de tal complexidade "não pode ser produzido diretamente (isto é, pelo melhoramento contínuo da função inicial, que continua a atuar através do mesmo mecanismo) mediante modificações leves, sucessivas, de um sistema precursor" (p.48).

O exemplo favorito de Behe é a ratoeira. Ela tem uma função simples (pegar ratos) e possui várias partes (uma plataforma, uma trava, um martelo, uma mola e uma barra de retenção). Se qualquer dessas partes for removida, o aparelho não funciona. Portanto, é irredutivelmente complexo (um automóvel, em contrapartida, pode funcionar com os faróis queimados, sem as portas, sem pára-choques, etc.).

Conclusão: sistemas irredutivelmente complexos constituem "sérios obstáculos à evolução darwiniana". O problema, para o darwinismo, é que ele requer que cada passo, na evolução de um sistema, seja funcional e adaptativo.

O mundo da bioquímica, segundo Behe, está cheio de exemplos de sistemas irredutivelmente complexos, como a visão, a coagulação do sangue, a célula e o transporte celular. Trata-se de máquinas químicas finamente delineadas, com precisão extrema e interdependentes. A teoria darwiniana, para o autor, é incapaz de explicar a base molecular da vida. Máquinas como a célula não podem ter se desenvolvido à maneira darwiniana. São uma verdadeira "caixa preta", cujo funcionamento interno "continua misterioso". Portam a assinatura de um designer inteligente.

Graças a Behe e à bioquímica, assistimos a nada menos que uma nova revolução copernicana: "a observação de que houve planejamento inteligente da vida é tão importante quanto a observação de que a Terra gira em torno do Sol ou que doenças são causadas por bactérias, ou ainda que a radiação é emitida em quanta"!

Desarmando a ratoeira
Da parte dos cientistas — especialmente os biólogos moleculares — não faltaram críticas ao bioquímico especulativo que retoma o Design Argument, por mais que proclame não se preocupar com um designer. O problema é que ele considera científicas algumas conclusões que são, na melhor das hipóteses, filosóficas. O católico Behe, que já tem "a Verdade" como ponto de partida, acha que seus colegas abertos ao ceticismo — tão necessário às ciências — é que são dogmáticos. Falta pouco para, como o padrinho Phil Johnson, bradar contra o "materialismo ateu" dos métodos científicos.

Allen Orr, por exemplo, afirma que um sistema "irredutivelmente complexo" pode, sim, ser construído gradualmente pela adição de partes que, de ínicio, são meramente auxiliares, mas que, devido a mudanças posteriores, tornam-se essenciais. A lógica, diz ele, é bastante simples. Uma parte A serve (ainda que não muito bem) a alguma função. Uma outra parte, B, é adicionada para auxiliar ou melhorar a primeira. Mais tarde, A pode mudar de modo tal que B se torne indispensável — um processo que continua até formar-se um sistema completo, para o qual muitas outras partes podem ser requeridas.

Não há garantia de que esses acréscimos ou melhoramentos — eis o ponto — permaneçam sendo meros acréscimos: podem tornar-se essenciais. Basta pensar na programação de computadores. Linhas de código são adicionadas sucessivamente a um programa, até que ele funcione de modo satisfatório, de modo que pode tornar-se difícil ou impossível reconstruir, passo a passo, o caminho ou origem — até mesmo pelo programador. O sistema construído pode, assim, tornar-se irredutivelmente complexo. Mas essa "complexidade irredutível" não invalida a evolução gradual, e o mesmo ocorre com os processos bioquímicos (Orr, "Darwin vs. Intelligent design (Again)", Boston review (dez/96-jan/97).

Em outras palavras, embora não possamos reconstruir o caminho de muitos sistemas, processos e coisas, isto não significa que tenham surgido prontos, perfeitos, designados desde o início por um ser consciente para cumprir uma finalidade — seja um Deus, seja um ET.

Mencione-se também a resenha do biólogo Jerry Coyne, do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago, na revista Nature ("God in details", 19/set/96). Depois de considerar A caixa preta de Darwin a versão mais sofisticada da creation-science e dizer, "horrorizado", que não se reconhece na "citação seletiva" feita no livro, Coyne aponta algumas contradições de Behe. Como pode ele admitir, por exemplo, a "microevolução" e a teoria de que os seres vivos têm um ancestral comum, e, ao mesmo tempo, negar a "macroevolução"? E, finalmente, como aceitar a teoria de Behe de que criação e evolução podem ocorrer conjuntamente em nível molecular?.

Por essa "teoria híbrida" — tem razão Coyne —, produzir-se-ia descendência estéril, já que a idéia de Behe é de que a primeira célula "planejada" abrangeria o DNA para todas as futuras mudanças evolucionárias, incluindo o sistema imunológico, o olho, a coagulação do sangue, etc. De fato, se criação e evolução operam conjuntamente, e se os objetivos do designer são insondáveis, a teoria de Behe é, nos termos de Popper, infalsificável, isto é, não pode ser verificada nem refutada.

"Posso imaginar evidências que falsificariam a evolução (um fóssil de hominídeo na era pré-cambriana seria suficiente)", encerra Coyne, "mas nada pode falsificar a teoria compósita de Behe". Trata-se, portanto, de uma "obra de advocacia" criacionista, e, pode-se acrescentar, numa versão requentada do velho Argumento teleológico.

Com ela, a cruzada contra Darwin ganha novo alento.

Orlando Tambosi
fonte: criticanarede

Ética Aristotélica - esquema do professor



Ética a Nicômacos e A Política
Esquema-Resumo


Ética (tem origem da consciência de que somos pessoas e não coisas, sujeitos e não objetos. A ética mais que estabelecer valores universais... É uma atividade reflexiva racional na tentativa de preservar a dignidade humana denunciando a violência contra o homem em toda e qualquer forma na qual venha apresentar o risco de se manifestar) na concepção aristotélica. E Não é natural, o homem aprende a ser Ético na Cidade (PÓLIS). O Homem é um animal Político e Social. E por isso mesmo é que tanto a esfera pública quanto a esfera privada se confundem. E na Polis o Homem é capaz de exercer a Virtude (Virtus qualidade ou ação digna do homem » liberdade com responsabilidade e o contrário é o vício » liberdade sem responsabilidade/ isto é, capaz de criar Hábitos tendo em vista a construção do “Homem Bom”. E o Uso da Razão é elemento chave. Liberdade, Responsabilidade e Consciência devem conduzir à “Excelência Moral”. E Isto é, fruto da “arte do bem viver”. E significa a conquista da mediania entre “Razão” (“A Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural das coisas e dos seres humanos. A Filosofia confia e, ao mesmo tempo, não confia (...). Na origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como elas são.” Marilena Chauí, 1997. Convite à Filosofia, p.56ss.) e “Coração”, campo, especialmente, das paixões, emoções, sentimentos. E esta mediania é a capacidade que o homem tem de forjar um equilíbrio entre sua a Razão e sua Afetividade, a capacidade de controlar Prazer e Sofrimento; isto é, nem todo prazer é bom e nem todo sofrimento é ruim, logo a sabedoria de estar atento em relação a isto pode fazer toda a diferença E Portanto, será fruto desta “arte de bem viver” que fará do homem o grande conquistador do Sumo Bem, a FELICIDADE. Esta, para Aristóteles, como podemos constatar não está na posse dos bens materiais, mas na habilidade de viver com Razão e inserido na Política, perseguindo a solidariedade, o respeito, a justiça... Em outras palavras, buscando viver uma moral universal. 

Esquema geral do Pensamento Aristotélico

DIVISÃO DAS CIÊNCIAS:
CIÊNCIAS TÉCNICAS:
PRODUÇÃO DE OBJETOS OU
RESULTADOS ÚTEIS.
RESULTADOS ESTÉTICOS.
CONSTRUÇÃO, MEDICINA,
ESTRATÉGIA. 


CIÊNCIAS TEORÉTICAS:
FIM EM SI MESMAS.
CONCRETIZA –SE QUANDO O
SABER É PRODUZIDO.
GEOMETRIA: ESTUDO DAS FORMAS E MEDIDAS. 

METAFÍSICA: ESSÊNCIA DAS COISAS.

CIÊNCIAS PRÁTICAS:
BUSCA APERFEIÇOAMENTO DO HOMEM.
A APLICAÇÃO DAS CIÊNCIAS
LEVA O HOMEM NA DIREÇÃO
DA EXISTÊNCIA MELHOR:
ÉTICA E POLÍTICA.
ÉTICA:
ETHIKÓS: COSTUME.
ESTUDA A CONDUTA DO HOMEM CONFORME O BEM COMUM. 

FILOSOFIA MORAL. 
FELICIDADE: NÃO ESTADO PASSIVO, MAS ATIVO.

O HOMEM FELIZ PRATICA A VIRTUDE, APERFEIÇOA SEU CARÁTER ( ÉTICA ). CONDUTA JUSTA SOMENTE. VIVENDO EM SOCIEDADE. HOMENS SE AGRUPAM DE ACORDO COM A CULTURA: DEMOCRACIA, MONARQUIA.

ARISTÓTELES E A POLÍTICA
“O homem é um animal político.”
PARTICIPANTE DA PÓLIS.
VIVE AGREGADO.
SOLITÁRIO NÃO É HOMEM.
PÓLIS: MELHOR LUGAR SE
REGIDA PELO BEM COMUM.

POLÍTICA É ESSENCIAL:
PARA SER ÉTICO E FELIZ A
POLÍTICA É ESSENCIAL.
A DEMOCRACIA LEVA À FELICIDADE.
OS CIDADÃOS GOVERNANDO A
PÓLIS, DETERMINANDO SEUS
DESTINOS COM LEIS DIGNAS.

POLÍTICA DE ARISTÓTELES
NÃO DEVE HAVER PARCELA
ISOLADA DE GOVERNANTES.
TODOS OS HOMENS LIVRES
AGINDO EM CONJUNTO SÃO
CAPAZES DE DECIDIR PARA
O BEM COMUM.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

ATIVIDADE DISCURSIVA com consulta ao Texto "Alegoria da Caverna", de Platão





ATIVIDADE DISCURSIVA 
com consulta ao Texto 
"Alegoria da Caverna", de Platão


1. De acordo com o texto "Alegoria da Caverna' de Platão, existem dois tipos de Homens: O ignorante — Conhecimento sensível. E, aquele que busca a sabedoria — Conhecimento inteligível. As fontes de obtenção de cada um dos dois tipos de conhecimentos: Conhecimento sensível – Sentidos. Conhecimento inteligível – Razão.

RESPONDA: Onde está a realidade - do mundo inteligível, segundo Platão, em sua "Alegoria da Caverna": No interior ou no exterior da Caverna? (Disserte de forma argumentativa, expondo a importância do mundo inteligível na concepção platônica).

2. Para Platão, quem consegue atingir a realidade (sair da caverna) pela RAZÃO (simbolizada na Luz), deve apenas permanecer contemplando aquilo que descobriu? Qual deve ser então o papel do filósofo, segundo Platão? Observe que, para o ex-prisioneiro, não é suficiente a sua libertação, pois ele volta, desce “até os homens da caverna e quer levá-los para a luz”. RESPONDA: Considerando as questões colocadas, disserte (escreva) de forma argumentativa, expondo a importância da ação política na concepção platônica

3. CONSIDERE QUE: 1) O interior da caverna representa a prisão em que se encontra a humanidade na medida em que está submetida à ilusão dos sentidos. 2) O mundo exterior da caverna representa o mundo das ideias que somente pode ser atingido mediante a razão.

Fundamentado nas explicações acima em relação aos significados do interior e exterior da Caverna, analise a seguinte afirmação:

Ao libertar-se das algemas o homem perderia o sentido das coisas, uma vez que teria que abandonar a verdade.

RESPONDA: Esta afirmação, de acordo com o texto Alegoria da Caverna, é correta ou não? (Disserte de forma argumentativa, expondo a importância da busca pela verdade na concepção platônica).


4. Analise a seguinte afirmação: A visão suprema do Sol representa uma alienação para o homem, sua contemplação tiraria o homem da única realidade possível, ou seja, daquela encontrada no interior da caverna.


RESPONDA: Esta afirmação, de acordo com o texto Alegoria da Caverna, é correta ou não? (Disserte de forma argumentativa, expondo a importância da superação da ignorância na concepção platônica). 



Aristóteles: Política, do ideal à realidade

Política vem do grego "polis"cidade-estado, é o campo da atividade humana que se refere à cidade e ao interesse público.

Política é a arte de governar.

"Política é uma continuação da Ética, só pode ser aplicada à vida pública". Aristóteles


Ao contrário da maioria dos filósofos, a experiência política de Aristóteles é inegável: guardião de Alexandre, o Grande, amigo do rei da Macedônia e viajante frequente, Aristóteles alimentou sua reflexão política esfregando ombros com o poder tanto quanto frequentando Platão e suas teorias políticas. A política, seu grande trabalho de filosofia política, resulta dessas várias experiências, que estabelecem a legitimidade de sua teoria.

A Política de Aristóteles visa definir a ciência política e seu objeto através de uma descrição da natureza dos regimes políticos. A abordagem de Aristóteles difere da de Platão, que prefere construir um sistema político ideal e teórico, enquanto Aristóteles prefere uma abordagem realista e descritiva, que prefigura as abordagens sociológicas e até fenomenológicas do século XX. 


Política de Aristóteles:
Todas as associações são formadas para alcançar o Bem, coloca Aristóteles no preâmbulo. A cidade grega, ou polis, é a associação mais comum no mundo grego, contendo todas as outras associações, como famílias e associações profissionais. Como tal, a cidade deve procurar o bem maior. Isso, portanto, induz uma visão teleológica da política. 
Aristóteles conclui que "o homem é um animal político": só podemos alcançar uma boa vida vivendo em uma polis. Ao apresentar relações econômicas dentro da cidade, Aristóteles defende a propriedade privada, condena o capital excessivo e defende a escravidão.

A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. 

O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.

Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do estado será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como as partes precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados e animados; estes últimos seriam os escravos.

Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características das qualidades materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão.

Assim, todos aqueles cuja utilidade estava no uso do corpo, e isso era o melhor com que podiam contribuir, estavam destinados pela natureza para ser escravos. Para eles era melhor serem regidos pelo senhor da mesma maneira que era melhor para o corpo ser regido pela alma ou ao animal ser regido pelo homem. Estes homens naturalmente escravos se diferenciavam dos animais pelo fato de que eles participavam da razão na medida suficiente para reconhecê-la, mas sem possuí-la, enquanto que os animais não se davam conta da razão, mas unicamente obedeciam a seus instintos.

Do ponto de vista da utilidade, o escravo e o animal doméstico diferiam muito pouco, visto que ambos subministravam o necessário para o corpo. Os escravos e os livres diferiam em que tinham corpos diferentes: os escravos eram fortes para poder realizar os trabalhos servis; os livres, erguidos[9] e inúteis para os trabalhos servis, mas úteis para a vida política em suas duas modalidades: a guerreira e a pacífica.

Além da escravidão natural Aristóteles afirmava que existia também um outro tipo de escravidão: a dos que perderam uma guerra. O fundamento para isso estava numa lei, que era também uma convenção, segundo a qual o colhido numa guerra pertence os vencedores. Segundo Aristóteles, este último tipo de escravidão não contradizia a escravidão natural, porque aqueles que eram superiores em virtude, também eram superiores em força, ou seja, sem virtude não havia força. Assim, não existia o perigo de que, por essa via, os superiores em virtude viessem a serem escravos dos inferiores, pois os inferiores em virtude nunca poderiam ganhar uma guerra dos superiores, pois estes estavam destinados pela natureza, desde o momento do nascimento, a reger e dominar.


É em  a Política (Livro I), onde Aristóteles analisa, e condena, o emprego do dinheiro como capital e finalidade das trocas.

Para Aristóteles, o dinheiro, como toda coisa determinada, deve possuir um corpo próprio, deve possuir o corpo determinado do instrumento de troca, para, desse modo, ocupar o lugar que lhe é próprio por natureza, para ocupar o meio como seu lugar natural. Se o dinheiro ocupa certas vezes o extremo da troca, ocupa por constrangimento, ocupa pela força das paixões e vícios humanos. Paixões e vícios que devem ser controlados pela educação moral.

Toda a crítica de Aristóteles ao dinheiro era, ainda, uma crítica ao regime democrático ateniense, um regime, segundo Aristóteles, dominado por demagogos e aduladores do povo. Aristóteles acusava, infundadamente, a democracia ateniense de ser uma tirania das massas, uma tirania fundada em decretos populares e, por isso, um regime de governo contrário às leis constitucionais da cidade. O ideal de cidade, por isso, na visão de Aristóteles, seria aquela cidade pequena do período pré-clássico, aquela cidade relativamente isolada do Mediterrâneo e ainda em formação, na qual predominavam o modo de vida agrário, a unidade entre trabalho rural e artesanal e relações humanas fundadas na amizade e no companheirismo; aquela cidade fundada sobre um regime de governo aristocrático, um governo dos chefes de família, dos chamados melhores homens. Por isso, o governo aristocrático-democrático de Sólon, no nascimento da cidade clássica, aparecia aos olhos de Aristóteles como o mais adequado regime de governo para o bem viver do homem.

Aristóteles identifica a cidadania com o exercício de cargos públicos. No caso de uma revolução, onde a cidadania e a Constituição mudam, o cidadão não pode ser responsabilizado por suas ações antes da revolução. Esse princípio inspirará todas as leis de anistia ao redor do mundo. 

Aristóteles e as 6 formas de regimes políticos:
Aristóteles identifica seis tipos de constituição, três considerados justos (monarquia / aristocracia / democracia) e três considerados injustos (tirania / oligarquia/anarquia). O critério de uma constituição é o do Bem Comum: um regime é justo quando beneficia a todos:

A monarquia: uma constituição é  monárquica sob o poder exercido por uma pessoa e que as leis são para o bem público. Mas se esse monarca exerce poder em seu interesse, a monarquia se torna uma tirania.

Aristocracia: uma constituição é aristocrática quando o poder é controlado por uma elite para o bem de todos, mas degenera em uma oligarquia se os líderes são ruins.

Democracia: a democracia é o regime do povo, mas esse regime pode cair na anarquia quando os demagogos tomarem o poder.

Justiça em Política
Aristóteles propõe um princípio de justiça distributiva, de modo que os benefícios sejam distribuídos a diferentes cidadãos de acordo com a contribuição de cada um para o bem-estar da cidade.

Nos livros IV a VI, Aristóteles se afasta de suas especulações teóricas para examinar, como um politólogo, as instituições políticas como elas existem no mundo grego. Ele observa que as necessidades das cidades variam consideravelmente de acordo com sua riqueza, população e política de classe. A maior tensão observada por Aristóteles é a desigualdade econômica entre ricos e pobres, gerando divisão nas cidades. É por isso que Aristóteles defende o estabelecimento de uma classe média forte, a única capaz de manter um equilíbrio e proteger a cidade contra a corrupção e a opressão

Aristóteles e a separação de poderes
Os três ramos do governo cívico são o legislativo (com base na deliberação da assembleia), o executivo e o judiciário: o legislativo cria as leis que o executivo implementa e que o judiciário aplica. Segundo Aristóteles, o acesso a cargos públicos não precisa ser igualitário, mas devemos ter cuidado para não excluir um grupo do poder, porque a exclusão do poder é a semente da sedição, ou seja, a corrupção do regime. .

Nos livros VII e VIII, Aristóteles desenha seu estado ideal: essa Constituição teria o papel de garantir a felicidade de todos e de todas, promovendo a vida teórica (vida contemplativa, voltada para a sabedoria e a busca da verdade). Porque mesmo que Aristóteles conceda certa dignidade à ação política, permanece o fato de que a vida intelectual deve ter precedência, porque a política é apenas um meio que deve servir à contemplação. A cidade ideal deve ser grande o suficiente para viver em auto-suficiência, mas pequena o suficiente para garantir o vínculo social entre os cidadãos. Certamente, essa concepção do estado perfeito repousa em dois pressupostos:

- regime direto (não representativo)

- escravidão, que permite aos cidadãos exercer seus cargos públicos. A escravidão é, portanto, a condição da liberdade dos cidadãos. Este ponto servirá como ângulo de ataque para Hegel, na Filosofia da Lei, denunciar a chamada "bela liberdade grega", na realidade baseada na escravidão.

Conclusão sobre a política de Aristóteles:

Aristóteles, representando a tradição racionalista na política, baseia sua teoria política em postulados naturalistas (o homem deve viver em comunidade) e defende uma concepção muito elaborada de cidadania, tornando o engajamento cívico a pedra angular da uma boa constituição. Sua abordagem não normativa das constituições é uma inovação. Em resumo, qualquer que seja a forma do plano, importa apenas sua natureza e princípio. Esta é uma lição que Montesquieu aprenderá em Do Espírito da Leis.


 Nota Importante: 
Um filósofo precisa ser analisado sempre a partir do contexto de sua realidade histórica. Todo filósofo é fruto de seu tempo. É preciso saber dialogar com o tempo e extrair aquilo que foi produzido pelo filósofo, ou seja, aqueles pensamentos que transcendem seu tempo. É claro que muito daquela estrutura de pensamento antigo não tem serventia para o nosso tempo.

A democracia grega foi seletiva/elitista e é claro que essa adjetivação negativa tem que ser combatida, pois nos dias de hoje é antiética tanto quanto o processo de alienação imposto pela mesma elite perpetuada no tempo. O homem hoje precisa realizar seu potencial de cidadão frente a todas as formas de exploração e violência. É preciso usar o diferencial que possui, ou seja, a faculdade da Razão. Não dá para continuar sendo presa fácil desta elite capitalista/liberal/neoliberal abestalhada e nem tampouco desta hoste de padres, pastores, e outros pseudos-líderes religiosos que em nome de Deus (mas na verdade, em nome do dinheiro capitalista) solidificam um estado de alienação abominável, cometendo o maior pecado que um ser humano pode praticar que é o de impedir seus semelhante de conquistarem a emancipação plena.

Portanto, revisemos alguns fatores históricos relacionados a Grécia antiga:

O ESPLENDOR DA CIVILIZAÇÃO GREGA.

De onde surgem os Gregos?

1º Jônios ou Arqueus (vindos do norte), século XVIII a.C.

2º Dórios: século XII a.C.

No século IX, período de Homero, a Grécia estava sob o domínio de uma monarquia patriarcal.

No século VII a.C, se dá a formação das cidades Gregas.

Os Gregos substituem os fenícios no comércio do Mediterrâneo Oriental.

Intensificação da agricultura.

Períodos da história grega

1550 a 1100 a.C. Período Micênico

1100 a 750 a.C. Idade das Trevas

750 a 480 a.C. Período Arcaico

480 a 320 a.C. Período Clássico

320 a 30 a.C. Período Helenístico

30 a.C. a 529 d.C. Período Greco-Romano

Grécia - Períodos importantes

Idade das trevas (Grécia antiga) 
século XIII, 1200 a.C.

Não há escrita, desaparece a vida econômica e política.

Tempos Homéricos (séc. XII ao séc. VII a.C.)


1.Homero: narra a Guerra entre Agamedon, rei de Micenas, contra os habitantes de Ilion (troia), obra Ilíada, ver também a Odisseia (narra as viagens de Ulisses). 

2.Tempo caracterizado pelo poder da aristocracia guerreira.

3. Crença nos mitos (os deuses interferem nas ações e nas leis humanas = politeístas antropomórfica). Os homens gregos acreditavam que as divindades interferiam nos acontecimentos diários de suas vidas e de tudo que acontecia. Os oráculos cumpriam funções importantes na sociedade grega na medida em que os deuses eram consultados por seus intermédios.


Período Arcaico 
(séc. VII ao séc. VI a.C.).

1.Civilização clássica – aparecimento da pólis (cidade-estado) o milagre grego;

2.Passagem do mundo rural, da aristocracia (donos da terra), para o mundo urbano;

3.Surgimento da escrita, da moeda, das leis escritas, que culminam no aparecimento da filosofia (racionalidade), desligada do mito (tutela divina);

4.Atenas é a principal cidade-estado da Grécia: aparecem os conceitos de cidadania e democracia (embora podendo participar apenas os homens livres), com apogeu no séc. V desde a época de Péricles até Alexandre, o Grande;


A bacia mediterrânea. Na parte oriental, situam-se a península balcânica e o Mar Egeu. O Mar Mediterrâneo interligava a península balcânica, o Oriente Médio, o norte da África e as terras a oeste da península itálica. Antes de -2000, navegava-se quase que só no Mediterrâneo Oriental; de -1000 em diante, no entanto, com o aumento dos contatos comerciais, o Mediterrâneo inteiro fervilhava... 

A GRÉCIA E A POLÍTICA

Pólis do Grego = cidade, cidadão, cidadania;

TA POLÍTIKA = negócios públicos dirigidos pelo cidadão; costume, leis erário público; organização da defesa e da guerra; administração dos serviços públicos (ruas, estradas, portos, construção de templos e fortificações, obras de irrigação).

POLIS (grego)
CIVITAS (latim) = ESTADO (moderno)
TA POLÍTIKA (grego) = RES PUBLICA(latim)

IMPORTÂNCIA DOS GREGOS

"O Século XX com todos os seus progressos técnico-científicos deve curvar-se com humildade ante o esplender da civilização da Grécia Antiga. Esta não conheceu a estonteante velocidade da era dos aviões a jato e dos satélites artificiais. Não conheceu o segredo da constituição e da desintegração do átomo. Mas seus pensadores alcançaram vôos intelectuais que foram muito além das regiões atingidas pelas naves espaciais e penetraram mais fundo que a natureza constitutiva da matéria. Ultrapassaram os limites físicos do Universo e atingiram o mundo só acessível ao raciocínio puro onde se encontra a resposta sobre a razão última de ser de todas as coisas” [História da Grécia: Antiguidade Clássica. Mário Curtis Giordani. Vozes, 1972]

OS GREGOS: 

 Foram os precursores da poesia épica, da história, do drama, da filosofia (da metafísica até a economia), da medicina e da política: o que os antecede não é política (em oposição a teocracia e o despotismo oriental). A política é entendida como “vida boa” (como racional feliz e justo próprio dos homens livres).

► Formas de governo: Oligarquia, Plutocracia, Democracia e Tirania.

Quem era o cidadão?

Apesar da cidadania estar restrita, a Democracia Grega foi a mais perfeita forma de governo criada e vivenciada na História da Humanidade e na Democracia Direta da Grécia se fundamenta hoje a nossa Democracia Representativa – que possibilitando a todos o exercício da cidadania tem o desafio agora de educando seus cidadão ao uso correto da razão, conquistar a emancipação política-Era o homem, o oligarca, nascido na Grécia;

-Apenas 10% da população;
-Detinha o poder racional;
-Participava da Academia;
-Isonomia: Igualdade perante a lei;
-Isegoria: direito de expor e discutir em público o que a cidade deve ou não realizar;

► O homem participava das decisões políticas (do interesse da polis), negócios públicos (costumes leis, erários públicos, organização da defesa e da guerra, etc), administração dos serviços públicos (abertura de estradas e portos, construções de templos e fortificações, obras de irrigação), atividades econômicas das cidades (moeda, impostos e tributos, tratados comerciais, etc);

► Os homens também tinham acesso direto com a literatura, a política, a educação (Paideia), a ciência, a filosofia, a dança, os cantos, o teatro na acrópole (tragédia e comédia), jogos olímpicos, a música, a poesia, a arquitetura, a escultura (essencialmente no período arcaico e clássico);

Mulher: Instrumentalizada, servia para a procriação, não tomava parte nos assuntos da polis, era equiparada aos escravos, dedicada a função corporal.

Filho: O filho homem era educado para se tornar cidadão, a filha mulher seguiria os passos da mãe.

Escravo: Sustentava e mantinha os cidadãos; Não possuía direito civil ou político; Era maioria.

► Bárbaro (estrangeiros): Não tinham acesso ao culto, os deuses não os protegiam, nem mesmo podiam invoca-los; O túmulo do estrangeiro não era sagrado; Não era considerado humano.

A POPULAÇÃO
A polis ideal para Aristóteles era a pequena proporção tanto de território como de população.


A população ateniense, segundo Finley, durante a guerra do Peloponeso em 431, era da ordem de 250 mil a 257 mil habitantes, contando com homens livres, escravos, mulheres, crianças;

Atenas tinha de 30 a 40 cidadãos para 80 a 100 escravos;

250 mil pessoas em 2600 km2 ;

500 mil pessoas entre cidadãos livres + metecos (estrangeiros) + escravos: 300 mil escravos e 50 mil estrangeiros, 150 mil cidadãos;
20% cidadãos – 80% escravos;
80 mil escravos, 40 mil cidadãos.


PRINCIPAIS CIDADES-ESTADOS:



Atenas
Esparta
Siracusa
Corcira
Agragas (Agrimento) na Cecília
Atica, Argos, Tebas, Mileto e Corinto.



PARTHENON Símbolo do poder ateniense no fim do século V. O parthenon, um dos templos da acrópole de Atenas. Ictinos e Calícrates (arquitetos); Fídias (diretor da obra). Data: -447/-433.

LEGISLADORES, 
GOVERNANTES E ESTADISTAS:

Drácon: em Atenas, estabeleceu o código penal;

Sólon: completou o código penal de Drácon, criando o civil e político. Organizaram a coletividade grega. Quando a aristocracia assume a hegemonia política, a teocracia deixa de ter influência.

Clístenes: Foi fundador da democracia ateniense. Introduz a execução dos condenados à morte com ingestão de cicuta, veneno mortal do qual Sócrates foi vítima. E a pena do Ostracismo: envio do cidadão para o exílio, por dez anos (cassação dos direitos políticos daqueles que ameaçassem a democracia). No seu governo Atenas torna-se a maior potência da Grécia entre os anos de 490 a 470 a.C.


LEGISLADORES, 
GOVERNANTES E ESTADISTAS:

Pisístrato: foi um tirano.
Péricles: Principal representante da democracia grega. Governou por trinta anos, dirigente de Atenas no ano de 432 a.C.

DRAMATURGOS:
Ésquilo foi um dos mais importantes poetas gregos. Mestre supremo da exposição trágica. O destino do homem foi o principal tema de sua tragédia.
Sófocles:
Eurípides:
Aristófanes:
Meneandro:
  
OS GREGOS ANTIGOS: 
COMO SER UM CIDADÃO

 A política para os gregos era uma maneira de pensar, sentir e relacionar-se com os outros;

 Os gregos obedeciam às leis da sua polis. A própria identidade dos gregos estava ligada a polis. Sendo que o pior castigo para o cidadão grego era o ostracismo;

 Os gregos, criadores da literatura e da política, não consideravam o despotismo oriental como política;

 As leis e políticas das cidades provinha das discussões entre os cidadãos (os iguais) na agora (praça pública = arena para debates políticos).

► Os cidadãos eram iguais = isonomia

► Debates públicos = isegoria

► Igualdade política = isocracia.


Fontes:

ARANHA Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo: Moderna, 2009.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6.ed. São Paulo, Ática,1997.

CHAUI, Marilena, OLIVEIRA, Pérsio S. Filosofia e Sociologia. São Paulo: Ática, 2007.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. 8 ed. São Paulo, 1993.