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FILOPARANAVAÍ

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

BIOGRAFIA: Quem foi Parmênides de Eleia?


Ser e pensar são a mesma coisa.


Parmênides 
é um filósofo grego pré-socrático, da escola Eleática. 

As datas de nascimento e morte de Parmênides não são conhecidas exatamente. Teria nascido em meados do século VI aC. (cerca de 544-540) em Elea, na Grande Grécia (sul da Itália). Temos poucas informações sobre a vida dele. Só sabemos que ele era de uma família ilustre; que em sua juventude ele esteve em contato com os pitagóricos e ensinou leis, segundo se diz, aos cidadãos de Eleia. Os antigos são unânimes em elogiar seu caráter e sua ciência. 

Parmênides vem de uma família rica e poderosa. Teofrasto declara em Opiniões dos Filósofos, que Parmênides é um discípulo de Anaximandro e que ele é o primeiro a nomear "Mundo" como "Universo". Proclos, em seus Comentários sobre o Parmênides, diz que seu modo de vida era considerado pitagórico. Ele primeiro se vinculou aos pitagóricos: foi Aminias que o empurrou para a vida filosófica. Aristóteles é mais reservado sobre a questão, mas Parmênides está ligado a Xenófanes, do qual ele se torna discípulo, de acordo com Clemente de Alexandria e Sexto Empírico. O fato é que Parmênides e Xenófanes viviam em Eleia, e que podemos assumir que eles se conheciam. Assim, quanto às influências filosóficas de Parmênides, parece possível afirmar que, como Empédocles, ele seguiu a vida pitagórica sem adotar suas ideias e que seguiu Xenófanes nesse ponto. Ele teria fundado uma escola comparável às escolas pitagóricas. Ele também era um discípulo de Anaxímenes, de acordo com Suidas, mas essa informação parece dever-se a um erro de texto. Seus sucessores foram Empédocles e Zenão de Eleia. Ele pode ter sido um legislador em sua cidade natal; os Eleatas tinham que jurar obediência à lei todos os anos. 

Ele teria 65 anos quando chegou a Atenas, onde conheceria o jovem Sócrates, talvez com menos de 20 anos, que teria nascido por volta de 520-510 se considerarmos o diálogo Platônico em torno de 450-448. Segundo Synésios, Sócrates teria 25 anos nessa época, o que colocaria o nascimento de Parmênides em torno de 510. Esses dados não  são certos; de acordo com Diógenes Laércio, seu auge está na 69ª Olimpíada (504-500), mas outras fontes o colocam na 79ª. Assim, Parmênides é colocado no mesmo contexto histórico de Heráclito e Empédocles de Agrigento, ou com Demócrito, Górgias ou mesmo Prodicos de Ceos.

O poema de Parmênides, o único trabalho que ele parece ter escrito, foi intitulado De la Nature. Cerca de 160 linhas permaneceram intactas.

Ele é famoso por esse poema em verso, Sobre a Natureza, que teve uma influência notável no pensamento de seu tempo. Suas descobertas intelectuais, em particular a introdução da lógica no pensamento helênico, juntamente com a filosofia Milesiana da natureza e as teorias aritméticas de Pitágoras, fazem de Parmênides um dos filósofos mais importantes da história da Filosofia grega. Platão dedicou um diálogo que leva seu nome, Parmênides, para lidar com a questão do Ser, que Parmênides repetiu incansavelmente que é, enquanto o Não-Ser não é.

Xenófanes já havia afirmado a unidade e a imobilidade do ser e talvez tenha distinguido o ponto de vista da opinião do ponto de vista da verdade. Parmênides estabelece os mesmos princípios de maneira mais lógica e explícita e deduz suas consequências com mais rigor. Seu poema foi dividido em duas partes, a primeira das quais tratava das coisas do ponto de vista da verdade; o segundo, coisas do ponto de vista da opinião.

Segundo Parmênides, devemos escolher entre duas partes: ou admitir que o ser é e que o não-ser não é, ou então fingir que o ser não é e o que não é. A última posição é insustentável; nem sequer se permite conceber, pois só se pode pensar o que é. Devemos, portanto, acreditar e afirmar que o ser é e que o não-ser não é nada. É por não reconhecer essa verdade o suficiente para que os humanos, cegos e estúpidos, mergulhem em erro e incerteza. Portanto, vamos nos ater a essa proposição de que o ser é e que não existe outra coisa senão o ser. A partir destes resultados:


- que é improdutivo e indestrutível. Que causa, de fato, além de ser, poderia ter dado à luz (?);

- que é um todo, sozinho de sua espécie, imóvel e eterno;

- que não há presente nem futuro, uma vez que é inteiramente realizado atualmente, e que foi ou será equivalente a afirmar que não é;

- que é um e contínuo, porque é em toda parte semelhante a si mesmo, e suas partes só podem ser separadas pelo não-ser;

- que é imóvel, porque, poderíamos dizer, completando o pensamento de Parmênides, só poderia mudar para se tornar o que não é, ou seja. não ser.

- que é, por esse mesmo fato, um todo completo em que nada falta, o ser não é infinito; é limitado e esférico, porque também se estende por todos os lados; somente o não-ser poderia impedi-lo de fazê-lo. É de natureza divina, embora distinta de todos os deuses e todos os seres designados por nomes, porque nenhum nome em particular pode servi-lo.

Os fragmentos parece demonstrarem a doutrina metafísica de Parmênides. A lógica deste sistema parece incontestável. 

Após essas deduções abstratas, ele ainda desenvolve uma física claramente pitagórica. Ele foi o primeiro a afirmar que a Terra é esférica e localizada no centro do universo. Ele dividiu as coisas em dois elementos: fogo e terra.

Segundo Posidonios de Rodes, ele foi o primeiro a propor a teoria das zonas climáticas que dividem o globo terrestre em cinco zonas, duas zonas geladas inabitáveis ​​perto dos pólos e uma zona tórrida intransitável que atravessa o Equador, separando as duas zonas temperado, os únicos que provavelmente serão habitados:
  
As opiniões de Parmênides sobre a origem dos seres humanos - que teriam saído da Terra sob a influência do calor solar - e as causas da diferença de sexo não são de grande importância. O que sabemos sobre suas teorias da alma e do pensamento é um pouco mais interessante. Parmênides, diz Teofrasto, afirma que o conhecimento ocorre de acordo com qual dos dois elementos prevalece. De fato, o pensamento varia conforme predomina o quente ou o frio; o que ocorre no calor é melhor e mais puro. É também na proporção mais ou menos feliz do elemento quente e do elemento frio que a memória e o esquecimento dependem. O similar é sentido pelo similar; é por isso que um cadáver não sente calor nem luz, como resultado da ausência de fogo, mas ainda pode, até certo ponto, ser sensível ao frio e à escuridão. Teofrasto observa, com razão, que Parmênides, embora reconheça a superioridade do pensamento sobre os sentidos e a opinião, ainda não distingue sensação da razão. A distinção entre espiritual e corporal é até estranha para ele.

Parmênides não inventou sua física, e ele próprio declara que está expressando opiniões que não são suas. Ele parece seguir em certos pontos Anaximandre e Anaximène; mas foi do pitagorismo que ele fez os mais numerosos empréstimos. A divindade que governa o mundo corresponde ao fogo central dos pitagóricos; Parmênides concebe, como eles haviam feito, o universo como esférico e composto de zonas concêntricas; é novamente pelo exemplo deles que ele admite que a esfera interior e a esfera exterior são formadas pelo mesmo elemento. Finalmente, e acima de tudo, a opinião de que tudo resulta da mistura de dois elementos contrários chega a ele, sem dúvida, dos pitagóricos. Portanto, não é sem razão que certos autores antigos chamam Parmênides de pitagórico. Mas isso não é suficiente para nos autorizar a pensar que ele, nos detalhes de sua física, seguiu exatamente os antigos pitagóricos, e a procurar em sua doutrina informações por conta própria. Não é mais provável que ele fosse exclusivamente seu discípulo. Se não pudéssemos encontrar uma razão decisiva para provar que Parmênides era apenas um físico, não podemos invocar nenhum que estabeleça com alguma probabilidade, contra a tradição, que ele não era, acima de tudo, o discípulo de Xenófanes.

Aristóteles está, de certo modo, correto ao dizer que Parmênides não se elevou acima do ponto de vista da matéria. O ser ainda é, para ele, corporal e estendido. Não poderíamos entender de outro modo a homogeneidade, a continuidade, a indivisibilidade que ele lhe atribui, e ficaríamos tentados a acreditar que o ser de Parmênides é apenas "em todos os lugares espaço homogêneo e contínuo", quando 'ele argumentou, ao mesmo tempo, que o real é o máximo. Não-ser, nada, é vazio. Numa passagem em que ele claramente dirige aos Eleatas, Demócrito sustenta que nada existe nada menos que ser, ou seja. que o vácuo não existe menos que o total. Assim, alguém expressaria o pensamento de Parmênides de maneira bastante exata dizendo que o ser é, segundo ele, algo como o átomo de Demócrito, estendendo-se uniformemente em todas as direções, sem lacunas ou diversidade de qualquer tipo.

A opinião pública vê erroneamente nas coisas uma diversidade que explica pela união de dois elementos contrários: por um lado, o fogo, claro e tênue, homogêneo; por outro, a noite escura, corpo denso e grosso. Segundo Aristóteles, Parmênides também deu a seus elementos os nomes de fogo e terra, e considerou o primeiro como princípio ativo, o segundo como princípio passivo ou material. Mas é possível que, ao atribuir essa opinião a ele, Aristóteles tenha interpretado a doutrina de Parmênides do seu ponto de vista. Pois, se este último tivesse atribuído ao fogo o papel de causa eficiente e motivo, ele não precisaria colocar, como ele faz, no centro do mundo, a deusa que preside, segundo ele, no união dos elementos e que ele chama de Justiça, Necessidade, etc.

O universo é composto de vários círculos concêntricos. O círculo superior e o círculo inferior são feitos do elemento escuro, os outros de fogo não misturado. Esses círculos têm a forma de coroas ocas, cheios de fogo; o Sol e a Via Láctea são como saídas de ar; a Terra está imóvel, no centro do mundo. Acima vem uma coroa ígnea, talvez ar; abaixo da abóbada sólida que envolve o universo como uma parede, estão o éter, a estada das estrelas e a parte ígnea que chamamos de céu. As estrelas são fogo condensado e se alimentam dos vapores exalados da Terra.

Os alquimistas greco-egípcios alegavam estar ligados à tradição dos filósofos jônicos e, em particular, à de Parmênides, admitindo a permanência de um único princípio primordial. Olympiodore invoca sua autoridade e encontramos seu nome na Turba phifosopharum (O Turba Philosophorum, também conhecido como Assembléia dos Filósofos', é um dos textos mais antigos já traduzidos do árabe, como o antigo manuscrito Picatrix, que ensina como adquirir energia do cosmos. Considera-se que foi escrito c. 900 d.C.), compilação árabe-latina. (M. Berthelot).

Platão deu o nome de Parmênides a um diálogo em que ele coloca esse filósofo no palco. Proclus nos deixou um comentário sobre o Parmênides.


PENSAMENTO DE PARMÊNIDES

“Você precisa dizer isso e pensar o seguinte: 'O que há no presente' é; porque é ser, enquanto o nada não é. Peço que você medite sobre essas coisas. Primeiro, de fato, eu o aviso contra esse caminho de pesquisa, depois contra esse outro, no qual os mortais que nada sabem, têm duas cabeças; pois o constrangimento no peito dirige um pensamento errante; eles se deixam levar, ao mesmo tempo, raça surda e cega, confusa e indiscriminada, que consideravam a vinda ser e não ser como sendo a mesma e não a mesma; o caminho deles para todos é um caminho que vai e vem. De fato, nunca forçaremos isso: criar coisas que não estão no presente. É por isso que você deixa de lado seu pensamento realizado nesse caminho de pesquisa e não deixa o hábito nascido de vários testes levá-lo à força nesse caminho, a fim de direcionar um olhar sem objetivo, bem como uma audição barulhenta e uma linguagem, mas julgar por meio de argumentos as críticas que são múltiplas polêmicas que eu mesmo fiz. Ainda existe apenas uma maneira autorizada de falar sobre o caminho: o que diz e como é. Nele, existem sinais bastante numerosos, indicando que, estando no presente, engendrado, ele também é imperecível, tudo de uma única tensão, inflexível e completa. " (Parménide, Peri Physeos (De la nature) ; fragments 6, 7 et 8)

FONTES:



BIOGRAFIA de Sócrates



PARA CONTEXTUALIZAR
A reflexão filosófica nasceu na Grécia no século VI a.C, com os filósofos que antecederam a Sócrates. 

A passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega, assim como, dentro de certos limites, coexistem na nossa. 

O processo de urbanização e a organização política da Grécia ao redor das cidades exigiram a regulamentação das atividades dos indivíduos, levando os homens à procura de uma maior racionalidade da ação e do pensamento. 

A teogonia opôs-se à cosmologia, isto é, a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca da arché, do princípio não só material, mas também regulador da ordem do mundo. Esta busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se na questão central para os pré-socráticos. As respostas foram múltiplas e divergentes: para alguns era a água, para outros, o ar, para outros, ainda, o fogo ou os quatro elementos. E, com esta diversidade de respostas, rompe-se a atitude mítica, monolítica e dogmática, embora o conteúdo da reflexão filosófica permaneça muito semelhante ao do mito, pois a estrutura de entendimento do mundo é semelhante. 

Hesíodo, no século VIII a.C, faz o relato do mito da origem do mundo, segundo o qual Gaia (Terra) surge do Caos inicial e, depois, pelo processo de separação, gera Urano (Céu) e Pontos (Mar). Une-se, então, a Urano e dá início às gerações divinas. Como se vê, no mito esses seres primitivos não são apenas seres da natureza, mas divindades. 

Alguns filósofos gregos, por sua vez, explicam que, a partir de um estado inicial de indefinição, ocorre a separação dos contrários (quente e frio, seco e úmido etc.), que vai gerar os seres naturais, como o céu de fogo, o ar frio, a terra seca e o mar úmido. Para eles, a ordem do mundo deriva de forças opostas que se equilibram reciprocamente, e a união desses opostos explica os fenômenos meteóricos, as estações do ano, o nascimento e morte de tudo o que vive. 

Portanto, os conteúdos dos dois relatos, o mítico e o filosófico, apresentam semelhanças, embora a atitude filosófica rejeite as interferências de deuses; do sobrenatural, buscando coerência interna, definição dos conceitos, o debate e a discussão.

Com Sócrates, essa busca da discussão e do rigor leva à criação do chamado método socrático.


Voltando sua atenção para o problema do homem, Sócrates faz uma análise detalhada das qualidades individuais e das virtudes humanas, determinando e definindo essas qualidades como sendo a bondade, a justiça, a temperança, a coragem etc. Sócrates, entretanto, não define o próprio ser humano. Por quê? Porque o homem, ao contrário da natureza, não pode ser definido em termos de propriedades objetivas, só em termos da sua consciência. E para alcançarmos uma visão clara do caráter do homem, para compreendê-lo, precisamos encará-lo face a face, através do diálogo.

O método socrático envolve duas fases. 

A primeira, chamada ironia, consiste em fazer perguntas ao interlocutor que o obriguem a justificar, sempre com maior profundidade, seu ponto de vista, até que ele perceba que seus argumentos não se sustentam. Esta é a fase destrutiva, pois leva as pessoas a admitir a própria ignorância a respeito do assunto. São destruídas as opiniões do senso comum e o conhecimento espontâneo, muitas vezes baseados em estereótipos e preconceitos. A segunda parte, chamada maiêutica (parto), é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional. Assim, Sócrates, com suas perguntas, demole o saber constituído para, depois, ainda através de perguntas e da contraposição de ideias, reconstruí-lo a partir de uma base mais sólida e de um raciocínio coerente e rigoroso.

Com o trabalho destes pensadores nasce a filosofia, que continua a se desenvolver através dos séculos como reflexão crítica e radical sobre a totalidade da vida humana.


Sócrates - (470-399 a.C) São consideradas três fontes primárias acerca da biografia de Sócrates: os autores Xenofonte (Ditos e feitos memoráveis de Sócrates e Apologia de Sócrates), Aristófanes (As Nuvens) e Platão, em seus Diálogos. Não deixou nada escrito, e o retrato de sua pessoa diverge consideravelmente nos três autores. Na comédia de Aristóteles, Sócrates aparece sem nenhum glamour de circuspecto filósofo. Já em Platão ele é eleito o pai da doutrina da Academia, tornando-se seu porta-voz e muitas vezes se afastando do Sócrates histórico. Os primeiros diálogos de Platão, ditos aporéticos, são considerados os documentos mais próximos do Sócrates histórico


Era Ateniense, filho de uma parteira chamada Fenarete e de um escultor, chamado Sofronisco. Recebeu uma educação tradicional, estudando a obra de Homero (A Ilíada e A Odisséia, que contam, como vocês sabem, a história da guerra de Tróia entre gregos contra os troianos, e o retorno do herói Ulisses para sua terra natal. São de caráter épico. Muitos chegaram a duvidar da existência de Homero, ou disseram que ele seria só um coletor de contos do folclore popular, e não o legítimo autor). 

Desde a juventude Sócrates interessou-se pela filosofia, e conhecia o pensamento anterior e contemporâneo dos filósofos gregos. É lendário seu interesse pela conversa em locais públicos, fazia muitas andanças conversando nas praças, mercados e ginásios de sua cidade. Participou do movimento de renovação da cultura e foi um educador popular, já que não cobrava por suas preleções, como os sofistas. Nunca trabalhou e só pensava no presente. Muitas vezes, só comia quando seus discípulos o convidavam para suas mesas. 

Sócrates é famoso por ter tido um soberbo auto-controle, não se deixando nem mesmo embriagar pelo vinho, como é contado no Banquete de Platão. Foi casado com Xantipa, de quem teve três filhos, mas na velhice não parava em casa. Quando jovem, participou, como soldado, de incursões militares como as de Potidéia, Delos e Anfipólis. 

Recebeu reconhecimento por alguns feitos de bravura, como quando salvou Xenofonte (ou segundo outras fontes Alcíbiades), tombado, com seu próprio corpo. 

De ínicio, interessava-se pelos ensinamentos dos filosófos da natureza, como Anaxágoras, mas depois revoltou-se contra eles, pois eles haviam sido filósofos físicos, que procuravam respostas nas causas exteriores e gerais da natureza. 

Achava que existe algo mais digno para se estudar, a psyche, ou a mente do homem. Por isso sondou a alma humana, em questões como a da facilidade e da justiça dos atenienses. Esses lidavam com tanta facilidade com a vida e a morte, honra, patriotismo, moralidade. E em que se baseavam? E o que entendem de si próprios? Chegou assim numa reflexão sobre a alma, considerada superior ao corpo, imortal. 

Embora alguns autores o tenham associado aos sofistas, a imagem tradicional é a de ter sido seu notório adversário, por achar que a verdade é apenas uma, e condenar o relativismo e parte da retórica. 

Os sofistas foram mestres das artes da retórica e da oratória, que vendiam para os cidadãos suas habilidades com o discurso, fundamental para a política

A arte de falar bem, conhecida pelos gregos antigos como retórica (rhêtorikê), advém do conjunto de técnicas antigas que compunham a atividade política, filosófica e cultural da pólis. Arte, nesse sentido, é entendida como técnica e é sinônimo do modo de operar, modo de fazer, ou como fazer. Portanto, a retórica é o estudo e o ensinamento de um modo de falar bem, com eloquência, articulando as palavras de modo a convencer o interlocutor. Retórica e oratória - Os dois termos semelhantes não são, nos dias de hoje, idênticos. Enquanto retórica consiste na pura e simples arte de falar bem, oratória é a fala em público, para o público. Portanto, a oratória, enquanto tentativa de informar e convencer o público, tem relação íntima com a retórica. A relação entre os dois termos foi, na Antiguidade, muito mais próxima, pois a palavra grega rhêtorikê foi traduzida para o latim pelo termo oratore. Nos dias atuais, os dois termos ganharam derivações que os diferenciam semanticamente.

Assim, defendiam a opinião de quem lhes pagasse bem. Acreditavam que a verdade vêm do consenso entre os homens. Os principais foram Górgias, Protágoras e Hipías. Para eles a realidade sensível não é inteligível, a linguagem é arbitrária, as palavras traem os pensamentos. Como afirma a frase de Protágoras de Abdera, "o homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto são, e das que não são, enquanto não são ". Por exemplo, o frio "real" não existe, o frio é frio apenas para quem o sente. E também não existiriam um sentimento natural de pudor. Os sofistas destruíram a fé que a juventude tinha nos deuses do Olimpo e no código moral que se baseava no medo da divindade. 
Os sofistas utilizavam-se amplamente da retórica para vencer os debates políticos na Grécia Antiga e ganhavam fama e dinheiro ao ensinar a sua arte aos jovens cidadãos atenienses. Porém, para os sofistas, o importante era o convencimento de um fato, mesmo que o fato não fosse verídico. Isso deixaria de lado a verdade e as essências das coisas, o que incomodou Sócrates e seu mais importante discípulo, Platão.

Como Sócrates passou a praticar filosofia? Em sua Apologia de Sócrates, Platão relata como um dos amigos de Sócrates, Querofonte, perguntou ao Oráculo de Delfos se havia alguém mais sábio que Sócrates, e o Oráculo respondeu que ninguém é mais sábio que Sócrates. Sócrates então querendo entender o que o Oráculo quis dizer, iniciou uma longa investigação com aqueles que, segundo a tradição grega, têm sabedoria (estadistas, poetas, artesãos), para descobrir alguém. mais sábio que ele. Ele então percebe que todas essas pessoas pensam que sabem tudo enquanto nada sabem. Ele conclui que se ele é o mais sábio, é porque ele, pelo menos, sabe que não sabe nada. "Tudo o que sei", disse Sócrates, "é que nada sei."

Se Sócrates diz que nada sabe, é porque ele distingue conhecimento (episteme) da opinião ou crença (doxa). Ao contrário da opinião, o conhecimento é uma crença que pode ser justificada por razões, não uma crença simplesmente aceita. Essa distinção é tão fundamental que vemos nela o nascimento da racionalidade e da filosofia propriamente ditas

Tendo tomado consciência disso, Sócrates passará seu tempo questionando seus concidadãos para conscientizá-los de sua ignorância. E aqui inicia-se o seu MÉTODO através da aplicação da IRONIA: Ele adota uma atitude falsamente ingênua: questiona seus interlocutores, fingindo querer aprender com eles. 


É verdade que a maioria das investidas não leva a nenhuma verdade. Muitos dos diálogos de Sócrates não alcançam a verdade e terminam em uma aporia (dificuldade ou dúvida racional decorrente da impossibilidade objetiva de obter resposta ou conclusão para uma determinada indagação filosófica), isto é, em um beco sem saída. 

Mas tomar consciência de nossa ignorância é o primeiro passo essencial no caminho para o conhecimento. Sócrates demonstrava para aquele que pensava saber tudo que na verdade nada sabia e que era preciso buscar o saber. Aliás, esta deve ser a atitude de todas as pessoas de bom senso. Ninguém pode saber tudo, sempre devemos buscar mais e mais conhecimento. O tempo todo!

Nem o cientista nem o ignorante buscam conhecimento: o cientista porque ele já o possui, o ignorante porque ele não sabe do que precisa. O filósofo no sentido etimológico (o amigo da sabedoria) deve, portanto, ser instruído e ignorante: ele ignora, mas sabe que ignora, e a consciência dessa falta desencadeia o desejo de preenchê-la. 



JÁ PELA maiêutica, Sócrates forçava o interlocutor a desenvolver seu pensamento sobre uma questão que ele pensa conhecer, e e evidenciar a contradição. 

A atividade maiêutica é comparada por Sócrates à profissão de sua mãe, mas ao invés de trazer à luz rebentos ele trazia à luz ideias que já existiam em seus interlocutores. 

O personagem Sócrates de Platão faz uma brilhante defesa da filosofia no diálogo Górgias. A palavra filosofia significa amizade ao saber. As etapas do saber seriam: ignorar sua ignorância, conhecer sua ignorância, ignorar seu saber e conhecer seu saber. As opiniões (doxa) não são verdades pois não resistem ao diálogo crítico. Conversar com Sócrates podia levar alguém a expor-se ao ridículo, e ser apanhado numa complexa linha de pensamento exposta através de palavras, ficar totalmente envolvido ou perplexo. É no diálogo TEETETO de Platão que Sócrates compara sua atividade à de uma parteira (como sua mãe), que embora não desse a luz à um bebê, ajudava no parto. Ele diz que ajudava as pessoas a parirem suas próprias ideias. Diz que Atenas era uma égua preguiçosa, e ele um pequeno mosquito que lhe mordia os flancos para provar que estava viva. Achava que a principal tarefa da existência humana era aperfeiçoar seu espírito. 

Acreditava ouvir uma voz interior, de natureza divina (um daimon), que lhe apontava a verdade e como agir. Sócrates foi convidado para o Senado dos quinhentos, e manifestou sua convicção de liberdade combatendo as medidas que considerava injustas. 

A democracia estava se implantando em Atenas, e Sócrates respondia qual era o melhor Estado, como poderia se salvá-lo. Os homens mais sábios deviam governá-lo (isso nos lembra a Teoria Política de Platão do Rei_Filósofo -  porque este, tendo contemplado a verdade (ἀλήθεια – alétheia, no grego), possuiria, por isso, a capacidade de melhor conduzir a cidade), pois eles podem controlar melhor seus impulsos violentos e anti-sociais. 

Assim, nos afastaríamos do comportamento de um animal. 

O Estado não confiava na habilidade e reverenciava mais o número do que o conhecimento. Portanto, Sócrates era aristocrático, pois há inteligência que baste para se resolver os assuntos do Estado. 


A reação do partido democrático de Atenas não poderia ser outra. Em um juri de cinquenta pessoas, foi acusado, condenado por negar os deuses do Estado e por “perverter a juventude de Atenas”. Muitos jovens seguiam Sócrates, e tornavam-se seus discípulos. Anito, um líder democrático, tinha um filho que se tornou discípulo de Sócrates, ria dos deuses do pai, voltava-se contra eles. Sócrates foi considerado, aos setenta anos, líder espiritual do partido revoltoso. 


A verdadeira causa da morte de Sócrates é política, ele ameaçava o partido democrático dominante. Foi condenado à morte, e teve de ingerir cicuta (uma planta venenosa). 


Podia ter fugido da prisão, ou pedido clemência, ou ter saído de Atenas, mas não quis. Quis cumprir as leis da cidade. Assim, se tornou o primeiro mártir da filosofia. Não deixou nenhuma obra escrita. Sua morte nos é contada por Platão, que foi um de seus discípulos, eis aqui um resumo: “(…) Ele se levantou e se dirigiu ao banheiro com Críton, que nos pediu que esperássemos, e esperamos, conversando e pensando (…) na grandeza de nossa dor. Ele era como um pai do qual estávamos sendo privados, e estamos prestes a passar o resto da vida orfãos. (…) A hora do pôr do sol estava próxima, pois ele tinha passado um longo tempo no banheiro .(…) Pouco depois, o carcereiro entrou e se postou perto dele, dizendo: -A ti, Sócrates, que reconheço ser o mais nobre, o mais delicado e o melhor de todos os que já vieram para cá, não irei atribuir sentimentos de raiva de outros homens(…) de fato, estou certo de que não ficarás zangado comigo, porque como sabes, são os outros , e não eu o culpado disso. E assim, eu te saúdo, e peço que suportes sem amargura aquilo que precisa ser feito, sabes qual é a minha missão - e caindo em prantos, voltou-se e retirou-se. Sócrates olhou para ele e disse: - Retribuo tua saudação, e farei como pedes.- E então, voltando-se para nós disse:- Como é fascinante esse homem; desde que fui preso, ele tem vindo sempre me ver,e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas devemos fazer o que ele diz; Críton, que tragam a taça, se o veneno estiver preparado.(…) Críton, ao ouvir isso fez um sinal para o criado, o criado foi até lá dentro, onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carceireiro trazendo a taça de veneno. Sócrates disse: -Tu, meu bom amigo, que tem expêriencias nesses assuntos, irá me dizer como devo fazer. O homem repondeu: - Basta caminhar de um lado para outro, até que tuas pernas fiquem pesadas., depois deita-te e o veneno agirá.-Ao mesmo tempo estendeu a taça a Sócrates, (..) que segurou-a (…) E então levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno. Até aquele instante a maioria de nós conseguira segurar a dor; mas agora, vendo-o beber e vendo, também que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos conter; apesar de meus esforços, lágrimas corriam aos borbotões. (…) Apolodoro, que estivera soluçando o tempo todo, irorrompeu num choro alto que transformou-nos a todos em covardes. (…) E então, o próprio Sócrates apalpou as pernas e disse: -Quando chegar ao coração, será o fim.- (…) e disse aquelas que seriam as suas últimas palavras: - Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de pagar a dívida? -A dívida será paga - disse Críton. (…) Foi esse o fim de nosso amigo, a quem posso chamar sinceramente de o mais sábio, mais justo e melhor de todos que conheci. ”

Fonte: 
ARANHA Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, s.d.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Filosofia e Literatura: 4 dicas de Leituras para você!!!

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O Menino do Dedo Verde
Maurice Druon

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Literatura para todas as idades, de pura ficção,

transbordante de humor e gratuidade lírica, de poesia.

A simbologia quase evangélica deste pequeno livro

faz dele realmente um acontecimento.

É para ser relido ao longo dos anos, se se tiver

a sorte de descobri-lo na idade cronológica certa.

Livro para meditar em toda a sua riqueza,

se já o conhecemos adultos, pois pode ser comparado,

sem exageros, com o Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry.

Enquanto o Pequeno Príncipe pertence a uma mitologia,

Tistu, o menino do dedo verde, está, ao contrário,

preso às contingências sociológicas

do mundo em que existimos.

O primeiro é intemporal;

o segundo é filho da era da poluição,

da agressividade e do desentendimento.

Sobre um mundo cinza e enlutado,

Tistu deixa impressões digitais misteriosas que suscitam

o reverdescimento e a alegria.

Sua missão é justamente despoluir, humanizar,

reintroduzir a poesia num universo

do qual ela se encontra exilada.

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O MENINO NO ESPELHO

Fernando Sabino

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Nas palavras do autor: "Quando eu era menino,

os mais velhos perguntavam:

-Que é que você quer ser quando crescer?

Hoje não perguntam mais. Se perguntassem,

eu diria que quero ser menino."

Fernando Sabino relata sua infancia no livro

"O menino no espelho". Um livro que retrata além

das peripécias da infância do autor,

também os elementos da cultura mineira em seu cotidiano

- de uma forma poética, engraçada, entusiasta, bela...

Nesta obra, o menino Fernando,

que vem a ser o próprio autor,

vive todas as fantasias de sua infância,

através de aventuras mirabolantes.

Ensina uma galinha a conversar,

aprende a voar com os pássaros,

fica invisível, encontra-se com Tarzan e Mandrake,

visita o sítio do Pica Pau Amarelo,

torna-se agente secreto e campeão de futebol,

vive aventuras na selva, enfrenta o valentão da sua escola.

E, no menino que vê refletido no espelho,

descobre o melhor de si mesmo,

a projeção do ideal de pureza

que só uma criança pode alcançar

simbolizada na libertação dos passarinhos.

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Memórias

de um

Redivivo



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Acabei de ler Carneiro "Memórias de um Redivivo"

e gostei demais...

Recomendo a leitura, vale a pena...

através do livro fazemos uma viagem no tempo

e com as personagens do livro

experimentamos aventuras magníficas...

Você já se imaginou ali cara a cara com Sócrates,

o pai da filosofia Grega e mais que isso,

ser um dos seus discípulos,

tendo o privilégio de presenciar

os últimos minutos de vida do Mestre,

antes que esse tomasse o cálice de veneno

- sentença que recebera pela acusação

de corromper os jovens da Grécia e mais...

estar ali cara a cara com Jesus Cristo,

observá-lo de pertinho, ouvir seus ensinamentos,

testemunhar seus milagres...

É o melhor livro que tenho lido nos últimos tempos...

Encontrei ele por acaso empoeirado numa estante

de biblioteca e não demorei

para adquirir meu próprio exemplar.

Do autor eu já tinha lido "Pecado nos Trópicos",

muito massa esse romance também...

voltarei a relê-lo futuramente e com certeza

as outras obras também...

CECÍLIO JOSÉ CARNEIRO

nasceu em Paracatu em 03/12/1911

e faleceu em São Paulo em 10/10/1970.

A sua formação foi

Secundário no Ginásio Oswaldo Cruz em SP.

Também Cursou medicina em São Paulo.

Teve como Atividades Profissionais:

Médico,romancista, conferencista de literatura

na Universidade de Colúmbia.

Ainda encontrou tempo para Atividades Intelectuais,

Científicas e Literárias:

Colaborador em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Produção Cultural – Principais Obras:

"O livro de Xerozada",

"Memória de Cinco",

"A fogueira" – romance traduzido para o inglês e

lançado nos EEUU e Inglaterra.

"Pecados dos Trópicos",

"Memórias de um Redivivo",

Lúcifer, As filhas das Águas, O rei adolescente.

São romances inéditos.



Cecilio J. Carneiro
MEMÓRIAS DE UM REDIVIVO.


Ed. Lake
__________________________________________________



"Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração.

O essencial é invisível para os olhos."



Le Petit Prince


O Pequeno Príncipe
Antoine de Saint-Exupéry


O Pequeno Príncipe foi escrito em 1943

por Antoine de Saint-Exupéry.

Essa é a sua obra mais conhecida,

e a única que ele escreveu para crianças.

Ele fez também as ilustrações, e o resultado

é bonito e gostoso de ler.

O livro conta a história de um piloto de avião

que sofre um acidente e cai no deserto do Saara.

O aviador fazia a viagem sozinho,

e precisava consertar a sua máquina em poucos dias,

antes que seu estoque de água acabasse.

Perdido no meio de um deserto enorme,

o piloto se surpreende ao encontrar um garoto

- o Pequeno Príncipe. Aos poucos,

ele descobre a fabulosa história do menino.

Ele morava em um asteróide, chamado de B-612.

Ali, a maior preocupação do

Pequeno Príncipe eram os baobás

grandes árvores que poderiam destruir o asteróide.

O garoto precisava arrancar as mudas dos baobás

antes que eles crescessem.

Ele decide então vir para a Terra à procura de um carneiro,

que poderia comer as mudas dos baobás,

poupando-o desse trabalho.

Durante a viagem, ele encontra várias pessoas e animais.

O livro foi escrito para crianças,

mas muitos adultos, como eu, também adoram lê-lo.

O Pequeno Príncipe representa a criança

que todo adulto já foi um dia.

Narrando o encontro do piloto com o garoto no deserto,

Saint-Exupéry nos conta a história de alguém

que redescobre a sensibilidade artística

que tinha quando era criança

e que foi reprimida pelos adultos.

"O Pequeno Príncipe",

do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry,

é um dos mais conhecidos títulos

da literatura infanto-juvenil mundial.

O livro já rendeu várias adaptações para o cinema e a tv.

Resumindo, um livro infantil ,

mas que todas as pessoas deveriam ler.

O livro contém passagens que nos fazem pensar ,

e lições de vida. Ideal para crianças e adultos .

O livro tem um profundo sentido poético

trabalhando o tema amizade como ninguém

jamais trabalhou ou poderia vir a fazê-lo...

Através de uma narrativa poética,

o livro apresenta uma visão de mundo e

mergulha no próprio inconsciente,

reencontrando a criança de cada um de nós.

Ao explicar como adaptou o clássico para o teatro

Luana Piovani foi feliz ao dizer que...

"(..)O livro fala de criar laços, de se envolver,

não só com as pessoas que te cercam,

mas com as coisas que você faz, você se doar.

A raposa diz isso.

A raposa também diz que o essencial à vida

é invisível aos olhos e ela tem muita razão.

Alegria, amor, carinho, compreensão,

tolerância, todas essas coisas são sentimentos.

Não se pega, são invisíveis".

Pra finalizar, uma das passagens

que mais me impressionou no livro é a dedicatória

que o autor faz de sua obra,

as palavras dele nos faz entender melhor o "terreno fértil"

donde brotou tão singular e incomparável obra:

(...)Peço perdão às crianças por dedicar

este livro a uma pessoa grande.

Tenho uma desculpa séria:

essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo.

Tenho um outra desculpa:

essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas,

até mesmo os livros de criança.

Tenho ainda uma terceira:

essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio.

Ela precisa de consolo.

Se todas essas desculpas não bastam,

eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi.

Todas as pessoas grandes foram um dia crianças.

(Mas poucas se lembram disso.) (...)

"Os verdadeiros milagres fazem pouco barulho." ho."


Clip da música The Little Prince

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TheLittlePrince



A ALEGORIA ou Mito DA CAVERNA do Filósofo Platão



'Alegoria da Caverna' talvez seja o texto mais famoso da filosofia: a alegoria ou mito da caverna de Platão, encontra-se no livro 7 da República. 

A obra República de Platão, enfoca o conceito de justiça, tanto do ponto de vista do indivíduo quanto do ponto de vista do coletivo e/ou social. Platão e Sócrates buscam descobrir como uma sociedade e um indivíduo podem ser justos e, para isso, procuram voltar à ideia de justiça, graças ao método dialético (método de elevação da alma - alma enquanto Razão)

A Alegoria da Caverna apresenta a Teoria das Ideias de Platão, que constitui tanto sua metafísica (= sua teoria do conhecimento) quanto sua ontologia (= sua teoria do ser e da realidade). A República também é um diálogo político, pois Platão expõe ali sua teoria sobre a organização ideal da cidade e sua teoria do poder (rei-filósofo)


Este texto é, portanto, inteiramente representativo da filosofia platônica.


Breve resumo do livro 7: Homens vivem em ilusão - alienados da realidade. Somente a filosofia, livre de opinião e plausibilidade, acessa e contempla ideias inteligíveis. O mundo é assim dividido em dois: coisas sensíveis, falsas, e suas ideias, verdadeiras. Agora, sendo a verdade preferível à ilusão, o conhecimento deve guiar o homem e a cidade. Portanto, cabe ao filósofo, o único que pode saber a verdade, reinar.

A Caverna como base ontológica (Ontologia (do grego ontos "ente" e logoi, "ciência do ser") é a parte da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres objeto de seu estudo) em Platão: 

A realidade não é homogênea, de acordo com Platão. Ela se divide em duas partes: por um lado, o mundo sensível acessível aos sentidos, a fonte real imediata de erro e ilusão; por outro, o mundo inteligível acessível apenas à razão, o lugar das idéias e da verdade. Ao associar realidade e verdade, Platão condena o mundo sensível. O cavalo não é a verdade, apenas a ideia de um cavalo é verdadeira.

Assim, a Caverna designa o mundo sensível, do qual o sábio-filósofo deve se afastar em favor do mundo das Ideias. O acesso à verdade é através da contemplação, o exercício de usar a razão.

A ontologia platônica é, portanto, dualística devido a essa dicotomia sensível / inteligível.

Opinião e conhecimento: A caverna como uma teoria epistemológica.

A Caverna também revela a teoria do conhecimento de Platão. A Caverna designa o mundo da opinião, enquanto o exterior designa o mundo do conhecimento. Platão afirma que o lugar natural dos homens é a ignorância. Embalada pelos sentidos e preconceitos, a maioria dos homens vive sob o jugo da “doxa” (opinião). Então você tem que trabalhar em si mesmo, fazer uma revolução na maneira como vê o mundo, converter seu olhar para se libertar da doxa.

Obviamente, o filósofo experimenta a solidão e a incompreensão da multidão, mas seu papel continua a iluminar a multidão por meio da mecânica (nascimento das almas).


O idealismo de Platão trabalhando na Alegoria da Caverna: Platão é um idealista, na medida em que coloca a primazia das ideias sobre a matéria. O mundo das Ideias, eterno e imóvel, prevalece sobre o mundo sensível, o mundo da ilusão, temporário. Realidade compreensível é realidade real. Os objetos do mundo são apenas reflexos (Marx, como materialista, derrubará a hierarquia platônica: o mundo das idéias é um reflexo do mundo dos objetos (relações de produção)

A consequência política, na organização política é óbvia: os filósofos devem se tornar reis. Ao colocar o conhecimento no centro da comunidade política, Platão apresenta uma teoria política elitista.



SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.

GLAUCO - Imagino tudo isso.

SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
  
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!


SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?

GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
  
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?

GLAUCO - Não.

SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?

GLAUCO - Sem dúvida.

SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?

GLAUCO - Claro que sim.

SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.

GLAUCO - Necessariamente.

SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?

GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.

SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?

GLAUCO - A princípio nada veria.

SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.

GLAUCO - Não há dúvida.

SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.

GLAUCO - Fora de dúvida.

SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.

GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.

SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?

GLAUCO - Evidentemente.
  
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
  
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.

SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?

SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol, no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.



Referências
"A República" de Platão . 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291
ANALYSE DE L’ALLÉGORIE DE LA CAVERNE (PLATON) -https://la-philosophie.com/


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