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FILOPARANAVAÍ

sábado, 4 de abril de 2020

GALERIA DOS/AS DEFENSORES/AS DA DEMOCRACIA, DO POVO, DA IGUALDADE E DA JUSTIÇA SOCIAL: CONFLITO, POLITIZAÇÃO, DIREITOS, DEVERES, LIBERDADE, AUTONOMIA, RESPEITO, DIFERENÇA, IGUALDADE, CIDADANIA...

“Dormir na rua é desumano.
Nem ter direito a isso é absurdo”
Rosalina Santa Cruz



Rosalina de Santa Cruz - Personalidade de destaque na luta pela Redemocratização do Brasil. Assistente Social e professora doutora da Faculdade de Serviço Social da PUC/SP. Feminista, atuou desde a década de 1970 no Movimento de Mulheres. Foi uma das editoras do Jornal Brasil Mulher. Foi presa política no período da ditadura militar e seu irmão, Fernando, é um dos desaparecidos políticos daquela época. Ela integrou a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Depois, engajou-se na luta pela Anistia, sendo uma das ativistas do Comitê Brasileiro pela Anistia. Participou das lutas em defesa da LOAS (Lei da Assistência Social) e do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).LEIA MAIS DÊ CLIQUE AQUI: Entrevista realizada no contexto do projeto "Memória da assistência social no Brasil: constituição de banco de entrevistas"

LEIA MAIS: Rosalina Santa Cruz | “Golpe de hoje atinge pobres e negros” Ex-presa política relata as atrocidades da ditadura militar no Brasil e analisa as consequências do golpe de 2016

Comissão da verdade da PUC-SP pelos olhos de Rosalina de Santa Cruz



Frei Betto - Personalidade de destaque na luta por Democracia, Cidadania e Direitos Humanos. Frei dominicano é militante de movimentos sociais pelos direitos humanos na América Latina. Foi preso político da ditadura militar. Foi assessor especial do presidente Lula e coordenador da Mobilização Social do Programa Fome Zero. Foi coordenador da Anampos (Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais) e participou da fundação da CUT e da Central de Movimentos Populares. Assessorou o MST, Comunidades Eclesiais de Base e Pastoral Operária do ABC, entre outras organizações. É membro do conselho consultivo da Comissão Justiça e Paz de São Paulo.Nos últimos anos, recebeu 15 prêmios no Brasil e no exterior por sua luta incansável em prol dos Direitos Humanos.

Autor de 60 livros, editados no Brasil e no exterior, Frei Betto nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia.

Frade dominicano e escritor, ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu livro de memórias Batismo de Sangue (Rocco). Em 1982, foi eleito Intelectual do Ano pelos escritores filiados à União Brasileira de Escritores, que lhe deram o Prêmio Juca Pato por sua obra Fidel e a religião. Seu livro A noite em que Jesus nasceu (Editora Vozes) ganhou o prêmio de "Melhor Obra Infanto-Juvenil" de 1998, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 2005, o júri da Câmara Brasileira do Livro premiou-o mais uma vez, agora na categoria Crônicas e Contos, pela obra Típicos Tipos – perfis literários (Editora A Girafa). Em 2011, seu romance policial Hotel Brasil (Rocco) ficou entre as dez obras finalistas do Prêmio Jabuti, no quinto lugar. Em 2012, seu romance Minas do Ouro (Rocco) ficou entre os finalistas do Prêmio Portugal Telecom.

Ainda na área cultural, foi assistente de direção de José Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina, na primeira montagem da peça de Oswald de Andrade, “O rei da vela” e crítico de teatro do jornal Folha da Tarde (1967/1968)

Foi coordenador da ANAMPOS (Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais), participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares). Prestou assessoria à Pastoral Operária do ABC (São Paulo), ao Instituto Cidadania (São Paulo) e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Foi também consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em 2003 e 2004 atuou como Assessor Especial do Presidente da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Desde 2007 é membro do Conselho Consultivo da Comissão Justiça e Paz de São Paulo. É sócio fundador do Programa Todos pela Educação.


Colabora com vários jornais, revistas, sites e blogs, no Brasil e no exterior. 

LEIA MAIS: 
PERFIL COMPLETO DE FREI BETTO


Maria da Penha - Personalidade de destaque na luta por Democracia e Direitos dos Trabalhadores. A cearense Maria da Penha é Farmacêutica e símbolo do combate à violência doméstica no Brasil. Em 1983, foi vítima de violência doméstica por parte de seu marido, que lhe desferiu um tiro nas costas enquanto dormia, deixando-a paraplégica. Lutou por justiça por quase 20 anos e, não obtendo resposta, denunciou o Brasil na Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Isso resultou na condenação internacional do nosso país. Como decorrência de sua luta, foi criada a lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha - de punição à violência contra a mulher, em vigor desde 2006.

LEIA MAIS: QUEM É MARIA DA PENHA?



Conheça a história de Dom Pedro Casaldáliga, 
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Dom Pedro Casaldáliga - Personalidade de destaque na luta por Democracia e Justiça no Campo. Espanhol radicado no Brasil desde 1968, Dom Pedro Casaldáliga é bispo emérito de São Félix do Araguaia (Mato Grosso). Por sua postura em defesa dos direitos humanos, foi alvo de perseguição pela ditadura militar e recebeu inúmeras ameaças de morte, por apoiar trabalhadores rurais e a luta pela reforma agrária. O bispo também é um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

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MST – Instituição de destaque na luta por Democracia e Liberdade. O Movimento dos Sem Terra foi criado em 1984, com o objetivo de intensificar a luta pela reforma agrária no Brasil e buscar a justiça no campo. O Movimento pretende que o país adote medidas contra a concentração fundiária, garantindo a inclusão social dos trabalhadores no campo.



Luiz Inácio Lula da Silva – Personalidade de destaque na luta por Democracia e Liberdade. Referência para os movimentos sindical e social, Lula é uma das mais importantes referências para a história recente do Brasil. Líder metalúrgico, na década de 1970 esteve à frente das greves que desafiaram o regime militar no ABC paulista e que mudaram o sindicalismo no país. Fundou o Partido dos Trabalhadores e foi um dos principais articuladores para a fundação da Central Única dos Trabalhadores. Foi eleito deputado Constituinte em 1986. Elegeu-se presidente da República em 2002, cargo para o qual foi reeleito em 2006. Em seus oito anos de mandato, promoveu profundas mudanças no Brasil, conciliando o desenvolvimento econômico com o social, que tirou milhões de cidadãos da condição da miséria. Hoje Lula é referência mundial em programas sociais, como o de combate à fome e à miséria, e carrega a marca de ter sido o presidente com maior aprovação da história do país.

O sertanejo é antes de tudo um forte. Cunhada pelo escritor Euclides da Cunha, a frase parece se ajustar à personalidade de Lula desde seu nascimento. Nordestino, pobre, sétimo filho de um casal de lavradores analfabetos, Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 1945 numa casa de dois cômodos e chão de terra batida no Semiárido pernambucano. Sem luz, água encanada, banheiro ou sapatos, o menino tinha 7 anos quando montou num pau-de-arara e, cumprindo a sina de milhares de outros brasileiros, "despencou" para o sul-maravilha com a mãe e os irmãos, a fim de reencontrar o pai, que havia retirado semanas antes de Lula nascer, em busca de uma vida melhor longe da seca e da miséria. 

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 para ler a biografia completa de Lula


LEONARDO BOFF | TEÓLOGO 
“A Igreja sempre fez política, porém, 
uma política de direita” 


Outro grande defensor da Democracia no Brasil, chama-se Leonardo Boff. O movimento católico da Teologia da Libertação, que defende uma Igreja para os pobres e ideais de justiça social, nunca foi bem visto pela Santa Sede. 

Vários sacerdotes foram inabilitados por seguir essa doutrina de dimensão sociopolítica, principalmente na América Latina durante os anos 70. 

No Brasil, o teólogo Leonardo Boff, foi uma das vítimas do conservadorismo da Igreja nos anos 70. 

Tudo porque ele apoiava a ideia de que a instituição precisava resgatar a origem e a vida de Jesus, que nasceu pobre e morreu por pregar seus ideais libertários. 

Leonardo Boff (Genézio Darci Boff (Concórdia, 14 de dezembro de 1938)) doutorou-se em teologia pela Universidade de Munique. Foi professor de teologia sistemática e ecumênica com os Franciscanos em Petrópolis e depois professor de ética, filosofia da religião e de ecologia filosófica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 

Conta-se entre um dos iniciadores da teologia da libertação. É assessor de movimentos populares. Conhecido como professor e conferencista no pais e no estrangeiro nas áreas de teologia, filosofia, ética, espiritualidade e ecologia. Em 1985 foi condenado a um ano de silêncio obsequioso pelo ex-Santo Ofício, por suas teses no livro Igreja: carisma e poder (Record). 

A partir dos anos 80 começou a aprofundar a questão ecológica como prolongamento da teologia da libertação, pois não somente se deve ouvir o grito do oprimido mas também o grito da Terra porque ambos devem ser libertados. Em razão deste compromisso participou da redação da Carta da Terra junto com M.Gorbachev, S.Rockfeller e outros. 

Escreveu vários livros e foi agraciado com vários prêmios. Destaco alguns títulos: Ecologia: Ecologia, Mundialização, Espiritualidade (Record), Civilização planetária (Sextante), A voz do arco-iris (Sextante), Saber cuidar (Vozes), Ética e ecoespiritualidade (Verus), Homem: satã ou anjo bom (Record), Evangelho do Cristo cósmico (Record); Do iceberg à Arca de Noé (Sextante); Opção Terra. A solução da Terra não cái do céu (Sextante); Proteger a Terra-cuidar a vida.Como evitar o fim do mundo (Record); Ecologia: grito da Terra, grito do pobre (Sextante) pelo qual recebeu o prêmio Sérgio Buarque de Holanda como o melhor ensaio social do ano de 1994 e em 1997 nos EUA foi considerado um dos três livros publicados naquele ano que mais favorecia o dialogo entre ciência e religião. 

Junto com Mark Hathaway escreveu nos USA The Tao of Liberation. Exploring the Ecogoy of Transformation com Prefácio de Fritjof Capra, ganhando a medalha de ouro da instituição Nautilus para criatividade intelectual e o primeiro lugar do livro religioso do ano. Recebeu os títulos de dr.honoris causa em política pela Universidade de Turin em 1991, dr.honoris causa em teologia pela Universidade de Lund (Suécia) em 1992 e dr.honoris causa em teologia, ecumenismo, direitos humanos, ecologia e entendimento entre os povos pelas Faculdades EST de São Leopoldo em 2008 e dr.horis pela Cátedra del Água da Universidade de Rosário na Argentina em 2010. Em 2008 pela Universidade de São Carlos em Guatemala e pela Universidade de Cuenca no Equador, recebeu o titulo de Professor Honorário. Foi assesssor da Presidência da Assembléia da ONU ao tempo da administração de Miguel d’Escoto Brockmann (2008-2009) e foi integrante do grupo de reforma da ONU, especialmente quanto à Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade. (Adaptado de https://leonardoboff.wordpress.com/)



Transcrição do trecho da audiência, realizada em 7 de maio de 2008 pela Comissão de Infraestrutura do Senado:

Senador José Agripino Maia (DEM): “A senhora mentiu na ditadura, mentirá aqui?”

Dilma Rousseff: “Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para os seus interrogadores, compromete a vida dos seus iguais e entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido senador, porque mentir na tortura não é fácil. Agora, na democracia se fala a verdade. Diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. E isso (aplausos) e isso, senador, faz parte e integra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho, e eu não estou falando de heróis. Feliz do povo que não tem heróis desse tipo, senador, porque aguentar a tortura é algo dificílimo, porque todos nós somos muito frágeis, todos nós. Nós somos humanos, temos dor, e a sedução, a tentação de falar o que ocorreu e dizer a verdade é muito grande senador, a dor é insuportável, o senhor não imagina quanto é insuportável. Então, eu me orgulho de ter mentido, eu me orgulho imensamente de ter mentido”.



Economista, ex-ministra e atual presidenta do país, Dilma Rousseff lutou pela derrubada da ditadura, pela democracia e pela liberdade no Brasil. 

Em 1964, iniciou sua militância na Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), aos 16 anos. Depois, ingressou no Comando de Libertação Nacional (Colina), movimento adepto da luta armada. Em 1969, começou a viver na clandestinidade e foi obrigada a abandonar o curso de economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que havia iniciado dois anos antes. Em julho daquele ano, o Colina e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) se uniram, criando a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). No entanto, ela afirma que nunca participou efetivamente da luta armada. 

Em 1970, Dilma foi presa e submetida a torturas em São Paulo (Oban e DOPS), no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. As torturas aplicadas foram o pau de arara, a palmatória, choques e socos, que causaram problemas em sua arcada dentária. No total, foi condenada a seis anos e um mês de prisão, além ter os direitos políticos cassados por dez anos. No entanto, conseguiu redução da pena junto ao Superior Tribunal Militar (STM) e saiu da prisão no final de 1972. 

Naquele mesmo ano, Dilma se mudou para Porto Alegre. No ano seguinte, passou a fazer campanha em favor do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar. Em 1976, nasceu Paula Rousseff Araújo, sua única filha. 

Embora tenha se firmado como candidata à sucessão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma era uma integrante recente no Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1980, ela ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), legenda à qual permaneceu filiada até 2001, quando ingressou em seu atual partido. Durante a campanha presidencial de 2002, que levou Lula ao Palácio do Planalto, Dilma ganhou destaque na equipe responsável por formular o plano de governo na área energética. Foi convidada então a ocupar a pasta de Minas e Energia em 2003. 

Permaneceu à frente do ministério até junho de 2005. Em abril de 2009, revelou que estava se submetendo a tratamento contra um linfoma descoberto em um exame de rotina. Após sessões de radioterapia e quimioterapia, Dilma afirmou estar curada do câncer e, apenas alguns meses depois, o PT oficializou sua candidatura à Presidência da República nas eleições 2010, que saiu vitoriosa. Foi reeleita em 2014.

A presidenta deu sequência ao governo Lula, fazendo inclusão social e irritando os opositores.

Regulação social da mídia, taxação das grandes fortunas, reconhecimento dos direitos LGBT`s eram apenas algumas das propostas de Dilma que assustavam a elite atrasada do país.

Furiosos por não conseguirem o poder por meio do voto com a derrota em 2014 e temendo o PT mais tempo no poder, a elite brasileira unida à parte podre do Congresso, com a cumplicidade do vice Michel Temer, ainda com as cumplicidades do STF e das Forças militares, além da mídia liderada pela Rede Globo e setores da Classe Média que passavam a impressão de participação e apoio popular ao golpe, conduziu um processo de impeachment, sem crime, da presidenta. 

Em seu primeiro pronunciamento após a aprovação do impeachment pelo Senado,  Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (em 31 de Agosto de 2016) que a decisão dos senadores é o segundo golpe de estado que enfrentava na vida. 

Dilma disse ainda que os senadores que votaram pelo seu afastamento definitivo rasgaram a Constituição e consumaram um golpe parlamentar. 

Como cidadão que acompanhei todo o processo, digo que foi vergonhoso e que o Brasil pagará um alto preço por esse erro histórico. A Elite odeia povo e inclusive essa parcela da Classe Média, que foi manipulada pela Rede Globo para colocar camisetas da CBF e ir às ruas aos domingos com transmissão ao vivo, também pagará essa conta. Com certeza teremos muitos retrocessos, precarização dos serviços públicos, retirada de direito sociais e trabalhistas, entrega do patrimônio público, aumento da corrupção, empobrecimento da população. O receituário neoliberal irá colocar o Brasil em um grande retrocesso. Mas o povo jamais esquecerá os 'dourados anos' das  gestões petistas nas quais teve vez e voz pela primeira vez. Tempo em que os brasileiros voltaram a ter orgulho de serem brasileiros. Tempo no qual o Brasil foi invejado e respeitado lá fora.  

Leia a íntegra de seu discurso histórico:

"Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu País. 

Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar. 

Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado. 

É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo. 

É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis. 

Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados. 

O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social. 

Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment. 

Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática. 

O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido. 

O golpe é contra o povo e contra a Nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência. Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes. 

Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados. 

A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta. 

Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer. 

Quando o Presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso País. 

Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano. 

Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia. 

Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil. 

Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade. 

Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles. 

Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar. 

Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”. 

Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski: 

"Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão 
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, 
haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."

Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça."

Filoparanavaí 2020

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