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domingo, 2 de maio de 2010

Documento Histórico: A sentença que condenou Galileu Galilei em 22 de junho de 1633


Documento da condenação de Galileu Galilei. Nele está o fundamento que deu base à decisão e elementos interessantes para se observar, como por exemplo a disputa teórica entre Geocentrismo e Heliocentrismo. Abaixo segue a sentença que condenou Galileu Galilei em 22 de junho de 1633, do Arquivo Secreto do Vaticano, traduzido do Latim para o Castelhano e deste para o Português:


Nós, Gaspano, da Igreja de Santa Croce in Gerusalemme Dorgia,


Frei Felice Centino de Santa Anstasia d´Ascoli; Guido de Santa Maria del Populo Bentivoglio; Frei Desiderio Seaglia de Sancarlo de Cremona; Frei Antonio Barberino de San Onofrio; Laudivio Zacchia de San Pietro In vincolo, S.Sisto; Berlingero de San Agostino Gesso; Padres Fabricio de San Lorenzo in Pane e Perna Veraspio; Francesco de San Lorenzo in Damaso Borberina e Marsio de Santa Maria Nova Ginetti, diáconos; pela misericórdia de Deus, da Santa Igreja Romana, em toda a República Cristã contra a herética maldade, Inquisidores gerais da S.Sede Apostólica especialmente deputados.

E tu, Galileu, filho de Vincenzo Galilei, Florentino, de 70 anos de idade, Foste denunciado em 1615 neste Santo Oficio, por manter como verdade a falsa doutrina, ensinada por alguns, de que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e que a terra se move também em seu movimento diurno; que tinhas discípulos, aos quais ensinavas a mesma doutrina; que tinhas correspondência com alguns matemáticos da Alemanha, e que tu havias publicado algumas cartas intituladas Delle Macchie Solari, nas quais explicavas a mesma doutrina como verdadeira; que às objeções que te eram feitas, às vezes, tiradas da Sagrada Escritura, respondias conforme o teu senso; e sucessivamente foi apresentada uma cópia de uns escritos, sob forma de carta, que se diziam ter sido redigidas por ti a um tal discípulo, segundo a posição de Copérnico, contendo várias proposições contra o verdadeiro sentido e autoridade da Sagrada Escritura.

Desejando pois este Sagrado Tribunal da censura aquilo que andava crescendo contra a Santa Fé, pela ordem de N.Srs. e dos Eminentíssimo e Reverendíssimos Cardeais desta Suprema e Universal Inquisição, foram pelos teólogos eminentes qualificados as tuas proposições sobre a estabilidade do Sol e do movimento da terra, isto é: que o Sol seja o centro do mundo e imóvel de movimento local, é proposição absurda e falsa em filosofia, e formalmente Herética, por ser expressamente contrária à Sagrada Escritura. Que a terra não seja o centro do mundo nem imóvel, mas que possua movimento diurno, é igualmente proposição absurda e falsa na Filosofia, e considerada errônea em Fé.

Mas desejando então proceder com benevolência, foi decretada na Sagrada Congregação realizada diante de N.S. no dia 25 de fevereiro de 1616, que o Eminentíssimo Cardeal Bellarmino ordenasse que tu deverias deixar a dita falsa opinião e, se recusasses a proceder assim, que o Comissário do Santo Oficio te prescreveria deixares a dita doutrina, e que não poderias ensiná-la, nem defendê-la, nem citá-la, e, se não atendesses [a essas exigências] deverias ser encarcerado; e na execução do mesmo decreto, no dia seguinte, no palácio e na presença do Eminentíssimo Sr. Cardeal Bellarmino, depois de ele próprio ter te benevolamente te repreendido e aconselhado, foste, naquele tempo, advertido pelo P.comissário do Santo Oficio, na presença do Escrivão e de testemunhas, de que deverias abandonar a dita falsa opinião e que, no futuro, não poderias defendê-la nem ensiná-la de qualquer maneira, nem oralmente nem por escrito: e tendo tu prometido obedecer, foste liberado. E para que se talhasse tal perniciosa doutrina, e que não fosse além, incorrendo em grave prejuízo da verdade católica, saiu o decreto da Santa Congregação do Índice, com o qual foram proibido os livros que tratam de tal doutrina, e essa foi declarada falsa e totalmente contrária à Sagrada e divina Escritura.

E aparecendo ultimamente aqui um livro publicado em Florença no ano passado, cuja inscrição mostrava que tu eras o seu autor, cujo título era Dialogo di Galileo Galilei dello due Massimi Sitemi del Mondo, Tolemaico e Copernicano; e informado junto À Sagrada Congregação que com a publicação de tal livro se disseminava a cada dia a falsa opinião do movimento da terra e da estabilidade do Sol; o dito livro foi diligentemente analisado, e foi encontrada expressamente a transgressão do preceito anterior em que tu já havias incorrido, defendendo no mesmo livro a dita opinião já danada e apresentando na capa sua autoria declarada, de que tu no dito livro, com vários estudos buscas persuadir que deixas a [opinião] como indecisa e expressamente provável, mas que se provável uma opinião declarada e definitivo como contraria à escritura divina.

Que, por essa razão, tu foste por nós chamado neste Santo Oficio no qual, com teu juramento, foi reconhecido como sendo um teu livro escrito e editado confessaste que, cerca de dez ou doze anos atrás, depois de teres sido advertido, começaste a escrever o dito livro; que tinha pedido a licença para publicá-lo, sem porém significar que devesses defender e ensinar de qualquer maneira a tal doutrina.

Confessaste igualmente que a extensão dos escritos de teu livro vão muito além, podendo o leitor formar conceito de que os argumentos levantados pela parte falsa fossem de tal modo pronunciados que até os mais cultos poderiam cair neles; desculpando-te de ter incorrido em erro tão grave, como disseste, por tua intenção, por teres escrito na forma de diálogo, e pela natural complacência com cada uma das sutilezas e de mostrar-te o mais arguto ao mais comum dos homens, [usando] também proposições falsas, engenhosas e aparentes discursos de probabilidade.

E, garantindo convenientemente a tua defesa, produziste um escrito de fé elaborado pelo Excelentíssimo Cardeal Bellarmino, que produziste, como disseste, para defender-te das calúnias de teus inimigos, os quais queriam que tu abjurasses e fosses penitenciado pelo Santo Oficio, em cuja Fé se diz que tu não tinhas abjurado nem penitenciado, mas que tinha sido somente denunciado a declaração feita pelo N.S e publicada pela Sagrada Congregação no Índice, na qual está contida que a doutrina do movimento da terra e da estabilidade do Sol é contrária às Sagradas Escrituras, o que não pode ser nem mantida nem defendida; e que, uma vez que não foi feita menção na dita Fé dos particulares acima, isto é, Docere et quovis modo, deve-se acreditar que no curso de 14 ou 16 anos perdeu-se toda a memória, e que por essa mesma razão tiveste silenciado sobre as censuras quando pediste a licença para pode publicar teu livro, e que tudo isso tiveste dito não para te desculpar do erro nem por maldade, mas por pura ambição. Mas a dita Fé, produzida por ti em tua defesa, agravou-se ainda mais, porque, afirmando que essa opinião é contrária à Sagrada Escritura, [ revela-se] que tu a defendeste e acreditaste nela como provável; e isso rompe a licença artificiosamente obtida por ti e astutamente deformada...

E parecendo a nós que tu não tinhas dito inteiramente a verdade acerca de tuas intenções, julgamos que seja necessário um rigoroso exame contra ti; no qual, sem nenhum prejuízo a tua pessoa e das coisas que confessaste e contra ti deduzidos, respondeste catolicamente.

Portanto, vistos, amadurecido e considerados os méritos desta sua causa, com a tua dita confissão e tuas desculpas, vimos abaixo infringir contra ti uma sentença definitiva. Invocado assim o Santíssimo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua gloriosíssima Mãe sempre Virgem Maria; por esta sentença definitiva, dos tribunais, do Conselho e dos pareceres dos Reverendíssimos Mestres em Teologia e Doutores de uma e de outra Lei, nossos consultores, proferimos nestes escritos na causa e causas pendentes antes de nós, entre o M.co Carlo Sinceri, de uma e de outra Lei Doutor, Procurador Fiscal deste Santo Oficio, por uma parte, a ti Galileu Galilei, Réu aqui presente, inquirido, Processado e confesso, de outra parte.

Dizemos, Pronunciamos, Sentenciamos e declaramos que tu, Galileu acima mencionado, pelas coisas deduzidas no processo e por ti confessadas como acima, chegaste a este Santo Oficio, veementemente suspeito de Heresia, isto é, de ter mantido e acreditado na doutrina falsa e contrária às Sagradas e Divinas Escrituras, de que o Sol seja o centro da Terra [sic] que não se mova de oriente para ocidente, e que a terra se mova e não seja o centro do mundo, e de que se possa manter e defender como provável uma opinião depois de ter ela sido declara e definida como contrária à Sagrada Escritura; e, conseqüentemente, incorreste em todas as censuras e penas dos Sacros Cânones e de outras constituições gerais e particulares contra símiles delinquentes impostas e promulgadas. Das quais somo contentes (...) [pois] com o coração sincero e Fé não fingiria, abjuras diante de nós, maldizes e detestas os erros e heresias acima mencionados e qualquer outro erro e heresia contrária À Católica e Apostólica Igreja, no modo e forma que te será dada por nós.

E para que este teu grave e pernicioso erro e transgressão não permaneça impune, e que sirva de exemplo para que no futuro outros se abstenham de incorrer em delitos similares, ordenamos em edito publico que seja proibido o livro Dialoghi, de Galileo Galilei.

Condenamos-te ao cárcere formal neste Santo Oficio por nosso arbítrio, e por penitência Salutar te impomos que durante três anos recites uma vez por semana os sete salmos penitenciais: Reservando-nos a faculdade de moderar, modificar, ou retirar total ou parcialmente as penas acima mencionadas e as penitencias. E, assim, dizemos, pronunciamos, sentenciamos, declaramos, ordenamos, e reservamos neste e em outro meio melhor e na forma que podemos e devemos.

Pronunciam os cardeais abaixo assinados: F.Cardeal de Asculo. G Cardeal Bentivollus Fr. D. Cardeal de Cremona Fr. Art.s. Cardeal de S. Honuphrii. B. Cardeal Gipsus F. Cardeal Verospius. M. Cardeal Ginettus.

Publicação original

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