Galileu Galilei (1564-1642). Suas contribuições vão desde a
criação do método científico até o desenvolvimento de instrumentação, passando
por descobertas fantásticas e pela popularização do conhecimento. O gênio
italiano foi o primeiro a identificar crateras e montanhas na Lua, descobriu as
quatro maiores luas de Júpiter e constatou que a Via Láctea é composta de
inúmeras estrelas, invisíveis a olho nu. De quebra, verificou que Vênus possuía
fases, como as lunares. Tudo isso só entre 1609 e 1610, logo após ter
desenvolvido seu próprio telescópio astronômico.
A Ciência que nasce com a Modernidade é totalmente nova em relação à Ciência existente desde os gregos antigos até a Renascença, tão importante quanto assentar as bases do conhecimento na experiência foi obter essa experiência de forma controlada e sistemática, por meio daquilo que se chamou experimentos.
Para tomar um exemplo
famoso daquela época, sabe-se que Galileu concebeu vários desses experimentos
para observar como os corpos pesados caíam. Para ele, não bastava soltar uma
pedra e olhar sua descida. Ele queria saber quantitativamente como ela o faz.
Para tanto, concebeu o famoso experimento do plano inclinado, descrito em seu
livro Discursos e Demonstrações Matemáticas sobre Duas Novas Ciências (1638).
Com a inclinação, retarda-se a queda, facilitando a medição de tempos e
distâncias. Esse experimento comprova a lei galileana da queda dos corpos,
segundo a qual na queda o corpo percorre distâncias proporcionais ao quadrado
dos tempos de queda.
Esse exemplo
ajuda a ver vários outros pontos importantes na nova abordagem.
O primeiro é
que um experimento só é concebido com vistas ao esclarecimento de um dado
problema, previamente configurado na tradição de investigação. Nesse caso, o
problema era dado pela suspeita de Galileu de que a tese aristotélica de que os
corpos mais pesados caem mais rápido do que os mais leves estava errada. O
experimento de Galileu permite resolver essa dúvida de forma objetiva.
Um segundo
ponto é que os dados brutos de um experimento são pouco ou nada significativos
se não forem refinados intelectualmente. No exemplo em análise, devesse, para
chegar à lei de Galileu, “descontar” a interferência de causas espúrias, como o
atrito e a imperfeição dos relógios da época (batimento do pulso e relógio
d’água, inicialmente). Fazer isso sem mutilar fundamentalmente os resultados é
algo que exige perícia e verdadeira genialidade.
Por fim, o
exemplo destaca o segundo dos grandes traços da nova ciência, mencionados
acima, a preocupação em obter uma descrição quantitativa dos fenômenos, por
meio de sua matematização. Vale notar, como contraste, que na visão
aristotélica, nem mesmo a física poderia ser matematizada. As leis físicas
assumiam, segundo Aristóteles, um caráter puramente qualitativo.
Num ensaio
publicado em 1623, intitulado Il Saggiatore (“O Ensaiador”), Galileu expressou,
numa metáfora que se tornou famosa, sua nova proposta de estudo da natureza,
que, como estamos vendo, se tornaria fundamental no desenvolvimento da ciência
moderna:
“A filosofia
está escrita neste grandíssimo livro, que continuamente está aberto diante de
nossos olhos (eu quero dizer o universo), mas que não se pode entender se não
se aprende a entender a língua, e a conhecer os caracteres nos quais está
escrito. Ele está escrito em língua matemática, e os caracteres são os
triângulos, círculos, e outras figuras geométricas, sem cujos meios é
humanamente impossível entender uma só palavra; sem eles [a filosofia] é um vão
caminhar por um obscuro labirinto.” (Tradução de Henrique Fleming, em
http://www.hfleming.com/confgal2.html.)
Uma das
consequências desse novo enfoque de pesquisa foi a necessidade de um uso cada
vez mais extenso de aparelhos de observação. Por exemplo, Galileu, ele próprio,
pôs a óptica a serviço das observações astronômicas, construindo sua famosa
luneta; construiu também o primeiro relógio de pêndulo. Essas observações
instrumentais tiveram um papel crucial na implantação da nova ciência.
(Adaptado de Introdução à filosofia da ciência (Prof. Dr. Silvio Seno Chibeni - https://www.unicamp.br/)
► Nasce
uma nova concepção do mundo
►As
Ciências - Particular: um objeto específico - Geral: fenômenos se repetem na
natureza
Galileu Galilei (1564 – 1642)
►Influência:
Nicolau Copérnico (1473 – 1543)
►
Heliocentrismo
►Invenção
do Telescópio
►Aprofundamento
dos estudos de Copérnico
►Julgado
pela Inquisição (1533)
►Pena:
Desmentir sua teoria
Galileu Galilei nasceu em Pisa em 1564. Seu pai, um teórico
da música, queria ardentemente que ele se tornasse médico, uma profissão bem
remunerada. Assim, aos dezessete anos de idade, o jovem Galileu começou a
estudar medicina, que ele abandonou imediatamente: Ostillo Ricci, seu professor
de desenho, conseguiu fasciná-lo pela matemática, termo pelo qual agrupamos
várias de nossas disciplinas atuais , incluindo astronomia e física.
Excessivamente talentoso, seus biógrafos dizem que em 1583,
portanto, aos dezenove anos, Galileu teria descoberto o isocronismo dos pêndulos
simplesmente observando as oscilações do lustre de uma catedral. Ele também
teria entendido todo o objetivo desta lei para medir o tempo.
Em 1587, ele conheceu o famoso professor do Roman College, o
estabelecimento educacional de maior prestígio da época, o pai jesuíta
Christopher Clavius. Nomeado "Arquimedes do século XVI", este último
está no auge de sua glória: cinco anos antes, ele havia de fato reformado o
calendário juliano, criando o calendário gregoriano, ainda em uso. Galileu, que
cobiça uma posição matemática em Bolonha, impressionou o Pai favoravelmente,
mas sua tentativa falhou. No entanto, em 1589, ele obteve a cadeira de
matemática em Pisa do Grão-Duque da Toscana. Dois anos depois, Galileu descobre
que suas economias são insuficientes: a morte de seu pai o deixa encarregado
de sua mãe e de duas irmãs muito exigentes.
Esta pintura que
devemos a Tito Lessi representa Galileu instruindo Vincenzo Viviani.
Aproveitando a ocasião, podemos imaginar qual seria a resposta de Galileu se
lhe perguntássemos se ele não violava os preceitos de Roma estudando o
universo: "Certamente não meu amigo. Deus
teria criado o Céu e a Terra, mas que Ele não diz ter gerado o Universo, ação
que Ele reservou para Cristo, o Universo pode, portanto, ser objeto de
experiências, uma vez que o Criador nos deu significado e Aqueles que adquirem
esse conhecimento atraem a amizade de Deus ".
Em 1592, tornou-se professor de matemática em Pádua e complementou
seu salário fabricando instrumentos de navegação, bússolas e sextantes. Lá ele
conhece uma mulher, Marina Gamba, com quem ele se recusa a casar, mas
que lhe dará três filhos em seis anos, o primeiro em 1600.
A partir de 1597, pelo menos, Galileu ficou interessado na
queda de corpos. Segundo a lenda, ele desacreditou Aristóteles largando objetos
de tamanhos diferentes do topo da Torre de Pisa, provando assim que todos caíam
na mesma velocidade, enquanto o filósofo grego afirmava o contrário. Às vezes,
acrescentamos que Galileu teria reunido para esta ocasião todos os professores
da universidade. Se é verdade que Galileu realizou experimentos na Torre de
Pisa, é impensável que eles tivessem tanta solenidade. Em uma universidade tão
hierárquica, é difícil entender por que seus colegas aceitariam o convite de um
dos professores mais mal pagos para participar de uma experiência
desinteressante: faz muito tempo que sabíamos que Aristóteles estava errado!
Em 1602, Galileu retomou seu trabalho sobre a queda de
corpos usando um plano inclinado. Após experiências brilhantes, é ele quem tem
a honra de ter formulado a lei matemática que descreve esta queda.
A vida de Galileu conheceu um momento decisivo em 1609,
quando soube da existência do telescópio, um objeto inventado por um holandês
que serviu mais como brinquedo do que como instrumento de observação. Galileu
imediatamente faz uma cópia para comercializá-lo. Sua inteligência e o
profissionalismo de seu ajudante permitem aperfeiçoar rapidamente o
instrumento: em pouco tempo, ele terá um telescópio ampliando 30 vezes. Ele
também tem a ideia de virá-los para o céu. Ele descobrirá lá que a Via Láctea
consiste de fato de muitas estrelas invisíveis a olho nu, que a Lua apresenta
irregularidades e, principalmente, ele vê quatro pequenos corpos girando em
torno de Júpiter, como a Lua ao redor da Terra, reproduzindo um sistema solar
em miniatura: ele os chama de "planetas medicinais" para fazer
lealdade ao seu novo protetor, o Grão-Duque da Toscana, Como II de Médici, no
Siderius Nuncius (Mensageiro Celestial, 1610). No auge da alegria, o Grão-Duque
nomeia Galileu seu filósofo e matemático pessoal. Logo depois, o cientista
descobriu manchas solares, provando assim que o Sol, como a Terra, tem
imperfeições. Verdadeiras bombas no jardim do aristotelismo, essas declarações
sucessivas irritam a Igreja Católica, que fez do filósofo grego seu estudioso
oficial.
Além disso, Galileu, que agora se declara abertamente
copernicano, participa ativamente de discussões científicas e interfere
imprudentemente em questões religiosas. Irritado, o cardeal Robert Bellarmino (de fato, "São Roberto Bellarmino" porque ele será canonizado no
século 20), proibi Galileu em 1616 de pregar o copernicanismo e, ao mesmo
tempo, condena explicitamente o heliocentrismo e o movimento de Terra. Esta é
uma ameaça séria: o cardeal Bellarmino não é apenas o cardeal inquisidor, mas
também um dos maiores responsáveis pelo julgamento que levou o infeliz
filósofo Giordano Bruno a ser queimado vivo em 1600. A ata da reunião entre
Galileu e o cardeal traz essa menção "docere quovis modo". Em outras
palavras, Bellarmino, em nome da Igreja, proibiu Galileu de "ensinar
(copernicanismo) por qualquer meio que seja". Para muitos historiadores,
essa menção é uma falsificação acrescentada à ata (do cardeal Bellarmino ou de
outra pessoa) para confundir Galileu mais tarde.
A situação na Igreja mudou no entanto em 1623: um amigo de
Galileu se tornou papa sob o nome de Urbano VIII. O pontífice soberano, sem
suspender a proibição de Galileu, o autoriza oficialmente a evocar o
heliocentrismo. Mas sob duas condições: primeiro, ele deve falar do movimento
da Terra como uma hipótese simples; depois, também deve dar a palavra aos
defensores do geocentrismo.
É quando o Diálogo entre os dois maiores sistemas do mundo
(1632) aparece, onde Galileu apresenta três personagens: Salviati, que
representa sua própria pessoa, Simplicius, que defende as antigas concepções de
imobilidade da Terra e Sagredo, que é deveria ser neutro. De fato, Simplicius,
ridicularizado do começo ao fim do livro, sofre o fogo cruzado dos outros dois
personagens. Galileu, para defender o duplo movimento da Terra, expõe neste livro
uma física baseada no princípio da inércia, que ele, no entanto, não consegue
afirmar corretamente. De fato, a afirmação deste princípio virá um pouco mais
tarde, na caneta de Descartes.
Galileu comete dois grandes erros: primeiro, ele apresenta
uma "prova" do movimento da Terra, o que é contrário aos acordos com
o papa. O último quer que evoquemos esse movimento apenas na forma de hipótese,
o que exclui, portanto, o uso de "evidência". Ainda mais dramático:
as evidências de Galileu, baseadas nas marés, são falsas. O segundo
constrangimento de Galileu é colocar na boca de Simplicius um argumento que o
papa gostava de usar. Os oponentes do cientista podem facilmente explorar esse
ponto para dizer que Galileu é um traidor que compara o papa a um personagem
ridículo. O pontífice furioso queria o julgamento de Galileu.
No entanto, este julgamento não deve ser reduzido a um
desacordo entre dois homens. Isso também é explicado pela situação política
dentro da Igreja e pela Guerra dos Trinta Anos que assola a Europa Central: o
Papa é realmente violentamente atacado por sua imobilidade. Ele é acusado de
pertencer à "Parti de la France", uma nação envolvida em guerra ao
lado dos protestantes, embora a França fosse uma nação católica. Com este
julgamento, o soberano pontífice pretende usar uma questão que possa ser aceita
por unanimidade por cristãos, católicos e reformados.
Em 1633, Galileu compareceu perante o Tribunal da
Inquisição, onde a menção "docere quovis modo" estava no centro das
acusações, enquanto São Bellarmino já havia falecido. Galileu está com medo.
Com exceção do corajoso Giordano Bruno, que enfrentara esse mesmo tribunal,
quantos não teriam tremido em seu lugar? Ele é realmente velho, deprimido,
abandonado por todos os seus amigos e sofre de visão a ponto de logo se tornar
cego. Eis por que Galileu concorda em se retratar. Segundo uma lenda tenaz, ele
teria dito sobre o movimento da Terra: "Eppur si muove" ("E, no
entanto, ele gira"). Dificilmente se pode imaginar tanta audácia: isso lhe
custaria a vida!
Galileu está, portanto, em prisão domiciliar em Arcetri
(perto de Florença) ao lado de sua filha, a quem ele forçou a usar o véu e que
tinha o nome de irmã Marie Céleste. Mas ela morreu um pouco depois. Na prisão,
ele escreveu seu trabalho principal Discours sobre duas novas ciências que
apareceram na Holanda (1638).
Mesmo a morte de Galileu em 1642 não apaga o rancor: as
autoridades eclesiásticas proíbem seus amigos de erguer o menor monumento
funerário. Este nascerá cerca de um século após sua morte, com um epitáfio
devidamente controlado pela Igreja. Em 1744, Bento XIV autorizou a publicação
dos Diálogos, porém afixando "suposto" antes do "movimento da
Terra" e alertando que deve ser considerado como uma mera hipótese. Mas o
pontífice não volta ao decreto que proíbe o heliocentrismo, que só será
cancelado em 1822. Em 1992, o Papa João Paulo II "reabilita" Galileu,
reduzindo seu julgamento a um "mal-entendido trágico e recíproco"
entre ele e São Bellarmino. Ao fazer isso, não é Galileu que ele reabilita, é
São Bellarmino!
Referência
CURIOSIDADE
Nova descoberta mostra que Galileu atuou ativamente na
tentativa de controle de danos de suas ideias. A Igreja Católica condenou Galileu Galilei por heresia em
1633, após uma batalha de quase 20 anos entre o astrônomo italiano e o
Vaticano. Mas a descoberta de um documento mostra como o famoso
astrônomo, matemático e físico modificou um texto que ele mesmo tinha escrito
para tentar evitar um confronto com a Igreja. Isto é confirmado por uma carta assinada por
"G.G.", segundo o pesquisador Salvatore Ricciardo, da Universidade de
Bérgamo, na Itália, que encontrou o documento nos arquivos da Royal Society of
London - sociedade científica fundada no século 17 e sediada na capital inglesa
- em agosto. A carta, que contém rasuras e correções, foi escrita e
alterada pelo próprio Galilei entre 1613 e 1615, assegura Ricciardo. Em uma primeira versão dos escritos, o físico combate a
doutrina geocêntrica. Ditada pela Igreja Católica, ela pregava que o Sol girava
em torno da Terra, e não o contrário, como se confirmou posteriormente. Em uma versão posterior, Galilei suaviza suas afirmações. Os historiadores acreditavam que a carta havia desaparecido,
mas para Ricciardo, ela esteve o tempo todo no catálogo da Royal Society -
arquivada, porém, em um lugar errado. [Leia mais aqui https://www.bbc.com/]
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