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FILOPARANAVAÍ

terça-feira, 22 de outubro de 2019

CRÔNICAS (1) DE LUCIO: se a homossexualidade fosse causa de aprendizagem eu seria heterossexual



Uma das maiores idiotices (idiota = diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento; tolo, ignorante, estúpido) que ouvimos ainda em nossos dias é que a homoafetividade é fruto de processos de aprendizagem. 

Essa gente que propaga tal falácia funda seus argumentos em crenças religiosas ou culturais que não passaram pelo crivo da criticidade ou mesmo, do confronto com a vasta teoria científica sobre a homossexualidade produzida nas últimas décadas.

E aqui quem escreve é um homossexual. 

Minha vivência homoafetiva ao longo de anos atestam que se a causa da homossexualidade fosse, de fato, pela aprendizagem, heterossexual eu haveria de ser.

A minha pertença a uma família nuclear heterossexual é uma prova de que não 'aprendi' a ser heterossexual ainda que tenha feito a tentativa mais tarde ao namorar garotas. Algo normal em uma sociedade heteronormativa.

Eu tinha 12 anos, estava no sexto ano do Ensino Fundamental, e foi na sala de aula que pela primeira vez minha afetividade homo foi despertada. 

Não foi a atração física homo primeiro  a aflorar, mas foi a atração afetiva pelo primeiro garoto de minha vida e que de tão significativa permaneceu em minha memória como uma doce lembrança.

Aos 12 anos eu era apaixonado pelo Sandrinho, como todos o chamavam. O menino mais lindo da escola. Não era apenas eu que achava isso, mas quase todas meninas da escola que disputavam um lugar no afeto do garoto. 

Eu tinha ciúmes. Muito ciúmes.

Claro que ele nunca soube de minha paixão, minha primeira paixão. Claro que eu também não entendia o que acontecia no mundo de meus afetos. Me sentia estranho.

Era um tempo de muitos tabus. A sexualidade era uma coisa da qual todos procuravam não falar, mas que a gente sabia que todos praticavam. Fazer sexo soava como pecaminoso, o ato era chamado de 'besteira'.

Os meninos eram levados, muitas vezes pelos próprios pais, às casas de prostituição, para provarem que eram 'machos'.

Sorte minha que nunca tive essa experiência.

Eu queria o Sandrinho. E eu curtia esses sentimentos. Ao lado dele, como amigo, me sentia feliz. Eu o admirava em tudo. Gostava de seu andar, de sua voz... Tudo nele me encantava. 

Isso. Eu estava enamorado. Encantado. 

Eu era gay, o Sandrinho heterossexual.

Eu não aprendi isso! 

Eu apenas acolhi naquele momento os sentimentos mais lindos que afloraram em meu interior. 

E como tenho orgulho daquele Lucio, que em sua puberdade lidou tão bem com sua primeira paixão homoafetiva.

Sou feliz por ter me dado a oportunidade de amar um menino aos doze anos de idade, ainda que tenha sido um segredo que levo vida afora.



Filoparanavaí 2019

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