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FILOPARANAVAÍ

sábado, 22 de fevereiro de 2014

HUMANIZAÇÃO E CULTURA CAPITALISTA: uma reflexão filosófica a partir da perspectiva do neo-homem da LIBERDADE sartreana


REFLEXÃO FILOSÓFICA
O HOMEM E A HUMANIZAÇÃO






















O HOMEM DIANTE DO DILEMA DO SÉCULO: 
HUMANIZAÇÃO E CULTURA CAPITALISTA


CONTRIBUIÇÕES DO EXISTENCIALISMO SARTREANO, Escrito por Lucio LOPES

Palavras-Chaves: Desintegração; Autodestruição; Aquecimento Global; Efeito Estufa; Violência; Faculdades Anímicas: Sentimentos e Razão; Existencialismo; Responsabilidade, Liberdade; Autonomia; Cultura Capitalista; Lucro;Ideologia; Alienação; Mídia; Humanização; Neo-humano.

O Planeta Terra pede socorro. 
O mesmo Homem que ameaça de destruição o Planeta agora lucra também ao querer propor soluções para salvar o Planeta. O Lucro sempre o deus Lucro está em primeiro plano.

O Homem da consciência “encantada” e “participante” de BERMAN, do qual, temos nesta página parte do texto de sua autoria; tornou-se ao longo da história da humanidade o Homem da consciência “autodestrutiva” vislumbrada nas obras do filósofo francês Jean-Paul SARTRE.

É verdade que o humanismo existencialista sartreano foca-se no indivíduo, mais nada me impede de ir desta perspectiva a uma focalização no âmbito do indivíduo inserido na dinâmica cotidiana da sociedade e porque não, planetária? 


O filósofo moderno, Jean-Jacques Rousseau, também tratou em sua famosa obra “Discurso sobre a desigualdade,” do antagonismo latente na humanidade entre perfectibilidade e tirania, que são para ele as fontes de todas as glórias e ao mesmo tempo de todas as desgraças humanas, dessa auto-capacidade destrutiva.

A Faculdade Anímica da Razão, que Aristóteles concebia em sua "Ètica a Nicômacos" como a característica principal do Homem, pode ser um instrumento para a Emancipação, mas ao mesmo tempo, também pode ser um instrumento para a sua autodestruição: 


"A natureza manda em todos os animais, e a besta obedece. O homem sofre a mesma influência, mas considera-se livre para concordar ou resistir, e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a espiritualidade de sua alma (...). Mas, (...) sobre a diferença entre o homem e o animal, haveria uma outra qualidade muito específica que as distinguiria e a respeito da qual não pode haver contestação – é a faculdade de aperfeiçoar-se, faculdade que com o auxílio das circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras e se encontra, entre nós, tanto na espécie quanto no indivíduo; o animal, pelo contrário, ao fim de alguns meses, é o que será por toda a vida e sua espécie, no fim de milhares de anos, o que era no primeiro desses milhares. Porque só o homem é suscetível de tornar-se imbecil? (...) Seria triste, para nós, vermo-nos forçados a convir que seja essa faculdade, distintiva e quase ilimitada, a fonte de todos os males do homem; que seja ela, que, com o tempo, o tira dessa condição original na qual passaria dias tranquilos e inocentes; que seja ela que, fazendo com que através dos séculos desabrochem suas luzes e erros, seus vícios e virtudes, o torna com o tempo o tirano de si mesmo e da natureza (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Abril Cultural, 1978).


O EXISTENCIALISMO, escola filosófica da qual Sartre é um dos principais expoentes, é mais do que aquilo que parecia aos de fora: um modismo filosófico apenas e nada mais.

Hoje nos encontramos diante do dilema imposto pelas atitudes do Homem marcado por uma cultura capitalista destrutiva da Natureza e por conseqüência da Sociedade e do próprio Homem.

Da Natureza, porque esgota cada vez mais nossos recursos naturais ( para produzir matérias e energias empregadas em produção e movimentação de tecnologias inventadas pela mente humana (carros, maquinas, utensílios pessoais e domésticos...)) para satisfazer um mercado consumidor cada vez mais fixado em produtos supérfluos – provocando sérios desequilíbrios que nos levam ao problema posto na agenda cotidiana dos cientistas e ambientalistas: Aquecimento Global provocado pelo Efeito Estufa (de clique aqui e leia mais sobre AQUECIMENTO DO PLANETA ).


Não se consome pela necessidade que se tem de utilizar algo, mas geralmente pela satisfação de um desejo doentio criado pelo MITO difundido na mídia, que ao comprar algo, que ao consumir um objeto industrializado, a pessoa está comprando a "felicidade".

Da Sociedade, que por sua vez se desintegra em várias formas de violências simplesmente porque nesta Cultura Capitalista existe o quesito EXCLUSÃO, bem definido, para a maioria do conjunto populacional de uma Nação – esta exclusão se converte em VIOLÊNCIA em suas diversas formas: Alienação, Física, Moral, Social, Cultural, Corrupção, etc.

No âmbito da individualidade, a desintegração ocorre em decorrência das perspectivas limitadíssimas às quais o Homem está condenado em meio à Cultura Capitalista. O HOMEM vive imerso em uma Cultura de Violência contra si mesmo: a desintegração de seu mundo interior leva o Homem a uma crise existencial que o impede de reconhecer a si e de descobrir a riqueza de suas capacidades interiores marcadas pelas Faculdades Anímicas dos Sentimentos e Razão – dois poderes de Libertação, que permanecem anestesiados e dominados para não deflagrarem a deserção coletiva contra a Ideologia dominante e suas formas de alimentar a ALIENAÇÃO (Acesse aqui e conheça mais sobre (A RELAÇÃO ENTRE IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO) ).


Com a queda das Utopias socialistas no século XX, desaparecendo a experiência que se desenvolvia no Leste Europeu, o homem ficou subjugado a uma única ideologia, a pior de todas elas, a Capitalista.
Imerso em uma "Cultura Mitológica" que o condena ao individualismo egocêntrico. Não passa o Homem hoje de um número no mercado consumidor que alimenta a fome de LUCRO dos capitalistas. O Homem em vez de viver em aldeia, agora vive em "ilhas", "bolhas", olhando para e satisfazendo seu próprio umbigo. Com raras exceções. 



O existencialismo SARTREANO tem algo importante a oferecer neste novo Século, para o qual, o HOMEM será convidado através de "GRITOS DE SOCORRO" de sua própria existência em desintegração, OU O HOMEM USA SEUS PODERES (SENTIMENTOS E RAZÃO) DE FORMA COLETIVA PARA SALVAR-SE E POR CONSEQUÊNCIA SALVAR A SOCIEDADE E O PLANETA, OU TENDE A DESAPARECER ENQUANTO ESPÉCIE.

Nesse século o Homem tem que tomar uma decisão e, esta decisão não pode fugir de duas claras OPÇÕES que o insere em um problema/dilema – Projeto de Vida – por sua HUMANIZAÇÃO. 


O dilema é justamente este: ao optar por sua Humanização terá que optar por rever a Cultura Capitalista e isso implica em rever Capital, Lucros, Consumismo... O Homem pode e o Existencialismo Filosófico nos oferece pistas interessantes para provocar, para aguçar, nossos pensamentos em busca da construção e consecução deste urgente PROJETO.

O Homem Contemporâneo perdeu a capacidade de viver apaixonadamente (encantado) por Projetos Coletivos, uma vez que vive imerso em uma Cultura Individualista e Egoísta. Perdeu a virtude que o levava a assumir a RESPONSABILIDADE por aquilo que somos, conforme SARTRE nos lembra em sua obra “O Existencialismo é um Humanismo”.

De lutarmos por projetos individuais e ao mesmo tempo coletivos para preservar a vida e seus valores centrais: Justiça, Equilíbrio, em todos os âmbitos da vida. O Existencialismo longe de ser a Filosofia do Desespero (ao contrário, nossa existência atual é que está mergulhada no desespero) é a Filosofia da Esperança. 

A Esperança SARTREANA está fundamentada na liberdade e autonomia do Homem enquanto Criador e Ser responsável diante da vida. Esta responsabilidade não é um ideal abstrato é algo concreto: somos nós tomando decisões e assumindo as consequências. Não devemos jamais nos eximir e nos vermos como vítimas de forças estranhas. 


Quem nós somos é sempre uma decisão nossa e isto exige de nós, se queremos sermos por nós mesmos, não sermos aquilo que querem que sejamos: o Homem que não usa o poder de sua RAZÃO para LIBERTAR-SE permanece em processo de autodestruição: existencialmente, é totalmente alienado e solitário. É um EXCLUÍDO da vida em todas as suas dimensões.

O Homem alienado reproduz aquilo que seus algozes desejam em nome do DEUS LUCRO. Permanece sequestrado em um SENSO COMUM de conteúdo constituído pela Ideologia dominante e, o pior disso tudo é que este mesmo Homem se convence de que é ele que “pensa” aquilo que não pensou, mais que pensaram por ele e, que o mesmo apenas reproduz. 

A MÍDIA televisiva, hoje, é o canal de comunicação mais utilizado para a transmissão deste conteúdo ideológico – sem pudor algum, a grande mídia brasileira dominada por algumas famílias apenas, detentoras dessas concessões, manipulam, a todo momento, a grande massa populacional (para uma compreensão melhor, ver abaixo os textos Crítica à Mídia Brasileira). Preocupação central da Mídia, Justiça, bem-comum? Ledo engano, apenas mais pontos no Ibope e mais Lucros, e Lucros... 

O dia que nosso povo tiver acesso a uma Educação de melhor qualidade a Mídia brasileira terá que rever sua postura despudorada e programas "LIXOS" como os chamados “Realitys Shows”, coberturas jornalísticas sensacionalistas com o objetivo de manipular as mentes, programas de coberturas policiais que ferem os Direitos Humanos, opiniões que não possibilitam o contraditório de quem está sendo denegrido em sua moral pessoal e outros abusos, serão automaticamente deixados de lado. 

Não é difícil entender as forças que atuam nos “porões” para que a educação não ganhe em qualidade e para que a grande massa populacional não tenha acesso a uma Educação que não esteja à serviço do Mercado mais que antes esteja à serviço da VIDA.

E quando falo de Educação de qualidade não estou me referindo àquela exercida no âmbito da Escola Privada, porque esta é tão sem qualidade quanto a Pública. A educação privada vive centrada na “máfia” dos vestibulares – informações fragmentadas em forma de macetes para que o aluno identifique as respostas corretas segundo as tendências do vestibular A ou vestibular B, etc. 

Uma Educação de Qualidade que realmente possibilite o Homem a construir a Cultura da Humanização passa pelo forjamento concreto da Liberdade e da Autonomia – O HOMEM CIDADÃO capaz de forçar a realização da JUSTIÇA com EQUIDADE para TODOS. Professores politizados para ajudarem seus estudantes neste processo de politização. Escola politizada, é disto que estou falando; não da politização excludente, mas daquela politização que tem o coletivo como objetivo. A Boa Política... 

Para isso precisamos de professores bem remunerados, com condições materiais de trabalho, apaixonados pela educação, politizados, críticos. Caso contrário, não haverá o que oferecer de concreto para que esse objetivo de uma educação de qualidade humanizadora se realize de fato.

O que o Homem Alienado não percebe, segundo SARTRE, é que a sociedade assim como ele próprio, tem um interesse em catástrofes – (daí o interesse da Mídia em valorizar coberturas jornalísticas ou produzir ficções – novelas, filmes – que tenham elementos de pânico). Guerras, fomes, terremotos, enchentes, terrorismo, violência urbana... Atendem a interesses bem definidos. A Cultura Capitalista necessita do CAOS para se manter.

A Sociedade fica perplexa diante da violência sexual contra nossas crianças através dos casos de pedofilia, mas não percebe que a Mídia estupra as mentes de nossas crianças desde muito cedo e isto é tão ou mais grave. É uma verdadeira “ORGIA VIRTUAL”: Depressão, pornografia camuflada, assassinatos, conflitos, badernas, corrupção... Toda essa miséria recebe atenção quase doentia da mídia que acaba por contagiar os menos “esclarecidos” – aqueles que não possuem a decisão pessoal de dizer não a este tipo de manipulação - e que, infelizmente, é a maioria. 

Desde cedo a criança é inserida neste mundo virtual que vai moldando sua mente para que mais tarde corresponda aos interesses do Capital. Está em nós. Acabamos por nos deliciarmos com a Cultura da Destruição, a desgraça alheia é como um alimento para estas pobres almas. A mídia dominante forja um quadro triste, pintado a partir de tragédias humanas. 

O interesse é claro, provocar nas pessoas dois sentimentos: “ainda bem que não aconteceu comigo” – sentimento de alívio e o segundo, “não posso fazer nada além de ser um expectador passivo” – provoca o sentimento de impotência. 

A função da grande mídia não é ajudar-nos a combater os males do mundo e nem nos educar para evitá-los. Ela aliás é a escola que educa justamente para que os males sejam praticados cada vez mais de forma requintada. Analise nossos programas, nossos noticiários e confira. 90% é cobertura do MAL. O BEM não vale a pena, é coisa para otário... É a sensação que fica. A mídia, no geral, nos induz a aceitar esses males e a nos acostumarmos a viver com eles. 

No BRASIL a grande mídia vive sem nenhum tipo de fiscalização, ou seja, controle de suas programações – tudo em nome da LIBERDADE DE IMPRENSA. A imprensa que no passado foi CENSURADA passou para o outro extremo... É preciso buscar o equilíbrio, a sociedade pode e deve exigir um controle sim, a Liberdade de Imprensa deve ser preservada de forma inconteste, porém, a Mídia brasileira abusa de seu poder em nome desta Liberdade que não conhece limites e fere de morte os DIREITOS HUMANOS, atendendo a interesses de uma minoria que quer tirar proveitos em detrimento do interesses da maioria. 

Conferir o contraditório em outros veículos de comunicações, é uma saída possível. Trocar de canal, trocar a assinatura da revista, são outras. Hoje a internet facilita esse exercício. A internet é o campo da informação democrática. Sempre diante daquilo que está diante dos olhos, auto-perguntar-se: A quem serve? Que intencionalidade está por detrás? 

Graças a Deus, o Brasil hoje já conta com alguns canais de TVs públicas de boa qualidade, assistidos por 10% da população, segundo pesquisa da qual tenho conhecimento e, ainda podemos contar com a internet com blogs e sites que mostram o outro lado da notícia, como os que estão no menu inferior deste blog - com vários links de notícias atualizadas diariamente. Também boas revistas. 

Precisamos deixar de ser observadores passivos, como quer o Sistema. O voto, símbolo da cidadania, não pode ser apenas um ato simbólico da DEMOCRACIA. Tem que se converter em um instrumento para faxina geral dos poderes. A Eleição de um “torneiro mecânico” foi um golpe para as classes dominantes e ao mesmo tempo uma vitória da DEMOCRACIA e do povo brasileiro; porém, a mesma consciência transformadora não atingiu o Legislativo como um todo, pois este permaneceu habitado pelos políticos servos das classes dominantes que emperram os Projetos de Leis de benefício a todo o conjunto da sociedade brasileira. Não é por menos que o Legislativo é mal avaliado pela população, porém, se temos maus políticos é porque temos maus eleitores. Precisamos escolher melhor nossos Senadores e Deputados, não só... É necessário, durante seus mandatos, fiscalizá-los: hoje temos vários meios para isto, sendo a internet um deles.   




Por que não uma ação popular para obrigar o Legislativo Federal a aprovar Lei que obrigue àqueles que desviam recursos públicos a retornarem aos cofres públicos cada centavo desviado? Sejam eles pessoas ou corporações (grandes empresas capitalistas que administram licitações vencidas).


Esta tarefa não é difícil de ser realizada. Veja só como fiscalizo (acompanho) nossos representantes nos âmbitos município, estado e federal:

(http://camaradeparanavai.com.br/2010/Index.php?paged=2)
(http://www.alep.pr.gov.br/)
(http://www.senado.gov.br/)
(http://www2.camara.gov.br/)

Que relações há entre a qualidade de nosso voto e a aplicação dos tributos públicos? 


Existe alguma relação entre o voto não crítico, não fiscalizado (acompanhado) e o sistema tributário injusto que favorece justamente a parcela da sociedade que não necessita dos serviços públicos? 


Será que as informações constatadas quanto a injusta aplicação dos recursos públicos em São Paulo, não é a mesma em Paranavaí e em outras localidades do Brasil? (http://www.impostoderenda.etc.br/justica-tributaria-pobres-pagam-mais-imposto-que-os-ricos-no-brasil.html) e (http://www.ipea.gov.br/005/00502001.jsp?ttCD_CHAVE=382). (Bairros mais ricos de SP têm até quatro vezes mais investimento que os mais pobres, revela estudo: (http://www.ecodebate.com.br/2008/04/26/bairros-mais-ricos-de-sp-tem-ate-quatro-vezes-mais-investimento-que-os-mais-pobres-revela-estudo/)).


SARTRE propõe o surgimento de um neo-humano. Não mais a individualidade sujeita ao coletivo, mas sim o coletivo construído pela individualidade consciente de suas decisões e ações transformadoras: Liberdade e Autonomia. O indivíduo alienado com uma consciência estéril, fria, nada eficiente em relação ao processo de humanização, adaptado socialmente conforme os desígnios alienantes moralizantes – que se utilizam das religiões dominantes para serem formalizados – e que se expressam em dominação, parasitismo, moralismos, preconceitos, discriminações, juízos falhos e/ou falsos.

O neo-humano seria marcado pelo paradigma da lealdade, solidariedade, da verdade, da justiça, porém, não como valores abstratos, simbólicos, oportunistas e manipulados para meias desculpas – como a atual Cultura Capitalista os utilizam hoje – mas sim, um paradigma centrado no HOMEM, em sua profunda humanização marcada pela Liberdade e Autonomia que brota da RAZÃO individual e se interage com as individualidades em um grande coletivo humanizado. O Homem deixa de ser objeto, como na perspectiva analítica marxista e se torna SUJEITO de sua própria História.

Este é o paradigma que pode salvar o Homem. De quebra, que pode salvar a Sociedade e o Planeta Terra. Esta é a grande contribuição que o Existencialismo tem a dar para cada um de nós...


Acesse aqui artigo sobre a Liberdade (CONCEPÇÃO SARTREANA PARA LIBERDADE) 

Reflexão Filosófica baseada nos textos da obra: SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Da Coleção Os Pensadores).




Para Concluir, vamos ler o texto de BERMAN que aprofunda esta reflexão em torno da necessidade de um despertar urgente da Racionalidade Humana para a preservação da Vida. É possível ao homem continuar satisfazendo suas necessidades de sobrevivência sem destruir a Natureza???


Natureza em destruição

O poder da consciência participante

“A concepção da realidade que predominou no Ocidente até as vésperas da revolução científica era a de um “mundo encantado”. As rochas, as árvores, os rios e as nuvens eram tidos pelo homem como seres maravilhosos e portadores de vida. Os homens, por sua vez, sentiam-se em casa neste “mundo encantado”. O cosmo era o lar ao qual pertenciam. Cada pessoa não era um observador distante e alienado, mas um direto participante da trama da vida.O destino pessoal de cada um estava ligado ao destino do Cosmo, e esta inter-relação conferia sentido profundo à vida de todos. Este tipo de concepção da realidade – que chamarei consciência participante – envolve a fusão ou identificação do homem com o seu ambiente natural, expressando uma integração psíquica que há muito tempo deixou de existir.



Considerando-se o plano mental, a história da Idade Moderna é uma história de progressivo desencantamento. A partir do século XVI, a mentalidade científica nos tornou verdadeiros estrangeiros (seres não-integrados) em relação ao fenômeno do mundo. Inovações capazes de questionar essa visão da realidade – física quântica, ou certas pesquisas ecológicas – não foram suficientemente fortes para abalar a forma dominante do pensamento vigente. Essa forma pode ser adequadamente descrita com palavras como desencantamento, não-integração, pois ela insiste em estabelecer uma rígida separação entre o observador e o observado. 

Assim, a consciência científica tornou-se uma consciência alienada no sentido de que não promove uma fusão harmoniosa com a natureza, mas sim a separação plena dela. O sujeito conhecedor e o objeto investigado são encarados como pólos opostos, antagônicos. “Não sou minhas experiências e conclusões sobre o mundo. Portanto, não faço parte deste mundo” – raciocina o cientista. 

A consequência lógica dessa visão de mundo é um sentimento de coisificação: tudo é objeto, estranho, não-eu. E “eu”, afinal, também sou um objeto; um ser à parte, em meio a tantos outros seres. O cosmo não foi construído por mim; tampouco se importa com minha existência e eu não tenho a sensação de estar nele integrado.

Durante mais de 99% da história da humanidade, vigorou a concepção de que o mundo era encantado e o homem se sentia como parte integrante dele. Nos últimos quatro séculos, a total reversão dessa concepção destruiu, no plano psíquico e físico, o sentimento de integração do homem em relação ao cosmo. Isso foi responsável pela quase-destruição ecológica do Planeta. A única esperança, parece-me, está no re-encantamento do mundo como meio de nosso re-encontro.

É nisto que reside a questão central do dilema moderno. Não podemos voltar à alquimia ou ao animismo – pelo menos isso não parece provável. Por outro lado, não podemos permanecer com este mundo triste, de frieza científica, controlado por computadores, ameaçado por reatores nucleares. É preciso desenvolvermos algum tipo de consciência holística ou participante – e uma formação sociopolítica correspondente – se desejamos sobreviver enquanto espécie genuinamente humana.” 

BERMAN, Morris. The reenchantment of de world. Adaptado e traduzido por Gilberto Cotrim (COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 1993).

filoparanavai 2014

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