JULHO.24 FÉRIAS ATÉ 15 de AGOSTO Resumo Junho/Julho 2010 /Problema do Conhecimento Teoria do CONHECIMENTO e/ou Epistemologia
JHON LOCKE "Se você é capaz de tremer de indignação toda vez que se comete uma injustiça no mundo,
Michel Eyquem de Montaigne (28 de Fevereiro de 1533, château de Montaigne, no Périgord - 13 de Setembro de 1592, no mesmo lugar), escritor e ensaista francês, considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal.
"Ensinar os homens a morrer é ensiná-los a viver".
"Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos exime de toda sujeição e coação."
"Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra."
"Nunca houve no mundo duas opiniões iguais, nem dois fios de cabelo ou grãos. A qualidade mais universal é a diversidade."
"A covardia é a mãe da crueldade."
Patrick Henry constata que o processo generalizado de secularização, a ascensão da burguesia, o colapso do mundo épico, a erosão da crença no valor literário antigo e a crise da exemplaridade de modo geral estimularam uma atitude anti-mimética, que estaria mais atenta às experiências individuais, do que em fornecer modelos transhistóricos e universais que dessem conta da extensa totalidade da vida. Seria agora a predominância de um espírito da contestação direta ao DOGMATISMO Católico que reinou por tanto tempo na Europa? A época renascentista foi, pois, marcada por uma crise generalizada das formas tradicionais de explicação do mundo. Vale lembrar que o século XVI assistiu a disputa da Reforma acerca do que seria o critério correto para o conhecimento religioso, ou seja, sobre a chamada “regra da fé”. A emergente religião protestante, sobretudo com Martinho Lutero, punha em questão a autoridade tradicional católica e, defendia a consciência individual no que se refere à interpretação das Escrituras.
A constatação cética da isosthenéa, evidente nesta última citação, faz com que ele considere a disputa em torno destas questões como sendo eterna. Todas as coisas produzidas por nossa própria razão e capacidade, tanto as verdadeiras como as falsas, estão sujeitas a incerteza e a debate. (MONTAIGNE, Ensaios, II, 12, p. 330)
Tal constatação marca uma aproximação fundamental com a filosofia cética, já que se assemelha ao décimo Modo de Sexto Empírico, ou seja, ao axioma cosmopolita do ceticismo. Além disso, marca também uma postura ética e intelectual profundamente tolerante, já que frente a essa multiplicidade não há para ele princípios ou doutrinas que sejam mais verdadeiras, ou seja, que desfrutem de uma superioridade ontológica. Isto não significa que não haja nos Ensaios defesas de pontos de vista. Ao contrário, a obra de Montaigne é recheada de tomadas de posição, sejam elas em assuntos políticos, ou em religiosos. No entanto, elas não se prentendem universalmente válidas, ou atemporais, mas são conscientemente contextuais e declaradamente pessoais. Afinal, diante da inesgotável diversidade e imprevisibilidade da ação humana, como seria possível escolher um modelo adequado a partir do qual se deve pautar a ação ou o comportamento humano?
O que é a epistemologia? A resposta é: o ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento humano, pelo que também é designada de “teoria do conhecimento”.
Todo conhecimento encontra suas fontes na FÉ – aqui entendida enquanto CRENÇA. A fonte primordial do conhecimento seria a sensação. É através dos sentidos que os homens primitivos ainda nas cavernas tinham a percepção diante do desconhecido e nela encontravam a motivação para conhecer. Este conhecimento fundado na crença se tornava cada vez mais complexo a medida que era relacionado a outros conhecimentos lentamente construídos pelas diversas fases evolucionistas hominídeas. Ora, essa crença-conhecimento constituíram os conteúdos de conjuntos de conhecimentos como: religiosos, artísticos, mitológicos, senso-comum... ao longo da história humana. A Filosofia e a Ciência vieram justificar a CRENÇA dando a estes conhecimentos pelo crivo da veracidade ou demonstrando suas contradições e não possibilidade de serem verdadeiros.
Aqui entra um componente muito importante: a REALIDADE. O que é a Realidade? Toda vez que nos deparamos com o desconhecido, ainda hoje em pleno século XXI é assim, a nossa primeira atitude é buscar uma explicação na crença. A REALIDADE é aquele fato ou momento histórico que faz parte de minha tomada de consciência. Ele pode ser concreto/físico ou abstrato. O concreto/físico é mais verdadeiro, atinge o todo: por exemplo_ Pierre é meu amigo. Ele é Francês, alto e branco de olhos negros. Um exemplo de abstrato: Os Franceses são de estatura média... Aqui me refiro não a um homem francês, mas faço um juízo universal. Meu objeto aqui é empobrecido. Por exemplo, o "céu" é um lugar que todos os homens desejam. Este conhecimento é abstrato. Primeiro que céu não é uma REALIDADE concreta. Faz parte da CRENÇA. Não é possível que consigamos algo mais sobre o céu que não conjeturações abstratas fundadas na crença. Foi justamente a tentativa de tornar a FÉ Cristã Crível que fez com que a Igreja domesticasse a Filosofia e a colocasse a serviço da Justificação Teológica no período que conhecemos por Idade Média.
Vamos analisar alguns casos:
Caso 1: No ponto de ônibus – ouvindo uma conversa entre duas mulheres: “Comadre minha neta anda descalça o dia todo, correndo de lá para cá, no chão nu, dizem que pega “bicho geográfico” e outras doenças”... Isso é mentira, deve ser lenda, porque minha netinha tem saúde de ferro”. Aqui um exemplo típico de alguém que não dominando conhecimentos científicos impõe à autoridade da crença o conteúdo de sua compreensão sobre um dado concreto de seu cotidiano. Aqui temos o Senso-Comum.
Caso 2: Um bispo em sua homilia se dirigindo aos fiéis: “Deus criou o homem e a mulher para procriarem. Portanto, os casais precisam fugir de todas as formas de pornografia. O sexo é para procriar e o homem que precisa ver a imagem de outras mulheres nuas que não a sua é um fracassado”... Aqui temos um juízo moral fundado no conhecimento religioso cristão.
Caso 3: Um senhora falando sobre a situação de sua mãe: “ Minha mãe com câncer de mama buscou a cura na igreja e Jesus a livrou do câncer, ela estava feliz e digo que: uma verdadeira fanática. Agora o câncer “explodiu” na cabeça e ela encontra-se vegetativa”. Aqui outra vez o conhecimento religioso fundado na crença.
Caso 4: “Meu amigo morreu muito novo, não consigo entender porque Deus o tirou tão novo de nosso meio”. Mais adiante ele lembrava: “Meu amigo fumou a vida inteira...” Aqui a busca de novo de explicações na crença, esqueceu ou tem poucas informações científicas de que todo fumante está fadado a abraçar a morte prematuramente...
Caso 5: Dois jovens eleitores de candidatos diferentes e que estão em primeiro e segundo lugar nas pesquisas. O eleitor do candidato que está em segundo argumenta: “Estas pesquisas estão erradas, quando abrirem as urnas você vai ver... os dois estarão ali empatados “embolados” e a eleição vai pro segundo turno”. E continuaram a discussão, ambos estavam em uma discussão fundada na CRENÇA e possivelmente não possuem a informação de que uma cidade – que é o caso da cidade deles - com pouco mais de 50 mil eleitores, não tem segundo turno.
Na Filosofia, conhecimento fundado na RAZÃO que é comum a todos os homens, Platão em seus diálogos também ocupou-se com o tema Conhecimento. Para ele o primeiro ato do Conhecer tem origem nas Sensações. Ele entendia que a maioria dos mortais ficam neste estágio e que poucos são os que se libertam indo de encontro ao verdadeiro conhecimento. No Teeteto ele esclarece que o conhecimento passa pela sensação, crença-opinião, no entanto o que caracteriza o verdadeiro conhecimento é a razão sobreposta às sensações, crença-opinião. Já Aristóteles desenvolveria suas teorias mais tarde de que o conhecimento verdadeiro é produzido pela capacidade de domínio das causalidades dos eventos e coisas. Agora, veremos algumas noções sobre este ramo da Filosofia que se ocupa exclusivamente da Teoria do Conhecimento.
Vamos conferir alguns conceitos relacionados ao termo em questão...
Na obra Teoria do Conhecimento (p. 20), o autor J. Hessen distingue a teoria do conhecimento da lógica, afirmando que, se "a lógica pergunta pela correção formal do pensamento, isto é, pela sua concordância consigo mesmo, pelas suas próprias formas e leis, a teoria do conhecimento pergunta pela verdade do pensamento, isto é, pela sua concordância com o objeto. Portanto, pode definir-se também a teoria do conhecimento como a teoria do pensamento verdadeiro, em oposição à lógica, que seria a teoria do pensamento correcto".
Nessa obra (p. 25-26) observa-se ainda: "Uma exata observação e descrição do objeto devem preceder qualquer explicação e interpretação. É necessário, pois, no nosso caso, observar com rigor e descrever com exatidão aquilo a que chamamos conhecimento, esse peculiar fenômeno da consciência. Fazemo-lo, procurando apreender os traços gerais essenciais deste fenômeno, por meio da auto-reflexão sobre aquilo que vivemos quando falamos do conhecimento. Este método chama-se fenomenológico e é distinto do psicológico. Enquanto que este último investiga os processos psíquicos concretos no seu curso regular e a sua conexão com outros processos, o primeiro aspira a apreender a essência geral no fenômeno concreto".
Em Potenciar a razão, Fernando Savater distingue informação de conhecimento. No livro As Perguntas da Vida (p. 18), distingue 3 níveis de entendimento: a informação ("que nos apresenta os fatos e os mecanismos primários do que acontece"), o conhecimento ("que reflete sobre a informação recebida, hierarquiza a sua importância significativa e procura princípios gerais para a ordenar") e a sabedoria ("que liga o conhecimento com as opções vitais ou valores que podemos escolher, tentando estabelecer como viver melhor de acordo com o que sabemos")
Segundo Kant "o que chamamos conhecimento é uma combinação do que a realidade nos traz com as formas da nossa sensibilidade e as categorias do nosso entendimento. Não podemos captar as coisas em si mesmas mas apenas como as descobrimos através dos nossos sentidos e da inteligência que ordena os dados oferecidos por eles. Isto significa que não conhecemos a realidade pura mas apenas como é o real para nós. O nosso conhecimento é verdadeiro mas não chega senão até onde lhe permitem as nossas faculdades. Daquilo do qual não recebemos a informação suficiente através dos sentidos -- que são os que se encarregam de trazer a matéria-prima do nosso conhecimento -- não podemos saber absolutamente nada, e quando a razão especula no vazio sobre absolutos como Deus, a alma, o Universo, etc., confunde-se em contradições irresolúveis. O pensamento é abstrato, isto é, procede baseando-se em sínteses sucessivas a partir dos nossos dados sensoriais. Sintetizamos todas as cidades que conhecemos para obter o conceito de 'cidade' ou a partir das mil formas imagináveis de sofrimento chegamos a obter a noção de 'dor', reunido os traços intelectualmente relevantes do diverso. À partida, pensar consiste em voltar a descer da síntese mais longínqua aos dados particulares concretos até aos casos individuais e vice-versa sem perder nunca o contacto com o experimentado nem nos limitarmos apenas à esmagadora dispersão das suas circunstâncias particulares." (Fernando Savater - As Perguntas da Vida, p. 58-59).
NOÇÕES sobre a relação entre CONHECIMENTO e Conhecimento Religioso, por Lucio Lopes
Independente da teoria na qual acredite uma pessoa, seja ela a CRIACIONISTA que o Cristianismo contrapõe frente ao Evolucionismo (Teoria biológica segundo a qual todas as espécies vivas derivam umas das outras por transformação natural) sempre haveremos de nos posicionarmos frente às questões suscitadas pelas mesmas.
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Segundo Aristóteles as espécies têm uma forma fixa, imutável. Esta idéia irá dominar até ao século XVIII, quando Lamarck, rompendo com uma visão finalista da natureza, afirma a idéia de uma evolução das espécies. A sua teoria é baseada num pressuposto igualmente contestável cientificamente: a da hereditariedade dos caracteres adquiridos.
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Para explicar a evolução dos seres vivos, Darwin avança o princípio da "seleção natural". ) uma coisa é certa: penso que as de Lamarck e Darwin só enriquecem o ATO Criador do Deus Judeu-Cristão. Penso, que ninguém pode sustentar um “gênero literário” como aquele descrito nas primeiras páginas de Gênesis e nem por isto dizer então que não foi Deus quem criou tudo. Deus é aberto à aventura do CONHECIMENTO e não preso aos DOGMAS das Igrejas Cristãs Sectárias e fundamentalistas.
Passagens bíblicas em que Deus requer a posse do conhecimento para que seu povo não seja enganado pelos espertalhões de nossos tempos:
“O Senhor pela SABEDORIA fundou a Terra, pelo entendimento estabeleceu o céu (...) Pelo seu CONHECIMENTO...” PV 3.19,20
“(...) Uma noite revela seu CONHECIMENTO a outra noite”. SL 19.2
“Conheço todas as aves...” SL 50.11
“(...) Conheço minhas ovelhas...” JO 10.1
“Eu conheço todas as coisas...” EZEQ. 11.5
“Conheço os sofrimentos do meu povo”. EX 3.7
então somos companheiros." (Che Guevara)
"A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes." (Khalil Gibran)
"O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma..." (Charles Chaplin)
"O homem não teria alcançado o possível, se inúmeras vezes não tivesse tentado o impossível." (Max Weber)
Um cético radical pode contrapor que a discussão acerca do conhecimento e da justificação é uma perda de tempo e de energia. Na sua opinião não há nenhuma crença suficientemente justificada para contar como conhecimento. A razão é que ele não está disposto a chamar conhecimento a qualquer proposição que pode ser objeto de dúvida. E está convencido que não há proposições imunes à dúvida.
Escola filosófica fundada pelo grego Pirro (360 a.C.-272 a.C.) que questiona as bases do conhecimento metafísico, científico, moral e, especialmente, religioso. Nega a possibilidade de se conhecer com certeza qualquer verdade e recusa toda afirmação dogmática - aquela que é aceita como verdadeira, sem provas. O termo deriva do verbo grego sképtomai, que significa olhar, observar, investigar.
Para os céticos, uma afirmação para ser provada exige outra, que requer outra, até o infinito. O conhecimento, para eles, é relativo: depende da natureza do sujeito e das condições do objeto por ele estudado. Costumes, leis e opiniões variam segundo a sociedade e o período histórico, tornando impossível chegar a conceitos de real e irreal, de correto e incorreto.
Condições como juventude ou velhice, saúde ou doença, lucidez ou embriaguez influenciam o julgamento e, conseqüentemente, o conhecimento. Por isso, os seguidores de Pirro defendem a suspensão do juízo, o total despojamento e uma postura neutra diante da realidade. Se é impossível conhecer a verdade, tudo se torna indiferente e equilibrado. Para eles, o ideal do sábio é a indiferença. Ainda na Antiguidade, o grego Sexto Empírico (século III?) e os empiristas vêem o ceticismo como um modo de obter o conhecimento pela experiência.
Não excluem a ciência, mas procuram fundamentá-la sobre representações e fenômenos encontrados de modo indiscutível e inevitável na experiência. Esse ceticismo positivo tem papel fundamental no pensamento do escocês David Hume (1711-1776), um dos maiores expoentes da filosofia moderna. Para os empiristas modernos, na impossibilidade de conhecer as coisas em si, o homem se utiliza da crença e do hábito para poder agir. A filosofia contemporânea, inspirada no ceticismo, discute questões da relatividade do conhecimento e dos limites da razão humana.
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"A palavra é a metade de quem a pronuncia, metade de quem escuta".
- (Ensaios, Livro III, Capítulo XIII - "Da experiência")
- (Ensaios, Livro I, Capítulo XX - "De como filosofar é aprender a morrer")
- (Ensaios, Livro I, "De como filosofar é aprender a morrer)
- (Ensaios, Livro I, "Dos canibais")
- Et ne feut iamais au monde deux opinions pareilles, non plus que deux poils, ou deux grains : leur plus universelle qualité , c'est la diversité.
- Essais: avec des sommaires analytiques, et les notes de tous les commentateurs; precedes de la preface de Mademoiselle de Gournay et d'un précis de la vie de Montaigne - Página 330, Michel Eyquem de Montaigne, Marie de Jars de Gournay - Tardieu-Denesle, 1828 - 391 páginas
- la couardise est mere de la cruauté
- Les Essais: ensemble la vie de l'autheur et 2 tables - Página 509, Michel Eyquem de Montaigne - 1652
Mas este século foi também palco da nascente revolução científica e do surgimento de uma nova cosmologia, que viria a substituir o mundo geocêntrico ou mesmo antropocêntrico da astronomia grega e medieval, pelo universo heliocêntrico. Segundo Alexandre Koyré, as transformações científicas e filosóficas postas em cena no século XVI constituem a pré-história do que viria a ocorrer no século seguinte, ou seja, do desaparecimento de uma concepção do mundo como um todo finito, fechado e ordenado hierarquicamente em favor de um universo indefinido e até mesmo infinito, que é mantido coeso pela identidade de seus componentes e leis fundamentais.
Por fim, vale notar, como o fez Danilo Marcondes, que a descoberta do Novo Mundo, cujo marco inaugural é tradicionalmente 1492, também pode ser considerada um dos elementos constitutivos deste contexto histórico de formação do pensamento moderno, uma vez que seu impacto econômico, político e cultural levou a uma profunda transformação do mundo europeu.
O contato com os povos indígenas levantou a questão sobre a universalidade da natureza humana, suscitou vários conflitos de doutrinas, revelou a falta de critérios capazes de fundamentar decisões científicas, morais, políticas e jurídicas, além da necessidade de revisão da própria cultura européia. O desafio ético posto pela descoberta do Novo Mundo está em Montaigne concentrado principalmente nos ensaios Dos Canibais e Dos Coches, onde o autor brinca com os conceitos de civilização e barbárie utilizados pelos europeus na sua distinção em relação aos índios canibais, e os inverte, fazendo assim notar o caráter relativo dos mesmos.
Em suma: O século XVI é, pois, um século que aprendeu a duvidar da autoridade tradicional que os antigos ensinamentos e modelos poderiam exercer em um mundo cada vez mais confrontado com uma inesgotável diversidade. Esta época coincide com a retomada da filosofia cética grega, que passa a ser usada como argumentação para a crítica da crença na soberania da razão e para a afirmação da isosthenéa. Montaigne é talvez o pensador que no século XVI mais fortemente sentiu a influência pirrônica. Mas, para além da importância da leitura das Hipotiposes Pirrônicas, o temperamento cético de Montaigne foi, segundo Zachary Schiffman, estimulado desde a infância. A instabilidade de sua faculdade de julgamento, não raro expressa por Montaigne, teria as suas raízes no hábito adquirido e cultivado no Collège de la Flèche, onde o ensino era principalmente voltado para o desenvolvimento da argumentação in utram que partem, que se baseia na consideração de um mesmo tema a partir de distintos pontos de vista. (SCHIFFMAN, Zachary. Montaigne and the Rise of Skepticism in Early Modern Europe: a Reappraisal) A Apologia a Raymond Sebond é o ensaio cético por excelência de Montaigne, onde ele expressa, da maneira mais “sistemática” possível, a sua inclinação para esta corrente filosófica, ao estabelecer uma série de limites às pretensões de conhecimento racional e supostamente infalível em torno ao mundo natural e moral. A filosofia pirrônica, ao apresentar o homem nu e vazio, faz com que ele reconheça a sua fraqueza natural e o eterno desacordo entre as filosofias. Na Apologia são retomados alguns dos tropos de Enesidemo – presentes nas Hipotiposes Pirrônicas de Sexto Empírico -, que enfatizam os obstáculos enfrentados pelo sujeito no processo de conhecimento dos objetos, enfatizando a impossibilidade daquele ter qualquer comunicação com o ser destes.
Montaigne se dedica, enfim a desmascarar a vanidade da ciência, sacudindo corajosamente os fundamentos precários sobre os quais ela se constrói e ridicularizando a esperança científica depositada na imparcialidade da razão humana que, segundo ele é um instrumento de chumbo e de cera, alongável, dobrável e adaptável a todas as perspectivas e a todas as medidas. (MONTAIGNE, Ensaios, II, 12, p. 349) Os conteúdos racionais não passariam de “resveries” e consistiriam na tentativa de dar a uma determinada crença ou opinião a aparência de verdade. Os sentidos, fundamento de todo o conhecimento humano, também estão sujeitos à instabilidade e à insegurança, pois as alterações do corpo e do espírito influenciam a percepção transmitida pelos sentidos e, portanto, o julgamento humano. A impressão da certeza é, logo, um atestado certo de loucura e de extrema incerteza. (MONTAIGNE, Ensaios, II, 12, p. 312)
O que distingue a posição montaigneana diante dos embates filosóficos é que não há nele nem uma visão pessimista, ou melancólica, nem uma defesa otimista do que estaria por vir. Diante da oposição entre novas e antigas maneiras de explicação do mundo, ele se mostra impassível, já que não há como decidir qual delas seria a portadora da verdade. Isto porque qualquer pressuposição humana e qualquer enunciação tem tanta autoridade quanto outra. (MONTAIGNE, Ensaios, II, 12, p. 312)
Montaigne foi um pensador extremamente sensível para a percepção da inefável diversidade que caracteriza o estar o ser humano no mundo e que perpassa não apenas o âmbito intelectual, ou das idéias, mas constitui a própria condição humana. Isto porque, segundo o próprio Montaigne, não há qualidade tão universal quanto a diversidade e a variedade. (MONTAIGNE, Ensaios, III, 13, 423)
Confira o artigo completo:
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OUTRAS Fontes utilizadas: MARCONDES, Danilo. O impacto do descobrimento do Brasil no pensamento moderno
KOYRE, Alexandre. Do Mundo Fechado ao Universo Infinito
HENRY, Patrick. The Rise of the Essay: Montaigne and the Novel http://pt.wikiquote.org/wiki/Michel_de_Montaigne
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