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sábado, 31 de julho de 2010

DIREITOS HUMANOS: Homossexualidade: genético ou ambiental?

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Homossexualidade: genético ou ambiental?

(Mayana Zatz (Tel Aviv, 16 de julho de 1947) é uma bióloga molecular e geneticista brasileira, professora do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Desde 2005, exerce o cargo de pró-reitora de pesquisa da USP. Pesquisadora renomada em genética humana, com contribuições principalmente no campo de doenças neuromusculares (distrofias musculares, paraplegias espásticas, esclerose lateral amiotrófica) em que é pioneira, atualmente seu laboratório no Centro de Estudos do Genoma Humano da USP também realiza relevantes pesquisas no campo de células-tronco. Até julho de 2007, publicou 280 trabalhos científicos.)

Doutora Mayana, o que a senhora pensa sobre as origens da homossexualidade? Estaria ela realmente associada à genética? A psicologia já sabe que um homossexual não se torna homossexual do nada, bem como não pode deixar de sê-lo. Ele nasce assim e morre assim. Diversos animais também apresentam esse tipo de comportamento. Acompanhando o questionamento, do ponto de vista biológico, seria a homossexualidade uma anomalia? Ou seria uma forma de controlar a procriação de uma espécie? Já recebi inúmeros e-mails de leitores perguntando exatamente isso. A homossexualidade tem bases genéticas ou é uma característica ambiental? Embora em minha opinião exista uma predisposição genética para um comportamento homossexual, pesquisas científicas que provem isso na prática são muito difíceis de serem realizadas.
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Estudos não são conclusivos? Pesquisas genéticas são difíceis de serem realizadas com seres humanos porque não há como analisar comportamentos de pessoas sem levar em conta o ambiente em que vivem ou foram criados. Além disso, o fato de que pessoas com comportamento homossexual não procriarem dificulta a definição de um padrão de transmissão genética entre gerações. Estudos de gêmeos idênticos que foram separados ao nascer e criados por famílias diferentes poderiam potencialmente trazer informações importantes. Por exemplo, se a concordância (preferência sexual) entre eles for igual à de gêmeos criados juntos, isso apontaria para uma predisposição genética. Entretanto, estudos como esses são difíceis de serem realizados na prática porque requerem amostras muito grandes para terem uma comprovação estatisticamente significante.
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Herança multifatorial? A homossexualidade poderia, por exemplo, obedecer a um padrão de herança multifatorial, onde vários genes interagem com o ambiente para determinar uma característica. Entretanto, a identificação de genes responsáveis por traços multifatoriais é extremamente difícil. Só para se ter uma idéia, até hoje não foram ainda identificados os muitos genes que determinam a estatura e sabe-se com certeza que trata-se de um traço com grande influência genética. Por outro lado, durante muito tempo, o autismo também era atribuído ao ambiente e hoje sabe-se que o comportamento autístico é uma característica genética, embora a busca para os genes responsáveis ainda continue.
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Característica aparece na infância? Apesar da atração pelo mesmo sexo manifestar-se às vezes só na idade adulta, todos nós conhecemos crianças que já demonstravam um comportamento típico do sexo oposto desde a mais tenra idade. Há meninos que gostam de brincar com bonecas ou usar as jóias, sapatos de salto ou maquiagens de suas mães e meninas que preferem carrinhos ou brincadeiras violentas, mais agressivas. Muitos deles sofrem, e muito, com isso, porque percebem que são diferentes mas não conseguem mudar suas preferências. Acredito que isso também fale a favor de uma predisposição genética.
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Seria uma anomalia? Na minha opinião, certamente não. Para quem é heterossexual às vezes é difícil entender, mas o fato de observar-se um comportamento semelhante em animais sugere também que existe uma predisposição genética. Eles não sabem o que a sociedade espera deles, o que é considerado "certo" ou "errado". É interessante que em camundongos já foi observado que há um aumento de homossexualismo quando há uma superpopulação - talvez uma forma da natureza de controlar a explosão populacional. Reitero que, ainda que eu pessoalmente acredite que possa haver uma influência genética para a homossexualidade, ainda não existe uma comprovação científica. O avanço nas pesquisas e tecnologias poderá talvez elucidar esse enigma no futuro próximo.
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Mais informações sobre a HOMOSSEXUALIDADE:Especialistas afirmam que homossexualidade não tem nada a ver com a educação. Os pais dos jovens gays e lésbicas de hoje cresceram num mundo em que gostar de pessoas do mesmo sexo era considerado doença. Foi apenas nos anos 70 que a Associação Americana de Psiquiatria deixou de classificar a homossexualidade como um distúrbio mental. O Conselho Federal de Medicina do Brasil fez o mesmo em 1985 e a Organização Mundial de Saúde só a desconsiderou como doença em 1991.
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A palavra homossexualismo não é mais usada - foi substituída por homossexualidade - já que o sufixo ismo está relacionado a doença."O entendimento atual é de que se trata de uma orientação sexual saudável", diz o psiquiatra do Projeto Sexualidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Marco Scanavino. Para o especialista, mesmo com uma aceitação melhor da sociedade, a tolerância dos pais com relação à homossexualidade dos filhos ainda é difícil, principalmente pela falta de informação e pelo preconceito. "A sociedade, a religião, a família, ninguém me ensinou a ajudá-lo", diz E.M., mãe de um homossexual, que hoje organiza um grupo de apoio a pais de gays. "Temos um muro sociocomportamental para derrubar." "Só pedi a ele que não freqüentasse lugares promíscuos e que procurasse alguém de bem", conta a dona de casa Dalva de Almeida, de 47 anos, cujo filho Geraldo, de 18 anos, revelou ser gay no ano passado. "Que mãe não conhece seu filho? Eu sei que ela já sabia", diz o jovem, que enfrentava a brincadeira de colegas durante o ensino médio e não tinha coragem de contar a verdade à mãe. A aceitação foi até melhor do que ele esperava. "Somos todos cúmplices aqui em casa. Do mesmo jeito que defendia meu filho quando tinha um problema na escola, vou defendê-lo caso alguém o agrida por ser gay", diz a mãe. O psicoterapeuta sexual João Batista Pedrosa, especialista em homossexualidade, explica que o primeiro trabalho que precisa ser feito com os pais de gays e lésbicas é dizer que a orientação sexual não está relacionada à educação recebida pelos filhos. "A maioria ainda chega pensando: onde foi que eu errei?" Segundo a diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), Mayana Zatz, as pesquisas que relacionam a homossexualidade a genes específicos ainda não apresentaram resultados eficientes. "Mesmo assim, acredito que haja componentes genéticos na homossexualidade", diz a pesquisadora.A sociedade patriarcal e a necessidade de descendência fazem do pai uma vítima mais freqüente da revolta pela descoberta de um filho homossexual."Os pais projetam nos filhos uma expectativa de continuidade pessoal, por isso é difícil aceitar caminhos tão diferentes dos deles", completa o psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Antonio Carlos Amador Pereira. (R.C.)
fonte: www.sistemas.aids.gov.br/


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