domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Filosofia na História: Dos pré-socráticos à sistematização filosófica aristotélica

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SOFISTAS
Conteúdos sobre os filósofos sofistas: semântica do termo sofista; quem eram eles e o que faziam, de que período da história da Filosofia eles são; o que representaram para a história da Filosofia em termos de Conhecimento Filosófico com a teoria do relativismo; porque eles criticavam os filósofos cosmologistas; porque Platão não gostava dos filósofos Sofistas e que argumentos utilizava para criticá-los. Biografias de Sócrates, Platão e Aristóteles e suas contribuições para a Filosofia.
A Filosofia Grega Antiga é dividida pedagogicamente pela referência centrada no filósofo Sócrates da cidade de Atenas, donde a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática.
PANORAMA DA FILOSOFIA GREGA ANTIGA: DE TALES DE MILETO ATÉ ARISTÓTELES
625 a.C.: Nasce TALES de Mileto.
610 a.C.: Nasce ANAXIMANDRO de Mileto
séc. VI a.C.: Início da filosofia ocidental com Tales de Mileto. São chamados físicos, que procuram o princípio que dá origem à todas as coisas.
585 a.C.: Nasce ANAXÍMENES de Mileto.
570 a.C.: Nasce PITÁGORAS. O real se reduz a números ou combinações de números. Nasce XENÓFANES de Colofão.
556 a.C.: Morre Tales de Mileto.
547 a.C.: Morre Anaximandro de Mileto.
540 a.C.:Nasce HERÁCLITO de Éfeso. O real é puro vir a ser.
530 a.C.: Nasce PARMÊNIDES de Eléia. O vir a ser é pura aparência: o ser é imóvel.
528 a.C.: Morrem Anaxímenes de Mileto e Xenófanes de Colofão.
504 a.C.: Nasce ZENÃO de Eléia.
500 a.C.: Nasce ANAXÁGORAS. Espiritualismo, o mundo é governado por uma inteligência.
496 a.C.: Morte de Pitágoras.
487 a.C.: Nasce GÓRGIAS.480 a.C.: Nasce PROTÁGORAS, Sofística: ceticismo; fenomenismo; morre Heráclito de Éfeso
470 a.C.: Nasce SÓCRATES. Direciona a Atitude Filosófica para o homem. Conhece-te a ti mesmo. Morre Heráclito de Éfeso.460 a.C.: Nasce DEMÓCRITO. Atomismo. Materialismo. Morre Parmênides de Eléia
440 a.C.: Nasce ANTÍSTENES. Fundador da Escola cínica.
435 a.C.: Nasce ARISTIPO de Cirene. Hedonismo.
430 a.C.: Nasce PLATÃO. Realismo ontológico. Teoria das Idéias.
428 a.C.: Morre Anaxágora.
410 a.C.: Morre Protágoras.
399 a.C.: Sócrates condenado à morte em Atenas.387 a.C.: Platão funda a Academia em Atenas, a primeira universidade do planeta.
384 a.C.: Nasce ARISTÓTELES. Realismo moderado. Teoria do conceito.380 a.C.: Morre Górgias
371 a.C.: Morre Demócrito
360 a.C.: Nasce PIRRO. Ceticismo universal.
347 a.C.: Morre Platão.
341 a.C.: Nasce EPICURO. Materialismo. Moral do prazer (ataraxia).
340 a.C.: Nasce ZENÃO de Citium. Estoicismo,
335 a.C.: Aristóteles funda o Liceu em Atenas, escola rival da Academia.
330 a.C.: Nasce EUCLIDES de Alexandria. Funda a geometria
322 a.C.: Morre Aristóteles.

O primeiro momento da Filosofia foi marcado pelas escolas do período conhecido por COSMOLÓGICO: Da Escola Jônica: Tales, Anaxímenes, Anaximandro e Heráclito de Éfeso, são os principais representantes; Pitágoras é o mais importante da Escola Itálica; enquanto Parmênides da Escola Eleata.

Só para lembrar:

É uma explicação baseada em um raciocínio sistemático sobre a origem, ordem e transformação da Natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também explica a origem e a mudança dos seres humanos.

Afirma que não existe criação do mundo, isto é, nega que o mundo tenha surgido do nada (como é o caso da Religião judaico-cristã, na qual Deus teria criado o mundo do nada). Para a Cosmologia: “Nada vem do nada e nada volta ao nada”. Isto significa que o mundo é eterno; no mundo tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer, embora a forma particular desapareça com ela, mas não sua matéria.

O arché é um termo fundamental na linguagem dos filósofos pré-socráticos, dado que é caracterizado pela procura da substância inicial de onde tudo deriva e é também a ideia mais antiga na filosofia, já que se tornou no ponto de passagem do pensamento mítico para o pensamento racional.
 

Os primeiros filósofos, os pré-socráticos, tentaram estabelecer um "princípio" (arché ) da origem e composição do Universo, recorrendo para isso à natureza (physis ).

Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Anaxímenes de Mileto acreditavam que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arché .
Arché está na physis (em grego, physis vem de um verbo que significa fazer surgir, fazer brotar, fazer nascer, produzir) é o elemento primordial, invisível aos olhos humanos, porém, totalmente visível para o pensamento. É deste elemento que, é eterno (perene e imortal), de onde tudo nasce e para onde tudo volta. É nela (physis) que se origina todos os seres infinitamente variados e diferentes do mundo; sendo que ao contrário do PRINCÍPIO gerador são mortais (perecíveis).

Em suma, a mudança – nascer, morrer, mudar de qualidade ou quantidade – chama-se MOVIMENTO e o mundo está em movimento permanente. O movimento do mundo chama-se DEVIR e o devir não se dá no CAOS, mas segue uma rigorosa ordem marcada por leis rigorosas que o pensamento pode conhecer.

Arché - physis é imortal e as coisas físicas são mortais: donde os diferentes filósofos no desenvolvimento do pensamento filosófico cosmológico encontraram motivos e razões para dizer qual era o princípio eterno e imutável que está na origem da Natureza e de suas transformações. Tales a identifica na Água ou úmido; Anaximandro no Infinito e ilimitado sem qualidades definidas; Anaxímenes, no Ar ou no frio; Heráclito no Fogo. E assim por diante... Vamos ver a divisão dos grupos de filósofos cosmologistas e as suas respostas filosóficas:

Filósofos da JôniaTales – existe um único princípio que é a água.
(Tales de Mileto pensava este princípio ou arché como se da água se tratasse. A água seria a substância última da constituição das coisas. Tales afirmou que a água possui vida e movimento próprios. Já que a água é subjacente a todas as coisas, poder-se-ia dizer que tudo está vivo e animado. Tales chega a uma grande abstracção: "tudo é um", ou seja, todas as coisas são redutíveis ao seu elemento fundamental, neste caso, a água. Segundo Tales, a terra flutua sobre a água; assim sendo, a água é a causa material de todas as coisas.)

Anaximandro – princípio = ápeiron.
(Para Anaximandro, o princípio das coisas - o arché - não era algo visível, era uma substância etérea, infinita e indeterminada.)
Anaxímenes – princípio – Ar.(Para Anaxímenes de Mileto, o arché seria o ar e as coisas da natureza. Da mesma maneira que a nossa alma, que é ar, nos sustenta, também um sopro e o ar envolvem o mundo inteiro.)
Heráclito – princípio – a realidade é dinâmica = Fogo.
(Heraclito de Éfeso pensava que todas as coisas eram feitas de uma única substância, o fogo. Para ele, é impossível alguém se banhar duas vezes na mesma água no mesmo rio; o acontecer do mundo é um fluxo permanente, pois tudo está em movimento e nada dura para sempre. O mundo, para Heraclito, era como se fosse a chama de uma vela - sempre o mesmo em aparência, mas sempre se alterando na substância.)
Filósofos da Itália Meridional
Pitágoras – Descobre uma Ordem na Natureza e são os números.
(Segundo Pitágoras, os princípios da matemática, ou seja, os números são o arché . Pitágoras afirmou que os números são a essência de todas as coisas. Considerou os números, as suas relações e as formas matemáticas como a essência e a estrutura de todas as coisas. Cada coisa possui um número (arithmós arkhé ), que expressa a "fórmula" da sua constituição íntima. As leis que governam o cosmos são também relações matemáticas.)

Parmênides estuda o Ser.

Últimos pré-socráticos pluralistas
Conciliam movimento com ser único.
Representantes principais são:
Empédocles – princípio = Quatro elementos.
Anaxágoras – princípio = semelhanças.
Atomistas – princípio = Átomos.

MAIS IMPORTANTE QUE AS RESPOSTAS DADAS POR ESTES FILÓSOFOS, AO PROBLEMA EM COMUM, COSMOLÓGICO, FOI A FORMA (RACIOCÍNIO SISTEMATIZADO) EMPREGADA PARA A CONSTRUÇÃO DAS MESMAS.DA COSMOLOGIA PARA OS PROBLEMAS ANTROPOLÓGICOS
 
Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu período de esplendor.

É o período do florescimento da DEMOCRACIA: igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos os cidadãos participarem do governo da cidade (POLIS).

O CIDADÃO (lembrando que mulheres, escravos, estrangeiros, crianças e velhos estavam excluídos da cidadania) para conseguir que sua opinião fosse aceita nas assembléias precisava dominar a fala e ser capaz de um raciocínio lógico capaz de convencer seus ouvintes.



PARA CONHECER MAIS A GRÉCIA ANTIGA
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(Grécia Antiga: História)
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(Grécia antiga: Filosofia e Filósofos)
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(Grécia Antiga: Geografia e História)

É necessário, agora, educadores para formarem jovens cidadãos na Arte da RETÓRICA. Surgem assim, na Grécia, os SOFISTAS.

Os sofistas são os primeiros filósofos do período socrático. Os sofistas mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de Atenas.

Em Português: sofista (so-fis-ta) s. m. e s. f. Pessoa que raciocina usando sofismas. S.m. Filósofo retórico, na Grécia antiga: Sócrates combatia os sofistas.

Semântica do termo Sofista
O termo "sofista", em sentido geral, significa "partidário da sabedoria", mas foi adquirindo um sentido pejorativo, pois seus opositores afirmavam que estes filósofos corrompiam a juventude com seus principios democráticos. Os sofistas também eram chamados de "filósofos de rua", pois percorriam as cidades fazendo discursos eloqüentes e conferências sobre diversos assuntos.

As palavras sofista, sofística (do grego antigo: σοφιστής, σοφιστικός; derivada σοφός - "sábio", "instruído"), assumem diferentes significados ao longo da história da filosofia, que merecem ser distinguidos:

1.Chama-se sofista ou sofístico, um conjunto de pensadores, oradores e professores gregos do século V a.C. (e do início do século seguinte).
2.Em Platão, seguido da maior parte dos filósofos até aos nossos dias, uma perversão voluntária do raciocínio demonstrativo para fins geralmente imorais.
3.O desenvolvimento da reflexão e o ensino da retórica, em princípio a partir do século I d.C., na prática a partir do século II, no Império romano.

Exemplo de sofisma: Todo cavalo raro é caro. Um cavalo barato, é raro. Logo; um cavalo caro é barato!
 
QUE FAZIAM?
Os sofistas eram, portanto, os educadores de seu tempo. Cada qual com um grupo de discípulos. Afirmavam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da polis (cidade). Apresentavam-se como professores de Oratória (arte de falar bem em público, de saber convencer pela palavra) e Retórica (arte de persuadir pela fala e pela escrita). Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão para os jovens, que aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária, não-A, de modo que, numa assembléia, soubessem ter fortes argumentos a favor ou contra uma opinião e ganhassem a discussão.
Platão escreveu uma obra intitulada Sofista, onde ele elenca uma série de elementos identificadores dos sofistas:
Para Platão o nome sofista deriva de sophós que quer dizer sábio e nesta concepção, para o discípulo Platão, apenas seu mestre Sócrates seria o único e verdadeiro sofista. Há nesta obra um elenco de aspectos atribuídos por Platão aos sofistas: são educadores ambulantes; cobram para ensinar; são mercadores porque transmitem um saber pronto, sem crítica; a retórica sofista não transmite conhecimento algum, uma vez que é uma enxurrada de palavras bem composta para persuadir os ouvintes; o sofista refuta por refutar, apenas para ganhar uma disputa verbal.

Na verdade estes sentidos pejorativos impostos por Platão aos sofistas não podem negar o fato da importância destes filósofos para a História da Filosofia. Os sofistas foram, na verdade, grandes mestres, e a eles acorriam quantidades de jovens bem-nascidos, dispostos a pagar muito dinheiro para aprender o que eles podiam ensinar. Os sofistas dominavam uma série inumerável de conhecimentos a serem ensinados. Eles trataram de uma gama enorme de temas do seu tempo e em especial, independente daquilo que ensinavam, o que os jovens buscavam era, fundamentalmente, a Areté, que era a qualidade indispensável para se tornar um cidadão bem sucedido, quer na vida privada, quer na pública.

A importância dos sofistas, guardadas as devidas ressalvas tratadas por Platão em sua crítica aos mesmos, é que eles fazem parte do florescimento da Filosofia que vai de Tales até Sócrates. Muitas questões, senão que todas, foram levantadas neste período. Descobriu-se neste período que a RAZÃO não apenas explica, mas ela também revela as dificuldades para a aquisição do conhecimento verdadeiro.

AINDA QUE PASSÍVEIS DE CRÍTICAS, ELES SÃO OS CONSTRUTORES DE UMA NOVA EDUCAÇÃO DOS JOVENS ATENIENSES MUITO DIFERENTE DAQUELA FUNDADA NO CONHECIMENTO MÍTICO REUNIDO POR HOMERO E HESÍODO EM SUAS OBRAS E NO CULTO AO CORPO FÍSICO.
Evolução e reavaliação dos sofistas e da sofística. Seguindo Platão, muitos filósofos e mesmo historiadores da filosofia julgaram os sofistas negativamente. A acepção usual de 'sofista' - o que produz argumentos aparentes (e geralmente intrincados) para defender uma proposição falsa, e também o que está disposto a defender qualquer proposição, seja verdadeira ou falsa - testemunha a vasta influência platônica. Juizos menos pejorativos dos sofistas e da sofistíca começaram a formular-se quando foram estudados historicamente e se advertiu sobre seu contexto histórico. 
Alguns historiadores da filosofia deixaram de lado o fato de que nem Sócrates e nem Platão seriam possíveis sem os sofistas, e isso não só por constituir um horizonte histórico dentro do qual se desenvolveu seu pensamento, mas também porque usaram abundantemente de recursos sofísticos. 
Ora, é necessário compreender a Filosofia dentro daquela dinãmica de implementação da sua atividade que se dá no desenvolvimento da história humana e de forma contínua e nunca por rupturas. Assim, O Mito, os problemas cosmológicos e os sofistas, tornam-se necessários para que Sócrates pudesse construir a estrutura de seu Pensamento Filosófico.
Desde meu ponto de vista, Sócrates só pode fazer-se enquanto pensador diferente dos sofistas porque foi capaz de elaborar uma reflexão em relação às atitudes dos sofistas e aos pensamentos por eles disseminados.
Assim, a Filosofia se faz da dúvida que sempre imbricará em uma série de problemas intermináveis que sempre vão requerer novas e diferentes respostas - estas respostas constituirão as mais variadas teorias filosóficas - seja lá na Grécia Antiga, seja em nossa atualidade. É esta dinâmica que move a Filosofia e a Ciência na produção de seus conhecimentos em busca da VERDADE. É esta dinâmica que fazem da Filosofia e da Ciência serem Filosofia e Ciência e não outra coisa...
De certo modo, os sofistas sofistas são produto de seu tempo. Quanto a ser um grupo homogêneo há controvérsias:
Protágoras, Pródico, Hippias, Górgias, Trasímaco, Cálicles, Antífon, Polo, Crítias dos quais se destacam os quatro primeiros. Sem dúvida, os historiadores nem sempre colocaram os sofistas em grupo único. Scheileimacher (Geschichte der Philosophie, 1839, ed. Ritter, págs 71 e seguintes) falou de dois tipos de sofística: a heracletiana e a pitagórica. Ritter (Geschichte, Livro IV) incluiu entre os sofistas Leucipo e Demócrito; ambos - argumenta o historiador - se opuseram, como o resto dos sofistas, ao "verdadeiro espírito da filosofia". Roller apud Zeller, I, 2a ed., 799) distribuiu a sofística em três grupos: a eleática, a heraclítea e a abderita. Os historiadores do princípio do século XIX tendem, no geral, a considerar a sofística num sentido muito amplo. Esta tendência foi refutada por Zeller (loc. cit., que considerou os sofistas como formando um grupo bem determinado e diferente dos pré-socráticos. A orientação de Zeller foi continuada pela maior dos historiadores. Mas dentro desta concepção mais restrita de sofística foram propostas várias agrupações. Assim, Ueberweg fala das diferenças entre "sofistas anteriores" (Protágoras, Górgias, Hippias, Pródico e os chamados "sofistas criadores") e os "sofistas posteriores" (que compreender as figuras menores: Polo, Trasímaco, Cálicles, Antífon). Th. Gomperz (Geschichte, I, cap. IV) não estabelece propriamente uma classificação, mas trataa Protágoras e Górgias separadamente, como "figuras principais", de modo que o resto pode ser considerado como "grupo secundário".M. C. Nahm ( Selections from Early Greek Philosophy, 1950;3a ed., págs. 222 e seguintes) divide os sofistas em "sofistas da cultura" (Protágoras, Górgias) e "sofistas da erística" (Trasímaco, Cálicles, Crítias). Alguns autores distinguem entre "sofistas educadores" e "sofistas retóricos". Eugene Dupréel negou que os quatro grandes sofistas (Protágoras, Górgias, Pródico, Hippias) podem ser tratados como um grupo único: no seu entender cada autor possui uma doutrina original, irredutível a todas os outros sofistas. 
O RELATIVISMO SOFISTA FOI UMA DAS GRANDES CONTRIBUIÇÕES DEIXADAS POR ELES.
PROTÁGORAS de Abdera, dizia que o Homem é a medida de todas as coisas; das que são e das que não são.
Nascido em Abdera, Grécia, Protágoras (480-410 a.C.) é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como princípio básico de sua doutrina a ideia de que o homem é A MEDIDA DE TUDO O QUE EXISTE.
Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. Toda verdade seria relativa a um determinado homem, grupo de homens ou sociedade.
A Filosofia de Protágoras sofreu críticas em seu tempo por dar margem a um grande subjetivismo: tal coisa é verdadeira se para mim parece verdadeira. Assim, qualquer tese poderia ser encarada como falsa ou verdadeira, dependendo do ponto de vista de cada pessoa.
GORGIAS de Leontini: o bom orador é capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa.
Górgias (487-380) é considerado um dos maiores oradores da Antiguidade, aprofundou o SUBJETIVISMO RELATIVISTA de Protágoras a ponto de defender o CETICISMO ABSOLUTO. Afirmava que:
a. Nada existia;
b. Se existisse, não poderia ser conhecido;
c. Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a ninguem.
Posições Atribuíveis a Górgias:

1. Górgias define-se com orador e professor de retórica;

2.O objecto da retórica são os discursos, sobretudo os de carácter político;

3. A retórica é considerada um "bem supremo", dado que permite persuadir juízes, senadores, o povo e qualquer espécie de participantes em reuniões.

4. A retórica não se define porque aquilo que é, mas sim pelos efeitos provoca;

5. A persuasão é o objectivo e a essência da retórica;

6.O poder das palavras está na base da retórica e do discurso político.

7. A retórica permite persuadir um dado auditório sobre a verdade/justiça de uma dada posição, independentemente da mesma ser de facto verdadeira ou falsa, justa ou injusta.

8. A retórica prescinde do conhecimento. É uma arte do verosímil ou do crível não do saber que são tratados.

9. As palavras não manifestam a verdade das coisas. O seu uso na retórica não tem em vista exprimir o que as coisas são, mas sim provocar emoções e sentimentos nos ouvintes.

10. Não é possível impedir o mau uso da retórica.

11.Indiferença perante as questões ética do ensino da retórica

Em contraponto com Sócrates podemos atribuir as seguintes diferenças:

12. A retórica não pode prescindir do conhecimento.

13. Só pode falar de justiça aquele que a procura e a pratica.

14. Quem sabe o que é a justiça jamais poderá praticar a injustiça (intelectualismo moral).

Esquema de Carlos Fontes
Em nossas próximas aulas iremos contrapor (fazer analogia) entre o RELATIVISMO sofista e a perspectiva epistemológica de Platão.
PLATÃO
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(Platão: Biografia)

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(Biografia-Resumo: Sócrates)
 

ARISTÓTELES
De clique aqui
(Aristóteles: Biografia)

Fontes: Marilena Chauí. Convite à Filosofia. 6. Ed. São Paulo: Ática, 1997. Gilberto Cotrim. Fundamentos da Filosofia: Ser, saber e fazer.8 ed. São Paulo: Saraiva, 1993. J. FERRATER MORA, Sofista, Diccionario de Filosofía, Q-Z, Ariel, Barcelona, 1994.

REVISÃO AULA/FILOSOFIA
RESUMO Mês de MAIO.

MITO e FILOSOFIA
Passagem do Mito à FILOSOFIA
Noções gerais sobre: Sistemas de Conhecimentos, Módulos de Conhecimentos, Linguagens Alegórica e Abstrata, Raciocínio Sistemático, Mito e Filosofia.

O Globo está dividido em dois grandes sistemas de conhecimentos: O Ocidental e o Oriental, ambos em constante interação.

Para esclarecer melhor essa interação, vamos ver como foi que os gregos reelaboraram o conhecimento acumulado pelos Orientais quanto ao domínio de TÉCNICAS, que possibilitaram aquele conhecimento que hoje entendemos por Científico.

→ Aquilo que era concebido para facilitar a vida em seu cotidiano, os gregos transformaram em ciência (ou seja, em um conhecimento racional sistematizado – sempre abstrato e universal). Assim, não é errôneo afirmar que, a Matemática tem sua fonte no Egito Antigo. Os egípcios já praticavam a agrimensura para medir, contar e calcular; os Caldeus e Babilônios praticavam a astrologia como forma de prever o futuro através da adivinhação a partir da observação dos astros celestiais; logo, a astrologia os gregos transformaram em astronomia; as práticas de grupos religiosos secretos que buscavam a cura misteriosa para doenças, os gregos transformaram em medicina.

→ Outro fator que potencializou em grande medida o poder de abstração, do homem grego, foi transcrever a palavra e o pensamento com símbolos: eis o alfabeto. Criado pelos Fenícios, o alfabeto foi melhorado pelos gregos que acrescentaram, por exemplo, as vogais. O alfabeto possibilita ao homem uma maior capacidade de abstração e generalização. Diferente dos hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses, a escrita alfabética supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa ou se transcreve. A escrita permite o pensamento mais aguçado sobre algo quando ficamos lendo e analisando alguma coisa, como, por exemplo, uma lei. Ao ser fixada, a lei fica exposta como um bem comum de toda a cidade, um saber que não é secreto como um saber vinculado ao exercício de um sacerdote, mas propriamente público, além de estabelecer uma nova noção na atividade jurídica, a saber, uma verdade objetiva. Da linguagem alegórica para a abstrata irrompeu-se uma grande tensão provocada pela dessacralização do Mito. A Escrita era tida pelos defensores das verdades mitológica como atividade profana. Não é difícil imaginar o que significava este conflito. A Escrita tirava o poder sobrenatural dos detentores do saber.

→ Portanto, nas explicitações textuais acima, eu tive a preocupação apenas de delinear alguns exemplos para reforçar a idéia de interação entre Ocidente e Oriente, no que tange ao problema do conhecimento. Em outras palavras, a cultura grega sofre de uma influência Oriental – ela é resultado direto de contatos profundos com as culturas mais avançadas do Oriente. Porém, também é verdade, que os gregos imprimiram mudanças de qualidades tão profundas no que receberam do Oriente e de outras culturas do Ocidente, que até parecia terem criado sua própria cultura a partir de si mesmos.

 

ESTA IDEIA DE INTERAÇÃO CULTURAL é fundamental para compreendermos que o Homem é realmente um SER social e político, como retratado pelo Filósofo Aristóteles em sua obra “A Política”. O Homem é um ser Dependente Coletivo. Não pode viver de forma isolada como se fosse uma ilha. E, sua participação no coletivo pode fazer toda a diferença.

∆ Para uma compreensão mais profunda deste processo de construção do Conhecimento desde a dinâmica evolutiva dos hominídeos até o evento histórico de nascimento da Filosofia, é essencial atermos para estas duas características incontestáveis do Homem: Razão e Dependência Coletiva.


→ Ele é o único ser no Globo Terrestre, pelo menos do que temos conhecimento, que possui a Faculdade Anímica da Razão. Isto é dizer, é o único SER que faz PERGUNTAS, que PENSA e que busca RESPOSTAS para as perguntas por ele elaboradas.

A dinâmica seria mais ou menos essa:
O Homem inserido no contexto do Senso Comum (interior da Caverna Platônica) faz PERGUNTAS, PENSA pouco e sempre se apossa de RESPOSTAS alheias já prontas e tidas como definitivas.

O Homem inserido no contexto do Senso Crítico (exterior da Caverna Platônica) faz PERGUNTAS, PENSA muito – de forma autônoma e sempre elabora RESPOSTAS com a exigência de que sejam verdadeiras de forma lógica, ou seja, fruto de um raciocínio sistematizado. AS RESPOSTAS NUNCA SÃO DEFINITIVAS.

→ Quanto à dependência coletiva eis alguns exemplos ilustrativos abstratos:

Ex. 1 =

Pergunto a um Sujeito: _ Você é brasileiro?

_ Sim, sou brasileiro – responde ele.

_ Então você é um cidadão brasileiro?

_ Sim, sou. Ontem mesmo exerci minha cidadania ao cumprir meu dever de eleitor e escolhi deputados e senadores que me representarão nos próximos quatro anos lá em Brasília nas casas das Leis.

_ Muito bem... Você poderia me dizer quais são os nomes destes deputados e senadores e a quais partidos eles pertencem?

_ Rapaz, sabe que já não me lembro bem...

Este exemplo parece algo inocente, mas ao contrário de sê-lo, revela algo nefasto para a vida em seu âmbito Coletivo e de quebra, também para o âmbito da vida privada. É comum nosso povo passar quatro anos de uma legislatura dizendo que nossos políticos não prestam, são corruptos, são ladrões... Na verdade não estão errados os eleitores que possuem este ponto de vista, pois a maioria se comporta exatamente assim. Porém, em uma reflexão lógica a pergunta deveria ser: Quem realmente não presta: Os políticos ou os eleitores que colocam os políticos em seus cargos respectivos? É óbvio que quem não presta são os eleitores. Por que passam quatro anos afirmando que os políticos não prestam e sempre em uma nova eleição acabam por colocarem sempre os mesmos lá de novo. É certo ainda que, há forças alienantes com o objetivo de manterem esta situação, porém, o Homem pode superá-las desde que esteja disposto a deixar o interior da CAVERNA. 

Do senso comum ao senso crítico
“Os políticos não prestam”, continue a pensar assim e você estará pensando do jeitinho que eles, os maus políticos, querem; assim eles se manterão lá. Mas, o dia que você pensar de forma contrária e com seu voto colocar bons políticos nestes cargos, os maus serão expurgados. Votar consciente, conhecer a ideologia do Partido e de seu candidato, conhecer o histórico de lutas reais deste candidato em defesa de todo o conjunto da sociedade, fiscalizar cada voto representativo de seu político eleito... Isso sim é revelar ufanismo brasileiro comprometido com o coletivo. Votar em um empresário e/ou latifundiário, imaginando que ele vá ficar do lado dos trabalhadores na hora de elaborar leis que favoreçam estes e desfavoreçam seus grupos minoritários, detentores das riquezas concentradas de nosso país, é sonhar que papai Noel existe... O VOTO PODE MUDAR OS DESTINOS DE UM POVO QUE VIVE EM UM REGIME POLÍTICO DEMOCRÁTICO, PODE GERAR JUSTIÇA. MAS DEPENDE MUITO DO COMPROMETIMENTO REAL DE SEUS CIDADÃOS.

→ Vamos voltar ao processo de construção do conhecimento ao longo da história humana.

O Homem que faz perguntas, elaborou desde cedo QUESTÕES EXISTENCIAIS, ou seja, problemas gerados a partir de seu cotidiano, que requeriam soluções, respostas concretas.

Desde cedo, ainda no início do processo evolutivo, quando ainda nas cavernas, o Homem necessitava de prover necessidades como alimentação, proteção de seus corpos, regras mínimas de convivência.

Foram destas questões existenciais que o Homem passou a elaborar um conhecimento que formaria o Módulo de Conhecimentos ARTÍSTICOS.

Imaginemos o Homem em um tempo da história no qual ele se quer tinha a consciência de possuir a Faculdade Anímica da Razão. É certo que esta tomada de consciência não se deu da noite para o dia. Mas, foi um longo processo. 
No inicio se alimentava de pequenos animais, em relação com os grandes o Homem não era o caçador, mas sim, a caça. Até que um dia este ser pensante inventou um objeto perfurador e passou a abater grandes animais e deles a se alimentar. Este conhecimento ele podia deixar registrado nas paredes da Caverna para que outros humanos que por ali passassem pudessem dele fazer uso. Uma coisa é pensar, criar. Por exemplo, uma coisa seria você ter que pensar e inventar o aparelho de telefone celular; outra coisa é você manusear um aparelho já criado por alguém.

Porém, o módulo ARTÍSTICO não dava conta de responder a questões existenciais que eram da dimensão do SOBRENATURAL: Quem fez todas as coisas que existem? Para onde vamos depois desta vida biológica? Por que uns nascem com deficiências físicas e outros não? O módulo religioso centrado na autoridade da crença veio para dar conta destas questões.


Ora, as populações hominídeas deixaram aos pouco de ser nômades para se constituírem como sociedades sedentárias. Maior número populacional, maiores também se tornam os problemas de convivência coletiva. Aos poucos estes povos primitivos foram construindo um novo módulo de conhecimento para dar conta de questões existenciais inseridas em um contexto cada vez mais complexo. Surge o MITO. Módulo de conhecimento estruturado basicamente na Linguagem Alegórica sob a autoridade do sobrenatural (dependente da CRENÇA).

SURGE A FILOSOFIA

Atenção, a Filosofia não é um Módulo de conhecimento – como o é o Artístico, o Religioso e o Mito. A FILOSOFIA é uma atividade, um exercício de reflexão racional sistematizada. Não CONFUNDA Filosofia com CIÊNCIA, ciência é um módulo originário da Filosofia e por isso mesmo, ela, a FILOSOFIA é considerada mãe de todas as ciência. Depois do século XV - a 500 anos atrás - a Ciência tornou-se autônoma e os ramos da Filosofia foram reduzidos a poucas áreas: Epistemologia, Ética, Estética, Axiologia, Ontologia, Metafísica, e outras.

O QUE QUEREMOS DIZER COM REFLEXÃO RACIONAL SISTEMATIZADA?

REFLEXÃO seria o pensamento pensando ele mesmo. Significa em Filosofia o movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. Seria o movimento pelo qual o pensamento, examinando o que é pensado por ele, volta-se para si mesmo como fonte desse pensado. É o pensamento interrogando-se a si mesmo ou pensando-se a si mesmo. É a concentração mental em que o pensamento volta-se para si próprio para examinar, compreender e avaliar suas idéias, suas vontades, desejos e sentimentos.


A REFLEXÃO FILOSÓFICA É RADICAL, pois vai à raiz do pensamento.

Não somos apenas seres pensantes, somos também seres que se relacionam com outros seres: por meio de linguagem e dos gestos, por meio de ações, comportamentos e condutas. Portanto, a reflexão busca compreender a realidade que nos circunda.

O que é pensar? O que é falar? O que é agir?

O que pensamos, dizemos e fazemos em nossas crenças cotidianas constitui ou não um pensamento verdadeiro, uma linguagem coerente e uma ação dotada de sentido?

ATITUDE FILOSÓFICA: dirige-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. É um saber sobre a realidade exterior ao pensamento. Já a REFLEXÃO FILOSÓFICA se dirige ao pensamento, à linguagem e à ação. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade de conhecer, falar e agir e que são próprias dos seres humanos.
É um saber sobre o homem como ser pensante, falante e agente, ou seja, sobre a realidade interior aos seres humanos.
 
POR ISSO MESMO, RACIONAL SISTEMATIZADA → As indagações fundamentais da atitude filosófica e da reflexão filosófica não se realizam ao acaso, segundo as preferências e opiniões de cada um de nós. A filosofia não é feita de “achismos” nem é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.

A PALAVRA SISTEMA vem do grego e significa “um todo cujas partes estão ligadas por relações de concordância interna”. No caso do pensamento, significa um conjunto de idéias internamente articuladas e relacionadas, graças a princípios comuns ou a certas regras e normas de argumentação e demonstração que as ordenam e as relacionam num todo coerente.

A FILOSOFIA trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. SOMENTE ASSIM A REFLEXÃO FILOSOFICA PODE FAZER COM QUE NOSSAS CRENÇAS E OPINIÕES ALCANCEM UMA VISÃO CRÍTICA DE SI MESMAS. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar EU PENSO QUE”.

O CONHECIMENTO FILOSOFICO É UM TRABALHO INTELECTUAL 
É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões existenciais que se apresentam, mas exige que as próprias questões sejam válidas e que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.

O PRIMEIRO PROBLEMA FILOSÓFICO: A COSMOLOGIA
O nascimento da Filosofia
Linguagem ABSTRATA

TALES DE MILETO (cerca de 625/4-558/6 a.C.) é considerado o primeiro Filósofo e fundador da Filosofia que surgiu em fins do século VII a.C. e início do VI a.C.

O PROBLEMA FILOSÓFICO: A palavra cosmologia deriva de duas outras: COSMO poderia ser traduzida, de forma sofrível, para o português como UNIVERSO e/ou Planeta, Globo, Natureza (seria mais próximo mesmo de “a ordem, a organização do mundo”; LOGIA vem de LÓGOS que significa Razão – “pensamento racional, discurso racional, conhecimento”.

ASSIM A FILOSOFIA NASCE COMO CONHECIMENTO RACIONAL DA ORDEM DO MUNDO OU DA NATUREZA, DONDE COSMOLOGIA.

Na base do problema cosmológico está a questão existencial:
QUAL É A ORIGEM DE TODAS AS COISAS?

Ora, qual é o problema mítico grego que tem em sua base, também, esta mesma questão existencial?


COSMOGONIA (Linguagem Alegórica): a palavra gonia significa nascimento, gerar, fazer nascer e crescer, gênese. Em outras palavras, significa nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Está relacionada à TEOGONIA que significa a narrativa da origem dos deuses a partir de seus pais e antepassados.

“No início era o CAOS. Foram gerados os deuses primordiais, dentre os quais Gaia a deusa terra... E tudo foi criado. Céus e mares; Terra – rios, lagos e montanhas, vegetação e animais... O semideus Prometeu tomou um pouco de terra e, misturando-a com água, fez o Homem à semelhança dos deuses... O irmão de Prometeu, Epitemeu se encarregou de dar a cada animal um dom variado: força, sagacidade, rapidez... Quando chegou ao Homem já não tinha mais dons para doar e recorreu a Prometeu. Do Palácio de Zeus roubou o FOGO (símbolo da Razão) e o deu ao Homem – assegurando-lhe superioridade em relação aos demais seres. A Mulher foi criada em seguida como castigo ao Homem pelo presente recebido de Prometeu: a mulher é responsável por liberar e fazer a humanidade conhecer todos os tipos de males... Prometeu transformado em imortal foi condenado a ser devorado eternamente por uma águia...” Esta é apenas umas das muitas versões.

Portanto, o problema é o mesmo. Mas, a diferença reside no fato de que a Filosofia ao retomá-lo do Mito reformulou-o, racionalizando-o, transformando-o numa explicação inteiramente nova e diferente...

TALES DE MILETO já não se contentava mais com as respostas prontas e definitivas do mito e propaladas pela tradição oral. Ele queria uma nova RESPOSTA. Para seu problema COSMOLÓGICO construiu a seguinte resposta –
A ÁGUA É O PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS:
“A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são de natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos, e de que primeiro são gerados e em que por fim se dissolvem, enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as afecções, tal é, para eles, o elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que nada se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre… Pois deve haver uma natureza qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se engendram, mas continuando ela mesma. Quanto ao número e à natureza destes princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água), levando sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é o úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora aquilo de que as coisas vem e, para todos, o seu princípio. Por tal observar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas (…).” (ARISTÓTELES. Metafísica, I, 3.983 b6 .)

OUTROS FILÓSOFOS COSMÓLOGOS:

Anaximandro → Afirmou que o princípio é o infinito. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio.

Anaxímenes → Refutando a teoria da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que essa substância era o ar infinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das transformações do ar, da sua rarefação, o fogo, ou condensação, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. Esse era o processo por qual passava uma substância primordial, e resultava na multiplicidade, os quatro elementos. O ar tinha o eterno elemento.

Pitágoras → Os números constituem a essência de todas as coisas segundo sua doutrina, e são a verdade eterna.
MUITO IMPORTANTE, ANOTE
O mais importante em Tales de Mileto não foi a resposta dada ao seu problema cosmológico, mas sim a forma pela qual ele chegou a esta resposta. As diferentes respostas dos filósofos cosmólogos e/ou físicos revelam uma característica essencial que faz a Filosofia SER Filosofia e não outra coisa... O fato da Filosofia não ter respostas prontas e muito menos definitivas. A Filosofia lança-se em busca da VERDADE e não se contenta com simples respostas. A DÚVIDA é o elemento deflagrador da atividade filosófica e é ela, a DÚVIDA, que faz da Filosofia uma incessante e eterna atividade reflexiva racional sistematizada a fim de manter o Homem sempre na possibilidade de conquistar o exterior da Caverna platônica e vivenciar a autonomia de uma pensamento que possa, de fato, lançá-lo à FELICIDADE colocá-lo próximo da VERDADE.
 
Nas próximas aulas VEREMOS:As áreas e/ou ramos da Filosofia
Os primeiros problemas filosóficos centrados na Cosmologia, Arte Política e Antropologia.
Os pré-socráticos, os SOFISTAS, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Fontes consultadas:ALVES, Fátima e outros. A chave do agir: Introdução à Filosofia. Lisboa: Texto Editora Ltda, 1998.

ARANHA Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, s.d.

CARDOSO, Osvaldo e outros. Filosofia: Ensino Médio (Livro Didático da S.E.ED./PR). 2. ed.Curitiba: SEED/PR, 2008.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 6.ed. São Paulo, Ática,1997.

CHAUI, Marilena, OLIVEIRA, Pérsio S. Filosofia e Sociologia. São Paulo: Ática, 2007.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. 8 ed. São Paulo, 1993.

DELEUZE, Gille, GUATARI, Felix. O que é a Filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.

DURANT, Will. A história da Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

REZENDE, Antonio e outros. Curso de Filosofia. 13. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Acesse Resumo Mito e Filosofia - Noções Gerais
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(Resumo/Aulas maio 2010)
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(Filosofia/Aulas/Resumos/Mês ABRIL)
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(Filosofia/Aulas/Resumos/SEMANA 08-12.03.2010)




filoparanavai 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ética pela VIDA: criminalização da Homofobia, atenção com a Obesidade, valorização de nosso verde planetário e a LIBERDADE em foco

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Fórum Social Mundial Dacar: resistência e luta dos povos africanos
O QUE É?
O Fórum Social Mundial retornará à África em 2011. Depois de Nairóbi (Quênia), Dacar, capital senegalesa, receberá a edição centralizada entre 6 e 11 de fevereiro de 2011, diferentemente de anos anteriores em que acontecia nos mesmos dias do Fórum Econômico de Davos. Com enfoque na história de resistência e luta dos povos africanos, o FSM 2011 deverá encontrar a interface necessária com as lutas e as estratégias globais comuns à África, ao Sul e ao resto do mundo. Para os organizadores, o retorno do FSM à África expressa solidariedade ativa do movimento social internacional, apoio bem-vindo já que “a África corre o risco de pagar pela crise atual do capitalismo, já estando enfraquecida pelos programas de ajustes estruturais da década de 1980 e 1990.”



Em ato simbólico na Ilha de Gorée, CUT lança cartilha “Igualdade faz a Diferença”
Por Leonardo Severo Fonte: Portal CUT - 8/2/2011
Atualizado em filoparanavai em 11.02.2011 às 15h03


Da Ilha de Gorée, a pouco mais de três quilômetros de Dakar, capital do Senegal, saíram entre 15 a 20 milhões de africanos para servir de mão de obra escrava em toda costa oeste dos Estados Unidos, no Brasil e no Haiti. Calcula-se que, destes, seis milhões não tenham chegado com vida ao outro lado do Atlântico. Ou seja, sequer chegaram ao destino – previamente traçado pelos senhores do mundo de então - cerca de 40% dos seres humanos amontoados como animais nos muitos navios de bandeira européia. A mesma Europa, por sinal, que hoje dominada pela lógica da exclusão, nega direitos aos trabalhadores migrantes e renega os mais elementares valores humanos.

Durante quase 400 anos, entre os séculos XV e XIX, o local – onde hoje está localizada Dakar, que sedia até o próximo domingo o Fórum Social Mundial - foi o maior centro de tráfico negreiro para a América. Por ser o ponto localizado mais a oeste do continente africano, era também o mais próximo para a travessia da carne humana. E dali (daqui), separados de seus entes queridos, partiram em duplas e com grilhões nos pés, homens, mulheres e crianças. Vidas desfeitas que vitaminaram, a suor e sangue, a riqueza das metrópoles. Vidas sugadas pelo açoite em intermináveis jornadas nas plantações, seja de cana de açúcar, algodão ou outro produto qualquer que o interesse do cifrão elegesse como prioritário.

Classificada como Patrimônio da Humanidade, a Ilha de Gorée voltou à cena do planeta nesta segunda-feira. Não mais como campo de concentração e anúncio de extermínio, não mais como centro de estupro ou aniquilação, mas de irmandade, congraçamento e solidariedade entre todos os povos, de todas as raças.

No Fórum Social Mundial, que reúne até o próximo domingo milhares de pessoas de mais de 120 países, a Central Única dos Trabalhadores, com apoio da Confederação Sindical Internacional (CSI-África) e da CGIL-Itália, transformou a Mansão dos Escravos, circo de horrores construído pelos holandeses em 1776 e atualmente transformado em museu, em palco para o lançamento da Cartilha “Igualdade faz a Diferença, Políticas para a Igualdade Racial e Combate à Discriminação”.

Na casa de dois pavimentos, visitada pelo Papa João Paulo II e por Nelson Mandela – que chorou ao ver os estreito buracos onde eram trancafiados os escravos –, a história emana das grossas paredes, faz brotar lágrimas e jorrar rios de reflexão. Ela ganha vida com a lembrança das meninas violentadas, dos jovens rebeldes jogados aos tubarões, das famílias dilaceradas pela separação, das tribos dizimadas, dos homens tratados como gado de engorda pelos senhores a fim de que pudessem enfrentar a dureza do percurso.

A longa e dura viagem até a incertidão era feita em barcos para 250 pessoas, que abarrotavam 400. Conforme o cálculo do “ajuste fiscal” de então, se previa a perda de 40% da “carga”, que deveria então ser lançada ao mar. A despedida da África era feita na “porta da viagem sem volta”, localizada embaixo da casa, ao centro, onde se pode ver e sentir junto à imensidão do mar, a profundidade da dor dos que por ali passaram.

“Este é um ato carregado de simbolismo, de uma emoção que carrega a intensidade das vidas ceifadas pela escravidão no passado, mas também no presente. Afinal, o neoliberalismo e o neocolonialismo mantém a mesma lógica perversa de exploração, particularmente sobre os países e povos da África”, denunciou Maria Júlia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT. O assalto das transnacionais aos recursos naturais do continente e a super exploração da mão de obra dos trabalhadores migrantes, com a negação de direitos básicos, alertou Júlia, são algumas das formas em que o passado continua contaminando e amaldiçoando o presente. “Comprometidos com a reparação desta injustiça histórica, temos apoiado as ações do governo brasileiro em benefício do povo africano, fortalecendo a integração e a solidariedade com maior presença do Estado no fomento a iniciativas que contribuam para a melhoria das condições de vida da sua população, como é a ação da Embrapa no continente”, apontou.

Em relação à negritude brasileira, frisou Maria Júlia Nogueira, “a CUT está empenhada em debater e consolidar ações afirmativas que diminuam as desigualdades e potencializem o protagonismo dos negros e negras, o que é essencial para a construção de uma nova realidade e de uma nova sociedade, justa e igualitária”.

A fim de que o debate sobre o continente africano ganhe maior projeção, assim como as bandeiras reivindicadas pelo movimento negro, a CUT do Estado de São Paulo vai promover um Primeiro de Maio focado no tema. Presente ao Fórum, o líder metalúrgico e presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima está dialogando – e convidando - os sindicalistas africanos para que participem do evento. “Nosso sentimento, reforçado no dia de hoje com a visita à Ilha de Gorée, é que a história da África, que tanto nos diz respeito, continua esquecida, adormecida, e é preciso um gesto de despertar. Por isso o nosso objetivo é fazer do Dia do Trabalhador em São Paulo um espaço para diminuir as distâncias que ainda nos separam do povo africano, que está na nossa origem. É hora de valorizar sua contribuição para a construção da nossa identidade. Será uma comemoração que, assim como neste lançamento da nossa cartilha, a classe trabalhadora celebrará a valorização da vida, relembrando as suas raízes”, ressaltou Adi.

De acordo com o secretário de Políticas Sociais da CUT Nacional, Expedito Solaney, o lançamento da cartilha durante o Fórum Social Mundial dialoga com a necessidade de fazer um contraponto à ideologia reacionária e racista que move a globalização neoliberal, que representa a negação de direitos básicos a expressivas parcelas da população, particularmente no continente africano. Mas também no nosso país, declarou Solaney, “precisamos estar atentos ao combate à desigualdade, que necessita de políticas afirmativas para que a população negra tenha emprego digno e salário justo”. Lembrando que “o sistema capitalista ainda é uma forma de escravidão”, Solaney destacou que é preciso aumentar o nível de organização e consciência da classe trabalhadora para a sua superação.

Solaney lembrou que do ponto de vista mais imediato, a CUT tem estado à frente da luta pela erradicação do trabalho escravo, apoiando as ações do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho, que tem libertado em média 25 mil dos 40 mil trabalhadores e trabalhadoras anualmente submetidos a tão pusilânimes relações. “É necessário ampliar os investimentos para erradicarmos definitivamente esta mazela que ainda existe em nosso país, penalizando brancos e negros, particularmente em estados como o Maranhão e o Piauí”. Para acabar com esta chaga, destacou, “defendemos que o governo federal coloque em pauta, com o máximo de urgência, a PEC 438, expropriando as propriedades rurais onde forem encontrados trabalhadores em condições análogas à de escravidão”. “Não podemos e não vamos permitir que seres humanos sejam tratados como coisas, como objetos descartáveis, como dejeto”, enfatizou.

Como jovem, mulher e negra, Rosana Souza, secretária nacional de Juventude da CUT falou sobre a emoção de participar da cerimônia na Mansão dos Escravos, contando com o apoio e a solidariedade de companheiros e companheiras de vários países como Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França e Itália. “É duro falar sobre a intensidade desta sensação. Difícil entender tamanha crueldade contra crianças, jovens e mulheres que eram trocados ou vendidos a preço de nada. Também foi triste ver um local que carrega tanto sofrimento. Mais difícil ainda é pensar no abuso sexual a que eram submetidas as mulheres negras que, infelizmente, continuam carregando o peso da discriminação e do preconceito em nossos países, sendo vistas muitas vezes apenas como objeto de prazer”, acrescentou Rosana.

Também participaram do evento a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti; o secretário de Relações do Trabalho da CUT Nacional, Manoel Messias, lideranças da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Apeoesp.


Fórum Social Mundial exalta parceria entre Brasil e África
Por Lúcia Stumpf, de Dacar Fonte: Portal Vermelho 09/02/2011
Atualizado em filoparanavai em 11.02.2011 às 15h59


Sob o forte sol de Dacar, no Senegal, cerca de 60 pessoas se reuniram na Place Du Souvenir, nesta terça-feira (8), para o debate “Brasil-África, balanços e desafios”, com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e o professor senegalês Bernard Founou. A atividade foi promovida pelas fundações Maurício Grabois (PCdoB) e Perseu Abramo (PT), como parte do 11º Fórum Social Mundial.

Gilberto Carvalho — que representou o governo Dilma — decretou a falência do velho modelo de apoio antes destinado à África. Todo o financiamento internacional era centralizado em uma pequena elite, servindo, portanto, apenas para o aumento da grave desigualdade social do continente. Agora, o apoio de países como China e Brasil fortalece o desenvolvimento tecnológico sustentado pela valorização da rica diversidade étnica e cultural do continente.

Para Carvalho, é importante que eventos como o FSM ocorram em solo africano. Segundo ele, se os laços políticos entre os governos são importantes, os laços de solidariedade estabelecidos entre a sociedade civil e os movimentos sociais também são imprescindíveis para o pleno desenvolvimento do continente negro.


O ministro elencou as diversas iniciativas empreendidas pelo Brasil em apoio à África durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a obrigatoriedade do ensino de história africana nas escolas, a instalação de uma sede da Embrapa em Gana, a criação da universidade luso-brasileira na cidade cearense de Redenção e a instalação de um laboratório da Fiocruz em Moçambique.

Carvalho falou ainda do projeto em análise pelo governo Dilma de reservar cotas de vagas do ProUni a estudantes africanos. Segundo ele, a gestão da presidente Dilma Rousseff tem a missão de aprofundar as relações com a África a partir de um novo modelo que não se baseie na exploração e no assistencialismo — mas, sim, em laços de irmandade e solidariedade com o continente.

Histórias de luta

Já Inácio Arruda traçou a identidade entre os continentes americano e africano — marcados pelo genocídio de seus povos originários e pelos saques de suas riquezas. De acordo com o senador, a história comum de sofrimento e resistência gerou, em ambas as regiões, povos que carregam a perspectiva da luta libertária e da solidariedade. Para Inácio, essas características permitiram que os continentes superassem um passado de exploração e passassem a ocupar o centro das transformações políticas em curso no mundo.

O senador destacou a necessidade da integração solidária entre a América Latina e a África a partir do campo popular e democrático das sociedades civis e dos governos. Ele disse que o Brasil é um exemplo de como as repúblicas democráticas da América Latina podem ajudar a África a reescrever sua história por uma ótica de superação e conquista da soberania plena.

Democracia e soberania

O professor Tounou iniciou sua intervenção lembrando que durante muito tempo se ensinou nas escolas que as relações com as potências coloniais se transformaram, ao longo das décadas, em relações de cooperação. Ele contestou essa falácia afirmando que a transformação que ocorreu mudou o tipo de colonialismo, mas nunca deixou de ser o que é até hoje em muitos países.

Na opinião de Tounou, enquanto os Estados Unidos diziam estar na África para salvar o continente do colonialismo europeu, estavam, na verdade, aprofundando os instrumentos de exploração e a dependência africana aos países desenvolvidos. Ele falou da grave crise que o continente enfrenta desde a década de 1980 e disse que, mesmo assim, os países ricos não titubearam em jogar nas costas do povo o preço da crise que assolou o mundo nos últimos anos.

O professor enalteceu o novo modelo de desenvolvimento africano — estabelecido através da entrada dos investimentos dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Para ele, a relação entre esses países deve se afirmar em valores como a democracia e a soberania nacional. É nesse sentido que o Brasil serve de exemplo, apoiando a África na busca de seu próprio caminho de superação dos problemas e mazelas sociais.

Segundo Tounou, a construção dessa alternativa não será fruto apenas do esforço de governos progressistas, mas precisa também ser consequência da ação dos movimentos sociais — os verdadeiros protagonistas da construção de uma nova ordem mundial baseada na igualdade e na soberania.



Florestas garantem sobrevivência de 1,6 milhão de pessoas no mundo
Por Ana Carolina Dani da RFI - Radio France Internationale
Atualizado em filoparanavai em 11.02.2011 às 11h22


As Nações Unidas declararam 2011 como o Ano Internacional de Florestas. O objetivo é lembrar ao mundo a importância que as florestas têm para a sobrevivência de todo tipo de espécie, inclusive os seres humanos.

África Central detém o segundo maior floresta tropical do mundo, que está situada sobre o rio Congo.
Kim Gjerstad/Unesco


Segundo a ONU, as florestas cobrem 31% da área terrestre total do globo, abrigam os lares de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e têm responsabilidade direta na garantia da sobrevivência de 1,6 bilhão de pessoas e de 80% da biodiversidade da Terra.

O Brasil, segundo país com a maior extensão florestal do planeta, atrás apenas da Rússia, tem 516 milhões de hectares de florestas naturais e plantadas, o que equivale a 60,7% do território nacional, de acordo com dados do Serviço Florestal Brasileiro . As florestas brasileiras também garantem 615.947 empregos formais, segundo dados de 2009 do Ministério do Trabalho e Emprego.


Em 10 anos Brasil terá tantos obesos quanto EUA
Por Elcio Ramalho da RFI - Radio France Internationale
Atualizado em filoparanavai em 11.02.2011 às 11h16


Um estudo publicado pela revista The Lancet neste 7 de fevereiro de 2011 revela que hoje em dia há duas vezes mais pessoas obesas ou acima do peso do que a 30 anos atrás. Eric Futran/Getty Images

Em 30 anos, o número de obesos quase dobrou em todo o mundo. São cerca de 500 milhões de pessoas, ou seja, uma em cada 10 habitantes do planeta, que sofrem atualmente com o problema da obesidade.

As estatísticas foram reveladas pelo mais recente estudo sobre o assunto, realizado por pesquisadores do Imperial College de Londres e do Instituto de Pesquisas sobre População e Saude de Hamilton, no Canadá. Os resultados foram publicados na revista científica The Lancet.

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Segundo o estudo, o campeão da obesidade entre os países ricos são os Estados Unidos, com um indice de massa corporal superior a 28. O Japão é o país com o maior número de magros no mundo. Além da obesidade, o estudo revelou 1 bilhão e 460 milhões de pessoas estão com excesso de peso. E outra conclusão alarmante : esse fenômeno que era associado principalmente aos países ricos e desenvolvidos atinge agora cada vez mais os países pobres e em desenvolvimento, entre eles o Brasil.

No país, uma pesquisa publicada em agosto do ano passado pelo IBGE indicaque o excesso de peso atinge 48% das mulheres e 50,1% dos homens acima dos 20 anos de idade. Se o Brasil mantiver o ritmo de crescimento do número de pessoas acima do peso, em dez anos elas serão 30% da população, padrão similar ao encontrado nos Estados Unidos. O índice de obesos no Brasil já passa de 13%.



Ética e Direitos Humanos

Senado desarquiva projeto que torna crime a homofobia

Atualizado em filoparanavai em 10.02.2011 às 10h01
O Plenário do Senado aprovou na terça-feira (8) requerimento solicitando o desarquivamento do PLC 122/2006, que torna crime a discriminação de homossexuais, idosos e deficientes, mais conhecido como o projeto que criminaliza a homofobia.

O requerimento aprovado foi apresentado pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) e contém assinatura de 27 outros senadores.

Com a aprovação do requerimento, a projeto volta a tramitar na Comissão de Direitos Humanos (CDH), na forma do substitutivo foi aprovado em novembro de 2009 na Comissão de Assuntos Sociais. O substitutivo é de autoria da então senadora Fátima Cleide (PT-RO).

Além da CDH, a matéria tem que ser examinada ainda pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) antes de ir ao Plenário. Caso seja aprovada pelo Senado, a proposta volta à Câmara, por ter sido modificada.

O PLC 122/2006 foi enviado ao arquivo porque o Regimento Interno do Senado estabelece que, ao final de uma legislatura, todas as propostas em tramitação há mais de duas legislaturas sejam arquivadas. Dessa forma, foram ao arquivo todas as matérias apresentadas em 2006, último ano da 52ª legislatura, e anos anteriores.

O projeto de Lei da Câmara número 122/2006 é de autoria da então deputada federal Iara Bernardi (PT-SP) e foi aprovado na Câmara em dezembro de 2006. A proposta altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que tipifica "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".

A proposta de Iara Bernardi inclui entre esses crimes o de discriminação por gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.

Marta Suplicy pretende apresentar ainda em 2011 projeto regulamentando a união civil entre pessoas do mesmo sexo, informou a assessoria da senadora. Atualmente não há nenhuma legislação que contemple este tipo de casal. Marta Suplicy apresentou projeto nesse sentido na Câmara dos Deputados em 1995. A matéria chegou a ser aprovada em comissões, mas nunca foi votada no Plenário da Câmara.

Agencia Senado

Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche em defesa da liberdade


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1. Introdução
2. A questão da piedade
3. O interesse pelo bem-estar e a vontade-de-potência
4. A propriedade e a vontade-de-verdade
5. O entregar-se unicamente ao sentimento da existência atual e o eterno retorno
6. Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche em defesa da liberdade
7. Bibliografia

1. INTRODUÇÃO

“… são, todos, indícios funestos de que a maioria de nossos males é obra nossa e teríamos evitado quase todos se tivéssemos conservado a maneira simples, uniforme e solitária de viver prescrita pela natureza.”
(Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a desigualdade)

“Tenho como fórmula um princípio. Todo naturalismo na moral, isto é, toda sã moral, está dominada pelo instinto da vida; [...] A moral antinatural, isto é, toda moral ensinada, venerada e predicada até agora, se dirige, ao contrário, contra os instintos vitais e é uma condenação já secreta, já ruidosa e descarada desses instintos.”
(Friedrich Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos)

O presente trabalho é certamente audacioso. Aproximar dois filósofos controversos e de discursos aparentemente distintos e desconexos, não pode ser considerado tarefa de pouco esforço. E, com efeito, não é.

Dentre muitas questões prévias, uma suscita particular interesse e prescreve sua resposta de antemão: com que finalidade estabelecemos paralelos entre discursos? É isso, somente, uma despretensiosa distração intelectual ou um real e proveitoso empreendimento? Não iremos tão longe. Por hora, basta que limitemos a questão ao caráter peculiar dos discursos filosóficos (e especialmente dos discursos aqui tratados) e encontraremos sua possível resposta em uma outra questão, retórica: podem filósofos livres e condizentes com a seriedade e especificidade da interrogação filosófica, afirmar quase o oposto a respeito de uma mesma realidade?

O ingênuo ou tendencioso julgo da tradição nos leva a crer que sim. Mas, já aqui, indico um ponto em comum entre Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche: a disposição quase imperativa em romper com a tradição.

2. A QUESTÃO DA PIEDADE

“… enquanto resistir ao impulso interior natural da comiseração, jamais fará qualquer mal a um outro homem, nem mesmo a um ser sensível, exceto no caso legítimo em que, encontrando-se em jogo sua conservação, é obrigado a dar preferência a si mesmo.”
(Jean-Jacques Rousseau, discurso sobre a desigualdade)

“E por isso o homem nobre impõe a si mesmo o dever de não envergonhar; quer ter recato perante todo o que sofre. Em verdade, não me agradam os misericordiosos, os que se comprazem na sua piedade; são demasiado faltos de pudor…”
(Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra)
Proponho aqui, uma elucidação da questão que é geralmente apontada como a principal divergência entre os dois filósofos: a questão da piedade.

De acordo com o discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de Rousseau, a repugnância natural por ver perecer ou sofrer qualquer ser sensível e principalmente nossos semelhantes é um princípio da alma humana anterior à razão (o homem é, portanto, naturalmente piedoso). Nietzsche, em uma primeira e descuidada análise, afirma exatamente o oposto: a piedade é um valor inferior, um valor de escravos, contrário e até mesmo hostil aos instintos vitais. Estarão eles falando de uma mesma “piedade”?

É certo que não. Essa apressada contraposição entre os dois discursos se deve, muito provavelmente, a uma falta de clareza entre o que Rousseau atribui ao homem em seu estado de natureza, e o que Nietzsche aponta como sendo nocivo ao homem de rebanho (ao homem em seu estado civil). A piedade não pode nunca coagir em detrimento do instinto de conservação da vida no estado de natureza; a piedade, tal como Rousseau a emprega, não tem o caráter de um ato, muito menos de um dever ético: é tão somente a qualidade de não causar um dano inutilmente a um outrém, principalmente aos nossos semelhantes. É também uma objeção a representação defendida, entre muitos outros, pelo inglês Thomas Hobbes (o homem é o lobo do próprio homem quando encontra-se em seu estado primitivo): o desconhecimento da bondade não implica necessariamente na realização da maldade.

Do mesmo modo, Nietzsche condena a moral de ressentimento, de escravos, vingativa, que diz Não a um “fora”, a um “outro”, a um “não-eu”. O homem é, segundo o filósofo alemão, uma ponte para o super-homem. Deve, portanto, superar a si mesmo, e não necessariamente a um outrém.

Fica patente, portanto, que não há graves divergências entre os dois pensadores no que diz respeito a questão da piedade. Podemos prosseguir.

3. O INTERESSE PELO BEM-ESTAR E A VONTADE-DE-POTÊNCIA

“… alma humana, creio nela perceber dois princípios anteriores à razão, um dos quais interessa profundamente ao nosso bem-estar e à nossa conservação.”
(Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a desigualdade)

“O que é bom? – Tudo aquilo que desperta no homem o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder. O que é mal? – Tudo o que nasce da fraqueza. O que é a felicidade? – A sensação de que o poder cresce, de que uma resistência foi vencida.”
(Friedrich Nietzsche, O Anticristo)

“Em cada animal vejo somente uma máquina engenhosa a que a natureza conferiu sentidos para recompor-se por si mesma e para defender-se, até certo ponto, de tudo quanto tende a destruí-la ou estragá-la. Percebo as mesmas coisas na máquina humana, com a diferença de tudo fazer sozinha a natureza nas operações do animal, enquanto o homem executa as suas como agente livre.” Cabe-nos aqui, analisar o argumento acima, retirado do discurso sobre a desigualdade, de Rousseau, e estabelecer uma relação com a concepção de vontade-de-potência em Nietzsche.

Não incidiremos aqui em um erro muito comum presente em diversas interpretações da obra de Nietzsche: reduzir a significação de vontade-de-potência a uma pré-ocupação com a conservação da vida. A significação de vontade-de-potência é certamente muito maior.

Neste ponto, exponho a principal divergência (essa sim, uma real divergência) entre os dois pensadores: a faculdade do homem de aperfeiçoar-se. Mas é essa divergência, ao mesmo tempo, um importante ponto em comum: ambos reconhecem no homem a liberdade e a capacidade de criação, de aperfeiçoar-se. O desacordo está, pois, não nas faculdades que são admitidas em ambos os discursos como constitutivas da natureza humana, e sim no valor que é atribuído a cada uma delas.

No discurso sobre a desigualdade, a faculdade do homem de aperfeiçoar-se, distintiva e quase ilimitada, é indicada como a fonte de todos os males. É o desenvolvimento das paixões e das indústrias da “máquina humana” que estabelece uma relação de dependência com o mundo e desvia-a de suas necessidades naturais. Em oposição, o filósofo alemão reconhece na capacidade de auto-superação o princípio fundamental do homem e o destino de sua existência como realização de sua vontade-de-potência. O homem é um meio. É preciso, portanto, que seja superado, que se sobreponha a suas fraquezas, em busca de seu fim: o super-homem.

De qualquer modo, fica implícita a interrogação da qual nos ocuparemos daqui em diante, até o final deste trabalho: é o homem no estado de natureza, interessado somente pelo seu bem-estar e pela sua conservação, tal como Jean-Jacques Rousseau o descreve em seu discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, mais próximo de se tornar um além-do-homem? Soube a espécie humana, no decorrer de sua existência, fazer bom uso dessa faculdade de aperfeiçoar-se, dessa sua capacidade de criação? Eis aqui uma questão que suscita muitas outras. Mas não convém, aqui, irmos tão longe.

“… e logo reconhecereis qual a vantagem de sempre ter todas as forças à sua disposição, de sempre estar pronto para qualquer eventualidade e de transportar-se, por assim dizer, sempre todo inteiro consigo mesmo.” Destacamos aqui uma qualidade comum ao homem em estado de natureza e ao super-homem idealizado por Nietzsche: a obediência única aos seus instintos e, portanto, a ausência de qualquer sujeição a um outrém.

Não nos cabe aqui, examinar se é o homem que obedece somente a si mesmo inteiramente livre ou não. É suficiente que se torne explícita a condição de dependência a qual o homem é levado quando é submetido a moral de rebanho, quando é, por fim, domesticado (os dois autores empregam este termo). É natural que a sociedade (não entenda-se aqui sociedade no sentido lato da palavra) seja hostil aos instintos vitais e até mesmo a conservação da espécie humana. É natural que a sociedade seja hostil ao próprio homem.

4. A PROPRIEDADE E A VONTADE-DE-VERDADE

“… pode-se imaginar como escaparam a homens que só julgavam as coisas pelo primeiro aspecto. [...] Como teriam podido, por exemplo, imaginar ou compreender as palavras matéria, espírito, substância, moda, figura, movimento,umas vez que [...] as idéias relativas a tais palavras, sendo puramente metafísicas, não se poderiam encontrar delas qualquer modelo na natureza? ”
(Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a desigualdade)

“’O mundo-verdade e o mundo-aparência’ – essa antinomia é reconduzida por mim a relações de valores. Projetamos nossas condições de conservação como atributos de ser em geral. O fato de que, para prosperar, impõe-se a estabilidade em nossa crença, levou-nos a afirmar que o ‘mundo-verdade’não é mutável e flutuante no devir, mas que ele é o ser.”
(Friedrich Nietzsche, Vontade de potência)

Arriscaremos, de início, uma afirmação: O homem no estado de natureza não tem vontade-de-verdade. Mas o que é a vontade-de-verdade? O que no homem sente vontade-de-verdade? Respondo: tudo o que foge ao que há de mais natural, tudo o que é contrário ao devir que constitui a nossa existência. A vontade-de-verdade é a objeção do homem à sua própria natureza.

Naturalmente, o homem no estado de natureza não tem vontade-de-verdade. A verdade ainda não ganhou substancialidade, não é entendida como coisa-em-si. É, pois, tudo o que aparece, tudo o que se mostra, tudo o que é aspecto. O engodo da substância, da coisa-em-si, ainda não o iludiu. O homem no estado de natureza sabia viver.

Em que momento de sua existência o homem conspirou insidiosamente contra sua natureza? Em que momento, segundo as palavras de Jean-Jacques Rousseau, foi comprada uma “tranquilidade imaginária pelo preço de uma felicidade real”? No momento em que o homem deixou de ser homem. No momento em que sentiu-se fraco e vulnerável, disse não a si mesmo e à sua natureza e, ressentido, amaldiçoou o devir e excogitou: “Isso é!” Nascia, assim, a vontade-de-verdade como uma pretensa posse de toda a realidade. Nascia a propriedade como realização de uma vontade-de-verdade.

5. O ENTREGAR-SE UNICAMENTE AO SENTIMENTO DA EXISTÊNCIA ATUAL E O ETERNO RETORNO

“Sua alma, que nada agita, entrega-se unicamente ao sentimento da existência atual sem qualquer idéia do futuro, ainda que próximo, e seus projetos, limitados como suas vistas, dificilmente se estendem até o fim do dia.”
(Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a desigualdade)

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência’ – [...] Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal em que lhe responderias: ‘Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!’”
(Friedrich Nietzsche, A gaia ciência)

Retomaremos a questão que, aparentemente, foi esquecida em “O interesse pelo bem-estar e a vontade-de-potência”: é o homem no estado de natureza, interessado somente pelo seu bem-estar e pela sua conservação, tal como Jean-Jacques Rousseau o descreve em seu discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, mais próximo de se tornar um além-do-homem? Soube a espécie humana, no decorrer de sua existência, fazer bom uso dessa faculdade de aperfeiçoar-se, dessa sua capacidade de criação?

Com efeito, a questão não foi esquecida e nem colocada em segundo plano. Estamos a caminho de sua resposta. No entanto, resta ainda uma última e fundamental questão: o tempo como propriedade.

O homem em estado de natureza, idealizado por Rousseau, não possui previdência, entrega-se unicamente ao sentimento da existência atual. É o exemplo do Caraíba, que “de manhã vende o colchão de algodão e de tarde chora, querendo readquiri-lo, por não ter previsto que na noite seguinte necessitaria dele.”

Somente com a negação à vida e com a vontade de se instituir posse de toda a realidade, o tempo foi substancializado e suposto como propriedade do homem. Antes disso, fazendo uso das palavras do filósofo de Genebra, “sua imaginação nada lhe descreve, o coração nada lhe pede.” A espécie humana encontrava tudo o que suas necessidades lhes prescrevia.

O mito do eterno retorno é a fórmula de aceitação incondicional à vida, é a fórmula que elimina o “não à vida” e impõe que cada instante seja vivido, afirmado como único, do mesmo modo que fazia o “homem primitivo”.

O homem em estado de natureza está sendo. Não se ilude que foi, que será ou que possa ser. Que infeliz acaso levou o homem a cultivar esperanças por um futuro incerto e ressentimentos por um passado que não mais existe? No momento em que o homem amaldiçoou o devir e excogitou “isso é!”, amaldiçoou também sua existência e a de toda a espécie humana. Julgou-se liberto de sua natureza, mas, no entanto, só encontrava grilhões.

É possível que já tenhamos o suficiente para que arrisquemos uma provisória resposta à nossa questão. Com efeito, não será essa uma decisiva resposta: o desenvolvimento de nossa interrogação já alcançou o ponto em que a resposta é quase uma inconveniencia, uma estupidez. Talvez já nem mesmo a nossa questão tenha tanto sentido quanto antes. Em todo caso, alguma coisa ainda tem vontade-de-verdade.

6. JEAN-JACQUES ROUSSEAU E FRIEDRICH NIETZSCHE EM DEFESA DA LIBERDADE

“O cidadão, ao contrário, sempre ativo, cansa-se, agita-se, atormenta-se sem cessar para encontrar ocupações ainda mais trabalhosas; trabalha até a morte, corre no seu encalço para colocar-se em situação de viver ou renunciar à vida para adquirir a imortalidade; corteja os grandes, que odeia, e os ricos, que despreza; nada poupa para obter a honra de servi-los; jacta-se orgulhosamente de sua própria baixeza e da proteção deles, e, orgulhoso de sua escravidão, refere-se com desprezo àqueles que não gozam a honra de partilhá-la.”
(Jean-Jacques Rousseau, Discurso sobre a desigualdade)

“Eu vos apresento o Super-homem! O Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem, o sentido da terra. Exorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar em que vos fala de esperanças supraterrestres. São envenenadores, quer o saibam ou não. Não dão o menor valor à vida, moribundos que estão, por sua vez envenenados, seres de que a terra se encontra fatigada; vão se por uma vez!”
(Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra)

Retomo então, novamente, à questão que aqui vem sendo discutida, desta vez com o intuito de concluir o presente trabalho com sua provisória resposta: é o homem no estado de natureza, interessado somente pelo seu bem-estar e pela sua conservação, tal como Jean-Jacques Rousseau o descreve em seu discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade, mais próximo de se tornar um além-do-homem? Soube a espécie humana, no decorrer de sua existência, fazer bom uso dessa faculdade de aperfeiçoar-se, dessa sua capacidade de criação?

O homem, a patir do momento em que deixou de ser homem, só encontrou (criou) grilhões. Decidiu-se pelo caminho da tranquilidade imaginária e do ilusório “cerco” à natureza (entendida aqui como “physis”), estabelecendo uma relação de posse, de propriedade com o devir, mesmo que, para isso, fosse preciso enganar-se e renegar sua real liberdade. Esqueceu-se de que é ele também natureza, physis, e tornou-se posse de suas abstrações.

Em oposição, o homem em seu estado de natureza ainda não foi submetido a engodos e é, pois, livre para superar-se em busca não de um erro, de uma quimera, mas do além-do-homem, do homem que diz sim à cada instante de sua vida e entrega-se unicamente ao sentimento da existência atual. É preciso “aprender” com o homem primitivo, com o real e único homem. O homem no estado de natureza sabe viver.

Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche, concluímos, não afirmavam o oposto e nem tinham discursos tão distantes quanto se imagina. Quando se estabelece um paralelo entre os dois filósofos, desvela-se pelo menos um fundamental ponto em comum: o amor à liberdade (à natureza) que impõe a necessidade de se romper com a tradição (grilhões).

“Por que fitas-me assim, oh! caveira incolor?
Teu cérebro, qual meu, outrora divagava,
Buscando a luz do dia e da aurora o esplendor
E almejando a Verdade, em erros mergulhava!
Até vós, instrumentos, escarneceis agora,
Campânulas, cilindros, rodas e retorta.
Eu a entrada a forçar, vós sois a chave, embora,
Que ao trinco não se ajusta e nunca abre a porta.
Coberta de mistério, assim, em plena luz,
A Natura não tira os seus véus nevoentos.
Se nunca revelou o que a alma seduz,
Arrancar-lhe não podes com tais instrumentos.”

(Johann Goethe, Fausto)

7. BIBLIOGRAFIA:

ROUSSEAU, Jean-Jacques, <>Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo, Ed. Nova Cultural, 1999;
NIETZSCHE, Friedrich, Assim falava Zaratustra, Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1981;
NIETZSCHE, Friedrich, Vontade de potência, Tradução de Mário D. Ferreira Santos. Rio de Janeiro, Ed. Ediouro, 1988;
NIETZSCHE, Friedrich, Crepúsculo dos Ídolos, Tradução de Edson Bini e Márcio Pugliesi. Rio de Janeiro, Ed. Ediouro, 1988;
NIETZSCHE, Friedrich, O anticristo, Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2003;
FONTE:
Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche em defesa da liberdade
por Rafael Teixeira – em http://www.consciencia.org/
Fonte: PNAD 2006


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