AINDA LEVAREMOS MAIS UNS CINQUENTA ANOS PARA QUE POSSAMOS COMPREENDER A FILOSOFIA DE NIETZSCHE. Quem sabe o momento de começarmos a busca por essa compreensão seja exatamente agora.
Nietzsche encanta por sua capacidade filosofante frente aos problemas de seu tempo histórico que não deixam de serem os mesmos em nosso tempo. Nietzsche incomoda com os golpes de seu "martelo"sobre tudo aquilo que está constituído para manter as coisas tais como interessam aos interesses dominantes. Os "escravocratas"de todos os tempos buscam manipular e domesticar o homem em todas as áreas da vida humana a fim de mantê-lo servo dos interesses alheios. O homem para ser livre precisará romper com todas as amarras que lhe tornam prisioneiro. A primeira dessas amarras seria justamente a ideia de Deus. Nietzsche sempre se destacou por ser o filósofo proibido. Uma das polêmicas advém de sua frase mais conhecida "Deus está morto", qual Deus? O Deus cooptado para servir aos interesses de uma minoria. O Deus feito à imagem e semelhança dos homens. O ateísmo aqui é apenas um fato menor, o ateísmo aqui é a negação de um Deus que serve para alimentar a moral de um rebanho sem consciência, adestrado a responder comandos. Dieu n'existe pas, é uma necessidade de romper com a moral de rebanho que se alimenta das verdades tidas como inquestionáveis e o que é aceito por imposição (DOGMATISMO). O rompimento com essa ausência de crítica seria com o objetivo de viver as potencialidades humanas em sua plenitude. Nietzsche irá criticar todas as instituições, mas em especial uma que era estratégica para o filósofo: o sistema escolar. Este sistema era central por reforçar a moral de rebanho: ao uniformizar o conhecimento e os próprios alunos, a instituição se curva às exigências externas do mercado e do Estado. Na Alemanha de seu tempo, ele via o avanço do ensino técnico sobre todos os níveis escolares com a finalidade de preparar profissionais e servidores competentes. Algo diferente do NOVO ENSINO MÉDIO atualmente proposto pelo governo que tomou o poder por meio de um golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff? No lugar da massificação e do utilitarismo, Nietzsche propunha o aprimoramento individual e uma "Educação para a cultura". Portanto, ele pensava em uma educação que tornasse o homem melhor, que permitisse ao homem uma autonomia no pensar e agir (este seria o super-homem).
Assim falou Zaratustra
Zaratustra grita, entre montanhas e vales, em um tom grandioso: “eu vos anuncio o super-homem!” As consequências destas palavras poderosas estão vivas ao longo do tempo. Zaratustra é uma mistura de filósofo pré-socrático com profeta bíblico. A principal obra de Nietzsche é um grito desesperado de uma civilização perdida em termos religiosos, metafísicos e morais. A história problemática da religião cristã na Europa produziu Zaratustra. Deus e seus mandamentos, o sentido histórico, a impossibilidade da metafísica a partir de Kant, as ciências, o Darwinismo, todos são responsáveis pela crise que Zaratustra pretende solucionar. Se Nietzsche estava correto em sua obra, que mistura poesia, filosofia em um tom bombástico, que não aprecio muito, semelhante ao de Santo Agostinho em sua Cidade de Deus, esta pequena análise pretende fornecer alguns elementos.
Nietzsche foi um filósofo extremamente preocupado com a moral. Você dificilmente irá encontrar em suas obras uma filosofia da ciência, metafísica, teoria do conhecimento, áreas importantes para a maioria dos filósofos. A obsessão de Nietzsche é com a questão moral. O caos de Dionísio contra a racionalidade de Apolo (Sócrates). E a outra obsessão dele é com o problema de Deus, não em um sentido teológico, ou uma preocupação com a questão da existência do mal, mas no sentido moral. Não há como compreender Nietzsche sem levar em consideração que o Deus que está morto era um enorme problema para os europeus do século XIX. “Nós o matamos”, e os europeus são os responsáveis, ninguém mais.
Nietzsche foi muito influenciado por Schopenhauer como ele próprio diz. Perceba-se que esta influência foi invertida como um Schopenhauer de cabeça para baixo. Se Marx inverteu Hegel, Nietzsche fez o mesmo com seu mestre. Se Schopenhauer afirmava que o caminho da salvação era negar a Vontade, Nietzsche ensina o contrário: a Vontade precisa ser afirmada. Este é o grito de Zaratustra. Agora, a inversão de em um outro sentido que Nietzsche promove é a do problema de Deus. Em Assim falou Zaratustra, Deus é mencionado algumas vezes. O famoso “Deus está morto” é o grito desesperado da burguesia europeia, e só faz sentido em um contexto europeu. Por que é a inversão de Schopenhauer? Porque o “problema” de Deus não existia para Schopenhauer. Sua própria filosofia, sua metafísica, não necessitavam de nenhum Deus. Ele mesmo ficou surpreso quando as primeiras traduções dos textos sagrados do Hinduísmo e do Budismo chegaram em suas mãos. Não há Deus para os hindus e budistas. Nem mesmo entre os nativos americanos havia um deus criador. Deus e seus múltiplos problemas eram uma obsessão para o Cristianismo, jamais para o espírito oriental. Pensa-se muito em como Nietzsche foi ousado e sacrílego em fazer seu Zaratustra proclamar que Deus estava morto, mas não descobrem que é apenas uma constatação desesperada a partir de um contexto puramente localizado de uma civilização. Schopenhauer, poucos anos antes, chegou à conclusão de que, mesmo que existisse um Deus, esse Deus só poderia ser um Deus do Mal. Uma afirmação muito mais profunda, corajosa e com significados metafísicos muito superiores que a de Zaratustra. “Deus está morto” não possui conotações teológicas, ao contrário do que se imagina. É apenas o resultado óbvio da dessacralização de tudo promovido historicamente pelo Cristianismo, nada mais. “Deus” é uma palavra que está sempre na boca de Nietzsche, enquanto na filosofia de Schopenhauer ele não desempenha nenhum papel. “O que você resiste, persiste”, dizia Jung. Falar tanto de Deus revela a tradição bíblica que ainda permanece.
LEIA RESENHA COMPLETA DO LIVRO Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche
por FELIPE PIMENTA AQUI:https://felipepimenta.com/
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VÍDEO/BIOGRAFIA DE FRIEDRICH NIETZSCHE
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