FAZEM AFIRMAÇÕES ABSURDAS COMO:
1. Ao trabalharem conteúdos da "ideologia de gênero", conceitos imprecisos inventados por eles, os professores estariam incentivando as crianças e adolescentes a mudarem de sexo e/ou a trocarem de orientação sexual;
2. Que os professores estariam ensinando pornografia;
3. Que os professores estariam ensinado a homossexualidade que vai contra a natureza [heterossexualidade, sexo procriativo];
4. Que os professores estariam destruindo a família tradicional.
Não vou perder tempo nesse momento para contra-argumentar contra tanta ignorância porque farei isso em outro post daqui uns dias. Mas me surpreende ver tantos pastores, padres e até mesmo o bispo de minha cidade de origem, fazerem essas afirmações tão imbecis e descabidas do mínimo de bom senso e criticidade.
Na atualidade, no Brasil, os segmentos religiosos fundamentalistas ou fanáticos, como queiram denominar, têm crescido assustadoramente. O Brasil é laico há pouco mais de 100 anos, mas essa hoste de padres, pastores, bispos, vem crescendo em poder ao tomarem muitos dos assentos no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas dos estados e câmaras municipais. Isso tem facilitado a infestação das mídias, por meio da conquista fácil de concessões públicas, com essa gente que vende uma fé de retorno fácil como negócio e ainda, quando se trata de temas no campo da ética e moralidade são os algozes das minorias ao se posicionarem de forma preconceituosa e discriminatória, utilizando-se de condenações fundadas em passagens bíblicas; transpondo elementos morais e culturais de um povo milenar da antiguidade para os dias de hoje. Arrogam-se como porta vozes de Deus, como se Deus lhes houvessem concedido algum tipo de procuração para falarem em nome dele.
Essa gente beira os limites da insanidade.
Acríticos totalmente.
Acríticos totalmente.
Mas não vamos confundir essa gente com os bons religiosos, aqueles que têm bom senso, têm humanidade suficiente para respeitar as diferenças sem preconceito e sem discriminação, que conseguem ter uma visão crítica do mundo e sabem muito bem qual é o seu lugar e seu papel, como cristãos, para transformarem as realidades de morte, de violência, que nosso povo enfrenta todos os dias.
É por isso que quando encontro essas pessoas me surpreendo, e fico feliz de saber que ainda temos cristãos de verdade.
Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do
Brasil, a pastora Romi Bencke destaca importância da abordagem de
questões de gênero na educação e analisa ações de grupos religiosos
conservadores: "não podemos mais dizer o que é um modelo de família
aceitável ou não aceitável. Se em uma determinada família há amor,
respeito, carinho e diálogo, pode-se dizer que ali existe uma família".
Grupos religiosos conservadores têm
pressionado para que os Planos de Educação de estados e municípios de
todo o país não contenham qualquer meta ou estratégia que promova a
igualdade de gênero em seus textos. Ao analisar a ação destes setores e a
importância de atividades relacionadas a esta temática, a secretária
Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a
pastora Romi Bencke classifica como essencial a abordagem destas
questões para o combate à violência e contra a exclusão escolar.
Documentos
que devem ser construídos de maneira participativa e democrática, os
Planos Municipais e Estaduais de Educação devem ser elaborados até junho
deste ano, contendo metas e estratégias para garantir o direito à
educação para a população de uma determinada cidade ou estado nos
próximos dez anos.
“É lamentável e,
ao mesmo tempo, assustador, que a violência contra a mulher não gere
indignação. São casos e mais casos todos os dias e fica por isso mesmo. A
mudança de cultura é gradativa, mas precisamos começar a falar
abertamente sobre estes temas para substituirmos uma concepção de mundo
patriarcal por uma visão de mundo diversificada. Essa conversa é
necessária em todos os espaços, especialmente nas escolas”, destaca a
pastora.
Sobre a ação dos grupos que
têm feito pressão sistemática para que a palavra “gênero” sequer esteja
mencionada nos Planos, Romi Bencke acredita que eles possuem
dificuldade em aceitar as transformações da sociedade. “Há uma
dificuldade em aceitar que nos tempos de hoje não cabe mais à religião
normatizar a vida das pessoas. Lidar com as autonomias é difícil, mas as
religiões precisam aceitar isso. A liberdade humana é um valor que
também se relaciona com a fé”, defende.
Leia
abaixo a entrevista completa com a pastora e Secretária Geral do
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Bencke:]
A
abordagem de questões relacionadas ao gênero tem gerado polêmica na
construção dos Planos de Educação em diferentes cidades do país. Como
você avalia a abordagem destas temáticas nos Planos de Educação e,
também, nas escolas?
A
abordagem das questões relacionadas a gênero é essencial. É importante
que educadores e educadoras sejam preparadas para abordar esses temas de
forma madura e inclusiva.
O Brasil é um país em que a violência
está inserida no cotidiano e um número significativo de casos tem
motivação sexista. Esse é o caso da violência contra a mulher e a
população LGBTTs. É lamentável e, ao mesmo tempo, assustador, que a
violência contra a mulher não gere indignação. São casos e mais casos
todos os dias e fica por isso mesmo.
É
necessária uma mudança cultural e a educação tem um papel estratégico
nisso. A mudança de cultura é gradativa, mas precisamos começar a falar
abertamente sobre estes temas para substituirmos uma concepção de mundo
patriarcal por uma visão de mundo diversificada. Essa conversa é
necessária em todos os espaços, especialmente nas escolas. Em nosso país
prevalecem valores tradicionais que tendem a reforçar relações de poder
desiguais e opressivas. Problematizar tais valores é também uma tarefa
da educação.
Como realizar atividades realizadas à questão de gênero pode influenciar na garantia do direito à educação?
A
partir do momento em que o tema da diversidade for efetivamente
trabalhado nas escolas, teremos dado passos concretos para a mudança de
percepção de mundo. Para isso, podemos olhar para os valores presentes
em décadas anteriores e compará-los com a atualidade de maneira que as
pessoas vejam que a história é dinâmica. Nos últimos anos, o Brasil deu
passos importantes para a superação da desigualdade econômica e
precisamos agora dar outros para a superação de todas as formas de
preconceito e discriminação.
Há
muitas histórias de alunos que não querem mais ir à escola porque sofrem
discriminações as mais variadas. É uma forma de evasão escolar que
precisa ser superada. A escola precisa ser um espaço de exercício de
democracia e convívio com o diferente. Um lugar aberto, que promova
discussões aprofundadas sobre todos os temas. Isso é formar cidadãos e
cidadãs.
Como pastora, como
você avalia a posição dos grupos religiosos que têm se posicionado
contra a abordagem das questões de gênero no ambiente escolar?
Uma
das funções da religião é a preservação de tradições, no entanto, essa
tarefa precisa ser feita em diálogo com o contexto histórico e social no
qual se vive. Os papéis de gênero mudaram de forma muito forte e
rápida. Logo, mudam também os papéis sociais dos homens e mulheres.
Os
modelos de família de hoje são diferentes dos modelos de família do
início do século XX, por exemplo. Não podemos mais dizer o que é um
modelo de família aceitável ou não aceitável. Se em uma determinada
família há amor, respeito, carinho e diálogo, pode-se dizer que ali
existe uma família, independentemente ser forem dois homens, duas
mulheres, uma mulher ou um homem. Agora, se em uma família tivermos
desrespeito, agressões, dominação de poder, etc, pode-se dizer que ali
temos uma família com problemas, independentemente de quem a compõe. É
isso que a religião deveria avaliar e contribuir positivamente para
transformar: as relações humanas. Contribuir positivamente para uma
cultura de paz.
Nos grupos que atuam
fortemente contra os temas de gênero percebo que há uma resistência em
aceitar as transformações que ocorreram na sociedade e, em muitas delas,
de maneira rápida. As mudanças desestabilizam. Para reencontrar a
segurança, para manter o mundo organizado, é necessário apegar-se às
concepções que causam sensação de segurança. Outra compreensão é a de
que há uma dificuldade em aceitar que nos tempos de hoje não cabe mais à
religião normatizar a vida das pessoas. Lidar com as autonomias é
difícil, mas as religiões precisam aceitar isso. A liberdade humana é um
valor que também se relaciona com a fé.
Muitos destes grupos criticam o que chamam de "ideologia de gênero". O que este termo significa?
Ideologia
é um conjunto de crenças e ideias que constituem a visão de mundo de um
determinado grupo ou classe social. As práticas e valores sociais podem
corresponder a uma ideologia, mas não são eles próprios uma ideologia. A
ideologia é sempre uma representação social do mundo em um sentido mais
amplo.
Assim, as relações de gênero
e as suas representações sociais podem expressar parte de uma
determinada ideologia. O que temos historicamente observado é que
valores patriarcais têm fundamentado as relações de gênero. Por sua vez,
tais valores pertencem a uma ideologia dominante.
Quando
grupos propõe o debate sobre as relações de gênero e reivindicam
mudanças estão problematizando uma ideologia que tem dominado e
contribuído para relações humanas pautadas na desigualdade de poder
entre os gêneros. A problematização das relações de poder é fundamental
para que novas relações humanas e sociais sejam forjadas.
FONTE: reproduzido de http://www.brasildefato.com.br/
FONTE: reproduzido de http://www.brasildefato.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário