O calendário em Novembro nos remete anualmente à memória dos mortos.
Fazer memória dos mortos é também fazer autorreflexão acerca de nossa condição mortal e, é tanto mais importante quando vivemos nessa realidade atual marcada por tantas desumanidades e tantas ambições materiais.
O Sistema Capitalista cria espíritos vazios e materialistas. A produção, o consumo e o acúmulo fazem das pessoas menos humanas.
A cultura capitalista impregna todos os aspectos de nossas vidas. Tudo se converte em 'mercadorias' a serem consumidas.
E nessa loucura chamada cultura capitalista o homem acumula como se fosse imortal. O homem vive como se a morte não existisse.
Mas, todos morremos. Essa é a certeza da qual ninguém pode fugir.
"Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver" Do Filósofo M.Montaigne (1533-1592)
A morte não é simples acontecimento biológico, ela é sobretudo simbólica. As coisas aparecem e desaparecem. Somente o homem vive e morre. "Quem não souber morrer bem terá vivido mal”, afirmou um dia o filósofo Sêneca.
MORTE e SOLIDÃO... Uma de nossas maiores dificuldades, nessa Escola da Vida, é aprender a conviver com a morte... Não demora para começarmos a fazer a experiência de conviver com as ausências de pessoas que eram muito presentes em nossas vidas...
Quanto ao quesito relativo ao “para onde vamos”, eu também particularmente me contento, mais uma vez, com minha Fé de que saímos das mãos de Deus e que para elas voltaremos...
Para mim, minha crença resume-se nisso.
O depois da morte biológica pode ter muitas explicações religiosas... Tantas quantas doutrinas religiosas possam existir neste mundo... Cada qual a seu gosto.
Porém, não creio nessas inúmeras explicações e nem acredito que elas sejam importantes; pois que o essencial é muito mais simples do que possamos imaginar , conforme já refletimos...
Prefiro me contentar com a certeza de que quero voltar paras as mãos do meu Criador.
Vivo aqui para contribuir com uma humanidade mais humanizada - isto é o essencial, sonhar e lutar por um mundo mais e cada vez mais justo; defender a vida sempre e em todas as oportunidades e por todas as formas que minhas limitações humanas possam permitir, sou (somos) criatura do Criador e co-criador (es) com Ele...
Cedo ou mais tarde, ela, nossa irmã morte, virá ao nosso encontro. Assim como viver precisamos aprender a morrer... Porque, viver e morrer são realidades simbólicas: são significações e possuem sentido e fazem sentido... Michel MONTAIGNE, em seu ensaio “Que filosofar é aprender a morrer” escreve: “(...) Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu... (...)”.
A morte coloca-nos diante da grande verdade de todos nós... Somos finitos neste mundo.
Há pessoas que se apegam tanto aos seus projetos de vida largamente ambiciosos - dinheiro, poder, aparência - que se esquecem deste detalhe.
Aprender a viver e morrer é um desafio para todos nós diz Montaigne...
Tudo no Universo Converge para a Morte. Para o eterno ela tudo atrai e tudo para ela converge.
Poema de autoria de Lucio LOPES (um dia sem nada fazer e em divagações filosóficas brotou este poema que transcrevo aqui)_atualizado em 03.09.2018
MORTE REDARGUENTE...
Dia que se vai noite que chega, crepúsculo indesejável anuncia: para além da casca, para além das máscaras – noites dantes desejadas e tão bem vivenciadas, era não mais que o teatro de uma vida, que agora evasiva, gostaria não mais que longe ficar de uma dor que parece eterna, existência confrontada com gritos sem ecos...
Morte, morte redargüente ... agora é a hora de sua sorte... Deserto, deserto escuro, deserto sem norte, deserto sem Lua, no frio que congela a espinha... a esperança ressequida de que ninguém vai ninguém vem, sentidos errante sem sentido... sombra refletida na loucura, pura alucinação para quem a luz é um luxo ao preço que não se pode pagar...
Espada mortal, espectro carregado da percepção sinistra que não tem cor ao gosto de um dia: cinzento, nublado, frio, inundado de dor – dor latejante sem intervalos respeitar, que sangra... que mina as saudades das cortinas fechadas de um teatro da vida...
A morte... ela é bela, ela é terna, ela é forte; até impiedosa... verdade, se cala na escuridão do deserto, redargüente ela tem a paciência de quem é eterna; entre a vida, teatro que se passa em uma peça e sua eternidade, há mistérios infindáveis a serem descobertos.
Esperar... esperei, gritar... gritei, chamar... chamei... Esperei, chorei, gritei, me desesperei, chamei e nada escutei... Para a morte tudo é eterno... Certeza apenas aquela de que não foi mais uma noite que na noite, a noite de mim mesmo na noite... e como isso sangra e é cruel, pois apesar de nada mudar, urge levantar pra mais um capítulo do teatro vivenciar, mesmo sabedor que o crepúsculo da noite para o dia torna-se sinistro ao anunciar, mais uma vez, que a morte tarda, mas vem...
Diante de um caixão, em um funeral de alguém querido... Sempre divagamos em nossos pensamentos com um esforço enorme de raciocínio em busca de respostas para questões que não se calam e, que por isso mesmo, geralmente ninguém tem respostas apaziguadoras para elas e, ainda, muito menos, conseguimos estas respostas que nos deem por satisfeitos.
A morte nos deixa perplexos. É uma experiência que todo homem desejaria não fazer, mas a única certeza que temos é que todos por ela passaremos...
Somos uma incógnita que nos torna por demais esdrúxulos... De onde a gente veio e para onde iríamos???
Quem terá passado por este mundo sem fazer essas perguntas, pelo menos, a si mesmo?
Teorias científicas e explicações religiosas temos aos montes e brigas entre elas não faltam.
A morte nos deixa perplexos. É uma experiência que todo homem desejaria não fazer, mas a única certeza que temos é que todos por ela passaremos...
Somos uma incógnita que nos torna por demais esdrúxulos... De onde a gente veio e para onde iríamos???
Quem terá passado por este mundo sem fazer essas perguntas, pelo menos, a si mesmo?
Teorias científicas e explicações religiosas temos aos montes e brigas entre elas não faltam.
Porém... A certeza que fica... Nenhuma delas explica nada...
Todas são verdadeiras e ao mesmo tempo nenhuma, pois tudo fica restrito ao campo da crença.
E cremos no desconhecido, cremos naquilo que não podemos provar - pois quem passa pela experiência não retorna para produzir um material científico.
Logo, só posso esperar pela minha própria experiência da morte.
Mas, para fazê-la deveríamos antes fazer uma profunda experiência da vida, e humanização.
Há pessoas que perdem tempo com ideais egoístas e deixam de lado os ideais coletivos que deveria ter para torna-se profundamente humanizado.
O individualismo cultural no qual nos encontramos imersos apenas nos faz entrar em um processo de auto desumanização.
Quando perdemos a capacidade de sonhar e deixamos de lutar pelos sonhos coletivos ficamos no meio termo pois nem vivemos e nem morremos.
Pois quem morre sonhando e lutando por ideais coletivos vive e morre dentro de um ciclo interminável do morrer e viver. Quando partimos, só deixamos para trás aquelas experiências boas que nos tornarão presentificados para todo o sempre.
Ao final de tudo só restará o BEM... Só o Bem será lembrado, eternizado!!!
Todas são verdadeiras e ao mesmo tempo nenhuma, pois tudo fica restrito ao campo da crença.
E cremos no desconhecido, cremos naquilo que não podemos provar - pois quem passa pela experiência não retorna para produzir um material científico.
Logo, só posso esperar pela minha própria experiência da morte.
Mas, para fazê-la deveríamos antes fazer uma profunda experiência da vida, e humanização.
Há pessoas que perdem tempo com ideais egoístas e deixam de lado os ideais coletivos que deveria ter para torna-se profundamente humanizado.
O individualismo cultural no qual nos encontramos imersos apenas nos faz entrar em um processo de auto desumanização.
Quando perdemos a capacidade de sonhar e deixamos de lutar pelos sonhos coletivos ficamos no meio termo pois nem vivemos e nem morremos.
Pois quem morre sonhando e lutando por ideais coletivos vive e morre dentro de um ciclo interminável do morrer e viver. Quando partimos, só deixamos para trás aquelas experiências boas que nos tornarão presentificados para todo o sempre.
Ao final de tudo só restará o BEM... Só o Bem será lembrado, eternizado!!!
Quanto ao quesito relativo ao “para onde vamos”, eu também particularmente me contento, mais uma vez, com minha Fé de que saímos das mãos de Deus e que para elas voltaremos...
Para mim, minha crença resume-se nisso.
O depois da morte biológica pode ter muitas explicações religiosas... Tantas quantas doutrinas religiosas possam existir neste mundo... Cada qual a seu gosto.
Porém, não creio nessas inúmeras explicações e nem acredito que elas sejam importantes; pois que o essencial é muito mais simples do que possamos imaginar , conforme já refletimos...
Prefiro me contentar com a certeza de que quero voltar paras as mãos do meu Criador.
Vivo aqui para contribuir com uma humanidade mais humanizada - isto é o essencial, sonhar e lutar por um mundo mais e cada vez mais justo; defender a vida sempre e em todas as oportunidades e por todas as formas que minhas limitações humanas possam permitir, sou (somos) criatura do Criador e co-criador (es) com Ele...
Cedo ou mais tarde, ela, nossa irmã morte, virá ao nosso encontro. Assim como viver precisamos aprender a morrer... Porque, viver e morrer são realidades simbólicas: são significações e possuem sentido e fazem sentido... Michel MONTAIGNE, em seu ensaio “Que filosofar é aprender a morrer” escreve: “(...) Qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu... (...)”.
A morte coloca-nos diante da grande verdade de todos nós... Somos finitos neste mundo.
Há pessoas que se apegam tanto aos seus projetos de vida largamente ambiciosos - dinheiro, poder, aparência - que se esquecem deste detalhe.
Aprender a viver e morrer é um desafio para todos nós diz Montaigne...
Aliás, Montaigne me faz reviver importantes memórias.
Conheci, já durante os seus últimos meses de vida, no final dos anos 90 – quando morava em Curitiba, um garoto de 7 anos, com leucemia e que foi morar em frente de casa.
Ricardo já estava em seus últimos quatro meses de vida. Devido ao sofrido processo de tratamento ele já estava praticamente sem um dos olhos e completamente deformado pela doença, foi quando me tornei seu 'melhor amigo', como ele mesmo dizia...
Sempre que podia passava horas com ele, lia livros de historinhas infantis e gibis para amenizar seu sofrimento.
Conheci, já durante os seus últimos meses de vida, no final dos anos 90 – quando morava em Curitiba, um garoto de 7 anos, com leucemia e que foi morar em frente de casa.
Ricardo já estava em seus últimos quatro meses de vida. Devido ao sofrido processo de tratamento ele já estava praticamente sem um dos olhos e completamente deformado pela doença, foi quando me tornei seu 'melhor amigo', como ele mesmo dizia...
Sempre que podia passava horas com ele, lia livros de historinhas infantis e gibis para amenizar seu sofrimento.
Um dia no quarto do hospital ele indagou sua mãe porque ela insistia tanto em continuar chorando escondida dele. Ao que, ela o abraçou e ele lha disse que a morte não iria jamais pôr um fim no amor que os unia... Ele só tinha 7 anos... Então entendi... Montaigne tinha razão...
Morrer é um ato solitário. Quem morre, morre sozinho, quem fica... Permanece com os de sempre. Mesmo morrendo sozinho, quem morre, recebe o carinho pela rápida passagem do elemento corporal físico e já sem vida ali diante dos olhos dos que ficaram.
Morrer é um ato solitário. Quem morre, morre sozinho, quem fica... Permanece com os de sempre. Mesmo morrendo sozinho, quem morre, recebe o carinho pela rápida passagem do elemento corporal físico e já sem vida ali diante dos olhos dos que ficaram.
Após uma vida cheia de relações intersubjetivas resta neste gesto de carinho a expressão de agradecimento... Quem parte deixa as lições de vida que soube imprimir em vida... Será lembrado pela capacidade que teve de amar e de expressar esse amor em suas relações.
A morte põe um fim aos gestos e sentimentos egoístas e se a pessoa não tiver como legado o AMOR para deixar aos seus, então sua morte acaba com os torrões de terra sobre o caixão. Este sim, um triste fim.
A morte é dolorosa... É uma dor envolta na solidão. Quem sofre a perda de um ente querido sofre uma dor única e que, não se repete... Ela é intraduzível.
Morte e Solidão se entrelaçam de tal forma que a solidão no ato simbólico da morte atinge quem morre e ao mesmo tempo quem fica.
No entanto, morrer não é um ato simbólico próprio do fim de uma vida toda... Aprender a morrer para tudo que não simboliza vida – como preconceitos, maledicências em relação a vida de nosso próximo, evitar a prática do mau em detrimento de nosso próximo, etc...
Ser solidário, não desistir nunca de praticar o Bem, se alegrar com o sucesso de um próximo - nos ensinará que o morrer como acontecimento biológico ao final de nossa vida, é apenas uma passagem para aquilo que o Criador preparou para nós... Morrer é um aprendizado. Morre-se para o egoísmo, para a alienação, mas nunca morre-se para o amor. Tudo passa, o amor fica.
A morte põe um fim aos gestos e sentimentos egoístas e se a pessoa não tiver como legado o AMOR para deixar aos seus, então sua morte acaba com os torrões de terra sobre o caixão. Este sim, um triste fim.
A morte é dolorosa... É uma dor envolta na solidão. Quem sofre a perda de um ente querido sofre uma dor única e que, não se repete... Ela é intraduzível.
Morte e Solidão se entrelaçam de tal forma que a solidão no ato simbólico da morte atinge quem morre e ao mesmo tempo quem fica.
No entanto, morrer não é um ato simbólico próprio do fim de uma vida toda... Aprender a morrer para tudo que não simboliza vida – como preconceitos, maledicências em relação a vida de nosso próximo, evitar a prática do mau em detrimento de nosso próximo, etc...
Ser solidário, não desistir nunca de praticar o Bem, se alegrar com o sucesso de um próximo - nos ensinará que o morrer como acontecimento biológico ao final de nossa vida, é apenas uma passagem para aquilo que o Criador preparou para nós... Morrer é um aprendizado. Morre-se para o egoísmo, para a alienação, mas nunca morre-se para o amor. Tudo passa, o amor fica.
Não vale a pena perder tempo com coisas pequenas, não vale a pena se apegar a bens materiais nessa vida sem o espírito da partilha e da solidariedade gratuita e verdadeira...
Não importa o que seja e nem como seja aquilo que o Criador preparou para cada um de nós, o que importa é saber que o BEM pode ser sinônimo de eternidade e de uma eternidade que também pode ser sinônimo de felicidade...
Não importa o que seja e nem como seja aquilo que o Criador preparou para cada um de nós, o que importa é saber que o BEM pode ser sinônimo de eternidade e de uma eternidade que também pode ser sinônimo de felicidade...
Poema de autoria de Lucio LOPES (um dia sem nada fazer e em divagações filosóficas brotou este poema que transcrevo aqui)_atualizado em 03.09.2018
MORTE REDARGUENTE...
Dia que se vai noite que chega, crepúsculo indesejável anuncia: para além da casca, para além das máscaras – noites dantes desejadas e tão bem vivenciadas, era não mais que o teatro de uma vida, que agora evasiva, gostaria não mais que longe ficar de uma dor que parece eterna, existência confrontada com gritos sem ecos...
Morte, morte redargüente ... agora é a hora de sua sorte... Deserto, deserto escuro, deserto sem norte, deserto sem Lua, no frio que congela a espinha... a esperança ressequida de que ninguém vai ninguém vem, sentidos errante sem sentido... sombra refletida na loucura, pura alucinação para quem a luz é um luxo ao preço que não se pode pagar...
Espada mortal, espectro carregado da percepção sinistra que não tem cor ao gosto de um dia: cinzento, nublado, frio, inundado de dor – dor latejante sem intervalos respeitar, que sangra... que mina as saudades das cortinas fechadas de um teatro da vida...
A morte... ela é bela, ela é terna, ela é forte; até impiedosa... verdade, se cala na escuridão do deserto, redargüente ela tem a paciência de quem é eterna; entre a vida, teatro que se passa em uma peça e sua eternidade, há mistérios infindáveis a serem descobertos.
Esperar... esperei, gritar... gritei, chamar... chamei... Esperei, chorei, gritei, me desesperei, chamei e nada escutei... Para a morte tudo é eterno... Certeza apenas aquela de que não foi mais uma noite que na noite, a noite de mim mesmo na noite... e como isso sangra e é cruel, pois apesar de nada mudar, urge levantar pra mais um capítulo do teatro vivenciar, mesmo sabedor que o crepúsculo da noite para o dia torna-se sinistro ao anunciar, mais uma vez, que a morte tarda, mas vem...
Filoparanavai 2019
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