Filosofia da Religião
Por Lucio Lopes
Bacharel em Teologia, licenciado em Filosofia, mestre em Ensino
Com a Bíblia podemos matar ou salvar ...
Qual a pergunta mais importante hoje: Jesus negou o Velho Testamento? ou, o cristianismo negou e nega os quatro evangelhos que revelam a verdadeira face de Jesus?
Jesus aboliu o Antigo Testamento? Para responder, não se apegue a uma passagem como tradicionalmente leem os defensores de que Jesus não negou o Velho Testamento: Em Mateus 5 (17-18), Jesus teria dito: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”
Ora, a pergunta precisa ser diferente. O que era do Velho Testamento que Jesus valorizava? E o que ele rejeitava?
É mais do que óbvio que Jesus não podia negar o Velho Testamento porque era nele que estava o anúncio de sua própria chegada em meio à humanidade. Mas, basta olhar a prática de Jesus e veremos que ele nega por completo o legalismo exacerbado do Velho Testamento.
Jesus flagrado com seus discípulos "roubando" milho em pleno sábado contrasta com um comentário que li ainda ontem sobre o saque a um supermercado no Rio de Janeiro. "Roubar para comer é crime?", perguntava alguém. Ainda mais se considero a desigualdade social gritante do Brasil somada ao fato de somos um dos maiores "celeiros" de alimentos do mundo. Não faltam alimentos, falta distribuição justa desses.
É mais do que óbvio que Jesus não podia negar o Velho Testamento porque era nele que estava o anúncio de sua própria chegada em meio à humanidade. Mas, basta olhar a prática de Jesus e veremos que ele nega por completo o legalismo exacerbado do Velho Testamento.
Jesus flagrado com seus discípulos "roubando" milho em pleno sábado contrasta com um comentário que li ainda ontem sobre o saque a um supermercado no Rio de Janeiro. "Roubar para comer é crime?", perguntava alguém. Ainda mais se considero a desigualdade social gritante do Brasil somada ao fato de somos um dos maiores "celeiros" de alimentos do mundo. Não faltam alimentos, falta distribuição justa desses.
Jesus, negava a "Teologia da Retribuição", que tanto o cristianismo com o apóstolo Paulo, como a Igreja Católica e igrejas evangélicas tradicionais e atuais, resgataram, em um neo cristianismo que nega ainda mais a verdadeira face de Jesus Cristo. Um Deus comprometido com os mais necessitados, um Deus da gratuidade, um Deus do amor e da paz. O Cristianismo hoje prega, mas não foi diferente na história passada, justamente um Deus "capitalista", um Deus mercador que oferece milagres a quem tem fé e paga o dízimo em dia; um Deus, portanto, nada gratuito, nada amor e paz, justiça e equidade.
Mais ainda, o cristianismo hoje aprofundou mecanismos de alienação política e social. Sempre esteve do lado dos poderosos. Aliás o nascimento da instituição Igreja Católica foi em subserviência ao Império Romano, foi assim durante os mil anos de Idade Média - onde ensinou moralismo exacerbado e ódio-intolerância contra quem quer ousasse acreditar ou pensar diferente de seus mandatários. Foi assim na sustentação da escravidão em diversos lugares, sustentação a governos ditatoriais sanguinários... Hoe continua a sustentar a situação de desigualdade social e ajuda a perpetuá-la. As igreja esqueceram, com raras exceções de fiéis e não de instituições, o profetismo ensinado por Jesus.
Pregam que não podem fazer política quando cobradas a se posicionarem claramente enquanto instituições. Mas o que negam na verdade é assumir o profetismo, ficar do lado dos pobres, dos fracos, dos excluídos, dos esfomeados. As instituições religiosas sempre fizeram política. Sempre tomaram partido, e sempre foi o partido do mais forte, dos poderosos. Esta é a mais pura verdade!
Uma vergonha, porque é uma negação essencialmente de Jesus em todos os sentidos. Enquanto Deus, enquanto humano.
Pregam que não podem fazer política quando cobradas a se posicionarem claramente enquanto instituições. Mas o que negam na verdade é assumir o profetismo, ficar do lado dos pobres, dos fracos, dos excluídos, dos esfomeados. As instituições religiosas sempre fizeram política. Sempre tomaram partido, e sempre foi o partido do mais forte, dos poderosos. Esta é a mais pura verdade!
Uma vergonha, porque é uma negação essencialmente de Jesus em todos os sentidos. Enquanto Deus, enquanto humano.
Jesus morreu na cruz porque tornou-se um perigo não apenas para os ricos e para as autoridades religiosa e políticas da Palestina, mas também para as autoridades políticas do Império Romano.
Os milagres de Jesus tinham objetivos didáticos-pedagógicos. Visava resgatar marginalizados para a vida em sociedade, visava dar dignidade roubada pelos ricos e pelas autoridades religiosa e políticas que ditavam leis e a monstruosa cultura de exclusão. Os milagres eram sinais de esperança para aqueles que já não possuíam mais esperanças, tamanha era a marginalização dos mais pobres e doentes naquela sociedade palestinense.
O Jesus que o cristianismo nega hoje é o Jesus Revolucionário, uma espécie de "comunista", de "petralha", enfim, um sujeito que não se encaixa na ideologia daqueles que dominam a sociedade a partir do topo da pirâmide. Jesus denunciou os exploradores do templo e os exploradores do povo.
Mas não é assim hoje apenas, sempre foi assim. Paulo, que não conheceu Jesus, neo-convertido ao chamado cristianismo, encarregou-se de construir um cristianismo "suave", "leve", aceitável para "gregos e troianos". Um cristianismo sem conflito, um Jesus que se encaixasse em todos os credos e gostos. Uma super valorização dos milagres, da alma sobre o corpo, da alienação política a partir da valorização das coisas celestiais.
A imagem do Jesus conflituoso que nasce em meio aos pobres, pobre e convive com pobres. Que denuncia, que condena o individualismo, egoísmo, dos ricos. Que prega a partilha e comunhão, contra a concentração e individualismo excludente dos ricos. Esse Jesus que prega uma sociedade sem pobres e ricos, nunca interessou a Paulo e nem aos cristianismo que abandonou os evangelhos e apegou-se ao Velho Testamento impondo novamente a Teologia da Retribuição e todo o moralismo doentio da história judaica. Doentio hoje, compreensível naquele contexto histórico. Paulo fez o que Jesus jamais faria ou ensinou. Teve a audácia de fazer uma listinha de quem entraria ou não no Reino dos Céus.
O Jesus que não condena, mas acolhe, convive, escuta, ama, compartilha... Esse Jesus sim foi negado pelo cristianismo. Jesus destrói todos os preconceitos, todas as formas de ódio e violência. É contra toda forma de legalismo. Deixa nus os acusadores da mulher prostituta... Deixa sem palavras o jovem rico... conversa com crentes de outras crenças... Não impõe regrinhas moralistas... ama, acolhe e diz ao "ladrão", "hoje mesmo estarás no Reino dos Céus comigo...
Jesus Cristo é o que importa! O Verdadeiro Jesus Cristo! Aquele que é livre, aquele que denuncia os verdadeiros pecados que escravizam a humanidade. A falta de amor, de partilha, de solidariedade e luta política por justiça.
Um cristianismo que se cala diante das desigualdades sociais, que não se junta ao povo numa luta pela partilha dos bens materiais, que fica ao lado dos egoístas ricos de nossos tempos, e até praticam suas formas de exploração do povo - devolvendo aos templos o poder de arrancar dinheiro dos fieis, esse cristianismo é falso, não tem nada a ver com os ensinamentos do Cristo. E duvido, hoje mais do que nunca que Jesus tenha sinalizado em algum momento de sua vida o desejo de fundar uma igreja - uma instituição, seja ela qual for. É visível apenas que ele deseja uma sociedade igualitária, fundada no respeito, no amor, na paz, no conhecimento, na partilha. Uma sociedade de irmãos e irmãs.
Qualquer cristianismo que fuja a isto, é falso. E se ficar apenas em belos discursos, também é falso.
Qualquer cristianismo que fuja a isto, é falso. E se ficar apenas em belos discursos, também é falso.
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