sexta-feira, 17 de abril de 2020

BRASIL DA NECROPOLÍTICA NEOFASCISTA, um país entre a ignorância e a insanidade coletivas

OPINIÃO
Por Lucio Lopes

A 'insanidade' do presidente da República do Brasil continua incontrolável e as instituições, cada vez mais apáticas e enfraquecidas, assistem aos sucessivos crimes de improbidades (atos ilegais ou contrários aos princípios básicos da administração pública, cometido por agente público, durante o exercício de função pública ou decorrente destasem nada fazer e, assim,  o país 'segue sangrando' metaforicamente dizendo e claro, literalmente também!

Para maldição dos brasileiros, o nosso 'Trump' segue os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A rede de notícias britânica Sky News, descreveu perfeitamente, em janeiro de 2019, Bolsonaro como um líder nacionalista de extrema direita, um “Trump dos Trópicos”. Lembrando ainda que a ascensão do capitão da reserva, “foi marcada por uma retórica polarizadora e declarações depreciativas sobre mulheres, gays e minorias étnicas”.

Bolsonaro e Trump são dois defensores contumazes da supervalorização da economia sobre as pessoas. Para manter o Capitalismo, justifica-se sacrificar vidas.

No último dia 15/04, de acordo com publicação do Brasil 247, o linguista americano Noam Chomsky, um dos mais respeitados intelectuais do mundo, também comparou Jair Bolsonaro a Donald Trump. Em entrevista concedida ao programa jornalístico independente “Democracy Now!”, Chomsky falava sobre a conduta de Trump à frente do país mais atingido pela pandemia do coronavírus quando se referiu a Bolsonaro como um “louco da parte sul do hemisfério”.

Diz Chomsky: "enquanto Trump nos encaminha para a destruição, ele recebe alguma ajuda tão burra na parte sul do hemisfério (...) Tem um outro louco, Jair Bolsonaro, que está tentando competir com Trump para ver quem pode ser o pior criminoso do planeta.” 

Na tentativa de analisar a "loucura" de Bolsonaro, o site Conversa Afiada reproduziu alguns trechos da conversa da  colunista Ruth de Aquino, de O Globo, que conversou com o  psicanalista  Joel Birman,  que fez uma análise da condição mental do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Vamos chamar a coisa pelo nome. O presidente eleito por milhões de brasileiros não é louco. Psicóticos e neuróticos podem ser classificados assim. Eles sofrem e enxergam o sofrimento do outro. Eles não têm método. Bolsonaro é diferente. Pelos estudos da psiquiatria inglesa no século XIX, Bolsonaro se encaixaria em outra categoria: a dos psicopatas. A psicopatia não é uma loucura no sentido clássico, mas uma insanidade moral, um desvio de caráter de quem não tem como se retificar porque não sente culpa ou remorso”. Os psicopatas são “autocentrados, agem com frieza e método”. “Não têm empatia em relação ao outro, o que lhes interessa é o que lhes convém”. A palavra psicopatia vem do grego psyché, alma, e pathos, enfermidade.

A pandemia só tornou esses traços de Bolsonaro mais gritantes. Desde os primeiros grandes gestos do presidente, ficou claro, disse Birman, que seus atos “são marcados por crueldade e violência”. Proposição de liberar fuzis para civis. Proposição de acabar com os radares nas estradas. Proposição de não multar a falta de cadeirinha para crianças. Proposição de acabar com os exames toxicológicos para motoristas de caminhão e ônibus. Proposição de legalizar o garimpo predatório nas florestas e terras indígenas. Tudo isso é um atentado à vida.

Em consonância a essas interpretações, o ex-candidato à presidência Fernando Haddad, de acordo com o Conversa Afiada, 'cravou' em um texto: ""Para Hélio Schwartsman, na Folha, Bolsonaro é burro: "uma guerra ou pandemia é o sonho de consumo de líderes em dificuldades, pois oferecem o pretexto para evocar o discurso da união e surfar na onda de popularidade". Ruth de Aquino, em O Globo, sugere que Bolsonaro é psicopata: "a psicopatia não é uma loucura, mas uma insanidade moral de quem não tem como se retificar, porque não sente culpa; não tem empatia, o que lhes interessa é o que lhes convém". Adjetivos não excludentes", prossegue o ex-prefeito. "De qualquer forma, Trump e Bolsonaro vêm gerindo mal a crise. O futuro dos dois é incerto a essa altura, mas o futuro do mundo certamente seria melhor sem os dois", conclui Haddad." 

No Brasil, Jair Bolsonaro, o presidente eleito por 57,7 milhões de eleitores, segue 'brincando' com a as vidas de milhões de brasileiros e brasileiras ao, de forma irresponsável,  tratar as crises  humanitária e econômica, provocadas pela pandemia do Novo Coronavírus, como uma 'gripezinha', um fenômeno que irá matar alguns velhinhos apenas. Ele não apenas é irresponsável ao fazer publicamente declarações nos limites do mais vulgar Senso Comum, como também se expõe em atos públicos contrários às recomendações médicas e científicas, incentivando que as pessoas o ajudem na campanha necropolítica.

Em meio a essa campanha, Bolsonaro mudou o ministro da Saúde, Luiz Henrique mandetta, apenas porque esse não seguia sua 'cartilha de insanidades', escolhendo seguir a 'cartilha da OMS', como a maioria absoluta dos governos, mundo afora, têm feito no enfrentamento ao vírus.


O novo ministro, obviamente, só poderia ter indicativos de que irá seguir a cartilha de insanidades do Palácio do Planalto, ou seja, a cartilha do neofascismo. 

Um indicativo neste sentido, foi lembrado essa semana: O novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, (....) disse em abril de 2019 que o dinheiro para Saúde é "baixo" no Brasil e, por isso", devem ser feitas "escolhas". Ele propôs o seguinte dilema: um idoso com problemas de saúde "que pode estar no final da vida" ou um adolescente. "Qual vai ser a escolha?", indagou Teich.

Ora, oportunamente falando em uma entrevista sobre a política de combate ao Novo Coronavírus, o ator Antonio Fagundes lembrou que "(...) Todo esse cenário me faz lembrar da frase de Edmund Burke: “Quem não conhece sua história, está condenado a repeti-la”. Esse mesmo tipo de preconceito já foi visto na história, com a eugenia. Na Alemanha, o nazismo eliminava idosos, uma história que não pode se repetir. Eliminava-se também os que pensavam diferente, os deficientes. O mundo está passando por isso de novo. Milhões de pessoas morreram pela irracionalidade. E parece que não aprendemos nada com isso".

Uma crítica vinda de um jornalista apoiador de Jair Bolsonaro e a serviço das narrativas de desinformação e disseminação do ódio contra o Partido dos Trabalhadores, que possibilitaram o golpe e a geração do neofascismo brasileiro,  surpreendeu pela clareza com que expôs o nosso drama. Trata-se do jornalista José Nêumanne Pinto, que na descrição de vídeo tratando das últimas decisões do chefe das milícias bolsonarianas digitais, escreveu: “O presidente Jair Bolsonaro foi proibido pelo STF, em votação unânime, de impedir decisões de isolamento social decretada por governadores estaduais e prefeitos municipais.”

“Ainda assim, manteve o mesmo trololó negando a ciência adotado pelo resto do mundo e demitiu Luiz Henrique Mandetta do Ministério Saúde, mentindo covardemente sobre ter sido esta uma decisão compartilhada com o demitido, na hora mais imprópria, à véspera do pico da curva de contágio e mortes da pandemia.”

“Bajulou os militares, como se isso bastasse para apagar da História sua saída negociada por indisciplina do Exército na baixa patente de capitão. E levou a tiracolo o oncologista Nelson Teich, tido como cientista respeitado, mas de memória fraca, pois: esqueceu o que lhe ensinaram Hipócrates e os pais das ciências médicas: a função primeira de qualquer esculápio que se preze é a vida de seu paciente.”

“No discurso de apresentação, o presidente mentiu, ao inventar que o Brasil estava voando economicamente quando a pandemia surpreendeu um país com 12 milhões de desempregados.”

“E ameaçou com estado de sítio para impor o que chama agora de o direito constitucional de ir e vir, como se tivesse votos no Congresso para tanto. E não tem mesmo. Direto ao assunto. Inté. E só a verdade nos salvará.”


As eleições presidenciais de 2018, dentre todas as de nossa história, talvez tenham sido a mais fácil para o eleitor decidir. De um lado, um experiente político a dar continuidade aos anos dourados dos governos Lula e Dilma. Do outro, o inverso: Um político que passou quase 30 anos no parlamento sem prestar trabalho relevante para a sociedade brasileira e, um assíduo defensor e praticante da violência contra as minorias. 

Quem votou em Bolsonaro não pode alegar desconhecimento de seu perfil! Aliás, se há algo de verdadeiro no Bolsonaro, essa verdade é a de que ele nunca escondeu seu desprezo pela vida e que nutre um ódio por segmentos da sociedade, como das mulheres, dos indígenas, dos negros, dos homossexuais, dos trabalhadores, e outros.

Claro, que isso da 'escolha ser fácil' poderia ser considerado como o mais provável dentro de uma normalidade da vida política em no país.  Pois, no geral, alguém que vota para presidente vota esperando que suas condições de vida material melhorem. 

Porém, não foi nesse contexto que ocorreram as eleições de 2018, marcadas por vários fatores: afastamento, por meio de um golpe, da presidenta Dilma Rousseff, em um processo que iniciou-se em meados de 2013 com um grande pacto das elites financeiras do Brasil e exterior, em um conluio que reuniu para além dos donos dos capitais nacional e estrangeiro, o Supremo Tribunal Federal,  a maioria do Congresso, elementos das Forças Armadas, Executivo, Mídia corporativa liderada pela Rede Globo de Televisão e empresas do grupo, além de uma grande parcela da Classe Média que deu um 'pincelada' de apoio popular ao processo.


Desde o forjado golpe, contra uma presidente honesta, que apenas cometeu o crime de ser mulher, pertencer aos quadros do PT e de governar para o povo - especialmente para os mais pobres -  a vida política no Brasil vinha conturbada com um governo de Michel Temer que abraçava o projeto político dos que derrubaram Dilma e que dava início à desconstrução do Estado Social para instalar um Estado minimalista, para o povo, é claro! Temer conseguiu retirar direitos trabalhistas e quase conseguiu dificultar as aposentadorias, objetivo atingido por Bolsonaro, é claro. Mergulhado em acusações de corrupção, Temer conseguiu passar ileso por dois anos sustentado pelos que o colocaram na presidência. Mesmo após deixar a presidência segue ileso, mesmo acusado e inclusive preso por alguns dias, prisão esta através de um circo midiático aparentemente segue protegido pelos responsáveis do golpe. 

Enquanto isso, o mesmo grupo golpista preparava 'um crime' para Lula com o objetivo de retirá-lo da vida política e de um novo mandato. Lula foi preso! A prisão de Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu no dia 7 de abril de 2018, após o ex-presidente se entregar à Polícia Federal (PF) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e durou até o dia 8 de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter derrubado a prisão de condenados após a segunda instância. Lula permaneceu preso por 580 dias. Lula, foi reconhecido como preso político por várias lideranças políticas no Brasil e no mundo, além de várias instituições de Direitos Humanos. Foi acompanhado em sua prisão  de 580 dias por muitos 'romeiros' do mundo todo que foram à Curitiba para prestar-lhe solidariedade. Em 2019, o Site The Intercept Brasil expôs toda a podridão do Judiciário brasileiro e de atores do Judiciário que forjaram a farsa contra Lula, que visava apenas tirá-lo da corrida eleitoral de 2018, para a qual ele era líder absoluto em todas as pesquisas.

Em 2018, impedido de concorrer, Lula  indicou o professor Fernando Haddad para ocupar sua vaga. Haddad, foi ao segundo turno representando o projeto de governo que fez do Brasil, durante 14 anos, uma das potências emergentes mais admirada do mundo.


O projeto das elites financeiras brasileiras de chegar ao poder a todo custo foi levado adiante, a um custo muito alto para a população brasileira, e a conta está chegando neste momento no qual escrevo este artigo.

Previsão em relação ao golpe contra a presidenta Dilma,
feita pelo  teólogo Leonardo Boff  em 2016.

Todos sabemos que as eleições de 2018 não foram normais. A mídia corporativa reforçou as narrativas de ódio contra o Partido dos Trabalhadores e suas lideranças, especialmente centrando todo o ódio em Lula. A 'Vaza Jato', do ex-juiz Sérgio Moro, também reforçou seus ataques à honra de Lula. Porém, o 'Geraldo'  candidato da direita - não decolou nas pesquisas. Então a direita órfã abraçou o ex-capitão neofascista. Veja bem! Se o Capitalismo é uma desgraça para o povo, imagina quando o somamos ao Neoliberalismo e, imagine ainda, quando o somamos ao fanatismo neofascista.


As eleições de 2018 já estavam condenadas pelo golpe e pelo ódio neofascista que já havia sido disseminado na sociedade e que era alimentado nas redes sociais pela fábrica de mentiras da campanha Bolsonaro e por sua militância digital - como ficou evidente em denúncia estampada numa reportagem no jornal Folha de São Paulo, à época das eleições, incluindo aí um 'exército de robôs' que faziam disparos, por segundos, de milhares de fake news (notícias falsas contra oponentes e ou notícias falsas favoráveis a Bolsonaro).


Além disso, tivemos uma 'facada' no candidato Bolsonaro, muito suspeita e que ainda é um enigma a ser esclarecido. Aliás, mesmo políticos afinados com Bolsonaro duvidam do fato, a exemplo do Cabo Daciolo ex-candidato à presidência da República: Pelas suas redes sociais, Daciolo afirmou que não acredita que o presidente da República tenha realmente sido vítima de um atentado e que tudo não passa de uma grande farsa para encobrir a necessidade de Bolsonaro passar por uma cirurgia, para curar uma enfermidade. O fato foi perfeitamente aproveitado como estratégia política para convencer pelos 'sentimentos' os indecisos e para manter o candidato longe dos debates, onde corria um risco enorme ao ter sua 'inteligência política' exposta diante de um candidato experiente na política e no Ensino Superior, como professor.

Foi estarrecedor para as forças políticas racionais a possibilidade de eleição do primeiro presidente neofascista. Diferentes forças políticas da esquerda à direita, nos últimos dias que antecederam o segundo turno, uniram-se num movimento nacional como última tentativa de virar o jogo. Mas não deu. O neofascismo venceu! Naquele contexto, que em analogia podemos dizer que foi tão bem descrito em uma passagem da música 'Toda Forma de Poder' dos Engenheiros do Hawaii - 'E o fascismo é fascinante / E deixa gente ignorante fascinada / É tão fácil ir adiante e se esquecer / Que a coisa toda tá errada (...)

    Imagem: https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/

Ao observarmos os números das eleições de 2018, no turno 2, percebemos que uma parcela enorme de eleitores fugiram da responsabilidade de não deixar o Brasil cair nas mãos dos neofascistas. Isto lembra Simón Bolívar que disse: "um povo ignorante é um instrumento cego de sua própria destruição".


O segundo turno das eleições do ano de 2018 teve a maior abstenção em pleitos presidenciais desde 1998: 31.308.796 de brasileiros não foram às urnas neste domingo (28/10), o que representa 21,29% do eleitorado. Além disso, foram 2.484.636 de votos em branco, o equivalente a 2,15% do total, e 8.599.212 de votos nulos, ou 7,43% das manifestações. Ou seja: mais de 42 milhões de pessoas, ou 30% do eleitorado, abriram mão de seus votos. Isso é assustador!

A Democracia representativa é muito complicada, apesar de que é ainda o Regime de Governo menos pior. Desde os gregos, ninguém criou nada melhor! Porém, a Democracia exige a consciência política, a formação política, a participação política. As elites burguesas sempre souberam manipular, no sentido de alienar.

A maioria que elegeu Bolsonaro é uma maioria dentre o conjunto de eleitores que votaram em um 'projeto político' claramente contra a maioria dos eleitores que não votou em Bolsonaro e, contra a população brasileira como um todo, vez que o projeto de Bolsonaro é o projeto dos neoliberais plutocratas que querem o Estado a serviço dos ricos. Isso significa menos emprego, menos salário menos direitos trabalhistas, menos saúde pública, menos educação pública, enfim, menos tudo para a maioria do povo, especialmente para aqueles que mais precisam de Estado. Continuarão a sustentar o Estado para que este sustente os ricos. (Entenda por que os pobres pagam mais impostos no Brasil)

Em mais de um ano, o que vimos foi um governo que continua a alimentar setores da sociedade que o apoiam a fazerem discursos de ódio que ampliem a ignorância política, por meio do disparo de fake news. Muitas vezes o presidente é o principal ator em ação nesse circo. O 'circo' permite que a elite e o Congresso comandado pelos responsáveis da economia no governo neofascista, retirem direitos dos trabalhadores e beneficiem os interesses dos donos dos capitais nacional e estrangeiro; o esvaziamento das responsabilidades do Estado com os serviços públicos implementando cortes de investimentos. Além ainda dos avanços nos processos de privatizações do patrimônio nacional.

Norberto Bobbio (1909-2004) que foi um dos maiores politógos do século XX, em sua autobiografia, parecia ter vivenciado esses nossos tempos no Brasil, porém, apesar de não ter presenciado a ascensão do neofascismo no Brasil, ele vivenciou uma realidade muito próxima da nossa: “Fui educado a considerar todos os homens iguais e a pensar que não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem não é rico.” E continua: “Recordei essa educação para um estilo de vida democrático, mas confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças entre ricos e pobres, entre quem está por cima e quem está por baixo na escala social, enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social que cristalizasse as desigualdades”.

Em recente artigoo cientista político Roberto Amaral, expôs em um parágrafo, de forma muito didática, o drama que vivemos neste momento no Brasil: "O capitão da reserva remunerada Jair Messias Bolsonaro (condenado por haver atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, da qual foi convidado a retirar-se) precisa ser detido, e de suas mãos precisam ser retiradas as condições atuais de intervenção política. Seu desequilíbrio (agravando inépcia e limitações cognitivas) requer a curatela das instituições que, até aqui omissas, ou acovardadas, aparentemente estão esperando o circo pegar fogo para só então chamar os bombeiros, esquecidas de que todos estamos sob as lonas. Elas inclusive, com seus mandatários e togados". 

Penso que nosso momento histórico só é comparável aos quase 400 anos de escravidão e mais de 20 anos de Ditadura Militar iniciada em 1964. Duas grandes vergonhas! Estamos na terceira. O problema é que essas vergonhas ceifam vidas! São projetos de uma perversa necropolítica.


Um exemplo dessa necropolítica vigente no Brasil foi estampado em uma publicação no jornal alemão Deutsche Welle, onde podemos ler:  "A extensão da irracionalidade é aterrorizante e ameaça arrastar o Brasil para o abismo. Para a sua disseminação, há um motivo: o bolsonarismo. Esse nome se deve a um homem cujo livro favorito foi escrito por um torturador. Por conseguinte, o bolsonarismo tem correspondentes ideias para a sociedade: violentas, autoritárias, sem empatia, anti-intelectuais e pseudorreligiosas".

Interessante observar que Bolsonaro tem muitos apoiadores e apoiadoras dentre o mundo religioso, tanto Católico como Evangélico. Uma contradição, pois Jair Bolsonaro não apenas é um antipatriota (governa para os EUA), mas também um anticristo. Não há em Bolsonaro nada que o aproxime de Jesus Cristo, a não ser suas filiações, por meio de batismos, nessas vertentes representativas do catolicismo e do evangelismo.

Continua  o jornal, de acordo com a publicação do Brasil247: "o bolsonarismo assumiu agora todas as características de uma seita cujos membros estão dispostos a seguir seu líder incondicionalmente, até a morte. Esse culto à morte está se tornando cada vez mais evidente nas manifestações dos bolsonaristas. Um caixão é carregado alegremente; no meio de uma pandemia, expõe-se a si mesmo e a outros ao perigo de um contágio e se grita: 'A covid-19 pode vir. Estamos prontos para morrer pelo capitão.'"

"Como em todos os cultos religiosos, as contradições são ignoradas. O bolsonarista sempre acha que sabe mais que os outros ‒ mesmo que os outros sejam o mundo inteiro. Ele não segue as estrelas da razão e do conhecimento que fizeram a humanidade avançar ao longo dos séculos (apesar dos inúmeros retrocessos). O norte na bússola do bolsonarista é a satisfação de seu ego insultado", aponta a publicação. 

"O bolsonarista odeia o conhecimento quando este contradiz sua visão de mundo. Ele é como um motorista que anda na contramão na autoestrada e ouve no rádio que há um motorista na contramão e depois grita: "A mídia mente! Não é um motorista, são milhares!" 

Quem no Brasil não tem um membro Bolsonarista na família ou círculo de amizades e/ou ainda entre os colegas de trabalho? É fácil fazer a constatação empírica dessas verdades registradas por esse veículo da mídia alemã. 

O Brasil terá um difícil trabalho pela frente que não será apenas o de remover os Bolsonaristas do poder, mas, sobretudo, devolvê-los aos armários de onde saíram no insano processo político alimentado e liderado pelas elites do capital. É isso, ou estaremos condenado a não civilidade!

Bolsonaro tenta diminuir os impactos políticos negativos do caos econômico que será aprofundado nos próximos meses em decorrência da Pandemia. A economia brasileira vinha em decréscimo antes da pandemia, revelando-se um verdadeiro fiasco a política econômica do governo Bolsonaro que aumentou desemprego e pobreza no país. 

Com a pandemia sabemos que a situação será agravada, e para não responsabilizar-se, Bolsonaro busca culpabilizar prefeitos e governadores que optaram pela recomendação científica do isolamento social para preservar vidas. O governo Bolsonaro fala publicamente que é preferível mortes à prejudicar a economia

Em crítica a essa postura desumana do mandatário brasileiro, o ex-presidente Lula disse ao maior jornal inglês que Bolsonaro conduz o povo brasileiro ao matadouro.

De acordo com o Brasil 247 que é um site brasileiro de informações e análises políticas, o ex-presidente Lula disse que, ao minar o distanciamento social e defenestrar o ministro da Saúde, o presidente “troglodita” (alguém que vive na pré-história) do Brasil pode levar o país a repetir as cenas devastadoras do Equador, onde as famílias tiveram que despejar cadáveres de seus entes queridos nas ruas.

As declarações foram dadas em entrevista ao The Guardian, no momento em que o número de mortos no Brasil por causa do coronavírus chegou a 1.924. "Mas se Bolsonaro continuar cometendo crimes de responsabilidade, tentando levar a sociedade ao matadouro – que é o que ele está fazendo – acho que as instituições precisarão encontrar uma maneira de tirar Bolsonaro. E isso significa que você precisará ter um impeachment”, disse Lula.

O petista ainda comparou o presidente a um maestro que não sabe conduzir uma orquestra, afirmando que Bolsonaro "está tentando tocar música clássica com instrumentos para tocar samba". "Ele transformou essa orquestra em uma loucura´, em uma Torre de Babel", disse.

Lula disse que as ações grotescas de Bolsonaro estavam colocando em risco vidas ao "induzir uma parte da sociedade a contrair o coronavírus", ignorando as diretrizes de distanciamento adotadas pelo próprio Ministério da Saúde do Brasil. "É natural que uma parte da sociedade não entenda a necessidade de ficar em casa ou o quão sério isso é - especialmente quando o presidente da República é um troglodita que diz que se trata apenas de uma gripezinha", afirmou o ex-presidente. "A verdade é que Bolsonaro não tem equilíbrio psicológico para liderar um país. Ele não pensa no impacto que seus atos destrutivos têm na sociedade. Ele é imprudente", arrematou.


Ainda para expressar a necropolítica do governo Bolsonaro, sobre a troca de ministro na pasta da Saúde - Mandetta por Teich -, o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Arthur Chioro falou à TV 247:

Chioro, que atuou no governo Dilma Rousseff, criticou Mandetta, mas afirmou que sua saída é ainda pior para a condução da crise neste momento. Ele definiu também como “a expressão clara da necropolítica” a fala do novo ministro, Nelson Teich, em um vídeo de abril de 2019 em que ele diz que, numa situação onde não há recursos para tratar todos, um adolescente deveria ser priorizado diante dos idosos, por ter mais tempo de vida. “Eu achava que o Mandetta era uma expressão enrustida da necropolítica. Agora temos um legítimo ministro que expressa a necropolítica”, afirmou.

Chioro lembra que Mandetta, apesar de ter saído do governo com uma boa imagem em meio à crise, foi um dos principais responsáveis pela aprovação da EC 95 - do teto de gastos -, que prejudicou de forma cruel os repasses para a saúde pública. O que vem por aí na condução da crise, com Nelson Teich à frente da pasta, no entanto, é muito pior, avalia o ex-ministro.


“Em meio à pior pandemia do último século, colocar no comando do Ministério da Saúde uma autoridade que não sabe o que é o SUS... ele terá um tempo de aprendizado que custará caríssimo para a sociedade brasileira. Ninguém torce para dar errado porque seria torcer contra a sociedade. Ele tem que acertar, mas a chance de ele acertar é nenhuma”.

Vivemos um momento de desolamento político, vivenciado principalmente por aqueles que têm consciência política o suficiente para reconhecer o dramático momento político que vivemos e, que entendem ser a política um instrumento ideal de ação pública para garantia da justiça e da equidade, que são Direitos Humanos fundamentais e que estão sendo negados sem qualquer pudor político.

E antes que algum 'bolsomínion' tenha tempo de nos contestar, termino com uma verdade mais do que empírica, em nossos tempos, do excepcional escritor brasileiro,  Érico Veríssimo,  que em sua obra de 1971, no romance 'Incidente em Antares', deixou registrado que:  "Comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça social". 

Quo vadis, Brasil?
Para onde vais, Brasil?
Sinceramente, acho que nem Deus sabe... 





Filoparanavaí 2020

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