Até a idade média a religião era quem determinava o que era
verdade, e era quem possuía todas as explicações sobre todos os fenômenos.
Atualmente a ciência ocupou o lugar da religião. E a religião passou a produzir
verdades por adesão, ou seja, só as adere quem acredita nelas.
A ciência nasce
no século XVII, o fazer ciência acontece com a observação da realidade. A
partir desta ação, busca-se levantar hipóteses. A ciência busca a produção de
verdades, e se a teoria em questão é confirmada de acordo com os procedimentos
pertinentes ao conhecimento científico, tal teoria é tomada como uma verdade,
embora na ciência as verdades sejam provisórias, porque com o passar do tempo
elas deixam de ocupar o seu lugar como verdade. Entretanto, a única verdade da
ciência reside no seu método.
A razão é a grande produtora de verdades acerca
do conhecimento sobre a natureza e dos seus inúmeros aspectos e peças.
A ciência tem a função de ordenar o grande quebra-cabeça cósmico.
Pois, para a racionalidade moderna, a partir do século XVIII, só há uma grande
certeza, um dogma: o da ciência como caminho único para a obtenção da verdade.
Portanto, para o processo de sua produção.
Ao situarmos os contextos de produção do conhecimento; sabe-se que O
conhecimento científico é produzido num contexto específico, a comunidade
científica.
Já o senso comum é um conhecimento prático, produzido em nosso
cotidiano, e é por meio dele que orientamos as nossas ações.
O senso comum
representa a realidade em que estamos inseridos, é um conhecimento fértil,
representa as inquietações do sujeito.
A ciência rompe com o senso comum,
porque o considerou superficial, ilusório e falso. (...) É certo que o
conhecimento do senso comum tende a ser um conhecimento mistificado e mistificador,
mas, apesar disso e apesar de ser conservador, tem uma dimensão utópica e
libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhecimento
científico.
A ciência se opõe a
opinião.
Pois, para a Ciência nada é dado, tudo se constrói.
O senso comum representa
a experiência imediata, o conhecimento vulgar; as opiniões. Ou seja, tudo o que
se precisa romper para se tornar possível o conhecimento científico, racional e
válido. A paixão é incompatível com o conhecimento científico, precisamente
porque a sua presença na natureza humana representa a exata medida da
incapacidade do homem para agir e pensar racionalmente.
Cada modelo de
produção de conhecimento tem suas particularidades no tocante à obtenção de
suas verdades. Inicialmente a humanidade iniciou suas crenças a partir das
concepções do senso comum, e posteriormente através da razão e da racionalidade
modernas, apropriou-se das premissas da ciência.
O Senso Comum tem por base princípios que são completamente
rejeitados pela ciência: a imaginação, os sentimentos, os sentidos, as paixões,
a especulação e a fé.
Ao contrário do que prega a ciência, estes princípios são
norteadores para a criação e formatação do patrimônio cultural de natureza
imaterial. Que é baseado em toda a experiência cotidiana, permeado pela
imaginação, crenças, paixões, medos, mitos, costumes, superstições.
Todo o
conhecimento produzido pelas populações tem a finalidade de determinar e
caracterizar o seu modo de vida; é uma representação de como uma cultura local
pode manter-se e se conservar viva.
E o meio para que tal fato aconteça é
através da definição e delimitação do patrimônio imaterial. Este é produzido e
determinado através dos conhecimentos do senso comum.
Pois, as concepções do
senso comum são totalmente incompatíveis e inconcebíveis ao conhecimento
científico.
Assim, a determinação do que é, e como é representado o patrimônio
imaterial, fica sob o olhar e determinação do senso comum, pois este compreende
claramente os aspectos inconcebíveis a ciência.
O patrimônio cultural material
é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza
nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico;
histórico; belas artes; e das artes aplicadas.
Eles estão divididos em bens
imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens
individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos,
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos.
Ao contrário do patrimônio imaterial, regido pelo senso
comum; o patrimônio material é determinado pela ciência. É ela que determina o
que pode e o que deve ser tombado, quais as formas aplicáveis de conservação e
restauro e os materiais propícios para esta atividade, e em quais circunstâncias
devem ser realizadas, como devem ser as técnicas de escavação de sítios
arqueológicos, qual o valor a ser atribuído a determinadas obras artísticas,
enfim, é a ciência que estipula o que é o patrimônio material e como, porque e
para que deve ser patrimonializado, tombado e restaurado.
A delimitação
científica do patrimônio cultural material é determinada pela união dos
conhecimentos das mais diversas áreas; literatura, música, história,
arquitetura, arqueologia, direito, engenharia, pautados em conhecimento
específicos dotados de clareza e objetividade.
Desta forma, ao se apropriar do
seu patrimônio imaterial, produzido pelo senso comum, as comunidades tem
reforçadas a sua identidade e coesão. E na apropriação do patrimônio material,
produzido através do conhecimento científico das mais diversas áreas, através
da patrimonialização e de seu reconhecimento e conservação, a sociedade
encontra além da sua identidade, a oportunidade de se obter retorno turístico,
social e econômico dos bens culturais.
Enfim, a ciência e o senso comum podem
trazer no campo do patrimônio cultural muito mais que sua compreensão, tem
também a função de se constituírem como vetores do desenvolvimento.
(Adaptado para fins de estudos, de SILVA, Sandra da Siqueira. A relação entre ciência e senso comum: Para uma
compreensão do patrimônio cultural de natureza material e imaterial. Revista
eletrônica Ponto Urbe 9, ano 2011.
Disponível em: <https://journals.openedition.org/>. Acesso
27 Mar. 2019).
FILOPARANAVAI © ²º20
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