terça-feira, 7 de abril de 2020

Um dos grandes pensadores do século 20, Lévi-Strauss

Claude Lévi-Strauss


28/11/1908, Bruxelas, Bélgica. 
01/11/2009, Paris, França.


Um dos grandes pensadores do século 20, Lévi-Strauss tornou-se conhecido na França, onde seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da antropologia. 

Filho de um artista e membro de uma família judia francesa intelectual, estudou na Universidade de Paris.


De início, cursou leis e filosofia, mas descobriu na etnologia sua verdadeira paixão. 

No Brasil, lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo, de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central. É o registro dessas viagens, publicado no livro "Tristes Trópicos" (1955) que lhe trará a fama. 

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- Levi-Strauss_Claude_Tristes_tropicos

Nessa obra ele conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do Brasil.

Exilado nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi professor nesse país nos anos 1950. Na França, continuou sua carreira acadêmica, fazendo parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982.

O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. Sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de indígenas das Américas do Sul e do Norte.

O antropólogo passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. "Estruturalismo", diz Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras".

Suas pesquisas, iniciadas a partir de premissas linguísticas, deram à ciência contemporânea a teoria de como a mente humana trabalha. O indivíduo passa do estado natural ao cultural enquanto usa a linguagem, aprende a cozinhar, produz objetos etc. Nessa passagem, o homem obedece a leis que ele não criou: elas pertencem a um mecanismo do cérebro. Escreveu, em "O Pensamento Selvagem", que a língua é uma razão que tem suas razões - e estas são desconhecidas pelo ser humano.

Lévi-Strauss não vê o ser humano como um habitante privilegiado do universo, mas como uma espécie passageira que deixará apenas alguns traços de sua existência quando estiver extinta.

Membro da Academia de Ciências Francesa (1973), integra também muitas academias científicas, em especial europeias e norte-americanas. Também é doutor honoris causa das universidades de Bruxelas, Oxford, Chicago, Stirling, Upsala, Montréal, México, Québec, Zaïre, Visva Bharati, Yale, Harvard, Johns Hopkins e Columbia, entre outras.

Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: 

"Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".


“O conjunto dos costumes de um povo é sempre marcado por um estilo; formam sistemas. Estou persuadido que estes sistemas não existem em número ilimitado e que as sociedades humanas, tal como os indivíduos – nos seus jogos, nos seus sonhos ou nos seus delírios – limitam-se a escolher certas combinações, num repertório ideal que seria possível reconstituir.

Um espírito malicioso já definiu a América como sendo uma terra que passou da barbárie à decadência sem conhecer a civilização. Poderíamos com mais razão aplicar a fórmula às cidades do Novo Mundo: vão da frescura à decrepitude sem se deterem na antiguidade.

Nas cidades do Novo Mundo não é propriamente a falta de reminiscências que me choca. Essa ausência é um elemento da sua significação. Estas cidades são jovens e extraem dessa juventude sua essência e justificação. 

A passagem dos séculos representa uma promoção para as cidades europeias; para as americanas, a simples passagem dos anos é uma degradação. 

Não foram apenas construídas recentemente, mas de forma tal que podem renovar-se com a mesma velocidade com que foram erguidas, isto é, mal. 

No instante em que se erguem novos bairros, quase não chegam a ser elementos urbanos: são demasiadamente novos para o serem. O estilo passa de moda, a ordenação arquitetônica primitiva desaparece com as demolições que são exigidas por uma nova impaciência.

Não são cidades novas contrastando com cidades antigas, mas são cidades com um ciclo evolutivo demasiadamente rápido. Certas cidades da Europa adormecem suavemente na morte; as do Novo Mundo vivem febrilmente numa doença crônica: eternamente jovens, nunca são todavia saudáveis.

Botânicos nos ensinam que as espécies tropicais compreendem variedades mais numerosas do que as das zonas temperadas, mesmo que cada uma delas seja constituída por um número muito restrito de indivíduos. Esta especialização, no Brasil, foi levada até os limites máximos.

Assim é que uma sociedade limitada distribuiu os papéis entre os seus membros. Nela podiam encontrar-se todas as ocupações, todos os gostos, todas as curiosidades justificáveis da civilização contemporânea, embora cada setor fosse encarnado por representante único. 

Nossos amigos não eram exatamente pessoas, mas sim funções cuja lista havia sido estabelecida mais em virtude da sua importância intrínseca do que das suas disponibilidades. 

Havia assim o católico, o liberal, o legitimista, o comunista ou, noutro plano, o gastrônomo, o bibliófilo, o apreciador de cães ou cavalos de raça, da pintura antiga, moderna. Havia o erudito local, o poeta surrealista local, o musicólogo local, o pintor local.

Nenhuma preocupação real em aprofundar os conhecimentos encontrava-se na base destas vocações. 

Se por acaso dois indivíduos, em resultado de erro de manobra ou por pura inveja, ocupavam o mesmo domínio ou domínios próximos, passavam a ter a preocupação exclusiva de se destruírem mutuamente, o que faziam com persistência e ferocidade notáveis. 

Havia troca de visitas entre feudos vizinhos, com muitas mesuras uma vez que todos estavam interessados em se manter nas posições. 

Somos forçados a reconhecer que alguns dos papéis eram desempenhados com brilho extraordinário devido à conjugação de fortunas herdadas, encanto nato e muita manha adquirida.

Os estudantes queriam saber muito, porém apenas das teorias mais recentes. Nunca liam as obras originais, preferiam as publicações abreviadas e mostravam enorme entusiasmo pelos novos pratos. 

É uma questão de moda e não de cultura. Ideias e doutrinas não apresentavam aos seus olhos um valor intrínseco, eram apenas instrumentos de prestígio, cuja primazia deveriam obter. 

Partilhar uma teoria conhecida por outros era o mesmo do que usar roupa pela segunda vez. Uma concorrência encarniçada estabelecia-se com o fito da obtenção do modelo mais recente e mais exclusivo no campo das ideias.

Na América tropical o homem encontra-se dissimulado. Em primeiro lugar pela sua própria escassez. Mas mesmo nos locais em que se agrupou em formações mais densas, os indivíduos permanecem enleados pela agregação muito recente. Ainda não aprenderam a conviver. 

Qualquer que seja o grau de pobreza, no interior ou mesmo nas grandes cidades, só excepcionalmente chegamos ao ponto de ouvir os seres gritarem – sempre é possível subsistir com pouca coisa num solo que começou a ser saqueado pelo homem – e só em alguns pontos – há apenas 450 anos.”



Trecho de 
Tristes trópicos, Lisboa/São Paulo, Ed. 70/Martins Fontes,1981.

Lévi-Strauss: Saudades do Brasil - Documentário Completo

Filoparanavai 2020

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