segunda-feira, 27 de abril de 2020

CONVITE AO FILOSOFAR, por Lucio Lopes


Nunca haverei de esquecer, 
em vida, daquele domingo, 
por volta dos meus 15 anos,  
quando tendo encontrando uma 
senhora muito simpática 
de meu bairro, chamada Dona Sebastiana, 
fui tomado de 
meu primeiro profundo filosofar. 
Ela vinha da missa e, 
estava muito feliz porque 
teria sido o Bispo 
a presidir o ofício religioso, 
o que era raro. 
Perguntei, então,  a ela, 
o que o Bispo tinha lhe ensinado 
que teria lhe provocado 
tão grande felicidade? 
Ela respondeu que não saberia dizer, na verdade, 
o que o Bispo havia ensinado durante a homília. 
Mas que ele teria 
falado muito bonito, 
'ah isso ele falou em', 
reforçou ela! 
Aquela experiência 
foi a causa 
do meu primeiro espanto 
genuinamente filosófico. 


Há muitas pessoas que 
não tendo perdido tanto tempo 
nas carteiras de uma escola ou universidade, 
são capazes do mais autêntico 
exercício filosófico e cumplicidade política
com as lutas sociais 
por mais justiça e equidade. 
Por outro lado, 
há muitos que colecionam títulos 
acadêmicos, como o de doutor - por exemplo -, 
e jamais serão capazes de abandonar 
os limites do mais pobre 
Senso Comum 
frente aos problemas do mundo, 
mergulhados na vida 
mais mesquinha à qual 
a Cultura capitalista os relegaram. 
De ambos os casos, 
eu tive muitos 
exemplares ao longo da vida


Convite ao Filosofar, por Lucio Lopes

A Filosofia não é apenas uma disciplina dentre as demais na Educação Básica e/ou no Ensino Superior. Aliás, enquanto apenas disciplina escolar/acadêmica ela irá tão somente responder aos objetivos propostos no processo ensino e aprendizagem, do qual participam todas as disciplinas.

É verdade também que ainda que alguém possa dizer que o valor da Filosofia, enquanto disciplina nesse conjunto de disciplinas, não tem importância como tem as demais; é importante lembrar que a Filosofia está colocada no mesmo nível das responsabilidades compartilhadas com todas as demais.

De início quero pontuar que a Filosofia para ser mais do que uma disciplina a ser ensina nos sistemas educacionais, necessita obviamente das contribuições de todas as demais disciplinas. Afinal de contas não há ciência que não tenha sido gerada pela mãe Filosofia. Há um cordão umbilical inquebrantável entre a Filosofia e todas as ciências. E é justamente da Filosofia o papel de impedir que as ciências deixem de serem ciências para converterem-se em sistemas doutrinários religiosos, perigo real que  nos legaram os positivistas do século XIX.

Ora, no geral, os estudantes passam pelas instituições escolares no intuito de conseguirem um diploma que os permitam dar sequência aos estudos ou almejar uma vaga no difícil mercado de trabalho. As escolas e universidades particulares talvez sejam os retratos mais reveladores desses objetivos marcados pela manutenção e/ou busca por um Status Social de maior destaque. É óbvio que as humanas não tenham nesses espaços acadêmicos o prestígio que merecem. Afinal de contas, isso é o que menos importa. Mesmo quando a instituição tenha toda uma carta de apresentação tendo como objetivo a 'formação integral do homem'. Isto não vai para além de um bonito ideal que geralmente não passa daquilo que é, um mero ideal.

Não é de se estranhar que a Filosofia em meio a esses objetivos utilitaristas torne-se uma estranha dentre as disciplinas. No Brasil esteve por décadas fora do curriculum escolar. A Estado Ditatorial iniciado em 1964 ocupou-se de banir por completo a existência dessa disciplina. A disciplina retornou de modo acanhado em 2008, pelas mãos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. E desde então o que não falta são saudosistas do Regime autoritário incomodados com ela.

Especialmente quando tivermos governos menos Democráticos e mais pragmáticos, essa ameaça sempre será uma realidade a ser considerada e vencida.

Aliás, dessa depreciação não apenas a Filosofia sofre. Todas as demais disciplinas das áreas de humanas são alvos dessa depreciação. As disciplinas de humanas estão mais centradas no Ser que no Fazer. E nesse dilema, sabemos que o Fazer sempre se sobressairá. E assim, tanto a Filosofia quanto as demais disciplinas de humanas necessitarão sempre estarem atentas aos movimentos que são feitos no sentido de expulsá-las desse conjunto de disciplinas dos sistemas educacionais.

Alguém pode compreender com maior facilidade a utilidade de se estudar Biologia, Química ou Física. Mas compreender para que estudar com a mesma dedicação Literatura, história ou Filosofia, parece requerer um enorme esforço.

A depreciação em questão pode ser averiguada empiricamente pela observação dos gastos do governo com as ciências da Natureza comparando-os com os gastos voltados para as áreas de humanas. Não será difícil perceber que a compreensão geral política e tecnocrata não vê muita vantagem em gastar dinheiro público para financiamento de pesquisas nas áreas de humanas. Na mentalidade atrasada desses sujeitos, não haveria um retorno financeiro compensatório para  aquilo que chamariam facilmente de 'gastos desnecessários'. Afinal de contas para que servem as humanas se não têm a finalidade de possibilitarem um retorno econômico imediato? Explicar para essa gente que as humanas podem inclusive melhorar o aspecto econômico, seria muito para a mentalidade deles. 

Se as Ciências da Natureza e as exatas, com as tecnológicas, nos possibilitam bens materiais que facilitam nossas vidas e que na obtenção dos mesmos, geram gordos lucros aos donos dos capitais; grande verdade é que são as humanas a poderem dizer o quanto estamos agredindo o meio ambiente para satisfazer nossas necessidades por bens materiais e como é que, poderíamos encontrar um caminho racional para recuperar os danos já causados e evitar futuros. E ainda, como consumir com responsabilidade ambiental os bens materiais - que para fabricá-los, da natureza retiramos.

Mas então porque iniciei com a assertiva “A Filosofia não é apenas uma disciplina dentre as demais na Educação Básica e/ou no Ensino Superior”?

A assertiva em questão é justamente a minha tentativa de demonstrar que o valor da Filosofia está para além do sistema educacional. A Filosofia está para além dos muros das escolas e universidades. A filosofia não é um amontoado de informações a partir de teorias construídas ao longo do tempo.

Ou seja, o que eu quero dizer é que a Filosofia está imbricada em uma relação única com o/a filósofo/a e com o filosofar. O que ainda quero dizer é que a Filosofia é um exercício que se faz subjetivamente a todo tempo em um emaranhado de relações intersubjetivas que se renovam a cada momento.

Talvez o que melhor defina essa palavra Filosofia, que em suas origens significa amor à sabedoria, é que a Filosofia nada mais é do que um exercício.

Sim, a Filosofia é um exercício humano. Um exercício exclusivamente do sujeito. E aqui talvez tenhamos a maior dificuldade para convencer as pessoas a fazerem bom uso desse instrumento do pensar. Fazer exercício não é uma atividade que agrade à maioria. E não estamos falando de um exercício fácil de ser feito. Talvez nenhum dos tantos exercícios que possamos fazer em uma academia de modelagem do corpo, possa ser comparado ao exercício filosófico.

A Razão é uma faculdade espetacular. É ela que marca a singularidade do Homem em meio ao Reino animal. Mas é verdade que a Razão enquanto instrumento do pensar, assim como a Filosofia, não funciona de maneira involuntária. O homem necessita ter um querer e esse querer é o que o levará a assumir o exercício filosófico.

Sabemos que o ser crítico está em um patamar diferente daquele do ser alienado. Especialmente Karl Marx nos ajudou muito a decifrar esse enigma, em uma vasta teoria. Por exemplo, é possível termos alguém que tendo passado pela educação básica e educação superior, persista no mais profundo Senso Comum e completamente alienado, sem qualquer empatia em relação aos problemas do Homem atual, dos demais animais e/ou do meio ambiente.

Em contraposição à Filosofia, obviamente é muito mais fácil alguém apaixonar-se pelo Senso Comum. Este saber não requer um árduo exercício. Ele se faz a partir de tentativas, de testagens experimentais. Por exemplo, se tenho uma garrafa de café, mas não sabendo para que lado rolar a tampa faço isto em uma tentativa de acerto e erro. Quando acertar, meu problema estará solucionado. Abrir minha garrafa a partir de então será um ato automático a se repetir sem a imposição de problemas de nenhuma outra natureza, que não seja o da prática.

O padre, o pastor, o político, apesar de estarem em funções sociais diferentes, fazem narrativas com o objetivo de agradar aos públicos que os escutam. No geral esses públicos não são muito exigentes. Tirar vantagens deles é uma arte que não requer muito esforço. Basta dizer o que eles desejam ouvir. Basta responder às suas demandas imediatas vendendo-lhes ilusões e serão aplaudidos. Basta perceber que nas narrativas dos religiosos, no geral, o Jesus bíblico é retratado como um ‘milagreiro’ mas jamais como um libertador social. Na política o importante é pregar o fim da corrupção no governo a ser empossado e o público fará do político ‘um mito’. O segredo é evitar o conflito, evitar a necessidade de que os públicos, em questão, ousem pensar. O foco é trabalhar o afeto e, em uma sociedade capitalista como a nossa, com tantas demandas materiais e psicológicas, não é difícil vender ilusões.

O alienado tem um mundo bastante limitado. Por exemplo, diante de um 'panelaço' nacional contra o governo, marcado para as 20 horas de uma noite definida antecipadamente, ele é capaz de olhar para a rua de seu bairro nesse dia e hora e, não ouvindo nada que identifique o soar de panelas logo conclui o evento panelaço foi uma mentira dos opositores ao governo.

Seria o equivalente, em exagero de minha parte é claro, a dizer: Nunca estive na Torre Eiffel, logo, ela não existe. Lula é ladrão e lulinha, seu filho, o homem mais rico do mundo com o dinheiro acumulado dos assaltos aos cofres públicos feitos pelo pai, essa é uma das ‘verdades’, mais disseminadas e propaladas, pelas pessoas que vivem nos limites dessa alienação.

No ano de 2020,  no Brasil, tínhamos um presidente da República conhecido no mundo todo como um negacionista frente à Pandemia de um Novo Coronavírus que se abateu sobre o mundo todo naquele ano. No Negacionismo (do francês négationnisme) a pessoa escolhe negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Diferente obviamente do Filósofo que ama esse desconforto e utiliza o conflito dele originado para pensar e criar mecanismos de enfrentamento, de intervenção para ter o controle da realidade adversa. Interessante foi perceber que os seguidores desse presidente, de extrema-direita, deram validação aos discursos do mesmo, gerando muitos problemas em meio à luta empreendida pelas autoridades políticas e sanitárias do país. Um discurso que obviamente ceifou muitas vidas, quando na verdade, a Filosofia e a Ciência deveriam ser os instrumentos a serem utilizados para preservar vidas.

Ora, o negacionismo, em questão, faz parte de um processo de alienação que visa apagar qualquer possibilidade de autonomia no pensar.

O alienado, no geral, ocupa-se de seus problemas e vive para solucioná-los, não importando com os problemas dos outros. Por exemplo, se ele tem comida no prato entende que essa conversa de fome no mundo é uma farsa. Se não é um problema dele, o problema não existe.

Não é de se estranhar que as elites do Capitalismo, que sucederam a burguesia mercantil,  continuem a utilizar com muito sucesso os instrumentos de alienação tão bem explicitados nas teorias marxistas. Esses instrumentos permitem que alguém que não tenha bens materiais pense igualmente a alguém que tenha muitos bens materiais. Assim, manter as absurdas desigualdades sociais não é uma tarefa tão difícil para as elites.

Portanto, diante dessas considerações podemos compreender que aqui temos uma aporia. Importante lembrar que a aporia é uma dificuldade ou dúvida racional decorrente da impossibilidade objetiva de obter resposta ou conclusão para uma determinada indagação filosófica. Essa aporia decorre do fato de que a Filosofia é um exercício difícil de ser feito e que assim sendo não encontrará muitos adeptos. Por outro lado, a alienação atinge a maioria dos homens e das mulheres, pois é uma condição para a sobrevivência do próprio Sistema Econômico e satisfação das necessidades mais básicas do ser humano.

Ora, não desejo aqui solucionar essa aporia. O meu objetivo aqui é demonstrar que a Filosofia é muito mais do que uma simples disciplina a ser ensinada no sistema educacional.

Ao exercício filosófico chamaremos de filosofar. Como já foi demonstrado anteriormente é um exercício que depende exclusivamente do querer do sujeito implicado. Filosofar é um exercício libertador e, sem dúvidas, o caminho para a felicidade. É um remédio eficaz para a solução de problemas e mais que isso, para a prevenção de futuros problemas.

O filosofar tem um potencial humanizador simplesmente revolucionário. Mas como explicar o que é esse filosofar? Muitos filósofos já se ocuparam dessa tarefa. E eu aqui desejo apenas deixar minha contribuição em forma de um ensaio.

Entendo que o Filosofar em primeiro lugar depende de um encantamento. Depende de um apaixonar-se pela coisa. Filosofar implica para além do querer, a necessidade também de ser tomado por uma grande paixão pela verdade e pela felicidade. É essa paixão que fará do sujeito um bom filósofo, uma boa filósofa.

O Filósofo é aquele que diante das verdades do mundo apresenta dúvidas, diante das respostas apresenta perguntas. O Filósofo é um experto em observar o seu entorno. Ele é capaz de perder tempo no final de um dia contemplando o pôr do Sol. Ele é capaz de flagrar o canto de um pássaro em meio ao barulho rotineiro de um grande centro. O filósofo é capaz de espantar-se diante das perguntas sobre o mundo e diante do próprio mundo, como tão bem explicou Aristóteles em sua Metafísica. O Filósofo ainda é capaz de saber a diferença que separa a opinião do argumento. É capaz de exercer a arte do bem argumentar.

Além desses qualificantes, o Filosofar exige que o sujeito que se dispõe ao exercício domine a distinção entre os variados conjuntos de saberes que o Homem construiu ao longo do tempo. É necessário que ele consiga fazer a distinção entre uma Saber Mítico e um Saber Filosófico, ou entre um Saber Científico e um Saber Popular. Fazer essas distinções é uma condição necessária para o exercício. Eu diria que metaforicamente seria o mesmo que alguém querendo ser um bom ciclista necessitasse, de imediato, de uma bicicleta e que ele conhecesse bem as diferenças entre as variadas bicicletas. a fim de obter a mais adequada, para que durante os exercícios não venha a ter surpresas que os prejudiquem.

Diante disso, podemos já fazer mais outra conclusão. O Filosofar é um exercício exclusivamente do sujeito e é o próprio Filósofo que deve decidir avançar mais ou o quanto avançar mais. Não sei se tem receita para isso. Talvez não. Dependerá muito da presença dos elementos que descrevi.

O Filosofar faz com que o filósofo tenha algumas características muito específicas. Ele está sempre metido em conflitos. Muitos  evitam o filósofo porque sabem que ficariam desarmados diante dos argumentos e perguntas de seu interlocutor. O Filósofo consegue ver coisas para além daquelas que são compreendidas pelo Senso Comum. Os conflitos, portanto, são normais, pois o Filósofo está sempre em um outro patamar, que não direi ser superior pois isto mataria a proposta de Filosofia da qual estamos tratando, mas em um outro patamar no sentido de que estando em exercício filosófico é capaz de elaborar uma cosmovisão (maneira subjetiva de ver e entender o mundo) muito mais abrangente e completa do que aqueles que não fazem o exercício.

Em suma, o Filosofar é o próprio exercício crítico frente aos problemas da vida e do mundo. Nada escapa ao filosofar. O filosofar segue um método de raciocínio rigoroso que se adquire no próprio exercício. Quanto mais dinâmica é dada ao exercício mais longe viajam as especulações filosóficas. 

Poderíamos perguntar ainda, qual é a vantagem do Filósofo ter essa cosmovisão diferenciada? Por exemplo, o filósofo diante das angústias decorrentes da vida em sociedade frente a todos os seus problemas, sofre menos? Eu repondo que não! Respondo ainda que o Filósofo que filosofa sofre tanto quanto quem não se aventura nesse exercício. A diferença está no fato que aquele que não filosofa sofre sem saber os motivos de seu sofrimento e, assim, não sabe como agir para ter menos prejuízos. Por outro lado, o filósofo que filosofa sofre sabendo os motivos de seu sofrimento e, portanto, saberá o que fazer para diminuir os prejuízos. E talvez, esse seja o maior segredo da Filosofia, o filosofar é libertador, o filosofar é a própria felicidade. É libertador porque o homem que aventura-se a filosofar encontra sua essência mais primitiva que é a de ser um animal dotado de Razão, a faculdade que lhe dá a condição de co-criador do Universo e da vida enquanto natureza, criador de seu próprio mundo interior. O Filosofar é libertador porque possibilita ao homem um conhecimento profundo de si mesmo e do mundo que o rodeia. E ter consciência da existência dessa essência aliada ao bom e devido uso que se deve dela fazer, para que a vida em todas as suas dimensões possa ser preservada e celebrada, é o motivo pelo qual pode esse homem ao filosofar, ser plenamente feliz.



FILOPARANAVAÍ © ²º20 

domingo, 26 de abril de 2020

GREG NEWS voltou!



O Brasil ainda tem muito fundamentalismo 
religioso, homofobia, 
racismo e machismo. 
Acho que o humor 
bem feito vai contra 
isso tudo porque 
relativiza 
as grandes certezas. 
Gosto do humor que dá 
uma rasteira nas certezas. 
Rir mais de si mesmo 
faria muito bem para o Brasil. 
Gregório Byington Duvivier (Rio de Janeiro, 11 de abril de 1986) é um ator, humorista, roteirista e escritor brasileiro. Ficou conhecido pelo seu trabalho no cinema e no teatro e, a partir de 2012, destacou-se como um dos criadores das esquetes do canal Porta dos Fundos, no YouTube.

Confira o quinto episódio da 4ª temporada do Greg News, com Gregório Duvivier! Toda sexta, às 23h, você assiste a um novo episódio na HBO Brasil. Gregório Duvivier faz uma humorística análise da conjuntura política brasileira. 

GREG NEWS | CALMA, GENTE



FILOPARANAVAÍ © ²º20 

sábado, 25 de abril de 2020

Brasil, um país mergulhado no nonsense neofascista

Sérgio Moro caiu atirando 
contra o presidente 
Jair Bolsonaro, 
em uma grande ironia, 
pois o governo que gosta 
de dar tiros 
foi alvejado 
com 'fogo amigo'

"Um time de monstros"

OPINIÃO
Lucio Lopes

O Brasil vive um momento surreal, parece que Deus tirou férias e levou consigo a razão coletiva. Estamos entregues às trevas e ao horror cotidiano -  como bem retratou Jamil Chade em seu artigo de opinião: Irrompem os monstros do Brasil

Vivemos uma grande crise política como um ingrediente a mais em meio ao caos econômico e sanitário. 

De um lado, a pandemia atinge a parcela vital da economia que é a produção e o consumo e, assim, empregos desaparecem. Em decorrência disso a  pobreza e a miséria disparam, trazendo uma violência social que, se já era enorme antes da pandemia, tende a aumentar nos próximos meses. O governo plutocrata e neofascista não quer saber do povo. Aliás, o povo nunca está entre suas prioridades.

Sem governo federal ativo e eficiente, nem os números de infectados e mortos pelo Novo Coronavírus (Covid-19) são reais. Existe uma subnotificação  que expressa a cara do atual governo brasileiro, mergulhado em fake news. Brasil é um dos países que menos realiza testes para covid-19, mas um dos que mais enterra tendo como motivo dos óbitos, problemas respiratórios graves. 

Diz o ditado que desgraça pouca é bobagem. Depois da crise política na troca de ministros na pasta da saúde para satisfazer caprichos do homem que brinca de ser presidente em Brasília, no Distrito Federal, agora a situação apenas piorou um pouco mais. 

O Ministro da Saúde, Nelson Luiz Sperle Teich, ignora subnotificação ao dizer que Brasil tem 'melhor' desempenho contra o coronavírus e defende publicamente que a população seja infectada em sua maioria para ser imunizada, fazendo assim, apologia explícita ao fim das quarentenas mais rígidas que foram impostas em muitas cidades brasileiras para conter a disseminação do vírus e proteger o caótico sistema de saúde de uma falência geral.   

Ora, foi justamente para isso que Bolsonaro trocou Mandetta por Teich. O novo ministro da Saúde será apenas mais um serviçal bolsonarista trabalhando contra o Brasil e, que ajudará no projeto genocida, em curso  no país, por conta de uma pandemia que com certeza eliminará milhares de milhares de pobres - seja por conta de um sistema de saúde sucateado, especialmente entre 2016 a 2020; ou seja por conta da degradação social em decorrência das políticas de sucateamento dos serviços públicos e, ainda, veloz piora do cenário econômico, sem muitas perspectivas de melhora para o povo se considerarmos que a Cartilha Neoliberal está sendo seguida pelo governo atual. A pandemia deixa as desigualdades sociais ainda mais visíveis. 

Feitas essas considerações, agora me ocupo da queda do 'super' Ministro da Justiça, Sérgio Moro. 

O ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro deixou o Governo na sexta-feira 24/04. Moro comunicou sua demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública em um discurso duro, em que acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente no trabalho da Polícia Federal. A saída dele aconteceu após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, oficializada na manhã daquela sexta-feira. Moro afirmou que Bolsonaro, desde o ano de 2019, pede a troca do comando por alguém a quem “pudesse ligar para colher informações" sobre investigações.  

Não tenho dúvidas de que Moro fala a verdade ao acusar o presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente no trabalho da Polícia Federal. Bolsonaro e seu clã é alvo de investigações que explodiram às vésperas de sua posse. 

É fato notório que há interferência. Quando propaga-se a ideia que no governo Bolsonaro não há corrupção e/ou ela diminuiu; quando tínhamos um ministro da Justiça que se calava diante dos possíveis crimes da organização Bolsonaro; quando acompanhamos o  fim dos espetáculos circenses proporcionados pela mídia mediante operações da PF que diminuíram drasticamente; quando a justiça silenciou o Adélio Bispo e a verdade sobre a suposta facada que ninguém viu não aparece; quando as mortes de Marielle Franco, Gustavo Bebbiano, Adriano Nóbrega, seguem enigmáticas; quando Fabrício Queiroz segue protegido sem prestar constas à Justiça; quando Michel Temer e o mineirinho Aécio Neves seguem livres e soltos diante de 'provas' de crimes; quando  dentre outros muitos fatos  demonstrarm que a  'verdade' no Brasil tornou-se algo cada vez mais escasso.

Por ironia, o ex-juiz Sérgio Moro deixou o governo fazendo uma acusação de 'interferência política' do presidente na Polícia Federal, semelhante em algum grau, à acusação que sobre ele mesmo recaiu após as explosivas revelações do Site The Intercept

Moro extrapolou o seu papel de juiz e manipulou processos de forma política e criminosa. Mas, como estamos no Brasil, ele foi premiado com o cargo de Ministro da Justiça, justamente por ter pavimentado o caminho para o neofascista Bolsonaro ser eleito em um pleito sem Lula, sem debate, com uma facada que ninguém viu e que serviu para sensibilizar parcela significativa da população e, uma eficiente fábrica de notícias falsas que ainda contínua em operação, segundo acusações,  dentro do Palácio do Planalto, denominada de "Gabinete do Ódio". No momento, uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPI) das Fake News, tenta compreender essas operações criminosas.

O Deputado Federal Paulo Pimenta deixou Moro sem respostas

O colunista Jeferson Miola, no BRASIL 247, lembrou que:  "(...) No período bolsonarista, Moro atendeu servilmente a todos os interesses dos Bolsonaro.

A coleção de crimes de prevaricação, omissão, advocacia administrativa e outros crimes cometidos por Moro, o gângster que a partir de agora será adotado pela Rede Globo para representar os interesses eleitorais da oligarquia calhorda, preencheriam uma enciclopédia:

– Moro prevaricou no caso do laranjal do PSL;
– obstruiu a investigação e mentiu em relação às denúncias da Vaza Jato;
– prevaricou em relação às milícias bolsonaristas digitais;
– prevaricou em relação ao atentado terrorista do militante do PSL contra a sede do Porta dos Fundos e permitiu a fuga do criminoso do país;
– tentou destruir provas dos supostos hackers e vazou informações das investigações a autoridades implicadas;
– prevaricou em relação ao tráfico de 39 kg de cocaína no AeroCoca presidencial da FAB;
– prevaricou na investigação do tráfico internacional de armas por Ronnie Lessa, vizinho de Condomínio de Bolsonaro e acusado do assassinato de Marielle e Anderson;
– prevaricou ao não incluir o nome de Adriano da Nóbrega, o miliciano preferido dos Bolsonaro, da lista de bandidos mais procurados do país e etc, etc.


Por todos estes crimes – e também por outros a serem relembrados e que não foram arrolados neste rápido repertório feito de memória – é incontornável que juristas analisem os fatos e promovam no judiciário as ações que correspondem contra Moro".

Importante lembrar que o anunciar a demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro denunciou reiteradas tentativas do presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal. O ministro chegou a pontuar, no discurso, que durante os governos petistas, de Lula e Dilma Rousseff, não houve interferências nos trabalhos na PF durante as investigações da Lava-jato, e que isso foi de extrema importância para os resultados.

Ora, isto não é novidade. Os governos Lula e Dilma criaram mecanismos e investimentos para o combate aos crimes de corrupção. É muito possível que nenhum outro governo em toda nossa história tenha combatido tanto a corrupção como fizeram os governos Lula e Dilma. A corrupção é uma praga necessária à sobrevivência do capitalismo. No Brasil ela tem proporções e ramificações gigantescas. 

É claro que é fácil disseminar que 'Lula é ladrão', que o 'PT roubou', como fazem as milícias digitais bolsonarianas. Quando há vontade de combater a corrupção ela certamente aparecerá, porém aquilo que aparece não é nada diante da realidade. Imagine então que quando não há essa vontade, como acontece no governo atual, a sensação da população ignorante é que não há corrupção. Acreditam que a corrupção não existe ou está sob controle. Pobres mortais!

Lula e Dilma são 'caçados' pela elite corrupta desse país justamente porque ousaram incomodar os grandes corruptos e corruptores. Mas antes de chegar a eles manipularam perfeitamente os instrumentos de combate à corrupção colocando-os justamente contra os governos petistas. O Mensalão do PT e a Lava Jato fazem parte desse jogo de esvaziamento do poder do PT. Mesmo assim, foi fato notório que Lula e Dilma jamais interferiram. 

Fato  este confirmado na sexta (24) mas também confirmado em 2017 pelo próprio Sérgio Moro: Ele citou os investimentos feitos por Lula na Polícia Federal em seu primeiro mandato, a criação da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2003, e a "preservação da independência" do Ministério Público Federal (MPF) por meio da escolha de um procurador-geral indicado por seus pares."É forçoso reconhecer o mérito do Governo do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fortalecimento dos mecanismos de controle, abrangendo a prevenção e repressão, do crime de corrupção", escreveu o juiz.

Em relação a acusação levantada por Moro contra Bolsonaro, ninguém melhor do que Luis Inácio Lula da Silva, expressou a dicotomia insanável de Moro ao acusar alguém de um 'crime'semelhante praticado por ele mesmo frente à Lava Jato: "(...) Nessa disputa toda, os dois são bandidos, mas é o Bolsonaro que é a cria e não o contrário. E os dois são filhos das mentiras inventadas pela Globo".
De fato, o Jornal Nacional da Globo, no dia 24/04 deu uma aula de como se faz o jornalismo de esgoto. A Globo desde a ditadura militar de 64 especializou-se em manipular as informações a serviço dos interesses dos donos do capital financeiro nacional e estrangeiro. Isto não é novidade para ninguém que tem o mínimo de formação política. Obviamente ela iria fazer uma defesa endeusadora de Moro e cuidadosa com Bolsonaro. Os dois servem aos interesses de seu scripting jornalístico. 

A manipulação é tão escancarada que o seu péssimo e parcial jornalismo não foi capaz de lembrar que Moro foi recentemente desmoralizado internacionalmente, ao ser apresentado com fartas provas, como um contumaz manipulador político da força tarefa Lava Jato.  Era o momento de dar voz a Lula ou Dilma, mas não ocorreu isso. A Globo lambuzou seus beiços com o prato do dia oferecido pela dupla Bolsonaro e Moro. Este segundo é o candidato da Globo, da Direita brasileira, para 2022.  

Neste sentido, as reflexões do ex-presidente são muito pertinentes:

Por sua vez, a ex-presidenta Dilma Rousseff também foi enfática ao expôr o cinismo do ex-juiz Sérgio Moro: 
O ex-candidato do PT à presidência, Fernando Haddad, fez uma série de tweets bastante didáticos para compreendermos o drama brasileiro.

Em suma, o Brasil segue sangrando! Parece ser um castigo aos "três pecados capitais" cometidos nos últimos anos: O GOLPE CONTRA DILMA, a prisão de Lula sem provas e, portanto, sem crime; e a eleição de um neofascista que tem 30 anos de uma imprestável carreira política. O problema disso tudo é que os mais pobres pagam a conta em primeiro lugar!

Para finalizar ainda abordando o 'espetáculo deprimente da sexta 24', disponibilizo dois vídeos - abaixo - que tratam a política com 'humor' porém, com muita responsabilidade e seriedade. 

Moro pede demissão e detona Jair, Carluxo e Dudu Bolsonaro | Galãs Feios


   Moro, Bozo e Zambelli: a sexta mais bizarra da história | Galãs Feios
 


Em tempo, é bom lembrar que a fome está de volta à América Latina. O agravamento da pobreza já era um problema antes da pandemia, agora tende a ser aprofundado. 
A fala do ex-presidente, na entrevista, expressa um velho drama vivenciado em nossa região continental. 



A Fome, especialmente no Brasil, é um escândalo injustificável. Pois somos o maior produtor de alimentos da região e o quarto maior produtor mundial. A onda neoliberal que tomou conta da América Latina casada com o neofascismo como por exemplo no Brasil, relegou o povo ao segundo plano. Para o neoliberalismo, primeiro vem o Capital, se sobrar alguma coisa então vai para o povo. Para o neofascismo em primeiro lugar vem a 'moralidade'. Por exemplo, impedir o casamento gay vem antes da preocupação em criar projetos de governo para combater a fome. 


FILOPARANAVAÍ © ²º20 

sexta-feira, 17 de abril de 2020

BRASIL DA NECROPOLÍTICA NEOFASCISTA, um país entre a ignorância e a insanidade coletivas

OPINIÃO
Por Lucio Lopes

A 'insanidade' do presidente da República do Brasil continua incontrolável e as instituições, cada vez mais apáticas e enfraquecidas, assistem aos sucessivos crimes de improbidades (atos ilegais ou contrários aos princípios básicos da administração pública, cometido por agente público, durante o exercício de função pública ou decorrente destasem nada fazer e, assim,  o país 'segue sangrando' metaforicamente dizendo e claro, literalmente também!

Para maldição dos brasileiros, o nosso 'Trump' segue os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A rede de notícias britânica Sky News, descreveu perfeitamente, em janeiro de 2019, Bolsonaro como um líder nacionalista de extrema direita, um “Trump dos Trópicos”. Lembrando ainda que a ascensão do capitão da reserva, “foi marcada por uma retórica polarizadora e declarações depreciativas sobre mulheres, gays e minorias étnicas”.

Bolsonaro e Trump são dois defensores contumazes da supervalorização da economia sobre as pessoas. Para manter o Capitalismo, justifica-se sacrificar vidas.

No último dia 15/04, de acordo com publicação do Brasil 247, o linguista americano Noam Chomsky, um dos mais respeitados intelectuais do mundo, também comparou Jair Bolsonaro a Donald Trump. Em entrevista concedida ao programa jornalístico independente “Democracy Now!”, Chomsky falava sobre a conduta de Trump à frente do país mais atingido pela pandemia do coronavírus quando se referiu a Bolsonaro como um “louco da parte sul do hemisfério”.

Diz Chomsky: "enquanto Trump nos encaminha para a destruição, ele recebe alguma ajuda tão burra na parte sul do hemisfério (...) Tem um outro louco, Jair Bolsonaro, que está tentando competir com Trump para ver quem pode ser o pior criminoso do planeta.” 

Na tentativa de analisar a "loucura" de Bolsonaro, o site Conversa Afiada reproduziu alguns trechos da conversa da  colunista Ruth de Aquino, de O Globo, que conversou com o  psicanalista  Joel Birman,  que fez uma análise da condição mental do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Vamos chamar a coisa pelo nome. O presidente eleito por milhões de brasileiros não é louco. Psicóticos e neuróticos podem ser classificados assim. Eles sofrem e enxergam o sofrimento do outro. Eles não têm método. Bolsonaro é diferente. Pelos estudos da psiquiatria inglesa no século XIX, Bolsonaro se encaixaria em outra categoria: a dos psicopatas. A psicopatia não é uma loucura no sentido clássico, mas uma insanidade moral, um desvio de caráter de quem não tem como se retificar porque não sente culpa ou remorso”. Os psicopatas são “autocentrados, agem com frieza e método”. “Não têm empatia em relação ao outro, o que lhes interessa é o que lhes convém”. A palavra psicopatia vem do grego psyché, alma, e pathos, enfermidade.

A pandemia só tornou esses traços de Bolsonaro mais gritantes. Desde os primeiros grandes gestos do presidente, ficou claro, disse Birman, que seus atos “são marcados por crueldade e violência”. Proposição de liberar fuzis para civis. Proposição de acabar com os radares nas estradas. Proposição de não multar a falta de cadeirinha para crianças. Proposição de acabar com os exames toxicológicos para motoristas de caminhão e ônibus. Proposição de legalizar o garimpo predatório nas florestas e terras indígenas. Tudo isso é um atentado à vida.

Em consonância a essas interpretações, o ex-candidato à presidência Fernando Haddad, de acordo com o Conversa Afiada, 'cravou' em um texto: ""Para Hélio Schwartsman, na Folha, Bolsonaro é burro: "uma guerra ou pandemia é o sonho de consumo de líderes em dificuldades, pois oferecem o pretexto para evocar o discurso da união e surfar na onda de popularidade". Ruth de Aquino, em O Globo, sugere que Bolsonaro é psicopata: "a psicopatia não é uma loucura, mas uma insanidade moral de quem não tem como se retificar, porque não sente culpa; não tem empatia, o que lhes interessa é o que lhes convém". Adjetivos não excludentes", prossegue o ex-prefeito. "De qualquer forma, Trump e Bolsonaro vêm gerindo mal a crise. O futuro dos dois é incerto a essa altura, mas o futuro do mundo certamente seria melhor sem os dois", conclui Haddad." 

No Brasil, Jair Bolsonaro, o presidente eleito por 57,7 milhões de eleitores, segue 'brincando' com a as vidas de milhões de brasileiros e brasileiras ao, de forma irresponsável,  tratar as crises  humanitária e econômica, provocadas pela pandemia do Novo Coronavírus, como uma 'gripezinha', um fenômeno que irá matar alguns velhinhos apenas. Ele não apenas é irresponsável ao fazer publicamente declarações nos limites do mais vulgar Senso Comum, como também se expõe em atos públicos contrários às recomendações médicas e científicas, incentivando que as pessoas o ajudem na campanha necropolítica.

Em meio a essa campanha, Bolsonaro mudou o ministro da Saúde, Luiz Henrique mandetta, apenas porque esse não seguia sua 'cartilha de insanidades', escolhendo seguir a 'cartilha da OMS', como a maioria absoluta dos governos, mundo afora, têm feito no enfrentamento ao vírus.


O novo ministro, obviamente, só poderia ter indicativos de que irá seguir a cartilha de insanidades do Palácio do Planalto, ou seja, a cartilha do neofascismo. 

Um indicativo neste sentido, foi lembrado essa semana: O novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, (....) disse em abril de 2019 que o dinheiro para Saúde é "baixo" no Brasil e, por isso", devem ser feitas "escolhas". Ele propôs o seguinte dilema: um idoso com problemas de saúde "que pode estar no final da vida" ou um adolescente. "Qual vai ser a escolha?", indagou Teich.

Ora, oportunamente falando em uma entrevista sobre a política de combate ao Novo Coronavírus, o ator Antonio Fagundes lembrou que "(...) Todo esse cenário me faz lembrar da frase de Edmund Burke: “Quem não conhece sua história, está condenado a repeti-la”. Esse mesmo tipo de preconceito já foi visto na história, com a eugenia. Na Alemanha, o nazismo eliminava idosos, uma história que não pode se repetir. Eliminava-se também os que pensavam diferente, os deficientes. O mundo está passando por isso de novo. Milhões de pessoas morreram pela irracionalidade. E parece que não aprendemos nada com isso".

Uma crítica vinda de um jornalista apoiador de Jair Bolsonaro e a serviço das narrativas de desinformação e disseminação do ódio contra o Partido dos Trabalhadores, que possibilitaram o golpe e a geração do neofascismo brasileiro,  surpreendeu pela clareza com que expôs o nosso drama. Trata-se do jornalista José Nêumanne Pinto, que na descrição de vídeo tratando das últimas decisões do chefe das milícias bolsonarianas digitais, escreveu: “O presidente Jair Bolsonaro foi proibido pelo STF, em votação unânime, de impedir decisões de isolamento social decretada por governadores estaduais e prefeitos municipais.”

“Ainda assim, manteve o mesmo trololó negando a ciência adotado pelo resto do mundo e demitiu Luiz Henrique Mandetta do Ministério Saúde, mentindo covardemente sobre ter sido esta uma decisão compartilhada com o demitido, na hora mais imprópria, à véspera do pico da curva de contágio e mortes da pandemia.”

“Bajulou os militares, como se isso bastasse para apagar da História sua saída negociada por indisciplina do Exército na baixa patente de capitão. E levou a tiracolo o oncologista Nelson Teich, tido como cientista respeitado, mas de memória fraca, pois: esqueceu o que lhe ensinaram Hipócrates e os pais das ciências médicas: a função primeira de qualquer esculápio que se preze é a vida de seu paciente.”

“No discurso de apresentação, o presidente mentiu, ao inventar que o Brasil estava voando economicamente quando a pandemia surpreendeu um país com 12 milhões de desempregados.”

“E ameaçou com estado de sítio para impor o que chama agora de o direito constitucional de ir e vir, como se tivesse votos no Congresso para tanto. E não tem mesmo. Direto ao assunto. Inté. E só a verdade nos salvará.”


As eleições presidenciais de 2018, dentre todas as de nossa história, talvez tenham sido a mais fácil para o eleitor decidir. De um lado, um experiente político a dar continuidade aos anos dourados dos governos Lula e Dilma. Do outro, o inverso: Um político que passou quase 30 anos no parlamento sem prestar trabalho relevante para a sociedade brasileira e, um assíduo defensor e praticante da violência contra as minorias. 

Quem votou em Bolsonaro não pode alegar desconhecimento de seu perfil! Aliás, se há algo de verdadeiro no Bolsonaro, essa verdade é a de que ele nunca escondeu seu desprezo pela vida e que nutre um ódio por segmentos da sociedade, como das mulheres, dos indígenas, dos negros, dos homossexuais, dos trabalhadores, e outros.

Claro, que isso da 'escolha ser fácil' poderia ser considerado como o mais provável dentro de uma normalidade da vida política em no país.  Pois, no geral, alguém que vota para presidente vota esperando que suas condições de vida material melhorem. 

Porém, não foi nesse contexto que ocorreram as eleições de 2018, marcadas por vários fatores: afastamento, por meio de um golpe, da presidenta Dilma Rousseff, em um processo que iniciou-se em meados de 2013 com um grande pacto das elites financeiras do Brasil e exterior, em um conluio que reuniu para além dos donos dos capitais nacional e estrangeiro, o Supremo Tribunal Federal,  a maioria do Congresso, elementos das Forças Armadas, Executivo, Mídia corporativa liderada pela Rede Globo de Televisão e empresas do grupo, além de uma grande parcela da Classe Média que deu um 'pincelada' de apoio popular ao processo.


Desde o forjado golpe, contra uma presidente honesta, que apenas cometeu o crime de ser mulher, pertencer aos quadros do PT e de governar para o povo - especialmente para os mais pobres -  a vida política no Brasil vinha conturbada com um governo de Michel Temer que abraçava o projeto político dos que derrubaram Dilma e que dava início à desconstrução do Estado Social para instalar um Estado minimalista, para o povo, é claro! Temer conseguiu retirar direitos trabalhistas e quase conseguiu dificultar as aposentadorias, objetivo atingido por Bolsonaro, é claro. Mergulhado em acusações de corrupção, Temer conseguiu passar ileso por dois anos sustentado pelos que o colocaram na presidência. Mesmo após deixar a presidência segue ileso, mesmo acusado e inclusive preso por alguns dias, prisão esta através de um circo midiático aparentemente segue protegido pelos responsáveis do golpe. 

Enquanto isso, o mesmo grupo golpista preparava 'um crime' para Lula com o objetivo de retirá-lo da vida política e de um novo mandato. Lula foi preso! A prisão de Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu no dia 7 de abril de 2018, após o ex-presidente se entregar à Polícia Federal (PF) no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e durou até o dia 8 de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter derrubado a prisão de condenados após a segunda instância. Lula permaneceu preso por 580 dias. Lula, foi reconhecido como preso político por várias lideranças políticas no Brasil e no mundo, além de várias instituições de Direitos Humanos. Foi acompanhado em sua prisão  de 580 dias por muitos 'romeiros' do mundo todo que foram à Curitiba para prestar-lhe solidariedade. Em 2019, o Site The Intercept Brasil expôs toda a podridão do Judiciário brasileiro e de atores do Judiciário que forjaram a farsa contra Lula, que visava apenas tirá-lo da corrida eleitoral de 2018, para a qual ele era líder absoluto em todas as pesquisas.

Em 2018, impedido de concorrer, Lula  indicou o professor Fernando Haddad para ocupar sua vaga. Haddad, foi ao segundo turno representando o projeto de governo que fez do Brasil, durante 14 anos, uma das potências emergentes mais admirada do mundo.


O projeto das elites financeiras brasileiras de chegar ao poder a todo custo foi levado adiante, a um custo muito alto para a população brasileira, e a conta está chegando neste momento no qual escrevo este artigo.

Previsão em relação ao golpe contra a presidenta Dilma,
feita pelo  teólogo Leonardo Boff  em 2016.

Todos sabemos que as eleições de 2018 não foram normais. A mídia corporativa reforçou as narrativas de ódio contra o Partido dos Trabalhadores e suas lideranças, especialmente centrando todo o ódio em Lula. A 'Vaza Jato', do ex-juiz Sérgio Moro, também reforçou seus ataques à honra de Lula. Porém, o 'Geraldo'  candidato da direita - não decolou nas pesquisas. Então a direita órfã abraçou o ex-capitão neofascista. Veja bem! Se o Capitalismo é uma desgraça para o povo, imagina quando o somamos ao Neoliberalismo e, imagine ainda, quando o somamos ao fanatismo neofascista.


As eleições de 2018 já estavam condenadas pelo golpe e pelo ódio neofascista que já havia sido disseminado na sociedade e que era alimentado nas redes sociais pela fábrica de mentiras da campanha Bolsonaro e por sua militância digital - como ficou evidente em denúncia estampada numa reportagem no jornal Folha de São Paulo, à época das eleições, incluindo aí um 'exército de robôs' que faziam disparos, por segundos, de milhares de fake news (notícias falsas contra oponentes e ou notícias falsas favoráveis a Bolsonaro).


Além disso, tivemos uma 'facada' no candidato Bolsonaro, muito suspeita e que ainda é um enigma a ser esclarecido. Aliás, mesmo políticos afinados com Bolsonaro duvidam do fato, a exemplo do Cabo Daciolo ex-candidato à presidência da República: Pelas suas redes sociais, Daciolo afirmou que não acredita que o presidente da República tenha realmente sido vítima de um atentado e que tudo não passa de uma grande farsa para encobrir a necessidade de Bolsonaro passar por uma cirurgia, para curar uma enfermidade. O fato foi perfeitamente aproveitado como estratégia política para convencer pelos 'sentimentos' os indecisos e para manter o candidato longe dos debates, onde corria um risco enorme ao ter sua 'inteligência política' exposta diante de um candidato experiente na política e no Ensino Superior, como professor.

Foi estarrecedor para as forças políticas racionais a possibilidade de eleição do primeiro presidente neofascista. Diferentes forças políticas da esquerda à direita, nos últimos dias que antecederam o segundo turno, uniram-se num movimento nacional como última tentativa de virar o jogo. Mas não deu. O neofascismo venceu! Naquele contexto, que em analogia podemos dizer que foi tão bem descrito em uma passagem da música 'Toda Forma de Poder' dos Engenheiros do Hawaii - 'E o fascismo é fascinante / E deixa gente ignorante fascinada / É tão fácil ir adiante e se esquecer / Que a coisa toda tá errada (...)

    Imagem: https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/

Ao observarmos os números das eleições de 2018, no turno 2, percebemos que uma parcela enorme de eleitores fugiram da responsabilidade de não deixar o Brasil cair nas mãos dos neofascistas. Isto lembra Simón Bolívar que disse: "um povo ignorante é um instrumento cego de sua própria destruição".


O segundo turno das eleições do ano de 2018 teve a maior abstenção em pleitos presidenciais desde 1998: 31.308.796 de brasileiros não foram às urnas neste domingo (28/10), o que representa 21,29% do eleitorado. Além disso, foram 2.484.636 de votos em branco, o equivalente a 2,15% do total, e 8.599.212 de votos nulos, ou 7,43% das manifestações. Ou seja: mais de 42 milhões de pessoas, ou 30% do eleitorado, abriram mão de seus votos. Isso é assustador!

A Democracia representativa é muito complicada, apesar de que é ainda o Regime de Governo menos pior. Desde os gregos, ninguém criou nada melhor! Porém, a Democracia exige a consciência política, a formação política, a participação política. As elites burguesas sempre souberam manipular, no sentido de alienar.

A maioria que elegeu Bolsonaro é uma maioria dentre o conjunto de eleitores que votaram em um 'projeto político' claramente contra a maioria dos eleitores que não votou em Bolsonaro e, contra a população brasileira como um todo, vez que o projeto de Bolsonaro é o projeto dos neoliberais plutocratas que querem o Estado a serviço dos ricos. Isso significa menos emprego, menos salário menos direitos trabalhistas, menos saúde pública, menos educação pública, enfim, menos tudo para a maioria do povo, especialmente para aqueles que mais precisam de Estado. Continuarão a sustentar o Estado para que este sustente os ricos. (Entenda por que os pobres pagam mais impostos no Brasil)

Em mais de um ano, o que vimos foi um governo que continua a alimentar setores da sociedade que o apoiam a fazerem discursos de ódio que ampliem a ignorância política, por meio do disparo de fake news. Muitas vezes o presidente é o principal ator em ação nesse circo. O 'circo' permite que a elite e o Congresso comandado pelos responsáveis da economia no governo neofascista, retirem direitos dos trabalhadores e beneficiem os interesses dos donos dos capitais nacional e estrangeiro; o esvaziamento das responsabilidades do Estado com os serviços públicos implementando cortes de investimentos. Além ainda dos avanços nos processos de privatizações do patrimônio nacional.

Norberto Bobbio (1909-2004) que foi um dos maiores politógos do século XX, em sua autobiografia, parecia ter vivenciado esses nossos tempos no Brasil, porém, apesar de não ter presenciado a ascensão do neofascismo no Brasil, ele vivenciou uma realidade muito próxima da nossa: “Fui educado a considerar todos os homens iguais e a pensar que não há nenhuma diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem não é rico.” E continua: “Recordei essa educação para um estilo de vida democrático, mas confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças entre ricos e pobres, entre quem está por cima e quem está por baixo na escala social, enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social que cristalizasse as desigualdades”.

Em recente artigoo cientista político Roberto Amaral, expôs em um parágrafo, de forma muito didática, o drama que vivemos neste momento no Brasil: "O capitão da reserva remunerada Jair Messias Bolsonaro (condenado por haver atentado contra o decoro, a disciplina e a ética da carreira militar, da qual foi convidado a retirar-se) precisa ser detido, e de suas mãos precisam ser retiradas as condições atuais de intervenção política. Seu desequilíbrio (agravando inépcia e limitações cognitivas) requer a curatela das instituições que, até aqui omissas, ou acovardadas, aparentemente estão esperando o circo pegar fogo para só então chamar os bombeiros, esquecidas de que todos estamos sob as lonas. Elas inclusive, com seus mandatários e togados". 

Penso que nosso momento histórico só é comparável aos quase 400 anos de escravidão e mais de 20 anos de Ditadura Militar iniciada em 1964. Duas grandes vergonhas! Estamos na terceira. O problema é que essas vergonhas ceifam vidas! São projetos de uma perversa necropolítica.


Um exemplo dessa necropolítica vigente no Brasil foi estampado em uma publicação no jornal alemão Deutsche Welle, onde podemos ler:  "A extensão da irracionalidade é aterrorizante e ameaça arrastar o Brasil para o abismo. Para a sua disseminação, há um motivo: o bolsonarismo. Esse nome se deve a um homem cujo livro favorito foi escrito por um torturador. Por conseguinte, o bolsonarismo tem correspondentes ideias para a sociedade: violentas, autoritárias, sem empatia, anti-intelectuais e pseudorreligiosas".

Interessante observar que Bolsonaro tem muitos apoiadores e apoiadoras dentre o mundo religioso, tanto Católico como Evangélico. Uma contradição, pois Jair Bolsonaro não apenas é um antipatriota (governa para os EUA), mas também um anticristo. Não há em Bolsonaro nada que o aproxime de Jesus Cristo, a não ser suas filiações, por meio de batismos, nessas vertentes representativas do catolicismo e do evangelismo.

Continua  o jornal, de acordo com a publicação do Brasil247: "o bolsonarismo assumiu agora todas as características de uma seita cujos membros estão dispostos a seguir seu líder incondicionalmente, até a morte. Esse culto à morte está se tornando cada vez mais evidente nas manifestações dos bolsonaristas. Um caixão é carregado alegremente; no meio de uma pandemia, expõe-se a si mesmo e a outros ao perigo de um contágio e se grita: 'A covid-19 pode vir. Estamos prontos para morrer pelo capitão.'"

"Como em todos os cultos religiosos, as contradições são ignoradas. O bolsonarista sempre acha que sabe mais que os outros ‒ mesmo que os outros sejam o mundo inteiro. Ele não segue as estrelas da razão e do conhecimento que fizeram a humanidade avançar ao longo dos séculos (apesar dos inúmeros retrocessos). O norte na bússola do bolsonarista é a satisfação de seu ego insultado", aponta a publicação. 

"O bolsonarista odeia o conhecimento quando este contradiz sua visão de mundo. Ele é como um motorista que anda na contramão na autoestrada e ouve no rádio que há um motorista na contramão e depois grita: "A mídia mente! Não é um motorista, são milhares!" 

Quem no Brasil não tem um membro Bolsonarista na família ou círculo de amizades e/ou ainda entre os colegas de trabalho? É fácil fazer a constatação empírica dessas verdades registradas por esse veículo da mídia alemã. 

O Brasil terá um difícil trabalho pela frente que não será apenas o de remover os Bolsonaristas do poder, mas, sobretudo, devolvê-los aos armários de onde saíram no insano processo político alimentado e liderado pelas elites do capital. É isso, ou estaremos condenado a não civilidade!

Bolsonaro tenta diminuir os impactos políticos negativos do caos econômico que será aprofundado nos próximos meses em decorrência da Pandemia. A economia brasileira vinha em decréscimo antes da pandemia, revelando-se um verdadeiro fiasco a política econômica do governo Bolsonaro que aumentou desemprego e pobreza no país. 

Com a pandemia sabemos que a situação será agravada, e para não responsabilizar-se, Bolsonaro busca culpabilizar prefeitos e governadores que optaram pela recomendação científica do isolamento social para preservar vidas. O governo Bolsonaro fala publicamente que é preferível mortes à prejudicar a economia

Em crítica a essa postura desumana do mandatário brasileiro, o ex-presidente Lula disse ao maior jornal inglês que Bolsonaro conduz o povo brasileiro ao matadouro.

De acordo com o Brasil 247 que é um site brasileiro de informações e análises políticas, o ex-presidente Lula disse que, ao minar o distanciamento social e defenestrar o ministro da Saúde, o presidente “troglodita” (alguém que vive na pré-história) do Brasil pode levar o país a repetir as cenas devastadoras do Equador, onde as famílias tiveram que despejar cadáveres de seus entes queridos nas ruas.

As declarações foram dadas em entrevista ao The Guardian, no momento em que o número de mortos no Brasil por causa do coronavírus chegou a 1.924. "Mas se Bolsonaro continuar cometendo crimes de responsabilidade, tentando levar a sociedade ao matadouro – que é o que ele está fazendo – acho que as instituições precisarão encontrar uma maneira de tirar Bolsonaro. E isso significa que você precisará ter um impeachment”, disse Lula.

O petista ainda comparou o presidente a um maestro que não sabe conduzir uma orquestra, afirmando que Bolsonaro "está tentando tocar música clássica com instrumentos para tocar samba". "Ele transformou essa orquestra em uma loucura´, em uma Torre de Babel", disse.

Lula disse que as ações grotescas de Bolsonaro estavam colocando em risco vidas ao "induzir uma parte da sociedade a contrair o coronavírus", ignorando as diretrizes de distanciamento adotadas pelo próprio Ministério da Saúde do Brasil. "É natural que uma parte da sociedade não entenda a necessidade de ficar em casa ou o quão sério isso é - especialmente quando o presidente da República é um troglodita que diz que se trata apenas de uma gripezinha", afirmou o ex-presidente. "A verdade é que Bolsonaro não tem equilíbrio psicológico para liderar um país. Ele não pensa no impacto que seus atos destrutivos têm na sociedade. Ele é imprudente", arrematou.


Ainda para expressar a necropolítica do governo Bolsonaro, sobre a troca de ministro na pasta da Saúde - Mandetta por Teich -, o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde Arthur Chioro falou à TV 247:

Chioro, que atuou no governo Dilma Rousseff, criticou Mandetta, mas afirmou que sua saída é ainda pior para a condução da crise neste momento. Ele definiu também como “a expressão clara da necropolítica” a fala do novo ministro, Nelson Teich, em um vídeo de abril de 2019 em que ele diz que, numa situação onde não há recursos para tratar todos, um adolescente deveria ser priorizado diante dos idosos, por ter mais tempo de vida. “Eu achava que o Mandetta era uma expressão enrustida da necropolítica. Agora temos um legítimo ministro que expressa a necropolítica”, afirmou.

Chioro lembra que Mandetta, apesar de ter saído do governo com uma boa imagem em meio à crise, foi um dos principais responsáveis pela aprovação da EC 95 - do teto de gastos -, que prejudicou de forma cruel os repasses para a saúde pública. O que vem por aí na condução da crise, com Nelson Teich à frente da pasta, no entanto, é muito pior, avalia o ex-ministro.


“Em meio à pior pandemia do último século, colocar no comando do Ministério da Saúde uma autoridade que não sabe o que é o SUS... ele terá um tempo de aprendizado que custará caríssimo para a sociedade brasileira. Ninguém torce para dar errado porque seria torcer contra a sociedade. Ele tem que acertar, mas a chance de ele acertar é nenhuma”.

Vivemos um momento de desolamento político, vivenciado principalmente por aqueles que têm consciência política o suficiente para reconhecer o dramático momento político que vivemos e, que entendem ser a política um instrumento ideal de ação pública para garantia da justiça e da equidade, que são Direitos Humanos fundamentais e que estão sendo negados sem qualquer pudor político.

E antes que algum 'bolsomínion' tenha tempo de nos contestar, termino com uma verdade mais do que empírica, em nossos tempos, do excepcional escritor brasileiro,  Érico Veríssimo,  que em sua obra de 1971, no romance 'Incidente em Antares', deixou registrado que:  "Comunista é o pseudônimo que os conservadores e saudosistas do fascismo inventaram para designar todo sujeito que luta por justiça social". 

Quo vadis, Brasil?
Para onde vais, Brasil?
Sinceramente, acho que nem Deus sabe... 





Filoparanavaí 2020