domingo, 27 de dezembro de 2009

A ALEGORIA ou Mito DA CAVERNA do Filósofo Platão



'Alegoria da Caverna' talvez seja o texto mais famoso da filosofia: a alegoria ou mito da caverna de Platão, encontra-se no livro 7 da República. 

A obra República de Platão, enfoca o conceito de justiça, tanto do ponto de vista do indivíduo quanto do ponto de vista do coletivo e/ou social. Platão e Sócrates buscam descobrir como uma sociedade e um indivíduo podem ser justos e, para isso, procuram voltar à ideia de justiça, graças ao método dialético (método de elevação da alma - alma enquanto Razão)

A Alegoria da Caverna apresenta a Teoria das Ideias de Platão, que constitui tanto sua metafísica (= sua teoria do conhecimento) quanto sua ontologia (= sua teoria do ser e da realidade). A República também é um diálogo político, pois Platão expõe ali sua teoria sobre a organização ideal da cidade e sua teoria do poder (rei-filósofo)


Este texto é, portanto, inteiramente representativo da filosofia platônica.


Breve resumo do livro 7: Homens vivem em ilusão - alienados da realidade. Somente a filosofia, livre de opinião e plausibilidade, acessa e contempla ideias inteligíveis. O mundo é assim dividido em dois: coisas sensíveis, falsas, e suas ideias, verdadeiras. Agora, sendo a verdade preferível à ilusão, o conhecimento deve guiar o homem e a cidade. Portanto, cabe ao filósofo, o único que pode saber a verdade, reinar.

A Caverna como base ontológica (Ontologia (do grego ontos "ente" e logoi, "ciência do ser") é a parte da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres objeto de seu estudo) em Platão: 

A realidade não é homogênea, de acordo com Platão. Ela se divide em duas partes: por um lado, o mundo sensível acessível aos sentidos, a fonte real imediata de erro e ilusão; por outro, o mundo inteligível acessível apenas à razão, o lugar das idéias e da verdade. Ao associar realidade e verdade, Platão condena o mundo sensível. O cavalo não é a verdade, apenas a ideia de um cavalo é verdadeira.

Assim, a Caverna designa o mundo sensível, do qual o sábio-filósofo deve se afastar em favor do mundo das Ideias. O acesso à verdade é através da contemplação, o exercício de usar a razão.

A ontologia platônica é, portanto, dualística devido a essa dicotomia sensível / inteligível.

Opinião e conhecimento: A caverna como uma teoria epistemológica.

A Caverna também revela a teoria do conhecimento de Platão. A Caverna designa o mundo da opinião, enquanto o exterior designa o mundo do conhecimento. Platão afirma que o lugar natural dos homens é a ignorância. Embalada pelos sentidos e preconceitos, a maioria dos homens vive sob o jugo da “doxa” (opinião). Então você tem que trabalhar em si mesmo, fazer uma revolução na maneira como vê o mundo, converter seu olhar para se libertar da doxa.

Obviamente, o filósofo experimenta a solidão e a incompreensão da multidão, mas seu papel continua a iluminar a multidão por meio da mecânica (nascimento das almas).


O idealismo de Platão trabalhando na Alegoria da Caverna: Platão é um idealista, na medida em que coloca a primazia das ideias sobre a matéria. O mundo das Ideias, eterno e imóvel, prevalece sobre o mundo sensível, o mundo da ilusão, temporário. Realidade compreensível é realidade real. Os objetos do mundo são apenas reflexos (Marx, como materialista, derrubará a hierarquia platônica: o mundo das idéias é um reflexo do mundo dos objetos (relações de produção)

A consequência política, na organização política é óbvia: os filósofos devem se tornar reis. Ao colocar o conhecimento no centro da comunidade política, Platão apresenta uma teoria política elitista.



SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.

GLAUCO - Imagino tudo isso.

SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
  
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!


SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?

GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
  
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?

GLAUCO - Não.

SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?

GLAUCO - Sem dúvida.

SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?

GLAUCO - Claro que sim.

SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.

GLAUCO - Necessariamente.

SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?

GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.

SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?

GLAUCO - A princípio nada veria.

SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.

GLAUCO - Não há dúvida.

SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.

GLAUCO - Fora de dúvida.

SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.

GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.

SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?

GLAUCO - Evidentemente.
  
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
  
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.

SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?

GLAUCO - Certamente.

SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?

SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol, no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.



Referências
"A República" de Platão . 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291
ANALYSE DE L’ALLÉGORIE DE LA CAVERNE (PLATON) -https://la-philosophie.com/


Filoparanavaí 

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