Em sua videocoluna para a DW (Deutsche Welle é uma empresa pública de radiodifusão da Alemanha, com sedes em Bonn e Berlim, que transmite para o exterior programas de rádio, além de oferecer uma programação televisiva e um amplo portal de conteúdo online em 30 línguas.), José Alberto Mujica Cordano, ex-presidente do Uruguai, fala sobre o problema da falta de liderança mundial durante a pandemia. "Passamos bombardeando o Estado em vez de lutar, para começar a entender que as sociedades modernas são cada vez mais complexas e que renunciar ao Estado é impossível", reflete Pepe Mujica.
Mujica também demonstra, em sua fala, as contradições dos ultraliberais pela falta de fidelidade ideológica e por pregarem o Estado mínimo. Porém, quando a crise chega são capazes de abraçarem ditaduras e recorrer ao estado para salvar a economia. Sabemos muito bem que o Estado mínimo pregado pelos neoliberais é o Estado mínimo para povo e máximo para os donos do capital. Sempre foi assim! O que vemos hoje é apenas a sucessão de uma velha história. Com o capitalismo essencialmente diminuindo a importância do Humano e da Natureza, que são colocados em estado inferior quando comparados à mercadoria e ao lucro, não é de estranhar que os capitalistas sejam insensíveis ao ponto de escolherem salvar a economia ao invés de salvar vidas humanas. Figuras políticas monstruosas como Donald Trump e Jair Bolsonaro demonstram essa tragédia ao desprezarem o valor da vida de milhões de norte-americanos e brasileiros, desde que não sejam responsabilizados pela derrocada da economia em seus países. Mujica afirma que após a pandemia do Novo Coronavírus o mundo já não voltará a ser o que era antes e que os homens podem aprender a valorizar o papel do Estado, com verdadeiras lideranças políticas que o coloquem ao serviço do povo (que o Estado possa dar o seu melhor) e ainda, afirma que o homem poderia aprender a valorizar e respeitar a Natureza, ou seja, desenvolver uma nova relação com a mesma.
Descrição da fala de Mujica em tradução livre
"(...) há mais de vinte dias sem sair de casa, porque sou velho, porque tenho problemas imunológicos, porque estou perto da cova e porque amo a vida... Eu não quero tornar fácil o serviço para a foice da morte me levar. Por tudo isso, tive tempo de ler o que os analistas andam dizendo por aí. E isso me surpreende. Há pessoas que estão vendo que há uma falta de liderança, particularmente no mundo rico. É que estamos numa era globalizada. Esse vírus é a coisa mais globalizada que já foi vista. Não deixa um fantoche com cabeça: países ricos e pobres, o que for. Que não temos ferramentas e que não podemos coordenar políticas comuns do ponto de vista mundial. Mas a falta de liderança não é porque homens e mulheres sejam incapazes. É porque o poder, há muito tempo, a essência do poder, já não está mais na representação necessária dos governos. Os governos correm atrasados. A essência do poder está na concentração fenomenal da riqueza e aparentemente, isto não está em questão. Aqueles que parecem ter poder político num determinado momento, tem cada vez menos. Então, esse é o primeiro assunto. Segundo assunto: passaram muitos anos criticando o Estado, porque, por um lado, havia um modelo estatista do tipo soviético, que acreditava ter resolvido tudo com o Estado. E, por outro lado, surgiram os ultraliberais, que no fundo não são liberais porque abraçam qualquer ditadura; eles acreditam que o Estado tem que ser reduzido ao mínimo. E quando as 'batatas queimaram', como agora, todos se voltam para ao Estado; que me deem (dinheiro), que o Estado garanta a disciplina, (...). Mas, passamos bombardeando o Estado em vez de lutar, para começar a entender, uns e outros, que as sociedades modernas são cada vez mais complexas e que renunciar ao Estado é impossível. Então, a verdadeira luta é aquela na qual precisamos lutar para o melhor dentro do Estado. Porque, na realidade, é desse valor coletivo que temos necessidade. E por que procurar o Estado? Porque o mercado não pode consertar isso. Porque precisamos de políticas globais. Porque alguém tem que tomar decisões, certas ou erradas. Porque temos que respeitar essas decisões. Porque temos que nos mover como coletividade, e não que cada louco faça o que está de acordo com seus interesses (...). Acho que alguma coisa de sabedoria temos que aprender com essa crise. Mas não pensemos que após esta crise virar a esquina, que depois de amanhã, voltaremos a um mundo perfeito, onde nos reuniremos, nos abraçaremos, nos beijaremos (...) reuniremos multidões num campo de futebol ou algo assim, mas provavelmente por muito tempo, estaremos expostos a esse perigo. E o mundo já não será mais o mesmo de antes. Teremos que aprender a funcionar de uma forma diferente. Mas quanto isso vai nos custar? E o preço que vamos pagar? Essas questões vão nos martelar até o dia em que a ciência nos der um conjunto de respostas que hoje está longe de estar ao alcance da mão. Essa crise também pode servir para que o Homem Sapiens seja um pouco mais humilde e que aprenda que a Natureza deve ser vivenciada e respeitada."
FILOPARANAVAÍ © ²º20
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