quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Existe uma Arte Indígena? Existe uma ESTÉTICA indígena?


Quer conhecer as características históricas, culturais, sociais, econômicas, entre outras, dos povos indígenas do Brasil? Recomendo o site SocioAmbiental do 'Programa Povos Indígenas No Brasil'. Basta dar um clique no verbete que identifica o respectivo povo sobre o qual você pretende conhecer. 



Em pleno século XXI a grande maioria dos brasileiros ignora a imensa diversidade de povos indígenas que vivem no Brasil. Estima-se que, na época da chegada dos europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando entre 2 e 4 milhões de pessoas. 

Estima-se que existam hoje no mundo pelo menos 5 mil povos indígenas, somando mais de 370 milhões de pessoas (IWGIA, 2015). 

No Brasil, até meados dos anos 70, acreditava-se que o desaparecimento dos povos indígenas seria algo inevitável. 

Nos anos 80, verificou-se uma tendência de reversão da curva demográfica e, desde então, a população indígena no país tem crescido de forma constante, indicando uma retomada demográfica por parte da maioria desses povos, embora povos específicos tenham diminuído demograficamente e alguns estejam até ameaçados de extinção. 

Na listagem de povos indígenas no Brasil elaborada pelo ISA , sete deles têm populações entre 5 e 40 indivíduos. 

Dos 255 povos listados, 48 têm parte de sua população residindo em outro(s) país(es). Quando há informações demográficas a respeito, essas parcelas são contabilizadas e apresentadas separadamente, segundo a fonte da informação, e não contam na estimativa global para o Brasil. 

Os mais de 240 povos indígenas somam, segundo o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país. Veja a lista de povos e respectivas populações no https://pib.socioambiental.org

No ano de 2019 com a ascensão do neofascista Jair Bolsonaro ao governo, os povos indígenas  brasileiros passaram a ser ameaçados cotidianamente pelas ações políticas que buscam atender interesses dos grandes proprietários de terras. 

Com Bolsonaro as florestas estão ameaçadas e os indígenas em seus territórios também. Os povos indígenas estão com o sinal de alerta aceso.

Falar, hoje, em povos indígenas no Brasil significa reconhecer, basicamente, seis coisas: 

► Nestas terras colonizadas por portugueses, onde viria a se formar um país chamado Brasil, já havia populações humanas que ocupavam territórios específicos; 

► Não sabemos exatamente de onde vieram; dizemos que são "originárias" ou "nativas" porque estavam por aqui antes da ocupação europeia; 

► Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no território brasileiro estão historicamente vinculados a esses primeiros povos; 

► Os indígenas que estão hoje no Brasil têm uma longa história, que começou a se diferenciar daquela da civilização ocidental ainda na chamada "pré-história" (com fluxos migratórios do "Velho Mundo" para a América ocorridos há dezenas de milhares de anos); a história "deles" voltou a se aproximar da "nossa" há cerca de, apenas, 500 anos (com a chegada dos portugueses); 

► Como todo grupo humano, os povos indígenas têm culturas que resultam da história de relações que se dão entre os próprios homens e entre estes e o meio ambiente; uma história que, no seu caso, foi (e continua sendo) drasticamente alterada pela realidade da colonização; 

► A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação indígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocupavam essa área antes da criação das divisões entre os países; é por isso que faz mais sentido dizer povos indígenas no Brasil do que do Brasil. 

ARTES E CULTURAS INDÍGENAS: O que são Artes Plásticas? 

Do latim ars, a arte diz respeito às criações do ser humano que procuram expressar uma visão sensível do mundo real ou imaginário. Essas expressões podem ser manifestadas em diversos suportes (materiais). 

A plástica, por sua vez, consiste em formar coisas com diversos materiais. As artes plásticas podem ser definidas como o conjunto de atividades de natureza gráfica ou plástica, com as quais o ser humano reflete sua visão da realidade através de uma obra, da qual precisa da visão ou do tato para ser apreciada. 

Embora tradicionalmente a definição das artes plásticas inclua a utilização de materiais maleáveis por parte de artistas que criam suas obras, esta definição hoje em dia já está superada e apresenta um leque mais amplo de atividades. 

Para que uma obra seja considerada uma arte plástica, ela deve ser tangível, ou seja, ser real, visível e palpável. 

Tradicionalmente, considera-se a existência de apenas três tipos de artes plásticas: a pintura, a escultura e a arquitetura. Porém, esta percepção vem mudando ao longo do tempo, já que com o desenvolvimento das novas técnicas e de certos avanços tecnológicos têm surgido novas formas de expressão artística. 

O início do século XIX possuía vários tipos de artes plásticas, entre elas: a pintura, a escultura, o desenho, a gravura, a pintura mural, a cerâmica, a ourivesaria e o artesanato, posteriormente outras manifestações artísticas também tiveram espaço até o ponto de incluir outras nem tanto convencionais como cinema, fotografia ou arte digital. 

A arte moderna e sua versatilidade de materiais e conceitos também revolucionaram este campo. 

ARTE INDÍGENA: Datada de antes da chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, e que se mantém viva até os dias atuais, a arte indígena é um patrimônio sociocultural de um povo que viveu a raiz do Brasil, que sobreviveu e fez sua arte daquilo que compõe cada hectare de terra brasileira, com o uso das penas das aves que aqui voavam, das plantas para extrair as tintas e da terra para produzir as belas peças de cerâmica. 

Os povos indígenas em geral não têm uma palavra para aquilo que nós chamamos de arte. Mas isso não significa que eles não tenham ideias próprias sobre o que é “belo”. Arte é uma categoria criada pelo homem ocidental. 

E, mesmo no Ocidente, o que deve ou não deve ser considerado arte está longe de ser um consenso. O que não dizer da aplicação desse termo em manifestações plásticas de povos que nem ao menos possuem palavra correspondente em suas respectivas línguas? 

O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. 

Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”. 

Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. 

Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. 

Confeccionados para uso cotidiano ou ritual, a produção de elementos decorativos não é indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc. 

As formas de manipular pigmentos, plumas, fibras vegetais, argila, madeira, pedra e outros materiais conferem singularidade à produção ameríndia, diferenciando-a da arte ocidental, assim como da produção africana ou asiática. 

Entretanto, não se trata de uma “arte indígena”, e sim de “artes indígenas”, já que cada povo possui particularidades na sua maneira de se expressar e de conferir sentido às suas produções. Os suportes de tais expressões transcendem as peças exibidas nos museus e feiras (cuias, cestos, cabaças, redes, remos, flechas, bancos, máscaras, esculturas, mantos, cocares...), uma vez que o corpo humano é pintado, escarificado e perfurado; assim como o são construções rochosas, árvores e outras formações naturais; sem contar a presença crucial da dança e da música. 

Em todos esses casos, a ordem estética está vinculada a outros domínios do pensamento, constituindo meios de comunicação – entre homens e mulheres, entre povos e entre mundos – e modos de conceber, compreender e refletir a ordem social e cosmológica. 

Nas relações entre os povos, os artefatos também são objeto de troca, inclusive com o “homem branco”. Ultimamente, o comércio com a sociedade envolvente tem apontado uma alternativa de geração de renda por meio da valorização e divulgação de sua produção cultural. 

Cada povo tem um jeito único e diferente de produzir beleza e de se relacionar com os objetos, corpos, sons que manifestam a beleza. O que prova que esses povos conhecem aquilo que nós chamamos de arte: existem tantas artes indígenas quanto há povos indígenas. 

Entre os povos indígenas, a criação artística está em toda a parte: na pintura corporal, na construção das casas, nas performances musicais, nos objetos usados para comer e guardar coisas. Não existe separação entre a arte e as outras esferas da vida, como é no mundo não indígena. Ela está em todos os lugares! 

Se para nós o artista é um criador, para os povos indígenas o bom artista é aquele que sabe se comunicar bem com os outros. São aqueles que conseguem transitar entre mundos e traduzir mensagens de diversas maneiras - cantando, pintando um corpo, desenhando um grafismo em uma cesta. O canto de um xamã, para o povo Araweté (PA), é uma tradução das imagens visuais que estão na mente de quem canta. Para os Guarani Kaiowá (MS), cantar também significar rezar e dançar. Ou seja: diferentes expressões artísticas se misturam! 

Para os povos indígenas, a arte não é feita apenas para ser contemplada: as coisas são consideras bonitas porque funcionam! A beleza de uma panela de cerâmica usada para cozinhar o jantar é a mesma que a de uma criança pintada e adornada para uma festa. Assim como um banco de madeira é considerado tão belo quanto o som de uma flauta! 

A pintura corporal: Uma das características que mais marcam a cultura indígena é a pintura corporal, que pode ser vista como tão necessária e importante esteticamente, como a roupa usada pelo “homem branco”. Esta é uma arte muito especial porque não está associada diretamente a nenhum fim utilitário, mas apenas a pura busca da beleza. Os materiais utilizados normalmente para isso são tintas como o urucum que produz o vermelho, o jenipapo da qual se adquire uma coloração azul marinho quase preto, o pó de carvão que é utilizado no corpo sobre uma camada de suco de pau-de-leite, e o calcário da qual se extrai a cor branca. O processo de preparação da tinta consiste em ralar a fruta com semente e depois misturá-la com outros pigmentos, como o carvão, para diversificar as cores. Essa pintura corporal tem como objetivo diferir os povos, determinar a função de cada um dentro da aldeia e, em alguns casos, mostrar o estado civil. Algumas índias utilizam esse método, por exemplo, para “dizer” que estão interessadas em encontrar um parceiro. Qualquer índio pode preparar o material e depois usá-lo. 

Entretanto, é importante tomar muito cuidado com os desenhos a serem pintados. Cada etnia tem sua própria marca e se alguma outra utilizar a mesma, uma luta entre as aldeias pode ocorrer. Por exemplo, a etnia Tenharim, do Amazonas, faz desenhos de bolas em todo o corpo para se caracterizar. Os homens usam desenhos maiores para se diferenciarem das mulheres e imporem uma posição de liderança. Já na aldeia Tapirapé, do Mato Grosso, homens podem usar as mesmas figuras das mulheres, mas as mulheres não podem usar as dos homens. Entre muitos povos essa arte corporal é também utilizada como uma forma de distinguir a divisão interna dentro de uma determinada sociedade indígena, como uma forma de indicar os grupos sociais nela existentes, embora existam tribos que utilizam a pintura corporal segundo suas preferências. 

As formas de expressões indígenas são muito variadas e retratam os sentimentos desses povos. 

Pintam o corpo para enfeitá-lo, para defendê-lo do sol, dos insetos e, também, dos maus espíritos. A pintura corporal para os índios tem sentidos diversos, não somente na vaidade, ou na busca pela estética perfeita, mas pelos valores que são considerados e transmitidos através desta arte. Arte Plumária, Arte em pedra, Arte em madeira, Trançado, Cerâmica, Pinturas e desenho, Música e dança, Proto-teatro. 

fontes: http://artesanatoindigena.com/ e  https://www.socioambiental.org/pt-br/ -  

A partir do texto elaborei sugestões de questões para trabalhar a leitura  e interpretação: 

1. O texto afirma que os povos indígenas foram trazido ao "Brasil" pelos portugueses, para trabalharem na cana de açúcar. Essa afirmação é correta? Justifique. 

2. Quando os portugueses começaram a ocupar o atual território brasileiro há quinhentos anos atrás, havia por aqui mais de mil povos indígenas. Hoje não chegam a trezentos. De acordo com seus conhecimento. responda: o que aconteceu para que houvesse essa tamanha redução? 

3. Quase a metade dos indígenas atualmente não estão em suas terras, vivem pelas cidades. De acordo com seus conhecimentos, responda: Por que a metade que está nas cidades não retornam às suas terras de origem? 

4. O texto nos dá a ideia de que os indígenas são todos iguais e que possuem uma única cultura, uma única língua, uma arte comum? Sim ou não? Justifique. 

5. Explique o que é são artes plástica e porque podemos identificar a arte indígena como arte plástica. 6. O texto afirma que ao desconhecer o termo “arte” não podemos dizer que os povos indígenas tenham propriamente uma arte. Sim ou não? Justifique. 

7. O texto afirma ainda que os indígenas não possuem qualquer critério ao produzirem arte. Essa afirmação está correta? Explique. A produção de artes entre os indígenas possuem critérios ou não? Explique. 

8. O que significa dizer que “As expressões plásticas indígenas transcendem a produção de objetos”? Explique. 

9. De acordo com o texto, podemos dizer que existe arte indígena ou artes indígenas? Justifique. 

10. Para os indígenas quem pode ser considerado um bom artista? 

11. No geral, a partir da leitura do texto, explique qual é a compreensão de beleza que os indígenas possuem em relação aos seus objetos de artes. 

12. Qual a importância da arte de pinturas corporais para os indígenas? 

13. O que significa dizer que a arte indígena é um excelente meio de comunicação?



Filoparanavaí 2019

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