domingo, 17 de setembro de 2017

A Teologia da Gratuidade, pregada por Jesus, está morta?


A Dialética é um dos maravilhosos instrumentos do pensar. Criado pelos gregos antigos, até hoje continua dentre os mais úteis instrumentos para refletirmos sobre as contradições de nossa sociedade.

A proposta deste artigo de opinião é provocar, ainda que de forma breve, algumas considerações acerca da Religião e seu papel central nos dias atuais. 

Fica mais fácil e separarmos Religião e Deus como coisas distintas que são!

Quero refletir sobre o papel da religião na destruição da Teologia da Gratuidade recolocando no seu lugar a Teologia da Retribuição, aquela mesma do passado e que fora repudiada por Jesus, pelo chicote no Templo e por meio de discursos duros contra os hipócritas e de uma vida prática manifesta de atos gratuitos.

Mas existe uma Teologia da Gratuidade nos meios teológicos religiosos atuais? Eu diria que desconheço. Conheço algumas linhas teóricas da teologia que tratam de teologias que se aproximam daquilo que estou chamando de Teologia da Gratuidade, mas nada que receba este nome. Portanto, se não tinha passa a ter agora. E quando uso este conceito estou fazendo referência direta aos ensinamentos de Jesus e a sua prática conforme podemos atestar nos Evangelhos.

Quando me sobrar tempo prometo que vou dissertar sobre essa Teologia da Gratuidade de forma mais ampla e aprofundada, já que eu sou um apaixonado por ela.

As igrejas cristãs atuais, no geral, transformaram-se em propagadoras de uma Teologia da Retribuição que transformou a religião cristã contemporânea em centro de arrecadação $ e indústria do "milagre". Esta indústria utiliza-se de mecanismos semelhantes aos utilizados pelas empresas comuns. 

Em uma sociedade desigual como a brasileira com forte concentração de renda nas mãos de poucos e na realidade de um capitalismo selvagem coexistente com uma teoria neoliberal ainda mais selvagem, quando implantada de forma sútil pelas classes dominantes brasileiras, oferece um terreno fértil para este tipo de ação religiosa. As igrejas aproveitam-se sem piedade do desespero de milhões de pessoas que ficam sem norte. Então acabam vendendo uma "proteção divina", e as pessoas acabam por inscrever-se em uma "agremiação" religiosa.

A Religião é um dos principais instrumentos de alienação do aparato ideológico dominante por sua capacidade de construir narrativas moralizantes diante de fatos, ou seja, de acontecimentos do cotidiano. Quando eu inverto juízos de fato por juízos de valores eu mato a possibilidade de uma reflexão mais ampla e aprofundada e que possa ser carregada de uma objetividade necessária. 

A religião institucionalizada tornou-se então não mais que uma "empresa" que tem "produtos" a oferecer em um mercado da fé cada vez mais concorrido. O Deus  de Jesus foi deixado de lado. 

Um Deus comprometido com os pobres e com a desconstrução das desigualdades sociais e com a desconstrução de uma cultura desumanizante, não parece interessar para a religião contemporânea. Este Jesus é "comunista" demais para os "puritanos capitalistas" atuais e, tem mais: Este tipo de Jesus não vende $ !!! 

Ele denunciava os vendilhões do templo, eles proferia alertas "ai de vós!  aos ricos pelo motivo da ganância, da desumanização,  da impiedade, do vazio, do egocentrismo dos mesmos; ele ainda chamava de hipócritas os pseudos religiosos que achavam-se salvos e que condenavam os que não eram de sua agremiação religiosa, ele era duro contra os governantes exploradores e corruptos, contra os sacerdotes movidos pelo comércio pela hipocrisia, por outro lado, ele acolhia os pobres, os discriminados: prostitutas, doentes, ladrões, crianças, mulheres... Ele pregava uma sociedade dominada pela paz e pelo amor, pela verdade e pelo conhecimento. Ele partia o pão e amava os inimigos: "Pai, eles não sabem o que fazem!" Este Jesus sumiu das homilias e pregações dos líderes religiosos.

O Jesus que cura! O Jesus que não questiona! O Jesus loiro e de olhos azuis, cheirosinho, dos quadros europeus e que enfeita muitas paredes! O Jesus branco dos crucifixos de muitas paredes! O Jesus que parece "gatinho" carente de louvores! O Jesus que salva almas! O Jesus que resolve problemas de saúde, financeiros, afetivos! O Jesus da nossa família porque a dos outros não são famílias! Este Jesus vende e faz as contas bancárias das igrejas movimentarem-se mais que as águas do mar. Quanto arrecadam os templos religiosos nos dias atuais? Não queira saber! Você se assustaria e se perguntaria, para que essa gente quer tanta grana? Jesus tem a resposta!

Ora, no campo da moralidade as narrativas encucadas por pastores e padres reforçam preconceitos e discriminações entre os próprios fiéis. Intolerância religiosa é uma delas. Há muitas contradições! Por exemplo, não é comum questionamentos sobre segunda união, uso de contraceptivos, cirurgias de laque e vasectomia... Mas é comum condenarem homoafetivos, a diversidade de gênero. 

A defesa da família nuclear burguesa contra os demais modelos de famílias, a defesa da heteronormatividade contra a homoafetividade ou diversidade de gênero, são bandeiras que os cristãos levantam de forma dogmática!

Não é comum questionarem os "vendilhões do templo" e nem as bancadas parlamentares religiosas que votam contra o povo e que são compostas por muitos acusados de desvios de dinheiro público, mas são capazes de fazerem defesas ardorosas da Pena de Morte. 

Enquanto escrevo este artigo são milhares os postes sobre a morte de um apresentador de TV aberta que pregava dia e noite, diariamente, sua defesa à Pena de Morte para "bandidos". Fato: o sujeito que pregava vingança e ódio dizia-se cristão e trabalhava em um canal "cristão". 

"Todos somos iguais perante a Lei", só seria uma verdade de fato caso a "Lei fosse igual perante todos!"

A violência que o senso comum tende a atribuir como responsabilidade única do indivíduo que a pratica, é antes de tudo um fenômeno social. Tem raízes estruturais! Quanto mais desigual socialmente e economicamente uma sociedade mais violenta ela será! 

Portanto, que sustentação pode um cristão fazer da Pena de Morte? A Pena de Morte deve ser repudiada com veemência por ser uma proposta desumana, que fere a dignidade humana, por ser compartilhada com a sociedade e por ser nuclearmente viciada pela tortura.

Quando foi que o Jesus ensinou que devemos eliminar nossos inimigos? Quando? Onde?

Os cristãos atuais, em sua maioria, cultuam o Velho Testamento e negam o "Novo"; negam Jesus e sua Teologia da gratuidade. Isto é fato! A Teologia da Retribuição leva milhões de pessoas aos templos da Universal, por exemplo. Todas as igrejas vão se igualando em uma linha de pregação que esvazia cada vez mais a Teologia da Gratuidade! O Jesus do amor gratuito não está muito fora de moda! Já não temos mais profetas! Os ensinamentos religiosos já não transformam mais a sociedade! A preocupação com o individual substituiu o coletivo.

A Teologia da Gratuidade ainda não morreu! Mas ela anda esquecida demais! É urgente que não a deixemos morrer em um tempo em que a desumanização se faz de forma acelerada e impiedosa! Na verdade não é uma Teologia que corre o perigo de morrer, são os ensinamentos daquele que se revelou como o Filho de Deus.

Em um momento no qual o non sense constrói uma sociedade pautada pelo ódio, pela alienação, pela exploração, pela ignorância, forja a urgência de  re-pensarmos a Teologia da Gratuidade!

Por Lucio Lopes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui suas críticas acompanhadas de sugestões, para melhorarmos nosso blog. Obrigado!