Platão criou uma imagem memorável para as falsas crenças e ilusões de que não raro sofremos. Ele escreveu que somos todos como habitantes de uma caverna, acorrentados ao solo, olhar voltado para sombras que percorrem uma parede, sombras que tomamos por realidades. [Na atualidade nada mais metafórico para entendermos essa caverna que nossos televisores]
O primeiro homem a escapar da caverna da ilusão em que, segundo Platão, vivemos é o filósofo, aquele dentre nós que consegue perceber que vivemos, de certa forma, vidas de ilusão, aprisionados por sombras e correntes que não foram criadas por nós. Ao voltar à caverna com seu estranho relato de outras realidades, ele será aclamado por alguns e vaiado por outros. Tendemos a nos acomodar às nossas ilusões.
Assim, somos facilmente ameaçados por quaisquer relatos estranhos de realidades maiores. Mas o verdadeiro filósofo tenta libertar o máximo de companheiros cativos, para que vivam nas realidades mais amplas e brilhantes que residem além dos estreitos limites de suas percepções costumeiras.
Esta é uma imagem viva da derradeira tarefa da filosofia. Sua meta é libertar-nos da ilusão e ajudar-nos a captar as realidades mais fundamentais.
Sob que ilusões você está vivendo agora? Que coisas você valoriza sem realmente terem a importância que você lhes atribui? Que coisas realmente valiosas você pode estar ignorando? Que suposições você faz sobre sua vida que podem se basear em aparências, em vez de realidades?
A maioria das pessoas está acorrentada por todo tipo de ilusão. A filosofia, quando bem praticada, pretende nos ajudar a romper esses grilhões.
Um de meus mestres favoritos em Yale foi Paul Holmer, professor de teologia filosófica na Divinity School. Lembro-me de uma aula — acho que foi sobre o pensamento de Sören Kierkegaard — em que ele contou uma história bem pessoal sobre sua casa de campo em um lago de Minnesota.
A casa ficava em uma ilha, no fim do mundo. Ele contou que, em noites de céu claro, adorava sair bem tarde, entrar em um pequeno barco e remar certa distância no lago. Depois ele parava, deitava-se no casco e ficava contemplando o céu. Milhares de estrelas cintilavam e tremulavam para ele contra a tela de fundo negra. Ele absorvia tudo aquilo e se sentia subjugado pela incrível maravilha daquilo tudo. O mundo, este universo, essa localização improvável de uma consciência tão pequena e intensamente curiosa, em meio a tudo isso, para refletir filosoficamente sobre o porquê e o como.
Ele contou que ficava sempre impressionado com a mera improbabilidade de toda essa existência, essa vasta extensão de ser. Ele se sentia dominado pela questão cosmológica: por que existe algo em vez de nada?
Texto retirado de Filosofia para Dummies, de Tom Morris (tradução de Ivo Korytowski, Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000) - Fonte original: criticanarede.com
Filoparanavai 2014
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