domingo, 12 de janeiro de 2014

O que seria uma "práxis cidadã" em Aristóteles?



Professor PDE*: Edimar Eugenio 
Tema: O ENSINO DE FILOSOFIA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA. 

Aristóteles [Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.]
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Título: O ensino e a construção da cidadania: concepções e métodos na perspectiva gramsciana. 



Texto 2


O que seria uma "práxis cidadã" 
em Aristóteles? 


A tríade aristotélica - Cidadania, Virtude e Felicidade -, e de acordo com o mesmo filósofo, reside no sentido prático onde o dever e a ação configura ao que podemos denominar de verdadeira cidadania. Assim, ser cidadão em geral, significa ser um indivíduo ativo e participante da coisa pública, inclusive nos com cargos públicos, ou seja, de algum modo ou medida, participar do poder público, portanto, uma cidadania mais real e menos formal. (A POLÍTICA, p.58) 

Nesta perspectiva, conclui-se que, para exercer a cidadania efetiva, como defende Aristóteles, deve-se haver disponibilidade de tempo e reflexão mental - portanto, dispor de um mínimo de ócio. Desta maneira, o exemplo de um artesão, não caberia aqui como exercitante de cidadania plena uma vez que está preso a uma vida "mecânica e mercenária". 

Aristóteles também indaga a respeito da vida privada ao trazer à reflexão do que é mais louvável no exercício da cidadania: participar ativamente (e, participar conforme descrito acima) na cidadania, ou recolher-se à vida privada? A resposta viria no que ele próprio vai descrever como a "verdadeira felicidade". 

Para ele, a felicidade pública e a privada não se diferem quando a busca coincide com a "inteligência e costumes excelentes, os bens da alma" e nunca na acumulação de riquezas [Aristóteles: extratos retirados de sua obra, A Política, p. 58 a 64.] . Vistas por esta perspectiva, a análise qualitativa entre o público e o privado não reside em qual deles seja o melhor ou conduz a maior felicidade e sim, está na excelência da vida de ambos. 

Aparentemente resolvido a questão do público e do privado, outro dilema emerge com igual intensidade e diz respeito a duas tendências conflitantes e por vezes contraditórias que se encontram no interior do indivíduo: a vida politicamente virtuosa dever ser mais ativa ou mais contemplativa? 

A esse novo dilema, Aristóteles responde "uns não dão nenhuma importância aos cargos políticos e consideram a vida de um homem livre muito superior à que se leva na confusão do governo; outros preferem a vida política, não acreditando que seja possível não fazer nada, nem, portanto ser feliz quando não se faz nada, nem que se possa conceber a felicidade na inação". (A POLÍTICA, p. 90 a 93) 

Como considera o próprio filósofo, a felicidade de um indivíduo é semelhante a do Estado na medida em que este se ocupe com o bem-fazer [  Bem-Fazer: para Aristóteles essa é a condição da ação de todos os cidadãos. Ou seja, se todas as coisas visam uma finalidade boa, somente uma ação virtuosa ou bem-fazer, pode corresponder ao verdadeiro exercício de cidadania., pois este é o alvo da vontade que dirige, não a ação pela ação mas sim, a "ação política" individualmente e por conseguinte, de todos. Esse bem-fazer corresponde à ação reflexiva que é a virtude do cidadão. Essa virtude, invólucro da contemplação e ação ou reflexão e ação, é que constitui a praxis cidadã em Aristóteles.

Referências: 

1) ARROYO, M.; BUFFA, E.; NOSELLA, P. Educação e cidadania: quem educa o cidadão. São Paulo, SP: Autores associados, 1991. 

 2) BUFFA, E. BRASIL – EDUCAÇÃO E CIDADANIA: PARA ALÉM DAS BURGUESIAS. Agência de Informação Frei Tito para a América Latina - ADITAL, 2007 [citado 2013 Jun. 13] Disponível em: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=28860 Acesso em 13 de junho de 2013. 

 3) DEMO, P. Cidadania menor: algumas indicações quantitativas de nossa pobreza política. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992. 

 4) GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Concepção dialética da história. Título original do italiano: Il materialismo storico e La filosofia de Benedetto Croce. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 8ª edição. Rio de Janeiro-RJ: Civilização Brasileira, 1989. 

 5) HORN, G. B. Ensinar Filosofia – pressupostos teóricos e metodológicos. Coleção filosofia e ensino, 13. Ijuí, RS: Editora Unijuí, 2009

Filoparanavaí 2014

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