sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A importância dos conhecimentos científico e senso comum em relação à Cultura



Até a idade média a religião era quem determinava o que era verdade, e era quem possuía todas as explicações sobre todos os fenômenos. Atualmente a ciência ocupou o lugar da religião. E a religião passou a produzir verdades por adesão, ou seja, só as adere quem acredita nelas. 

A ciência nasce no século XVII, o fazer ciência acontece com a observação da realidade. A partir desta ação, busca-se levantar hipóteses. A ciência busca a produção de verdades, e se a teoria em questão é confirmada de acordo com os procedimentos pertinentes ao conhecimento científico, tal teoria é tomada como uma verdade, embora na ciência as verdades sejam provisórias, porque com o passar do tempo elas deixam de ocupar o seu lugar como verdade. Entretanto, a única verdade da ciência reside no seu método

A razão é a grande produtora de verdades acerca do conhecimento sobre a natureza e dos seus inúmeros aspectos e peças. 

A ciência tem a função de ordenar o grande quebra-cabeça cósmico. Pois, para a racionalidade moderna, a partir do século XVIII, só há uma grande certeza, um dogma: o da ciência como caminho único para a obtenção da verdade. Portanto, para o processo de sua produção.  

Ao situarmos os contextos de produção do conhecimento; sabe-se que O conhecimento científico é produzido num contexto específico, a comunidade científica. 

Já o senso comum é um conhecimento prático, produzido em nosso cotidiano, e é por meio dele que orientamos as nossas ações. 

O senso comum representa a realidade em que estamos inseridos, é um conhecimento fértil, representa as inquietações do sujeito. 

A ciência rompe com o senso comum, porque o considerou superficial, ilusório e falso.  (...) É certo que o conhecimento do senso comum tende a ser um conhecimento mistificado e mistificador, mas, apesar disso e apesar de ser conservador, tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhecimento científico. 

A ciência se opõe a opinião. 

Pois, para a Ciência nada é dado, tudo se constrói. 

O senso comum representa a experiência imediata, o conhecimento vulgar; as opiniões. Ou seja, tudo o que se precisa romper para se tornar possível o conhecimento científico, racional e válido. A paixão é incompatível com o conhecimento científico, precisamente porque a sua presença na natureza humana representa a exata medida da incapacidade do homem para agir e pensar racionalmente. 

Cada modelo de produção de conhecimento tem suas particularidades no tocante à obtenção de suas verdades. Inicialmente a humanidade iniciou suas crenças a partir das concepções do senso comum, e posteriormente através da razão e da racionalidade modernas, apropriou-se das premissas da ciência. 

O Senso Comum  tem por base princípios que são completamente rejeitados pela ciência: a imaginação, os sentimentos, os sentidos, as paixões, a especulação e a fé. 

Ao contrário do que prega a ciência, estes princípios são norteadores para a criação e formatação do patrimônio cultural de natureza imaterial. Que é baseado em toda a experiência cotidiana, permeado pela imaginação, crenças, paixões, medos, mitos, costumes, superstições. 

Todo o conhecimento produzido pelas populações tem a finalidade de determinar e caracterizar o seu modo de vida; é uma representação de como uma cultura local pode manter-se e se conservar viva

E o meio para que tal fato aconteça é através da definição e delimitação do patrimônio imaterial. Este é produzido e determinado através dos conhecimentos do senso comum. 

Pois, as concepções do senso comum são totalmente incompatíveis e inconcebíveis ao conhecimento científico. 

Assim, a determinação do que é, e como é representado o patrimônio imaterial, fica sob o olhar e determinação do senso comum, pois este compreende claramente os aspectos inconcebíveis a ciência. 

O patrimônio cultural material é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. 

Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. 

Ao contrário do patrimônio imaterial, regido pelo senso comum; o patrimônio material é determinado pela ciência. É ela que determina o que pode e o que deve ser tombado, quais as formas aplicáveis de conservação e restauro e os materiais propícios para esta atividade, e em quais circunstâncias devem ser realizadas, como devem ser as técnicas de escavação de sítios arqueológicos, qual o valor a ser atribuído a determinadas obras artísticas, enfim, é a ciência que estipula o que é o patrimônio material e como, porque e para que deve ser patrimonializado, tombado e restaurado. 

A delimitação científica do patrimônio cultural material é determinada pela união dos conhecimentos das mais diversas áreas; literatura, música, história, arquitetura, arqueologia, direito, engenharia, pautados em conhecimento específicos dotados de clareza e objetividade. 

Desta forma, ao se apropriar do seu patrimônio imaterial, produzido pelo senso comum, as comunidades tem reforçadas a sua identidade e coesão. E na apropriação do patrimônio material, produzido através do conhecimento científico das mais diversas áreas, através da patrimonialização e de seu reconhecimento e conservação, a sociedade encontra além da sua identidade, a oportunidade de se obter retorno turístico, social e econômico dos bens culturais. 

Enfim, a ciência e o senso comum podem trazer no campo do patrimônio cultural muito mais que sua compreensão, tem também a função de se constituírem como vetores do desenvolvimento.

(Adaptado para fins de estudos, de SILVA, Sandra da Siqueira. A relação entre ciência e senso comum: Para uma compreensão do patrimônio cultural de natureza material e imaterial. Revista eletrônica  Ponto Urbe 9, ano 2011. Disponível em: <https://journals.openedition.org/>. Acesso 27 Mar. 2019).




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