domingo, 14 de março de 2010

CAFÉ & SAÚDE: Um bem ou um mal?

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Muito se fala do café, mas pouco se sabe, ao certo, sobre seus efeitos. Além de delicioso, pode ser saudável, quando consumido moderadamente.


Para algumas pessoas, o cafezinho depois do almoço parece ser inevitável. O cheiro da bebida fresca deslumbra e, ao mesmo tempo, atiça os sentidos. No entanto, todo apreciador de café parece ter algum tipo de "dor na consciência" quanto aos efeitos colaterais.

A bebida nacional dos brasileiros sempre foi acusada de causar problemas de saúde. Baseados em algumas pesquisas, mitos sobre a bebida se firmaram entre a população: o café desidrata, aumenta a pressão sangüínea, propicia a osteoporose, além de ser o responsável por infartos, AVC e câncer.

Algumas xícaras por dia não fazem mal a ninguém




"Hoje em dia já não se pode afirmar que o café seja prejudicial à saúde", disse Thomas Hofmann, diretor do Instituto de Química de Alimentos da Universidade de Münster, à revista Der Spiegel. Está comprovado que houve falhas metodológicas nos estudos anteriores que atestavam as suas qualidades prejudiciais.


Segundo Hofmann, atribuíram-se características específicas – parcialmente negativas – das substâncias presentes no grão de café à bebida em si. Junto com pesquisadores do Instituto Alemão de Investigações Alimentares de Garching, Hofmann estuda as propriedades do grão, o qual é composto por mais de mil substâncias interagentes.


Um dos efeitos mais citados após algumas xícaras de café é o nervosismo que se manifesta, às vezes, sob a forma de taquicardia. Contudo, os amantes da bebida não devem se preocupar, já que, além do seu sabor inigualável, novas investigações confirmam uma série de efeitos benéficos.


Um estudo publicado na revista norueguesa Molecular Nutrition & Foodresearch revela que o café é uma das bebidas mais populares no mundo. Levando-se em conta as quantidades consumidas, pode-se supor que assim tão ruim o café não deve ser. A Alemanha é o líder mundial em consumo: para suprir a demanda em 2004, foram consumidos 151 litros por pessoa, o que equivale a 6,4 quilos de pó de café.


Desfazendo mitos: café desidrata?




Em relação aos falsos efeitos colaterais, o mais comum é de que o café pode desidratar o organismo. "Estudos anteriores foram interpretados de maneira equivocada", comenta Antje Gahl, da Associação Alemã de Nutrição (DGE). Nesses estudos, proibiu-se seus participantes a ingestão de café por um determinado tempo, antes da realização das análises. Isto fez com que o corpo se desacostumasse e reagisse mais sensivelmente à infusão.


Outros testes – como o de Kristin Reimers da Universidade de Omaha/Nebraska – confirmam que a mesma quantidade de urina foi produzida, durante 24 horas, por sujeitos que tomaram bebidas com cafeína e outros que ingeriram líquidos sem esta substância.


Outro cientista, o fisiologista inglês Ron Maughan, publicou resultados semelhantes no Journal of Human Nutrition and Dietetics, afirmando ainda que a ingestão de duas a quatro xícaras de café por dia se mostra inócua no que se refere ao equilíbrio de líquidos no organismo.


De qualquer forma, os cientistas não negam que a cafeína tenha propriedades ligeiramente diuréticas. Ela inibe o efeito do hormômio antidiurético na hipófise, ordenando ao corpo a eliminação de líquido. Porém, isto não influi na auto-regulação do organismo. Maughan explica que o consumo freqüente da bebida pode reduzir este efeito.


Falsas suposições sobre a hipertensão




Até o momento, não há comprovações científicas sobre a relação entre o consumo de café e o aumento da pressão sangüínea."Quem está acostumado a beber café não sofre mais do que um leve aumento da pressão arterial", acrescenta Andreas Pfeiffer, médico-nutricionista do Hospital Universitário Charité, em Berlim.

Estudos realizados nos Estados Unidos comprovam esta afirmação e Wolfgang Winkelmayer a reitera em um estudo com dados de 150 mil mulheres, publicado no Journal of Harvard School of Public Health.

O que pode ser verificado cientificamente foi um aumento do nível de colesterol no sangue. Porém, a alteração não foi causada pelo café, mas pelos chamados diterpenos, substâncias como o cafestol e o caveol, que, de qualquer modo, permanecem no filtro de papel. No caso do café expresso, que não é filtrado, a quantidade é tão insignificante, "que não causa problemas", explica Pfeiffer.

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Café: um grão milagroso?

Não há motivos para pânico ou para a supressão absoluta da bebida da vida diária. Quem aprecia um bom café pode continuar a bebê-lo tranqüilamente: recentes pesquisas revelam que o seu consumo pode ser um novo aliado no surgimento e combate a doenças.

Alguns estudos americanos mostram que o café previne o mal de Parkinson porque estimula a produção de dopamina. O seu consumo regular também parece retardar o aparecimento de Alzheimer. Aparentemente, pode até prevenir doenças do fígado, especialmente as produzidas pelo excesso de peso e o consumo excessivo de álcool.

Alessandra Tavani, do Instituto de Pesquisas Farmacológicas Mario Negri, de Milão, constatou que "quanto maior o consumo de café, menor é a presença de moléculas indicadoras da cirrose hepática". Tavani acredita que o café seja uma preciosa fonte de agentes antioxidantes, os quais ajudam a retardar a morte e o envelhecimento celular.

Em outros casos, os resultados são surpreendentes. Cientistas canadenses descobriram que o consumo de seis xícaras do produto ao dia reduz o risco de câncer de mama em 70%. Também parece poder prevenir o câncer de bexiga e de intestino, tudo graças aos antioxidantes. Além disso, pesquisas da Universidade de Rotterdã comprovam que o café ajuda a reduzir o risco de se contrair diabetes.

Será que o café se converteu em uma bebida milagrosa? "Os estudos não comprovam os efeitos mencionados com 100% de exatidão, mas indicam que pode melhorar a saúde", completa Pfeiffer.

Todos parecem conhecer bem o efeito excitante do café, provocado pela cafeína que inibe a adenosina, um tranquilizante natural do organismo. Mas o que é ainda pouco divulgado é a sua ação antidepressiva. O radiologista Florian Koppelstätter publicou, há pouco, dados mostrando que o café produziria uma "dopagem mental".

O café estimula o córtex cerebral, aumentando a atenção e a memória. Em estudos com ressonância magnética, os paciantes que haviam tomado café apresentaram um rendimento de memória maior, indicado pela atividade elevada em áreas cerebrais relacionadas com a memória de curta-duração, entre elas, o lóbulo frontal.

Para Darcy Roberto de Lima, professor do Instituto de Neurologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o café é um ótimo agente preventivo da depressão, o "mal do nosso século". Lima aconselha um consumo diário e moderado da bebida, de três a quatro xícaras por dia, com ou sem leite.


O café ajuda a aumentar a descarga de endorfina, um hormônio que contribui para a sensação de bem-estar. Assim, "atletas treinados consumindo diariamente café, caso parassem de tomá-lo na véspera e nos dias de competição, poderiam ter sua performance aumentada de forma significativa, sem qualquer tipo de doping", completa Lima.


Café e dependência: argumentos contrários


Os inimigos do café enfatizam que a bebida provoca dependência. Por isso, os resultados positivos não significariam um aumento no rendimento, mas uma normalização. A cafeína provoca dependência, porém a abstinência só chega a causar algumas ligeiras dores de cabeça.

O café pode causar nervosismo ou insônia, e, por isso, recomenda-se a mulheres grávidas tomar, no máximo, três xícaras por dia. "Os efeitos prejudiciais do café são moderados", disse Andreas Pfeiffer. Os indícios mencionados acabaram com o mito da toxicidade do café. Por isso, nada melhor do que se concentrar em apreciar o seu componente essencial: o sabor.


fonte: folha online com dw-world.de

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