ATUALIZADO EM ABRIL/2020
ÁLCOOL MATA MAIS QUE CRACK, REVELA PESQUISA DA FIOCRUZ
Publicação original
O 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela
População Brasileira indica não haver uma epidemia de drogas ilícitas no país e
aponta o álcool como a substância de maior uso entre os brasileiros. O
levantamento, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ouviu cerca de
17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos em todo o Brasil, entre maio e
outubro de 2015. Foi concluído em 2016, mas em dezembro de 2017 o governo
federal embargou a divulgação dos dados, sob o argumento de que discordava da
metodologia empregada.
A Fiocruz afirmou que usou a mesma metodologia da
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar, a Pnad, do IBGE.
Segundo os números divulgados (8/8), mais da metade da
população entre 12 a 65 anos declarou ter consumido pelo menos uma vez bebida
alcoólica no período estudado, enquanto 7,7% dos brasileiros usaram maconha, e
3,1% consumiram cocaína em pó. O levantamento revela o tamanho do problema a
ser enfrentado pelas políticas de saúde em relação ao uso de álcool: cerca de
46 milhões (30,1%) de pessoas tinham consumido ao menos uma dose nos 30 dias
anteriores à pesquisa e aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram
critérios de dependência, como registrou o Portal Fiocruz (8/8).
O estudo ainda registra que 3,2% dos brasileiros usaram
drogas ilegais nos 12 meses anteriores à pesquisa (4,9 milhões de pessoas).
Homens (5%) e jovens entre 18 e 24 anos (7,4%) foram os maiores usuários. Em
relação ao crack, cerca de 1,4 milhão de pessoas entre 12 e 65 anos, em sua
maior parte homens, relataram o uso da droga (ou similares) alguma vez na vida
(0,9%).
O levantamento também avalia a percepção dos brasileiros
sobre o uso de drogas. Para 44,5% das pessoas ouvidas, o crack é o maior responsável
pelas mortes no país, e não o álcool (26,7%). “Os principais estudos sobre o
tema, como a pesquisa de cargas de doenças da Organização Mundial da Saúde, não
deixam dúvidas: o álcool é a substância mais associada, direta ou
indiretamente, a danos à saúde que levam à morte”, ponderou Francisco Bastos,
coordenador do levantamento e pesquisador do Instituto de Comunicação e
Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), ao Portal Fiocruz.
A relação entre álcool e diferentes formas de violência
também foi abordada pelo estudo, apresentando um panorama contundente.
Aproximadamente 14% dos homens brasileiros de 12 a 65 anos e 1,8% das mulheres
dirigiram após consumir bebida alcoólica, nos 12 meses anteriores à entrevista.
A percentagem de pessoas que estiveram envolvidas em acidentes de trânsito
enquanto estavam sob o efeito de álcool foi de 0,7%. O levantamento mostra que
os brasileiros são favoráveis a medidas de controle para diminuir o uso e os
problemas decorrentes do álcool (ver quadro).
A pesquisa também informa que medicamentos de uso
controlado, conhecidos como “tarja preta”, foram consumidos de forma não
prescrita ou de modo diferente ao recomendado pelo médico por 0,6% e 0,4% da
população brasileira, respectivamente. “É um número que revela um padrão muito
preocupante, e que faz lembrar o problema norte-americano de uma década atrás,
em termos de classe de substâncias”, alerta o coordenador.
Ao Portal Fiocruz, Francisco Bastos observou que os jovens
brasileiros estão consumindo drogas com mais potencial de provocar danos e
riscos, como o próprio crack, e que há uma tendência ao uso simultâneo de
drogas diferentes. “Por isso é tão importante atualizar os dados
epidemiológicos disponíveis no país, para responder às perguntas de um tema
como o consumo de drogas, que se torna ainda mais complexo num país tão
heterogêneo quanto o Brasil”, observou. O levantamento pode ser acessado em: https://www.arca.fiocruz.br/
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