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terça-feira, 19 de janeiro de 2010
domingo, 17 de janeiro de 2010
TEMA DE REDAÇÃO: AIDS, SIDA, HIV, VIH, histórico...
Sinopse: OLGA, o filme
Olga é um filme realizado em 2004 pelo diretor brasileiro Jayme Monjardim, inspirado na biografia de Olga Benário, escrita por Fernando Morais, sobre a alemã, judia e comunista que veio ao Brasil lutar por seus ideais. Este é o primeiro filme do diretor Jayme Monjardim, especialista em telenovelas. O roteiro foi realizado por Rita Buzzar, com quem o diretor já havia trabalhado anteriormente na novela A História de Ana Raio e Zé Trovão, de 1990. A produção também é de Rita Buzzar. Decididos a fazer uma reconstituição correta do contexto histórico, Monjardim e a a equipe de produção foram à Alemanha, onde conheceram os lugares freqüentados por Olga e os campos de concentração onde ela esteve prisioneira.
Os cenários foram reconstituídos em estúdio no Brasil. As cenas que se passavam no Rio de Janeiro foram realizadas em locações. O trabalho superou grandes desafios técnicos - por exemplo, foram filmadas seqüências na neve em pleno verão carioca. A fotografia foi dirigida por Ricardo Della Rosa, também estreante em longa-metragem. A trilha sonora esteve a cargo de Marcus Viana, compositor com quem o diretor também já havia trabalhado em diversas ocasiões na televisão.
A atriz Camila Morgado, que interpretou Olga Benário, precisou emagrecer muito para fazer as cenas no campo de concentração. Também precisou raspar a cabeça. Foi grande sucesso de bilheteria. 385 mil pessoas o assistiram apenas no fim de semana de estréia.
Sinopse
O filme conta a história de Olga Benário Prestes. Nascida em Munique, na Alemanha, em 1908, filha de pais judeus, Olga tornou-se uma ativista do comunismo. Após libertar seu namorado Otto Braun da cadeia, eles são forçados a fugir para a União Soviética, onde recebem treinamento de guerrilha. Olga logo se destaca no Partido Comunista, onde conhece Luís Carlos Prestes, que viria a se tornar um dos principais líderes comunistas do Brasil. Em 1934, quando Prestes volta ao Brasil, designado pela Internacional Comunista para liderar uma revolução armada, Olga é designada para escoltá-lo. Passam a viver na clandestinidade enquanto planejam a derrubada do governo de Getúlio Vargas. Durante este período, a relação amorosa entre Prestes e Olga amadurece e ela fica grávida em 1935.
Quando o movimento revolucionário é derrotado pelas forças de Vargas, Olga e Prestes são presos pelo duro chefe de polícia Filinto Müller. Diante de rumores de que seria deportada, Olga divulga sua gravidez e solicita asilo político por ser casada e estar grávida de Prestes. O governo Vargas, que neste momento simpatizava com a ditadura de Adolf Hitler, deporta Olga, mesmo grávida de sete meses. Na prisão alemã, dá à luz uma filha que batiza de Anita Leocádia, em homenagem a D. Leocádia, mãe de Prestes. Após o período de amamentação, a menina foi retirada de Olga e entregue à D. Leocádia. Após anos de prisão em campos de concentração, durante os quais a opinião pública internacional fez inúmeras tentativas de libertá-la, Olga é morta na câmara de gás. Somente anos depois, Prestes e sua filha leriam a última carta de Olga, onde faz uma comovente despedida.
ELENCO
Camila Morgado .... Olga Benário
Caco Ciocler .... Luís Carlos Prestes
Osmar Prado .... Getúlio Vargas
Floriano Peixoto ... Filinto Muller
Fernanda Montenegro .... Dona leocádia Prestes
Luís Melo .... Léo Benário
Anderson Müller .... Paul Gruber
Murilo Rosa .... Estevan
Werner Schünemann .... Arthur Ewert
Guilherme Weber .... Otto Braun
Mariana Lima .... Lígia Prestes
Eliane Giardini .... Eugénie Benário
Jandira Martini .... Sarah
Milena Toscano .... Hannah
Premiações
Graças à precisão de sua caracterização histórica,
Olga recebeu os seguintes prêmios no Grande
Prêmio BR de Cinema Brasileiro de 2005:
Melhor direção de arte - Tiza de Oliveira
Melhor figurino - Paulo Lóes
Melhor maquiagem - Marlene Moura
Recepção
Olga não teve boas resenhas de alguns críticos especializados, que consideraram, à época do lançamento, o filme excessivamente "televisivo". Contando uma história de amor típica das telenovelas, o filme usa muitos recursos desta linguagem, tais como close-ups extremos, plano e contraplano nos diálogos e música incidental em quase todas as cenas. A maior parte dos comentários de especialistas foram bastante negativos, e quase unânimes em sua rejeição ao trabalho de Monjardim. Nestas resenhas, destaca-se como objeção mais frequente a superficialidade do roteiro, que teria se fixado no aspecto romântico da história de Olga e Prestes sem retratar com muita precisão o período histórico, nem as motivações das personagens. Alguns críticos julgaram também os diálogos pobres e excessivamente didáticos, e tampouco as interpretações mereceram elogios, sendo usualmente consideradas artificiais e excessivamente teatrais.
Curiosidades
O diretor Luiz Fernando Carvalho e a atriz Patrícia Pillar estiveram cotados para trabalhar no filme, em 2001. - Inicialmente Antônio Calloni interpretaria Arthur Ewert, Dan Stulbach interpretaria Otto Braun, Thiago Lacerda interpretaria Estevan e Tuca Andrada interpretaria Filinto Müller.
- Filme de estréia de Jayme Monjardim como diretor.
- Para interpretar Olga Benário a atriz Camila Morgado teve um personal trainer que a acompanhou para que ganhasse definição muscular de forma a ter um corpo de militante. Como parte de sua preparação para a personagem, a atriz treinou ainda defesa pessoal.
- Camila Morgado teve as madeixas naturalmente escurecidas por uma espécie de henna, feita exclusivamente para ela.
- Para realizar as cenas em que Olga Benário é presa no campo de concentração Camila Morgado perdeu 7 quilos.
- O diretor Jayme Monjardim realizou mais de 40 testes para a escolha do intérprete ideal de Luís Carlos Prestes, devido à dificuldade em encontrar alguém que, além de ser um bom ator, tivesse também os traços físicos do personagem.
- Em 20 de outubro de 2003 a produção de Olga recriou a Alemanha com neve artificial em Bangu, o bairro mais quente da cidade do Rio de Janeiro. A antiga fábrica de tecidos de Bangu virou o campo de concentração de Havensbruck, para onde Olga Benário foi levada.
- Para a realização da cena em Bangu foram usadas máquinas de neve sobre os telhados e sal grosso no chão, de forma a imitar neve, pastores alemães, oficiais nazistas com pesadas roupas de lã e prisioneiras esqueléticas com a cabeça totalmente raspada. Foram usados nesta cena 178 figurantes, entre crianças, homens e mulheres.
- Teve a 3ª melhor abertura de um filme brasileiro desde a Retomada, levando 385 mil espectadores em seu fim de semana de estréia. Apenas Carandiru (2003) e Os Normais (2003) tiveram melhor desempenho.
CRÍTICA DE SADER
Olga incomoda porque recorda as brutalidades repressivas que se cometeram contra os comunistas e judeus, aqui e na Alemanha. O carrasco brasileiro Filinto Müller († 1972), por suas atrocidades, foi alvo de um livro de David Nasser, escrito em 1950, sob o título "Falta alguém em Nürenberg". Ele entrega Olga, grávida de sete meses - a mando de Vargas - à Gestapo. Ela seria executada em 1942, numa câmara de gás em Bernbug...
O filme recorda a omissão de tantos, inclusive o papa Pio XII, diante do nazismo. Olga incomoda sobretudo os que vivem de interesses, de lucros, do latifúndio, de prestígio, de ganhos imediatos, de poder-saber que outro tipo de vida e de valores é possível. Olga incomoda talvez por mostrar Fernanda Montenegro, nossa principal atriz, dando vida a Leocádia, mãe de Luís Carlos Prestes. Talvez incomode ouvir o hino da Internacional, em variados arranjos, inclusive como fundo das cenas de amor dos revolucionários.
É possível que Olga incomode também porque é uma produção de ótima qualidade, apesar de procurar fugir dos cacoetes de estilo norte-americano a que tanto nos acostumaram nos cinemas. Mas, sobretudo, Olga incomoda porque é um filme que toma posição: é de esquerda - como o são "Diários de Motocicleta" e as fitas de Michael Moore - quando nos querem convencer de que isso não existe mais, e que os valores hoje são outros.
E Olga além do mais é um filme humanista, que não poupa os carrascos, que diz as coisas pelos nomes que as coisas têm. Vejam Olga, no cinema ou em DVD, apesar dos conservadores. Que os jovens saibam, os adultos se recordem, e todos vejam e julguem, com os seus olhos, e seus sentimentos, sua razão e os seus valores".
Quem é Emir SADER?
Emir Sader nasceu em São Paulo, no ano de 1943. Formou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo. Fez Mestrado em Filosofia Política e Doutorado em Ciência Política, ambos na Universidade de São Paulo. Na mesma universidade, trabalhou como professor, primeiro de filosofia, depois de ciência política. Foi, ainda, pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile, professor de Política na UNICAMP e coordenador do Curso de Especialização em Políticas Sociais na Faculdade de Serviço Social da UERJ. Atualmente dirige o Laboratório de Políticas Públicas na UERJ, onde é professor de sociologia.
Livros de SADERSéculo XX - Uma biografia não-autorizada. Ed. Fundação Perseu Abramo, 2000.
O Anjo Torto (Esquerda e Direita no Brasil). Ed. Brasiliense, 1995
Estado e Política em Marx (Ed. Cortez)
A transição no Brasil: da ditadura à democracia? (Ed. Atual)
Cuba, Chile e Nicarágua: o socialismo na América Latina (Ed. Atual)
Que Brasil é este? (Ed. Atual)
O poder, cadê o poder? (Ed. Boitempo)
A Revolução Cubana (Ed. Scritta)
Democracia e Ditadura no Chile (Ed. Brasiliense)
Governar para todos (Ed. Scritta)
Da independência à redemocratização (Ed. Brasiliense)
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olga_(filme)
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br
REFLEXÃO: o Espírito de Deus sopra onde quer...
Aqui uma reflexão sobre a Missão da Terceira pessoa do Deus Trinitário.
SABEDORIA: é o Dom de discernir o certo e o errado, aquilo que favorece e aquilo que prejudica o projeto de Deus, perceber aquelas pessoas que acreditam na libertação e quem está interessado apenas na opressão. A sabedoria é dada especialmente aos pobres (Mt 11,25) e àqueles que são solidários a eles. Não tem nada a ver com sabedoria adquirida em uma sala de universidade. A pessoa, ou comunidade, dotada de sabedoria sabe deixar o Espírito agir nelas e por elas. Irmã Dulce, Teresa de Calcutá, Luiza Erundina, Lula, são apenas alguns dos tantos agraciados com a sabedoria que vem de Deus. Os sábios destes mundo jamais entenderão...
INTELIGÊNCIA: Nos ajuda a discernir os sinais da presença de Deus nas situações humanas, nos conflitos sociais, nas lutas políticas, enfim... No nosso cotidiano. A exemplo da sabedoria, é própria das pessoas com coração aberto para Deus e para o próximo. A pessoa, ou comunidade, dotada de inteligência percebe, sem dificuldades, a íntima relação entre fé e práxis. É capaz de colocar em prática a Palavra em seu cotidiano...
CONSELHO: é o Dom de saber discernir caminhos e opções, de saber orientar e escutar, de animar a fé e a esperança... Especialmente nos momentos difíceis...
FORTALEZA: é o Dom de resistir às seduções da sociedade capitalista, de ser coerente com o Evangelho, de enfrentar riscos na luta por justiça. Capacidade de não desistir nunca de sonhar, de praticar o bem... A pessoa, ou a comunidade, dotada desse Dom não se amedronta diante das ameaças e perseguições, pois confiam incondicionalmente n’Aquele que o chamou e o sustenta...
CIÊNCIA: é o Dom de saber interpretar a Palavra de Deus sem cair em fundamentalismos, de explicar aquilo que o Evangelho tem como central: o anúncio do AMOR... De fazer avançar uma teologia comprometida com a vida e o sangue do povo Latino-americano – sem cair em fundamentalismos, moralismos que levam a preconceitos e alienações, de traduzir em palavras o que se vive na prática.
PIEDADE: é o Dom de estar sempre aberto à vontade de Deus, procurando em todas as situações de nossa vida agir como Jesus agiria e identificando no próximo o rosto do Cristo. Fé e Vida caminham juntas e uma pessoa piedosa é aquela que sabe buscar um equilíbrio entre todas as dimensões de sua vida: espiritual, afetiva, social, política... Piedosa é a pessoa, ou comunidade, que procura a todo momento colaborar para realizar na sociedade o projeto de Vida de Deus.
TEMOR e/ou AMOR DE DEUS: Nada tem a ver com medo de Deus. Deus não deve provocar em nós qualquer tipo de medo. Ele é Pai... no máximo se irrita com nossa infidelidade, nossa desobediência... Precisamos nos reconhecer em nossos próprios limites, de não pedir ou esperar de Deus que Ele faça a nossa vontade. A pessoa, ou a comunidade, dotada desse DOM não se esquece jamais, independente da situação, que Deus é incapaz de abandona-la e que por mais escura que pareça a noite o sol nunca tarda a despontar...
Reflexão acerca do Pai Nosso, por Lucio Lopes
sábado, 16 de janeiro de 2010
BRASIL meu país!
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Nome Oficial: República Federativa do Brasil
Descobrimento: 22 de Abril de 1500
Independência: 07 de Setembro de 1822
Proclamação da República: 15 de Novembro de 1889
Governo: República presidencialista
Presidente da República: Luís Inácio Lula da Silva
Nacionalidade: Brasileira
Área: 8.514.205 km²
Capital: Brasília (2.455.903 habitantes, 2007)
PIB: R$ 2,148 trilhões, 2005 (fonte: IBGE)
Cidades mais populosas: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Recife, Porto Alegre, Belém, Goiânia, Guarulhos, Campinas e São Gonçalo.
População atual: 186.690.583 habitantes, 2008 (fonte: IBGE)
Localização: Leste da América do Sul
Climas: Equatorial, tropical, tropical de altitude, atlântico, subtropical e semi-árido.
Expectativa de vida: 71,7 anos (2004)
Área de Floresta: 5.511.000 km²
Desmatamento: 25.544 km² ao ano (1995-2000).
filoparanavaí
Nosso PRESIDENTE
Senhor LULA da Silva
2006-2010
BANDEIRAS gifs do BRASIL
domingo, 10 de janeiro de 2010
ENSAIO de Filosofia: Teoria do Conhecimento em nosso cotidiano
A teoria do conhecimento é um ramo filosófico cujo objetivo é a explicação ou interpretação do conhecimento (humano). Aí se analisam questões como Que é conhecer?, É possível o conhecimento?, etc..
Alguns conceitos relacionados ao termo em questão...
Na obra Teoria do Conhecimento (p. 20), o autor J. Hessen distingue a teoria do conhecimento da lógica, afirmando que, se "a lógica pergunta pela correção formal do pensamento, isto é, pela sua concordância consigo mesmo, pelas suas próprias formas e leis, a teoria do conhecimento pergunta pela verdade do pensamento, isto é, pela sua concordância com o objeto. Portanto, pode definir-se também a teoria do conhecimento como a teoria do pensamento verdadeiro, em oposição à lógica, que seria a teoria do pensamento correcto".
Nessa obra (p. 25-26) observa-se ainda: "Uma exata observação e descrição do objeto devem preceder qualquer explicação e interpretação. É necessário, pois, no nosso caso, observar com rigor e descrever com exatidão aquilo a que chamamos conhecimento, esse peculiar fenômeno da consciência. Fazemo-lo, procurando apreender os traços gerais essenciais deste fenômeno, por meio da auto-reflexão sobre aquilo que vivemos quando falamos do conhecimento. Este método chama-se fenomenológico e é distinto do psicológico. Enquanto que este último investiga os processos psíquicos concretos no seu curso regular e a sua conexão com outros processos, o primeiro aspira a apreender a essência geral no fenômeno concreto".
Em Potenciar a razão, Fernando Savater distingue informação de conhecimento. No livro As Perguntas da Vida (p. 18), distingue 3 níveis de entendimento: a informação ("que nos apresenta os fatos e os mecanismos primários do que acontece"), o conhecimento ("que reflete sobre a informação recebida, hierarquiza a sua importância significativa e procura princípios gerais para a ordenar") e a sabedoria ("que liga o conhecimento com as opções vitais ou valores que podemos escolher, tentando estabelecer como viver melhor de acordo com o que sabemos")
Segundo Kant "o que chamamos conhecimento é uma combinação do que a realidade nos traz com as formas da nossa sensibilidade e as categorias do nosso entendimento. Não podemos captar as coisas em si mesmas mas apenas como as descobrimos através dos nossos sentidos e da inteligência que ordena os dados oferecidos por eles. Isto significa que não conhecemos a realidade pura mas apenas como é o real para nós. O nosso conhecimento é verdadeiro mas não chega senão até onde lhe permitem as nossas faculdades. Daquilo do qual não recebemos a informação suficiente através dos sentidos -- que são os que se encarregam de trazer a matéria-prima do nosso conhecimento -- não podemos saber absolutamente nada, e quando a razão especula no vazio sobre absolutos como Deus, a alma, o Universo, etc., confunde-se em contradições irresolúveis. O pensamento é abstrato, isto é, procede baseando-se em sínteses sucessivas a partir dos nossos dados sensoriais. Sintetizamos todas as cidades que conhecemos para obter o conceito de 'cidade' ou a partir das mil formas imagináveis de sofrimento chegamos a obter a noção de 'dor', reunido os traços intelectualmente relevantes do diverso. À partida, pensar consiste em voltar a descer da síntese mais longínqua aos dados particulares concretos até aos casos individuais e vice-versa sem perder nunca o contacto com o experimentado nem nos limitarmos apenas à esmagadora dispersão das suas circunstâncias particulares." (Fernando Savater - As Perguntas da Vida, p. 58-59).
TEORIA do CONHECIMENTO: um dos ramos de estudos da Filosofia
Teoria do CONHECIMENTO e/ou Epistemologia
organizado pelo professor Lucio LOPES
JHON LOCKE
Nasceu em 29 de Agosto de 1632 em Wrington, Inglaterra ;
morreu em Oates em 28 de Outubro de 1704. A família de Locke era formada por burgueses, comerciantes. Com a revolução Inglesa de 1648, o pai de Locke alistou-se no exército. Locke estudou inicialmente na Westmuster School. Em 1652 foi para a Universidade de Oxford. Não gostou da filosofia ali ensinada. Manifestou, mais tarde, opiniões contrárias à filosofia de Aristóteles. Julgou o peripatetismo obscuro e cheio de pesquisas sem utilidade. Além de filosofia , estudou medicina e ciências naturais. Recebeu o título de Master of Arts em 1658. Nesse período , leu os autores que o influenciaram: John Owen (1616-1683) que pregava a tolerância religiosa, Descartes (1596-1650) que havia libertado a filosofia da escolástica e Bacon (1561- 1626), de quem aproveitou o método de correção da mente, e a investigação experimental. Interessou-se pelas experiências químicas do também físico Robert Boyle (1627-1691), que inovaram introduzindo o conceito de átomo e elementos químicos. Foi um avanço em relação à alquimia que dominou durante a Idade Média e a concepção de Aristóteles dos quatro elementos. Locke atuou nos campos de medicina, filosofia, política, teologia e anatomia. Não gostava de matemática. Redigiu em Latim, Ensaios sobre a lei da natureza. Já nessa época apresentava gosto pela regra experimental, de onde deriva sua filosofia empirista.
Todo conhecimento encontra suas fontes na FÉ – aqui entendida enquanto CRENÇA. A fonte primordial do conhecimento seria a sensação. É através dos sentidos que os homens primitivos ainda nas cavernas tinham a percepção diante do desconhecido e nela encontravam a motivação para conhecer. Este conhecimento fundado na crença ia se tornava cada vez mais complexo a medida que era relacionado a outros conhecimentos. Ora, essa crença-conhecimento constituiu os conteúdos de conjuntos de conhecimentos como religiosos, artísticos, mitológicos, senso-comum... ao longo da história humana. A Filosofia e a Ciência vieram justificar a CRENÇA dando a estes conhecimentos veracidade ou demonstrando suas contradições e não possibilidade de serem verdadeiros.
Aqui entra um componente muito importante: a REALIDADE. O que é a Realidade? Toda vez que nos deparamos com o desconhecido, ainda hoje em pleno século XXI é assim, a nossa primeira atitude é buscar uma explicação na crença. A REALIDADE é aquele fato ou momento histórico que faz parte de minha tomada de consciência. Ele pode ser concreto/físico ou abstrato. O concreto/físico é mais verdadeiro, atinge o todo: por exemplo_ Pierre é meu amigo. Ele é Francês, alto e branco de olhos negros. Um exemplo de abstrato: Os Franceses são de estatura média... Aqui me refiro não a um homem francês, mas faço um juízo universal. Meu objeto aqui é empobrecido. Por exemplo, o "céu" é um lugar que todos os homens desejam. Este conhecimento é abstrato. Primeiro que céu não é uma REALIDADE concreta. Faz parte da CRENÇA. Não é possível que consigamos algo mais sobre o céu que não conjeturações abstratas fundadas na crença. Foi justamente a tentativa de tornar a FÉ Cristã Crível que fez com que a Igreja domesticasse a Filosofia e a colocasse a serviço da Justificação Teológica – mo período que conhecemos por Idade Média.
Vamos analisar alguns casos:
Caso 1: No ponto de ônibus – ouvindo uma conversa entre duas mulheres: “Comadre minha neta anda descalça o dia todo, correndo de lá para cá, no chão nu, dizem que pega “bicho geográfico” e outras doenças”... Isso é mentira, deve ser lenda, porque minha netinha tem saúde de ferro”. Aqui um exemplo típico de alguém que não dominando conhecimentos científicos impõe à autoridade da crença o conteúdo de sua compreensão sobre um dado concreto de seu cotidiano. Aqui temos o Senso-Comum.
Caso 2: Um bispo em sua homilia se dirigindo aos fiéis: “Deus criou o homem e a mulher para procriarem. Portanto, os casais precisam fugir de todas as formas de pornografia. O sexo é para procriar e o homem que precisa ver a imagem de outras mulheres nuas que não a sua é um fracassado”... Aqui temos um juízo moral fundado no conhecimento religioso cristão.
Caso 3: Um senhora falando sobre a situação de sua mãe: “ Minha mãe com câncer de mama buscou a cura na igreja e Jesus a livrou do câncer, ela estava feliz e digo que: uma verdadeira fanática. Agora o câncer “explodiu” na cabeça e ela encontra-se vegetativa”. Aqui outra vez o conhecimento religioso fundado na crença.
Caso 4: “Meu amigo morreu muito novo, não consigo entender porque Deus o tirou tão novo de nosso meio”. Mais adiante ele lembrava: “Meu amigo fumou a vida inteira...” Aqui a busca de novo de explicações na crença, esqueceu ou tem poucas informações científicas de que todo fumante está fadado a abraçar a morte prematuramente...
Caso 5: Dois jovens eleitores de candidatos diferentes e que estão em primeiro e segundo lugar nas pesquisas. O eleitor do candidato que está em segundo argumenta: “Estas pesquisas estão erradas, quando abrirem as urnas você vai ver... os dois estarão ali empatados “embolados” e a eleição vai pro segundo turno”. E continuaram a discussão, ambos estavam em uma discussão fundada na CRENÇA e possivelmente não possuem a informação de que uma cidade – que é o caso da cidade deles - com pouco mais de 50 mil eleitores, não tem segundo turno.
Na Filosofia, conhecimento fundado na RAZÃO que é comum a todos os homens, Platão em seus diálogos também ocupou-se com o tema Conhecimento. Para ele o primeiro ato do Conhecer tem origem nas Sensações. Ele entendia que a maioria dos mortais ficam neste estágio e que poucos são os que se libertam indo de encontro ao verdadeiro conhecimento. No Teeteto ele esclarece que o conhecimento passa pela sensação, crença-opinião, no entanto o que caracteriza o verdadeiro conhecimento é a razão sobreposta às sensações, crença-opinião. Já Aristóteles desenvolveria suas teorias mais tarde de que o conhecimento verdadeiro é produzido pela capacidade de domínio das causalidades dos eventos e coisas. Em outro ensaio em breve, retomaremos estes conteúdos. Agora, veremos algumas noções sobre este ramo da Filosofia que se ocupa exclusivamente da Teoria do Conhecimento.
Biografia Grandes Homens: GANDHI
Mahatma Gandhi? (1869 – 1948)
Filosofia da Religião
da Tradição
Temos no mundo duas grandes Tradições esotéricas: a Ocidental que remonta às Escolas de Mistério do Antigo Egito e da Caldéia. Dela nutriram-se várias gerações de nossos dirigentes espirituais e nossa Tradição sempre foi mantida secreta ou, de alguma forma sob o controle de determinados grupos sociais, contra outros que poderiam destruí-lo intencionalmente (como os mais altos funcionários das religiões constituídas, particularmente judaísmo, cristianismo e islamismo) ou por ignorância (como todos aqueles a quem a Tradição representava complicação exageradamente distante de sua lida cotidiana). Segundo desejam alguns, dentre os quais destaca-se Platão, esta Tradição remonta mais remotamente ainda à Atlântida, cuja existência empírica jamais foi conclusivamente comprovada ou definitivamente descartada.
A Tradição Oriental se apresenta de maneira distinta principalmente na China, no Tibete, no Japão e na Índia. Ali não parece ter ocorrido tão severa cisão entre a religião e a Tradição, de maneira que as próprias religiões constituídas se transformaram em importantes veículos de transmissão da Tradição. Enquanto no Ocidente se tinha de enfrentar perseguições as mais diversas à Tradição, no Oriente, por suas peculiaridades, esta foi intensamente difundida e popularizada. Ali a Tradição protege-se a si mesma em sua complexidade e fascina a quantos dela se aproximam. Também segundo alguns aquela Tradição reverbera a de um outro Continente Perdido no Oceano Pacífico: a Lemúria, de existência tão provável ou improvável quanto a Atlântida e datação, portanto, tão complexa quanto sua similar ocidental.
Embora aparente, não há divergência de fundo entre as Tradições do Ocidente e do Oriente, o que foi provado pelas descobertas sensacionais de gente do quilate de Fritjof Capra e Joseph Campell. Mera questão de escolha pessoal, de afinidade eletiva, identifico-me com a Tradição de minha gente, de meu povo, do mundo e da civilização em que nasci e me criei. Sempre com enorme respeito pela Tradição Ocidental e buscando preservar a forma como a nossa Tradição se encaminha há milênios.
Faço este preâmbulo por ser necessário pontuar o quanto Mohandas Gandhi foi movido pela Tradição de seu povo. Poucos seres humanos incorporaram tão profundamente a Tradição e a alma de sua gente como Gandhi. Este o principal motivo que leva seus biógrafos a sempre fazerem reiteradas referências à Tradição Oriental e, frequentemente, converter-se a ela, por ser mesmo fascinante.
A Teologia Hindu e a vinda de Gandhi
Se em algum momento na história da humanidade se pode dizer que uma Nação teve um porta-voz, esta Nação foi a Índia e seu porta-voz consensual na primeira metade do século XX foi Mohandas Karamchand Gandhi – Mahatma, a “Grande Alma”.
A complexa Teologia Hindu reza que há um único Deus e este se apresenta em 3 formas: Brahma, o Criador; Shiva, o Destruidor (sempre presente quando a história chega a seu final) e Vishnu, o Equilibrador (a serviço do Dharma). Quando o caos ameaça a humanidade, Vishnu toma a forma humana para recompor a ordem. Segundo o Mahabharata, Vishnu veio ao mundo como Krishna, no alvorecer da civilização indiana. Para seus contemporâneos, Mohandas Gandhi, que repudiava ser chamado assim, constituía a mais recente encarnação da divindade, portanto era chamado de Grande Alma. Devotou a sua vida à causa da Independência da Índia e a encaminhou política e religiosamente em perfeita harmonia com a Tradição de seu povo, daí o estrondoso sucesso obtido.
Sua vida
Descendente de Brahmanes, de sua infância em Porbandar Gandhi registra em sua autobiografia a freqüência aos locais sagrados e de prece com a mesma naturalidade do registro de episódios corriqueiros e cotidianos. A religião de seus ancestrais lançava profundas raízes em seu coração. Casou-se, a exemplo de todos de sua casta e Nação àquele tempo, ao final da infância com uma prima, também saindo da infância, Kasturbai.
Adulto, parte para estudar direito em Londres, formando-se em 1891 e regressando a sua terra para praticar a profissão. Dois anos depois vai, a convite, para a África do Sul, onde trabalha com uma empresa hindu e faceia as primeiras dificuldades diante do poderoso Império Britânico, que domina as Nações do mundo no século XIX e primeiros lustros do XX com o mesmo poder e descaso para outros povos com que o Império Ianque hoje.
A luta pela libertação da Índia
Em 1914 regressa à Índia em definitivo e dá início à sua luta pela independência da dominação britânica que já dura quase 3 séculos e, com igual vigor, pela Tradição de sua gente, em grande medida contaminada e fragilizada diante da infecção capitalista.
Como líder político e espiritual da Índia soube utilizar-se engenhosamente de toda a Tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalado pela dominação e deu muito que pensar àqueles que se consideravam “superiores” e por isso dominavam. Este sempre foi e segue sendo o discurso do dominador: uma pretensa “superioridade” que, ao fim e ao cabo demonstra-se circunscrever ao campo da belicosidade e ponto final. Gandhi centra sua luta na busca de demonstrar a superioridade moral dos hindus sobre seus dominadores britânicos e, assim, reaviva a mente de seus conterrâneos quanto a 2 ensinamentos, tão antigos quanto o hinduísmo: A-HIMSA – Não violência ou, como Gandhi preferia dizer, “Persistência pela Verdade” e SATIAGRAHA – Viver em santidade.
Tomemos a não violência. Gandhi pregava a resistência pacífica (não confundir com passiva; a não violência deve ser ativa e provocativa!). Não concordar em se submeter ao mal e estar disposto a dar até a vida se necessário for, para provar que está do lado do que é justo, bom e correto. Foi assim que, de demonstração maciça em demonstração maciça, o Império Britânico comprovou muitas vezes a superioridade moral daquele povo oprimido e dominado.
A famosa “Marcha para o Sal” foi um ponto de inflexão decisivo. Os Hindus, moradores da região banhada pelo Oceano não por acaso chamado de Índico, eram proibidos de produzir sal. O sal utilizado no cotidiano de todas as famílias tinha o fluxo, a produção e a circulação, monopolizadas pelos britânicos. Gandhi ensina os hindus a desobedecerem a esta sandice. Do centro da Índia, em 1930, faz saber ao Primeiro Ministro Britânico que se dirigiria ao mar para produzir sal num gesto de desobediência civil, ativa, provocativa e contudo pacífica. Foi acompanhado de um pequeno grupo e a este se foram agregando cada vez mais significativas massas humanas. Ao fim, a história registra que milhares de pessoas andaram mais de 320 Km a pé. Este contingente imenso de seres humanos chega à praia e começa a fazer sal. Qual o problema? O povo da Índia vai à praia banhada pelo Oceano Índico fazer sal para o seu consumo. O que têm os britânicos a ver com isso?
O controle do sal estava na raiz do controle de toda a economia hindu pelos britânicos. Tão logo Gandhi começa a fazer sal e ser imitado a dominação é colocada em xeque. Os ingleses já não controlam os indianos. Estes estão prestes a tomar seu destino em suas próprias mãos.
Outros fatores contribuem para a emancipação do povo hindu de maneira diferente daquela desejada por Gandhi que, mais de uma vez, fez um “jejum até a morte” para protestar contra a dominação britânica e pedir paz a seu povo. Em momentos considerados cruciais para a economia britânica Gandhi convocava o povo a “jornadas de jejum e meditação” – na prática ninguém trabalhava, mas Gandhi jamais falava ou mesmo pensava na palavra “greve”. A expressão apropriada dentro da Tradição hindu para o que se estava fazendo era “Jornada de jejum e meditação”.
Um Exemplo
Admirado por aliados e adversários, foi chamado pelo Primeiro Ministro Britânico Winston Churchill de “faquir despido”. A questão que marca é: um faquir despido, que se alimenta com uma côdea de arroz e uma tirina d’água por dia e se veste com uma peça de tecido feita por ele mesmo e que muito se assemelha a uma fralda, um homem com tal forma de comportamento e hábitos espartanos pode ser suspeito de corrupção? Alguém presumiria estar ele lutando por algo diferente do que diz?
Albert Einstein o saudou como “porta-voz da humanidade”.
Quando o armamento mais sofisticado está nas mãos do adversário, que domina, a resistência pacífica, fundada na resistência e persistência pela Verdade é o encaminhamento mais eficiente. Impossível ao hindu derrotar o dominador britânico através de guerrilhas ou luta armada. Por outro lado, utilizando a Verdade como arma seu poderio é inquestionável!
Encaminhar o processo político a partir de um resgate profundo do que de mais sincero, bonito e duradouro existe na Tradição e na Alma de seu povo, esta é uma das lições que nos deixa Mahatma Gandhi.
Pensamentos de Mahatma Gandhi
1
O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado; em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disto.
2
Creio poder afirmar, sem arrogância e com a devida humildade, que a minha mensagem e os meus métodos são válidos, em sua essência, para todo o mundo.
3
Acho que vai certo método através das minhas incoerências. Creio que há uma coerência que passa por todas as minhas incoerências assim como há na natureza uma unidade que permeia as aparentes diversidades.
4
As enfermidades são os resultados não só dos nossos atos como também dos nossos pensamentos.
5
Satyagraha - a força do espírito - não depende do número; depende do grau de firmeza.
6
Satyagraha e Ahimsa são como duas faces da mesma medalha, ou melhor, como as duas cades de um pequeno disco de metal liso e sem incisões. Quem poderá dizer qual é a certa? A não-violência é o meio. A Verdade, o fim.
7
A minha vida é um Todo indivisível, e todos os meus atos convergem uns nos outros; e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade.
8
Uma coisa lançou profundas raízes em mim: a convicção de que a moral é o fundamento das coisas, e a verdade, a substância de qualquer moral. A verdade tornou-se meu único objetivo. Ganhou importância a cada dia. E também a minha definição dela se foi constantemente ampliando.
9
Minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política.
10
A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade.
11
O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo a verdade não se torna erro pelo f ato de ninguém a ver.
12
O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente, que há no mundo.
13
O Amor e a verdade estão tão unidos entre si que é praticamente impossível separá-los. São como duas faces da mesma medalha.
14
O ahimsa (amor) não é somente um estado negativo que consiste em não fazer o mal, mas também um estado positivo que consiste em amar, em fazer o bem a todos, inclusive a quem faz o mal.
15
O ahimsa não é coisa tão fácil. É mais fácil dançar sobre uma corda que sobre o fio da ahimsa.
16
Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.
17
A única maneira de castigar quem se ama é sofrer em seu lugar.
18
É o sofrimento, e só o sofrimento, que abre no homem a compreensão interior.
19
Unir a mais firme resistência ao mal com a maior benevolência para com o malfeitor. Não existe outro modo de purificar o mundo.
20
A minha natural inclinação para cuidar dos doentes transformou-se aos poucos em paixão; a tal ponto que muitas vezes fui obrigado a descuidar o meu trabalho. . .
21
A não-violência é a mais alta qualidade de oração. A riqueza não pode consegui-Ia, a cólera foge dela, o orgulho devora-a, a gula e a luxúria ofuscam-na, a mentira a esvazia, toda a pressão não justificada a compromete.
22
Não-violência não quer dizer renúncia a toda forma de luta contra o mal. Pelo contrário. A não-violência, pelo menos como eu a concebo, é uma luta ainda mais ativa e real que a própria lei do talião - mas em plano moral.
23
A não-violência não pode ser definida como um método passivo ou inativo. É um movimento bem mais ativo que outros e exige o uso das armas. A verdade e a não-violência são, talvez, as forças mais ativas de que o mundo dispõe.
24
Para tornar-se verdadeira força, a não-violência deve nascer do espírito.
25
Creio que a não-violência é infinitamente superior à violência, e que o perdão é bem mais viril que o castigo...
26
A não-violência, em sua concepção dinâmica, significa sofrimento consciente. Não quer absolutamente dizer submissão humilde à vontade do malfeitor, mas um empenho, com todo o ânimo, contra o tirano. Assim um só indivíduo, tendo como base esta lei, pode desafiar os poderes de um império injusto para salvar a própria honra, a própria religião, a própria alma e adiantar as premissas para a queda e a regeneração daquele mesmo império.
27
O método da não-violência pode parecer demorado, muito demorado, mas eu estou convencido de que é o mais rápido.
28
Após meio século de experiência, sei que a humanidade não pode ser libertada senão pela não-violência. Se bem entendi, é esta a lição central do cristianismo.
29
Só se adquire perfeita saúde vivendo na obediência às leis da Natureza. A verdadeira felicidade é impossível sem verdadeira saúde, e a verdadeira saúde é impossível sem rigoroso controle da gula. Todos os demais sentidos estarão automaticamente sujeitos a controle quando a gula estiver sob controle. Aquele que domina os próprios sentidos conquistou o mundo inteiro e tornou-se parte harmoniosa da natureza.
30
A civilização, no sentido real da palavra, não consiste na multiplicação, mas na vontade de espontânea limitação das necessidades. Só essa espontânea limitação acarreta a felicidade e a verdadeira satisfação. E aumenta a capacidade de servir.
31
É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências dos próprios atos. É justo que a pessoa que come em demasia se sinta mal ou jejue. É injusto que quem cede aos próprios apetites fuja às conseqüências tomando tônicos ou outros remédios. É ainda mais injusto que uma pessoa ceda às próprias paixões animalescas e fuja às conseqüências dos próprios atos.
A Natureza é inexorável, e vingar-se-á completamente de uma tal violação de suas leis.
32
Aprendi, graças a uma amarga experiência, a única suprema lição: controlar a ira. E do mesmo modo que o calor conservado se transforma em energia, assim a nossa ira controlada pode transformar-se em uma função capaz de mover o mundo. Não é que eu não me ire ou perca o controle. O que eu não dou é campo à ira. Cultivo a paciência e a mansidão e, de uma maneira geral, consigo. Mas quando a ira me assalta, limito-me a controlá-la. Como consigo? É um hábito que cada um deve adquirir e cultivar com uma prática assídua.
33
O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física espiritual. Inicialmente escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo descobri, todavia, seu valor espiritual. E de repente dei conta de que eram esses momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus. Agora sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio.
34
Aqueles que têm um grande autocontrole, ou que estão totalmente absortos no trabalho, falam pouco. Palavra e ação juntas não andam bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio.
35
Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros.
36
Quem sabe concentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa.
37
A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor que o livro da humanidade?
38
Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas esteja tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível.
39
Nada mais longe do meu pensamento que a idéia de fechar-me e erguer barreiras. Mas afirmo, com todo respeito, que o apreço pelas demais culturas pode convenientementemente seguir, e nunca anteceder, o apreço e a assimilação da nossa. (...) Um aprendizado acadêmico, não baseado na prática, é como um cadáver embalsamado, talvez para ser visto, mas que não inspira nem nobilita nada. A minha religião proíbe-me de diminuir ou desprezar as outras culturas, e insiste, sob pena de suicídio civil, na necessidade de assimilar e viver a vida.
40
Ler e escrever, de per si, não são educação. Eu iniciaria a educação da criança, portanto, ensinando-lhe um trabalho manual útil, e colocando-a em grau de produzir desde o momento em que começa sua educação. Desse modo todas as escolas poderiam tornar-se auto-suficientes, com a condição de o Estado comprar os manufaturados.
Acredito que um tal sistema educativo permitira o mais alto desenvolvimento da mente e da alma. É preciso, porém, que o trabalho manual não seja ensinado apenas mecanicamente, como se faz hoje, mas cientificamente, isto é, a criança deveria saber o porquê e o como de cada operação.
Os olhos, os ouvidos e a língua vêm antes da mão. Ler vem antes de escrever e desenhar antes de traçar as letras do alfabeto.
Se seguirmos este método, a compreensão das crianças terá oportunidade de se desenvolver melhor do que quando é freada iniciando a instrução pelo alfabeto.
41
Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é "tabu".
42
A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência.
43
Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão.
44
Quem busca a verdade, quem obedece a lei do amor, não pode estar preocupado com o amanhã.
45
As divergências de opinião não devem significar hostilidade. Se fosse assim, minha mulher e eu deveríamos ser inimigos figadais. Não conheço duas pessoas no mundo que não tenham tido divergências de opinião. Como seguidor da Gita (Bhagavad Gita), sempre procurei nutrir pelos que discordam de mim o mesmo afeto que nutro pelos que me são mais queridos e vizinhos.
46
Continuarei confessando os erros cometidos. O único tirano que aceito neste mundo é a "silenciosa e pequena voz" dentro de mim. Embora tenha que enfrentar a perspectiva de formar minoria de um só, creio humildemente que tenho coragem de encontrar-me numa minoria tão desesperadora.
47
Nas questões de consciência a lei da maioria não conta.
48
Estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza.
49
Acredito na essencial unidade do homem, e, portanto na unidade de tudo o que vive. Por conseguinte, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida.
50
Minha missão não se esgota na fraternidade entre os indianos. A minha missão não está simplesmente na libertação da Índia, embora ela absorva, em prática, toda a minha vida e todo o meu tempo. Por meio da libertação da Índia espero atuar e desenvolver a missão da fraternidade dos homens.
O meu patriotismo não é exclusivo. Engloba tudo. Eu repudiaria o patriotismo que procurasse apoio na miséria ou na exploração de outras nações. O patriotismo que eu concebo não vale nada se não se conciliar sempre, sem exceções, com o maior bem e a paz de toda a humanidade.
51
A mulher deve deixar de se considerar o objeto da concupiscência do homem. O remédio está em suas mãos mais que nas mãos do homem.
52
Uma vida sem religião é como um barco sem leme.
53
A fé – um sexto sentido – transcende o intelecto sem contradizê-lo.
54
A minha fé, nas densas trevas, resplandece mais viva.
55
Somente podemos sentir deus destacando-nos dos sentidos.
56
O que eu quero alcançar, o ideal que sempre almejei com sofreguidão (...) é conseguir o meu pleno desenvolvimento, ver Deus face-a-face, conseguir a libertação do Eu.
57
Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma.
58
A oração salvou-me a vida. Sem a oração teria ficado muito tempo sem fé. Ela salvou-me do desespero. Com o tempo a minha fé aumentou e a necessidade de orar tornou-se mais irresistível... A minha paz muitas vezes causa inveja. Ela vem-me da oração. Eu sou um homem de oração. Como o corpo se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura.
59
O Jejum é a oração mais dolorosa e também a mais sincera e compensadora.
60
O Jejum é uma arma potente. Nem todos podem usá-la. Simples resistência física não significa aptidão para jejum. O Jejum não tem absolutamente sentido sem fé em Deus.
61
Para mim nada mais purificador e fortificante que um jejum.
62
Os meus adversários serão obrigados a reconhecer que tenho razão. A verdade triunfará. . . Até agora todos os meus jejuns foram maravilhosos: não digo em sentido material, mas por aquilo que acontece dentro de mim. É uma paz celestial.
63
Jejum para purificar a si mesmo e aos outros é uma antiga regra que durará enquanto o homem acreditar em Deus.
64
Tenho profunda fé no método de jejum particular e público. . . Sofrer mesmo até a morte, e, portanto mesmo mediante um jejum perpétuo, e a arma extrema do satyagrahi. É o último dever que podemos cumprir. O Jejum faz parte de meu ser, como acontece, em maior ou menor escala, com todos os que procuraram a verdade. Eu estou fazendo uma experiência de ahimsa em vasta escala, uma experiência talvez até hoje desconhecida pela história.
65
Quem quer levar uma vida pura deve estar sempre pronto para o sacrifício.
66
O dever do sacrifício não nos obriga a abandonar o mundo e a retirar-nos para uma floresta, e sim a estar sempre prontos a sacrificar-nos pelos outros.
67
Quem venceu o medo da morte venceu todos os outros medos.
68
Os louvores do mundo não me agradam; pelo contrário, muitas vezes me entristecem.
69
Quando ouço gritar Mahatma Gandhi Ki jai, cada som desta frase me transpassa o coração como se fosse uma flecha. Se pensasse, embora por um só instante, que tais gritos podem merecer-me o swaraj; conseguiria aceitar o meu sofrimento. Mas quando constato que as pessoas perdem tempo e gastam energias em aclamações vãs, e passam ao longo quando se trata de trabalho, gostaria que, em vez de gritarem meu nome, me acendessem uma pira fúnebre, na qual eu pudesse subir para apagar uma vez por todas o fogo que arde o coração.
70
Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias.
71
Sei por experiência que a castidade é fácil para quem é senhor de si mesmo.
72
O brahmacharya é o controle dos sentidos no pensamento, nas palavras, e na ação. . . O que a ele aspira não deixará nunca de ter consciência de suas faltas, não deixará nunca de perseguir as paixões que se aninham ainda nos ângulos escuros de seu coração, e lutará sem trégua pela total libertação.
73
O brahmacharya, como todas as outras regras, deve ser observado nos pensamentos, nas palavras e nas ações. Lemos na Gita e a experiência confirma-no-lo todos os dias que quem domina o próprio corpo, mas alimenta maus pensamentos faz um esforço vão. Quando o espírito se dispersa, o corpo inteiro, cedo ou tarde, o segue na perdição.
74
Por vezes pensa-se que e muito difícil, ou quase impossível conservar castidade. O motivo desta falsa opinião e que freqüentemente, a palavra castidade é entendida em sentido limitado demais.
Pensa-se que a castidade é o domínio das paixões animalescas. Esta idéia de castidade é incompleta e falsa.
75
Vivo pela libertação da índia e morreria por ela, pois e parte da verdade.
Só uma Índia livre pode adorar o Deus verdadeiro. Trabalho pela libertação da Índia porque o meu Swadeshi me ensina que, tendo nascido e herdado sua cultura, sou mais apto a servir à Índia e ela tem prioridade de direitos aos meus serviços. Mas o meu patriotismo não é exclusivo; não tem por meta apenas não fazer mal a ninguém, mas fazer bem a todos no verdadeiro sentido da palavra. A libertação da Índia, como eu a concebo, não poderá nunca constituir ameaça para o mundo.
76
Possuo a não-violência do corajoso? Só a morte dirá. Se me matarem e eu com uma oração nos lábios pelo meu assassino e com o pensamento em Deus, ciente da sua presença viva no santuário do meu coração, então, e só então, poder-se-á dizer que possuo a não-violência do corajoso.
77
Não desejo morrer pela paralisação progressiva das minhas faculdades, corno um homem vencido. A bala de meu assassino poderia pôr fim à minha vida. Acolhê-la-ia com alegria.
78
A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma toda a família humana. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião.
79
A força de um homem e de um povo está na não-violência. Experimentem.
Sobre a Revolução não violenta de Mahatma Gandhi
" Gandhi continua o que o Buddha começou. Em Buddha o espírito é o jogo do amor isto é, a tarefa de criar condições espirituais diferentes no mundo; Gandhi dedica-se a transformar condições existenciais"
Albert Schweitzer
" Não violência é a lei de nossa espécie como violência é a lei do bruto. O espírito mente dormente no bruto, e ele não sabe nenhuma lei mas o de poder físico. A dignidade de homem requer obediência a uma lei mais alta - a força do espírito ".
Mahatma Gandhi
" Se o homem só perceberá que é desumano obedecer leis que são injustas, a tirania de nenhum homem o escravizará".
Mahatma Gandhi
"Não pode haver nenhuma paz dentro sem verdadeiro conhecimento ".
Mahatma Gandhi
"Para autodefesa, eu restabeleceria a cultura espiritual. O melhor e autodefesa mais duradoura é autopurificação ".
Mahatma Gandhi
BIOGRAFIA: Heráclito de Éfeso
As palavras de Heráclito vêm provocando debates acirrados há vinte e seis séculos. Muito se discutiu sobre ele entre já entre os gregos e romanos, mais tarde foi tema de debates entre cristãos e muçulmanos e na filosofia moderna e contemporânea ressurge sempre de tempos em tempos com renovado interesse. De sua Obra só conhecemos pouco mais de uma centena de frases, os aforismo sempre citados em pelos mais diversos autores a partir de uma das muitas coletâneas que se fizeram.
Aqueles fragmentos de Heráclito são aforismos, frases definitivas, cortantes, frente às quais ninguém passa impunemente. Não provém de um texto único. Já nasceram na forma de aforismos que, por causa de sua natureza oracular, sibilina, granjearam a seu Autor a fama de “obscuro”.
O pensamento aforismático não oculta nem revela a plenitude do saber do pensador. Limita-se a indicá-lo e cabe a quem interpreta buscar-lhe a compreensão.
Como sinais, os aforismos de Heráclito não revelam nem ocultam seu pensar, mas o indica por sinais fulgurantes. Obscuro ou luminoso, de acordo com a perspectiva que se adote, trazem uma reflexão nova a partir de uma nova perspectiva, a do fogo.
O que equivale, guardadas as devidas proporções, à nossa Tabela Periódica de Elementos Químicos, entre os gregos reduz-se a quatro grandes princípios originais: fogo, água, ar, terra. Para os mais conservadores, a terra, é o primeiro princípio. Para aqueles que se adaptam às circunstâncias, é a água. Para os suaves é o ar. Para Heráclito e todos os revolucionários é o fogo.
Tudo é feito pelo fogo e tudo se dissipa no fogo. Tudo está submetido ao destino. O movimento – o devenir perpétuo – determina toda a harmonia do mundo.
O fogo eternamente vivo
“Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos homens o fez; mas foi sempre, é e será um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida” - nessa frase muitos vêem uma das chaves para a decifração do pensamento de Heráclito de Éfeso, que já na Antiguidade tornou-se conhecido como “o Obscuro”.
De sua vida muito pouco se sabe com certeza. Nascido em Éfeso, colônia grega da Ásia Menor, teria atingido o auge de sua produtividade por ocasião da 69ª Olimpíada (504 – 501 a.C.). Pertencia à família real de sua cidade e conta-se que teria renunciado à dignidade de se tornar rei em favor de seu irmão. A obra que deixou está constituída por uma série de frases isoladas, durante muito tempo consideradas como fragmentos de um suposto texto original; posteriormente, a crítica filosófica reconheceu que se tratava, na verdade, de aforismos. Modernamente, a seqüência desses aforismos é apresentada segundo duas numerações: a inglesa, devida a Bywater, ou a alemã, de Diels.
A apresentação aforismática de seu pensamento e o estilo intencionalmente sibilino fazem de Heráclito um dos pensadores pré-socráticos de mais difícil interpretação. Natural, portanto, que a história da filosofia apresente uma sucessão de versões de seu pensamento, dependentes sempre da perspectiva assumida pelo próprio intérprete.
Para a solução do “problema heraclítico” dois pontos parecem oferecer bases mais seguras: a) o confronto das proposições de Heráclito com seu contexto cultural (o que o próprio filósofo parece indicar, na medida em que se apresenta como crítico implacável de idéias e personagens de sua época ou da tradição cultural grega); b) o estilo de Heráclito, que revela um uso peculiar da linguagem.
Se há aforismos de Heráclito que não manifestam obscuridade são justamente os de cunho crítico. Aristocrata, Heráclito não afirma apenas que “um só é dez mil para mim, se é o melhor”, como também faz acerbas acusações à mentalidade vulgar desses homens que “não sabem o que fazem quando estão despertos, do mesmo modo que esquecem o que fazem durante o sono”. A religiosidade popular é também por ele vergastada: “Os mistérios praticados entre os homens são mistérios profanos”. E explica: “É em vão que eles se purificam sujando-se de sangue, como um homem que tivesse andado na lama e quisesse lavar os pés na lama...” Nem mesmo alguns dos nomes mais reverenciados na época são poupados: “O fato de aprender muitas coisas não instrui a inteligência; do contrário teria instruído Hesíodo e Pitágoras, do mesmo modo que Xenófanes e Hecateu”. Noutro aforismo Pitágoras é acusado de possuir uma polimatia (conhecimento de muitas coisas) que não passava de uma “arte de maldade”, enquanto Hesíodo, “o mestre da maioria dos homens, os homens pensam que ele sabia muitas coisas, ele que não conhecia o dia ou a noite”. Nem Homero escapa: “Homero errou em dizer: ‘Possa a discórdia se extinguir entre os deuses e os homens!’ Ele não via que suplicava pela destruição do universo; porque, se sua prece fosse atendida, todas as coisas pereceriam...”.
Em meio a tantas críticas, Heráclito abre, entretanto, uma exceção: para a Sibila, “que com seus lábios delirantes diz coisas sem alegria, sem ornatos e sem perfume”, mas que atinge com sua voz para além de mil anos, graças ao deus que está nela. Percebe-se, dessa maneira, que a adoção do estilo oracular é intencional em Heráclito, que nele encontra a via adequada - indireta, sugestiva - para comunicar seu pensamento: “O mestre a que pertence o oráculo de Delfos não exprime nem oculta seu pensamento, mas o faz ver através de um sinal”. O exemplo do deus de Delfos e da Sibila parece mostrar a Heráclito a diferença que separa as palavras do pensamento (logos), a mesma que distancia a inteligência privada - o “sono” em que está imersa a mentalidade vulgar - da inteligência comum, a “vigília” daquele que se eleva acima dos muitos conhecimentos e reconhece “que todas as coisas são Um”.
A unidade dos opostos
O que diz o Logos, do qual Heráclito se faz o anunciador e em nome do qual condena o torpor da multidão ou a polimatia dos supostos sábios, é isto: a unidade fundamental de todas as coisas. Essa é “a natureza que gosta de se ocultar”. Mas a noção de unidade fundamental, subjacente à multiplicidade aparente, já estava expressa pelo menos desde Anaximandro de Mileto. A novidade trazida por Heráclito - e que lhe permite julgar tão duramente seus antecessores e contemporâneos - está, na verdade, em considerar aquela unidade como uma unidade de tensões opostas. Esta teria sido sua grande descoberta: existe uma harmonia oculta das forças opostas, “como a do arco e da lira”. A Razão (Logos) consistiria precisamente na unidade profunda que as oposições aparentes ocultam e sugerem: os contrários, em todos os níveis da realidade, seriam aspectos inerentes a essa unidade. Não se trata, pois, de opor o Um ao Múltiplo, como Xenófanes e o eleatismo: o Um penetra o Múltiplo e a multiplicidade é apenas uma forma da unidade, ou melhor, a própria unidade. Daí a insuficiência do uso corrente das palavras: somente o logos (razão-discurso) do filósofo consegue apreender e formular - não ao ouvido mas ao espírito, não diretamente mas por via de sugestões sibilinas - aquela simultaneidade do múltiplo (mostrado pelos sentidos) e da unidade fundamental (descortinada pela inteligência desperta, em “vigília”).
Proclama Heráclito: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso (logos), e confessar que todas as coisas são Um”. O Logos seria a unidade nas mudanças e nas tensões, a reger todos os planos da realidade: o físico, o biológico, o psicológico, o político, o moral. É a unidade nas transformações: “Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, superabundância-fome; mas ele assume formas variadas, do mesmo modo que o fogo, quando misturado a arômatas, é denominado segundo os perfumes de cada um deles”. Por isso Homero errara em pedir que cessasse a discórdia entre os deuses e os homens: “O que varia está de acordo consigo mesmo”. A harmonia não é aquela que Pitágoras propunha, de supremacia do Um, nem a verdadeira justiça é a que Anaximandro havia concebido, ou seja, a extinção dos conflitos e das tensões através da compensação dos excessos de cada qualidade-substância em relação a seu oposto. A justiça não significa apaziguamento; pelo contrário, “o conflito é o pai de todas as coisas: de alguns faz homens; de alguns, escravos; de alguns, homens livres”. Mas ver a realidade como fundamentalmente uma tensão de opostos não significa necessariamente optar pela guerra, no plano político; “guerra”, neste último sentido, é apenas um dos pólos de uma tensão permanente (“Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz...”). E essa tensão, que constitui a verdadeira harmonia, necessita, para perdurar, de ambos os opostos.
Numa série de aforismos, Heráclito enfatiza o caráter mutável da realidade, repetindo uma tese que já surgira nos mitos arcaicos e, com dimensão filosófica, desde os milesianos. Mas em Heráclito a noção de fluxo universal torna-se um mote insistentemente glosado: “Tu não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”. O império do Logos em sua feição física aparece então como as transformações do fogo, que são “em primeiro lugar, mar; e a metade do mar é terra e a outra metade vento turbilhonante”. O Logos-Fogo exerce uma função de racionalização nas trocas substanciais análoga à que a moeda vinha desempenhando na Grécia, desde o século VII: “Todas as coisas são trocadas em fogo e o fogo se troca em todas as coisas, como as mercadorias se trocam por ouro e o ouro é trocado por mercadorias”. Todavia, as transformações que integram o fluxo universal não significam desgoverno e desordem; elo contrário, o Logos-Fogo é também Razão universal e, por isso, impõe medida ao fluxo: “Este mundo (...) foi sempre, é e será sempre um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”. A regularidade e a medida são garantidas pela simultaneidade dos dois caminhos de transformação que compõem o fluxo universal: é ao mesmo tempo que ocorre a troca do fogo em todas as coisas e de todas as coisas em fogo, pois “o caminho para o alto e o caminho para baixo são um e o mesmo”. Isso permite então afirmar: “...e a, metade do mar é terra, a metade vento turbilhonante”. Assim, o que garante a tensão intrínseca às coisas é aquilo mesmo que as sustenta: a medida imposta pelo Logos, essa “harmonia oculta” que “vale mais que harmonia aberta”.
A consciência da fugacidade das coisas gera uma nota de pessimismo que atravessa o pensamento de Heráclito: “O homem é acendido e apagado como uma luz no meio da noite”. Mas o pessimismo advém, sobretudo, de reconhecer o torpor em que vive a maioria dos homens, ignorantes da lei universal que tudo rege. Por isso, o discurso (logos) do filosofo, embora pretendendo ser a manifestação da Razão universal (Logos), exprime-se como um solitário mono-logos, acima dos homens comuns, “esses loucos que quando ouvem são como surdos”.
“Pré”-socráticos?
Desgraçadamente a filosofia ocidental fez consagrar esta denominação absurda, como se todo o pensamento anterior tendesse a Sócrates, Platão e Aristóteles – de resto, gigantes da sabedoria universal – o que não é fato. Dentre os considerados pejorativamente “pré”-socráticos há muitos que, como Heráclito, seguem caminho totalmente diversos e até mesmo contemporâneos de Sócrates, evidenciando a ilogicidade do epíteto a eles apodado injustamente.
Maquiavel informa que, em todos os nossos empreendimentos, dependemos em 50% da “virtù” e, em 50% da fortuna, ou seja, da pura sorte. Sócrates encontrou em Platão um digno seguidor que encontrou em Aristóteles um seguidor e aperfeiçoador. O mesmo não se pode dizer de outros pensadores como Heráclito, cujo pensamento fica obscuro, mal interpretado e vilipendiado até praticamente ser redescoberto no século XIX por dois gigantes do pensamento ocidental: Hegel e Nietzsche.
Platão ministrava suas prédicas nos jardins de Academo, vindo daí o nome “academia”. Aristóteles passeava com seus discípulos por um terreno próximo ao templo de Apolo Lyceo, o “bosque dos lobos”. Daí a denominação “Liceu”. Que o ocidente esteja polvilhado de academias e liceus é claro índice de uma vitória histórica de uma certa vertente da filosofia. Apenas para comparararmos, o “Jardim”, proposta revolucionária de Epicuro, está hoje reduzido (e se reduzindo cada vez mais) à educação infantil...
Ao contrário de se constituir em mera denominação cronológica, a expressão “pré”-socrático traz consigo pesada gama de preconceito e valoração. Como se todo o pensamento multifacético da Grécia clássica anterior – e mesmo contemporâneo! – a Sócrates e Platão teriam sido pensadores menores, míseros precursores de um pensamento mais sofisticado...
Não é uma denominação ingênua. É um problema político da maior gravidade empacotar no mesmo balaio expoentes das mais diversas áreas, gente de brilho ímpar como Parmênides, Zenão, Empédocles, Anaxágoras e mesmo gênios como Demócrito e os sofistas que eram contemporâneos de Sócrates! Não! Estes filósofos só mesmo por elevada má-fé calculada poderia ser considerados “pré”-socráticos.
Com tal estratégia política, por quase vinte séculos se obscureceu quase a ponto da perda total, conceitos fundamentais do período inaugural da filosofia grega que, ou foram solenemente sepultados ou mal digeridos por Sócrates e seus seguidores... Conceitos como “Dialética”, “Physis”, “Logos”, “Aletheia”... Perderam-se muitos caminhos recém-inaugurados e constitui árdua tarefa da filosofia moderna resgatar aqueles valores em busca até mesmo da superação deste mundo unidimensional em que nos enfiou, em última análise, o escolasticismo.
Deformando o pensamento de Heráclito
As teses dos primeiros pensadores que não foram aceitas por Platão ou foram descartadas por Aristóteles caíram no esquecimento ou sofreram contínuas perseguições. Os atomistas, desprezados por Platão, que contra eles moveu uma campanha de silêncio, só foram resgatados pelos Renascentistas. Os sofistas, contra os quais Platão moveu cerrada luta, passaram à posteridade – mesmo os de estatura de Górgias e Protágoras – como mestres falaciosos, criadores de raciocínios falsos com aparência de verdadeiros (sofismas). Desta má fama, somente o século XX começou a libertá-los...
Com relação a Heráclito a situação é a inda mais grave! Platão pensa conhecer-lhe o pensamento e chega mesmo a adotar o que julga serem algumas de suas teses. Desde jovem, teve como tutor um mestre chamado Crátilo, que se auto-proclamava heracliteano. Esse mau discípulo transmitiu a Platão um Heráclito distorcido e amputado de seu centro: as sentenças sobre o Logos, que falam sobre o pensamento, a palavra, o conhecimento, a sabedoria, a linguagem...
Crátilo ensinou a Platão que, segundo Heráclito, todos os objetos sensíveis estão em constante fluxo, em devenir perpétuo, transformando-se continuamente (o que confere com o pensamento original) mas que não é possível haver conhecimento de tais entes (o que é um absurdo!). Crátilo aceita de Heráclito o mobilismo mas, diante da sentença “ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”, com que Heráclito aponta o constante fluir de todos os entes, Crátilo deduz ser impossível entrar no rio sequer uma única vez! E ainda acrescentava que, devido à rapidez com que tudo se transforma, o conhecimento era impossível, nada se podia saber, nada se podia afirmar... Se Crátilo fosse pouca coisa mais honesto intelectualmente e coerente com a sua concepção, teria permanecido calado e, com isso, proporcionado um grande bem à história da filosofia...
Resgatando Heráclito de Éfeso!
Por muitos séculos um Heráclito mal interpretado por Crátilo e Platão – além da confusão com a expressão “dialética” – grassou soberano em toda a filosofia ocidental. Foi somente na virada do século XIX para o XX que Hermann Diels, um importante helenista, elaborou intenso e extenso estudo filológico reunindo grande documentação de que resultou a publicação dos “Fragmentos dos Pré-Socráticos”. Graças ao trabalho de Diels, dispomos hoje de muito mais fonte de estudos desta temática, uma vez que os estudos outrora dispersos e não sistematizados, agora são encontrados em sua obra monumental.
Antes de Diels, Friedrich Nietzsche, notável filólogo e filósofo, percebeu ao ler os aforismos de Heráclito, o quanto o predomínio do escolasticismo e da racionalidade platônico-aristotélica haviam traído, durante séculos, a originalidade do pensador de Éfeso.
Já Hegel, em suas preleções sobre a História da Filosofia, afirmava não existir uma única frase de Heráclito que ele não incorporou em sua Lógica.
A seguirmos a linha de raciocínio de Hegel, Crátilo cometeu um erro crasso ao julgar e divulgar que Heráclito considerava impossível o conhecimento.
De fato, se Heráclito houvesse dito que não há conhecimento de um mundo que constantemente se transforma, se não tivesse, pelo contrário, afirmado que as transformações se dão segundo medidas e que está ao alcance do homem captar os modos das transformações, não teria despertado o interesse de Hegel. Conceder à razão a possibilidade de conhecer o que se transforma é conceber uma racionalidade também dinâmica. O que Hegel mais admirou em Heráclito foi ter pensado, antes dele, essa possibilidade...
Penetremos um pouco mais no universo de Heráclito. Segue um grupo de fragmentos, oriundo da compilação feita magistralmente por Gerd Bornheim, mas cuja disposição original se perdeu. Podemos dispô-las diversamente, construindo um mosaico cada vez mais variado de pensamentos.
1) Os asnos preferem palha ao ouro.
2) Este Logos, os homens, antes ou depois de o haverem ouvido, jamais o compreendem. Ainda que tudo aconteça conforme este Logos, parece não terem experiência experimentando-se em tais palavras e obras, como eu as exponho, distinguindo-se em tais palavras e obras, como eu as exponho, distinguindo e explicando a natureza de cada coisa. Os outros homens ignoram o que fazem em estado de vigília, assim como esquecem o que fazem durante o sono.
3) Por isso, o comum deve ser seguido. Mas, a despeito de o Logos ser comum a todos, o vulgo vive como se cada um tivesse um entendimento particular.
4) (O Sol tem) a largura de um pé humano.
5) Se a felicidade consistisse nos prazeres do corpo, deveríamos proclamar felizes os bois, quando encontram ervilhas para comer.
6) Em vão procuram purificar-se, manchando-se com novo sangue de vítimas, como se, sujos com lama, quisessem lavar-se com lama. E louco seria considerado se alguém o descobrisse agindo assim. Dirigem também suas orações a estátuas, como se fosse possível conversar com edifícios, ignorando o que sejam os deuses e os heróis.
7) (O Sol é) novo todos os dias.
8) Se todas as coisas se tornassem fumaça, conhecer-se-ia com as narinas.
9) Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia.
10) Correlações: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e desarmonia, e de todas as coisas, um, e de um, todas as coisas.
11) Tudo o que rasteja é custodiado pelos golpes (divinos).
12) Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas. Mas também almas são exaladas do úmido.
13) (Os porcos) alegram-se na lama (mais do que na água limpa).
14) (A quem profetiza Heráclito?) Aos noctívagos, aos magos, às bacantes, às mênades e aos mistas. (A estes ameaça com o castigo após a morte, a estes profetiza o fogo). Pois o que os homens chamam mistérios (...).
15) Não fossem para Dionísio as pompas organizadas, com cantos fálicos, seriam os atos mais vergonhosos; o mesmo é, contudo, Hades e Dionísio, pelo qual deliram e festejam as Lenéas.
16) Quem se poderá esconder da (luz) que nunca se deita?
17) Muitos não entendem estas coisas, mesmo as encontrando em seu caminho, e não as entendem quando ensinados; mas pensam saber.
18) Se não tiveres esperança, não encontrarás o inesperado, pois não é encontradiço e é inacessível.
19) Homens que não sabem escutar nem falar.
20) (Heráclito parece considerar o nascimento uma infelicidade ao dizer:) Desde que nasceram querem viver e sofrer sua sorte mortal – ou antes descansar –, e deixam filhos para haver outras sortes mortais.
21) Morto é tudo o que nós vemos acordados; sonho, tudo o que nós vemos dormindo.
22) Os que procuram ouro, cavam em muita terra e pouco encontram.
23) Não houvesse isso (a injustiça) ignorariam o próprio nome de justiça.
24) Deuses e homens honram os caídos em combate.
25) Quanto maior for a morte, maiores os destinos.
26) O homem, na noite, acende a si mesmo uma luz, quando a lua dos seus olhos se apaga. Vivo, toca na morte, quando adormecido; acordado, toca os que dormem.
27) O que aguarda os homens após a morte, não é nem o que esperam nem o que imaginam.
28) Apenas a probabilidade é o que mais estimado conhece e guarda. Mas a Justiça saberá ocupar-se dos que tramam mentiras e de seus testemunhos.
29) Uma coisa preferem os melhores a tudo: a glória eterna às coisas perecíveis; mas a massa empanturra-se como o gado.
30) Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida.
31) As transformações do fogo: primeiro o mar; e a metade do mar é a terra, a outra metade o vento quente. A terra dilui-se em mar, e esta recebe a sua medida segundo a mesmo lei, tal como era antes de se tornar terra.
32) O Uno, o único sábio, recusa e aceita ser chamado pelo nome de Zeus.
33) Lei é também obedecer à vontade de um só.
34) Também quando ouvem não compreendem, são como mudos. Justificam o provérbio: presentes, estão ausentes.
35) De muitas coisas devem homens amantes da sabedoria estar avisados.
36) Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo, forma-se a água, e da água a alma.
37) Porcos banham-se na lama, pássaros no pó e na cinza.
38) (Tales, segundo alguns), foi o primeiro a pesquisar os astros... (Também Heráclito e Demócrito são disto testemunhas).
39) Em Priene viveu Bias, filho de Teutanes, cuja fama é maior que a dos outros.
40) A polimatia não instrui a inteligência. Não fosse assim teria instruído Hesíodo e Pitágoras, Xonófanes e Hecateu.
41) Só uma coisa é sábia: conhecer o pensamento que governa tudo através de tudo.
42) Homero deveria ser expulso dos jogos públicos e ser castigado. Também Arquíloco.
43) Melhor apagar a desmedida que um incêndio.
44) O povo deve lutar por sua lei como pelas muralhas.
45) Mesmo percorrendo todos os caminhos, jamais encontrarás os limites da alma, tão profundo é o seu Logos.
46) (Chamava a) presunção, doença sagrada (e a vista, enganadora).
47) Não devemos julgar apressadamente as grandes coisas.
48) O arco tem por nome a vida, e por obra a morte.
49) Um vale aos meus olhos dez mil, se é o melhor.
49a) Descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos.
50) (Heráclito afirma a unidade de todas as coisas: do separado e do não separado, do gerado e do não gerado, do mortal e do imortal, do Logos e do eterno, do pai e do filho, de Deus e da injustiça). É sábio que os que ouviram, não a mim, mas ao Logos, reconheçam que todas as coisas são um.
51) Eles não compreendem como, separando-se podem harmonizar-se: harmonia de forças contrárias, como o arco e a lira.
52) O tempo é uma criança que brinca, movendo as pedras do jogo para lá e para cá; governo de criança.
53) A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei; de uns fez deuses, de outros, homens; de uns, escravos, de outros, homens livres.
54) A harmonia invisível é mais forte que a visível.
55) Prefiro tudo aquilo que se pode ver, ouvir e entender.
56) Os homens se enganam no conhecimento das coisas visíveis, como Homero, o mais sábio dos helenos. Pois também àqueles enganavam os jovens, quando catavam piolhos e diziam: tudo o que vimos e pegamos, nós abandonamos; tudo o que não vimos nem pegamos, levamos conosco.
57) A maioria tem por mestre Hesíodo. Estão convictos ser o que mais sabe – ele, que nem sabia distinguir o dia da noite. Pois é uma e a mesma coisa.
58) (Bem e mal são uma e a mesma coisa). Os médicos cortam, queimam (torturam de todos os modos os doentes, exigem) um salário, ainda que nada mereçam, fazendo(lhes) um bem semelhante (à doença).
59) O caminho da espiral sem fim é reto e curvo, é um e o mesmo.
60) O caminho para baixo e o caminho para cima é um e o mesmo.
61) O mar: a água mais pura e a mais abominável: aos peixes, potável e saudável; aos homens, impotável e prejudicial.
62) Imortais, mortais; mortais, imortais. A vida destes é a morte daqueles e a vida daqueles a morte destes.
63) Diante dele (Deus), levantam-se, e despertam vigias dos vivos e dos mortos.
64) O relâmpago governa o universo.
65) (Fogo:) carência e abundância.
66) Pois tudo o fogo, aproximando-se, julgará (e condenará).
67) Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, abundância e fome. Mas toma formas variadas, assim como o fogo, quando misturado com essências, toma o nome segundo o perfume de cada uma delas.
67a) Assim como a aranha, instalada no centro de sua teia, sente quando uma mosca rompe algum fio (da teia) e por isso acorre rapidamente, quase aflita pelo rompimento do fio, assim a alma do homem, ferida alguma parte do corpo, apressadamente acode, quase indignada pela lesão do corpo, ao qual está ligada firme e harmoniosamente.
70) (Dizia que as opiniões dos homens são) jogos de crianças.
71) (Devemos lembrar-nos também do homem) que esquece para onde leva o caminho.
72) Sobre o Logos, com o qual estão em constante relação (e que governa todas as coisas), estão em desacordo, e as coisas que encontram todos os dias lhes parecem estranhas.
73) Não se deve agir nem falar como os que dormem.
75) Os adormecidos, (chama Heráclito, creio eu,) operários e colaboradores nos acontecimentos do cosmos.
76) O fogo vive a morte da terra e o ar vive a morte do fogo; a água vive a morte do ar e a terra a da água.
77) Tornar-se úmidas, para as almas, é prazer ou morte. (O prazer consiste no início da vida. E em outro lugar diz:) Nós vivemos a morte delas (das almas) e eles vivem a nossa morte.
78) O espírito do homem não tem conhecimentos, mas o divino tem.
79) O homem é infantil frente à divindade, assim como a criança frente ao homem.
80) É necessário saber que a guerra é o comum; é a justiça, discórdia; e que tudo acontece segundo discórdia e necessidade.
81) Pitágoras ancestral dos charlatães.
82) O mais belo símio é feio comparado ao homem.
83) O mais sábio dos homens, comparado a Deus, parecer-se-á um símio, em sabedoria, beleza e todo o resto.
84a) Movendo-se, descansa (o fogo etéreo do corpo humano).
84b) É cansativo servir e obedecer sempre aos mesmos (senhores).
85) Lutar contra os desejos é difícil. Pois o que exige, compra a alma.
86) (Grande parte do divino) subtrai-se ao conhecimento, por falta de confiança.
87) Um homem tolo assusta-se a cada palavra.
88) Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente.
89) Para aqueles que estão em estado de vigília, há um mundo único e comum.
90) O fogo se transforma em todas as coisas e todas as coisas se transformam em fogo, assim como se trocam as mercadorias por ouro e o ouro por mercadorias.
91) Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa-se, reúne-se; avança e se retira.
92) A Sibila, que com boca delirante, pronuncia palavras ásperas, secas e sem artifícios, (fazendo-as ressoar durante mil anos). Pois o Deus a inspira.
93) O senhor, cujo oráculo está em Delfos, não fala nem esconde: ele indica.
94) O Sol não ultrapassará os seus limites; se isto acontecer, as Eríneas, auxiliares da Justiça, saberão descobri-lo.
95) Melhor é dissimular sua ignorância. (Isto é difícil no desenfreio e ao beber).
96) Os cadáveres deveriam ser lançados fora como estrume.
97) Os cães ladram àqueles que não conhecem.
98) As almas aspiram o aroma no Hades.
99) Não houvesse o Sol, seria noite, a despeito das demais estrelas.
100) (...) o tempo próprio, que traz todas as coisas.
101) Eu me procurei a mim próprio.
101a) Os olhos são testemunhos mais agudos que os ouvidos.
102) Para Deus tudo é belo e bom e justo; os homens, contudo, julgam umas coisas injustas e outras justas.
103) Na circunferência, o princípio e o fim se confundem.
104) Qual é o seu espírito ou o seu entendimento? Acreditam nos cantores de rua e seu mestre á a massa, pois isto não sabem: “A maioria é má e poucos são os bons.”
106) (Heráclito censura Hesíodo por considerar uns dias bons e outros maus). Por ignorar que a natureza de cada dia é uma e a mesma.
107) Maus testemunhos para os homens são os olhos e os ouvidos, se suas almas são bárbaras.
108) De quantos ouvi as palavras, nenhum chegou a compreender que a sabedoria é distinta de todas as coisas.
110) Não seria melhor para os homens, se lhes acontecesse tudo o que desejam.
111) A doença torna a saúde agradável; o mal, o bem; a fome, a saciedade; a fadiga, o repouso.
112) O bem pensar é a mais alta virtude; e a sabedoria consiste em dizer a verdade e em agir conforme a natureza, ouvindo a sua voz.
113) O pensamento é comum a todos.
114) Os que falam com inteligência devem apoiar-se sobre o comum a todos, como uma cidade sobre as suas leis, e mesmo muito mais. Pois todas as leis humanas nutrem-se de uma única lei divina. Esta domina, tanto quanto quer; basta a todos (e a tudo) e ainda os ultrapassa.
115) À alma pertence o Logos, que se aumenta a si próprio.
116) A todos os homens é permitido o conhecimento de si mesmos e o pensamento correto.
117) O homem ébrio titubeia e se deixa conduzir por uma criança, sem saber para onde vai; pois úmida está a sua alma.
118) Brilho seco: alma mais sábia e melhor.
119) O caráter é o destino (daimon) de cada homem.
120) Términos da aurora e da noite: a Ursa e, ao lado oposto à Ursa, o Guardião de Zeus, resplandecente.
121) Os efésios deveriam todos enforcar-se, e suas crianças deveriam abandonar a cidade, pois expulsaram a Hermodoro, o mais valoroso dentre eles, dizendo: “Ninguém dentre nós deve ser o mais valoroso; senão, (que viva) em outro lugar e com outros”.
123) A natureza ama esconder-se.
124) A mais bela harmonia cósmica é semelhante a um monte de coisas atiradas.
125) Mesmo uma bebida se decompõe, se não for agitada.
125a) Que vossa riqueza, efésios, jamais se esgote, para que se manifeste a vossa maldade.
126) O frio torna-se quente, o quente frio, o úmido seco e o seco úmido.
fontes:
Lázaro Curvêlo Chaves
http://www.culturabrasil.pro.br/
http://www.cosmovisions.com/
Bibliografia:
Heráclito, o Pensador do Logos – Orsely Guimarães – Cadernos do ICHF – julho de 1989
Os Filósofos Pré-Socráticos – Gerd Borheim (org.) – Ed. Cultrix
Pré-Socráticos – Coleção “Os Pensadores” – Abril Cultural.