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sábado, 31 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
INTRODUÇÃO GERAL: Filosofia e Filósofos da Grécia ANTIGA
ARISTÓTELES
Foi mais realista do que Principal obra política: A Política, dividido em oito livros: 1º: trata da origem do Estado; 2º: critica as teorias anteriores, em especial Platão; 3º e 4º: dedicados à descrição das formas de governo; 5º: trata das mudanças das constituições; 6º: estuda as várias formas de democracia e de oligarquia; 7º e 8º: tratam das melhores formas de constituição.
O homem é um animal social, portanto necessita viver em comunidade; Logos: Razão, Linguagem; Sociedade: associação; 1.família (fim próprio)
2.aldeia (fim próprio),
3.cidade-estado (fim comum);
O Estado é a sociedade política organizada;
O cidadão (todo homem livre) é definido pela faculdade de participar em lugares públicos, onde acontece o debate sobre a polis; O cidadão participa do poder deliberativo e judicial. Na sua obra A Política, o autor, que é o criador do holismo, procura justificar a propriedade privada, a família e a escravidão. Também é em sua obra A Política que Aristóteles anuncia que o homem é um animal social, zoon politikon Formas de governo: Boas / ideais; Ruins/degenerações: 1 Monarquia 2 Tirania 3 Aristocracia 4 Oligarquia 5 República/Politéia 6 Democracia.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA DE ARISTÓTELES O critério é o interesse comum e o interesse pessoal; A vida política não se separa da vida ética = vida comunitária; O objetivo da política é a vida = viver bem (euzen); A vida superior só existe na cidade justa, é preciso buscar a melhor política para a cidade; Aristóteles justifica a escravidão; O Estado realiza os ideais éticos, morais e políticos do cidadão. ARISTÓTELES O Estado prepara o cidadão para a virtude; O cidadão será o homem corajoso, moderado, liberal, magnânimo, praticando a justiça, observando a equidade, comportando-se como perfeito amigo,em suma, o homem do “bom e belo”. A favor da propriedade privada; O Estado é o conjunto dos cidadãos, o governo é o conjunto de pessoas que ordenam e regulam a vida do Estado e excedem o poder.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
No calendário de 2012, 15 de novembro será o dia de lembrarmos a FILOSOFIA de maneira muito especial!
O QUE É A UNESCO? É um organismo especializado do sistema das Nações Unidas. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) fundou-se a 4 de Novembro de 1945 com o objectivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações. Dedica-se, entre outras tarefas, a orientar os povos numa gestão mais eficaz do seu próprio desenvolvimento através dos recursos naturais e dos valores culturais, com a finalidade de obter o maior proveito possível da modernização, sem que por isso se percam a identidade e diversidade culturais. Na educação, este organismo atribui prioridade ao êxito da educação elementar adaptada às necessidades actuais. Colabora, entre outros, com a formação de docentes e administradores educacionais e dá alento à construção de escolas e à dotação de equipamento necessário para o seu funcionamento. As actividades culturais procuram a salvaguarda do património cultural mediante o estímulo da criação e a criatividade e a preservação das entidades culturais e tradições orais, assim como a promoção dos livros e a leitura. Em matéria de informação, a UNESCO promove a livre circulação de ideias por meios audiovisuais, fomenta a liberdade de imprensa e a independência, o pluralismo e a diversidade dos meios de informação, através do Programa Internacional para a Promoção da Comunicação. Tem a sua sede em Paris, França. Seu principal objetivo é reduzir o analfabetismo no mundo.Para isso a UNESCO financia a formação de professores, uma de suas atividades mais antigas, e cria escolas em regiões de refugiados. Na área de ciência e tecnologia, promoveu pesquisas para orientar a exploração dos recursos naturais. Outros programas importantes são os de proteção dos patrimônios culturais e naturais além do desenvolvimento dos meios de comunicação. A UNESCO criou o World Heritage Centre para coordenar a preservação e a restauração dos patrimônios históricos da humanidade, com atuação em 112 países.
Leitura de Textos Filosóficos: O que é isso - A Filosofia?
Este texto é o que chamo de conteúdo formidável e oportuno. Uma resenha muito bem elaborada, ocupando-se do essencial sobre a dicussão em questão: O que é a Filosofia? O texto que segue é o primeiro de uma série de outros clássicos com os quais meus alunos (as) entrarão em contato no decorrer de nossos estudos de filosofia. Beber nas fontes da Filosofia robustece nosso FILOSOFAR. Aliás, o texto trata justamente desta relação de cumplicidade entre FILÓSOFO-FILOSOFIA-FILOSOFAR. O texto que segue, além de contemplar a atividade Leitura de Textos Filosóficos pode ser aplicado e também fundamentar um painel filosófico. Em breve este post será atualizado já com o esquema do professor feito a partir do texto e outros subsídios para enriquecer ainda mais nossa leitura. Confira o texto, leia-o com cuidado e faça investigação filosófica, relacione-o com outros textos já conhecidos por você. Bom trabalho.
Por isso devemos tentar determinar mais exatamente a questão. Desta maneira, levaremos o diálogo para uma direção segura. Procedendo assim, o diálogo é conduzido a um caminho. Digo: a um caminho. Assim concedemos que este não é o único caminho. Deve ficar mesmo em aberto se o caminho para o qual desejaria chamar a atenção, no que segue, é na verdade um caminho que nos permite levantar a questão e respondê-la”.
Assim enceta Heidegger suas elucubrações sobre o tema: que é isso, a Filosofia? Essas são suas palavras iniciais, literalmente aqui replicadas porque se mostram fundamentais para se captar a pretensão do autor, ou seja, indicar um caminho de abordagem ao tema do que vem a ser a Filosofia.
O autor prossegue questionando a própria suposição se seremos capazes de encontrar um caminho para responder à questão, porque no momento em que perguntamos: Que é isto — a filosofia?, falamos, obviamente, sobre a filosofia e, perguntando desta maneira, localizamo-nos num ponto acima da filosofia, e isto quer dizer, fora dela. Porém, a meta de nossa questão é penetrar na filosofia, submeter nosso comportamento às suas leis, quer dizer, ‘filosofar’. O caminho de nossa discussão deve ter por isso não apenas uma direção bem clara, mas esta direção deve, ao mesmo tempo, oferecer-nos também a garantia de que nos movemos no âmbito da filosofia, e não fora e em torno dela.
Na tentativa de delimitar seu objeto de estudo, prossegue Heidegger defendendo que a Filosofia não é apenas algo que pertence ao âmbito da racionalidade, mas que é a própria guarda da razão. Observa, todavia, que afirmar que a Filosofia é a guarda da razão não nos leva muito longe, porque nos cabe agora responder: que é isso, a razão? Onde e por quem foi decidido o que é a razão?
Se aquilo que se apresenta como ratio foi primeiramente e apenas fixado pela filosofia e na marcha de sua história, então não é de bom alvitre tratar a priori a filosofia como negócio da ratio. Todavia, tão logo pomos em suspeição a caracterização da filosofia como um comportamento racional, torna-se, da mesma maneira, também duvidoso se a filosofia pertence à esfera do irracional.
É relevante observar um ponto: se, por um lado, é problemático tomarmos a filosofia como algo racional a priori, determiná-la como algo irracional é, novamente, tomar o racional como padrão e pressupor como óbvio o que seja a razão.
Se, por outro lado, apontamos para a possibilidade de que aquilo a que a filosofia se refere concerne a nós homens em nosso ser e nos toca, então pode ser que esta maneira de ser afetado não tenha absolutamente nada a ver com aquilo que comumente se designa como afetos e sentimentos, em resumo, o irracional.
O autor conclui que do que foi dito até então, deduzimos inicialmente apenas isto: é necessário maior cuidado se ousamos inaugurar um encontro com o título: Que é isto — A Filosofia?
Ele escolhe partir da origem grega do termo, não por motivo vão, mas porque, segundo ele, essa origem nos traz peculiaridades absolutamente relevantes e reveladoras:
A palavra philosophía diz-nos que a filosofia é algo que, pela primeira vez, e antes de tudo, vinca a existência do mundo grego. Não só isto — a philosophía determina também a linha mestra de nossa história ocidental-européia. A batida expressão “filosofia ocidental-européia” é, na verdade, uma tautologia. Por quê? Porque a "filosofia" é grega em sua essência — e grego aqui significa: a filosofia é nas origens de sua essência de tal natureza que ela primeiro se apoderou do mundo grego e só dele, usando-o para se desenvolver.
A frase: a filosofia é grega em sua essência, não diz outra coisa que: o Ocidente e a Europa, e somente eles, são, na marcha mais íntima de sua história, originariamente “filosóficos”. Isto é atestado pelo surto e domínio das ciências. Pelo fato de elas brotarem da marcha mais íntima da história ocidental-européia, o que vale dizer do processo da filosofia, são elas capazes de marcar hoje, com seu cunho específico, a história da humanidade pelo orbe terrestre.
A tradição designada pelo nome grego philosophía, tradição nomeada pela palavra historial philosophía, mostra-nos a direção de um caminho. Ela não nos entrega à prisão do passado e irrevogável. Transmitir, delivrer é um libertar para a liberdade do diálogo com o que foi e continua sendo. Se estivermos verdadeiramente atentos à palavra e meditarmos o que ouvimos, o nome “filosofia” nos convoca para penetrarmos na história da origem grega da filosofia. A palavra philosophía está, de certa maneira, na certidão de nascimento de nossa própria história; podemos mesmo dizer: ela está na certidão de nascimento da atual época da história universal que se chama era atômica. Por isso somente podemos levantar a questão: Que é isto — a filosofia?, se começamos um diálogo com o pensamento do mundo grego. Porém, não apenas aquilo que está em questão, a filosofia, é grego em sua origem, mas também a maneira como perguntamos, mesmo a nossa maneira atual de questionar ainda é grega.
Perguntamos: que é isto...? Em grego isto é: ti estin. A questão relativa ao que algo seja permanece, todavia, multívoca. Podemos perguntar, por exemplo: que é aquilo lá longe? Obtemos então a resposta: uma árvore. A resposta consiste em darmos o nome a uma coisa que não conhecemos exatamente.
Podemos, entretanto, questionar mais: que é aquilo que designamos “árvore"? Com a questão agora posta avançamos para a proximidade do ti estin grego. É aquela forma de questionar desenvolvida por Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes perguntam, por exemplo: Que é isto — o belo? Que é isto — o conhecimento? Que é isto — a natureza? Que é isto — o movimento?
Agora, porém, devemos prestar atenção para o fato de que nas questões acima não se procura apenas uma delimitação mais exata do que é natureza, movimento, beleza; mas é preciso cuidar para que ao mesmo tempo se dê uma explicação sobre o que significa o “que”, em que sentido se deve compreender o ti. Aquilo que o ‘que’ significa se designa o quid est, tò quid: a quidditas, a qüididade. Entretanto, a quidditas se determina diversamente nas diversas épocas da filosofia. Assim, por exemplo, a filosofia de Platão é uma interpretação característica daquilo que quer dizer o ti. Ele significa precisamente a idéia. O fato de nós, quando perguntamos pelo ti, pelo quid, nos referimos à “idéia” não é absolutamente evidente. Aristóteles dá uma outra explicação do ti que Platão. Outra ainda dá Kant e também Hegel explica o tí de modo diferente. Sempre se deve determinar novamente aquilo que é questionado através do fio condutor que representa o ti, o quid, o “que”. Em todo caso: quando, referindo-nos à filosofia, perguntamos: que é isto?, levantamos uma questão originariamente grega.
Notemos bem: tanto o tema de nossa interrogação: “a filosofia”, como o modo como perguntamos: “que é isto...?” — ambos permanecem gregos em sua proveniência. Nós mesmos fazemos parte desta origem, mesmo então quando nem chegamos a dizer a palavra “filosofia”. Somos propriamente chamados de volta para esta origem, reclamados para ela e por ela, tão logo pronunciemos a pergunta: Que é isto — a filosofia? não apenas em seu sentido literal, mas meditando seu sentido profundo.
Se penetrarmos no sentido pleno e originário da questão: Que é isto — a filosofia? então nosso questionar encontrou, em sua proveniência historial, uma direção para nosso futuro historial. Encontramos um caminho. A questão mesma é um caminho. Ele conduz da existência própria ao mundo grego até nós, quando não para além de nós mesmos. Estamos — se perseverarmos na questão — a caminho, num caminho claramente orientado. Já desde há muito tempo costuma-se caracterizar a pergunta pelo que algo é, como a questão da essência. A questão da essência torna-se mais viva quando aquilo por cuja essência se interroga, se obscurece e confunde, quando ao mesmo tempo a relação do homem para com o que é questionado se mostra vacilante e abalada.
A questão de nosso encontro refere-se à essência da filosofia. Ela procura o que é o ente enquanto é. A filosofia está a caminho do ser do ente, quer dizer, a caminho do ente sob o ponto de vista do ser.
E por isso que a filosofia é epistéme theoretiké. Mas que é isto que ela perscruta?
Aristóteles di-lo, fazendo referência às pròtai arkhai kai aitíai. Costuma-se traduzir: “as primeiras razões e causas” — a saber, do ente. As primeiras razões e causas constituem assim o ser do ente. Após dois milênios e meio me parece que teria chegado o tempo de considerar o que afinal tem o ser do ente a ver com coisas tais como “razão” e “causa”. Em que sentido é pensado o ser para que coisas tais como “razão” e “causa” sejam apropriadas para caracterizarem e assumirem o sendo-ser do ente?
A citada afirmação de Aristóteles diz-nos para onde está a caminho aquilo que se chama, desde Platão, “filosofia”. A afirmação nos informa sobre isto que é — a filosofia. A filosofia é uma espécie de competência capaz de perscrutar o ente, a saber, sob o ponto de vista do que ele é, enquanto é ente.
Mas a afirmação de Aristóteles sobre o que é a filosofia não pode ser absolutamente a única resposta à nossa questão. No melhor dos casos, é ela uma resposta entre muitas outras. Com o auxilio da caracterização aristotélica de filosofia pode-se evidentemente representar e explicar tanto o pensamento antes de Aristóteles e Platão quanto a filosofia posterior a Aristóteles. Entretanto, facilmente se pode apontar para o fato de que a filosofia mesma, e a maneira como ela concebe sua essência, passou por várias transformações nos dois milênios que seguiram o Estagirita. Quem ousaria negá-lo? Mas não podemos passar por alto o fato de a filosofia de Aristóteles e Nietzsche permanecer a mesma, precisamente na base destas transformações e através delas. Pois as transformações são a garantia para o parentesco no mesmo.
De nenhum modo afirmamos com isto que a definição aristotélica de filosofia tenha valor absoluto. Pois ela é já em meio à história do pensamento grego uma determinada explicação daquele pensamento e do que lhe foi dado como tarefa. A definição aristotélica de filosofia certamente é livre continuação da aurora do pensamento e seu encerramento. Digo livre continuação porque de maneira alguma pode ser demonstrado que as filosofias tomadas isoladamente e as épocas da filosofia brotam uma das outras no sentido da necessidade de um processo dialético.
Do que foi dito, que resulta para nossa tentativa de, num encontro, tratarmos a questão: Que é isto — a filosofia? Primeiramente um ponto: não podemos ater-nos apenas à definição de Aristóteles. Disto deduzimos o outro ponto: devemos ocupar-nos das primeiras e posteriores definições de filosofia.
A resposta somente pode ser uma resposta filosofante, uma resposta que enquanto resposta filosofa por ela mesma.
Quando é que a resposta à questão: Que é isto — a filosofia? é uma resposta filosofante? Quando filosofamos nós? Manifestamente apenas então - quando entramos em diálogo com os filósofos. Disto faz parte que discutamos com eles aquilo de que falam. Este debate em comum sobre aquilo que sempre de novo, enquanto o mesmo, é tarefa específica dos filósofos, é o falar, o légein no sentido do dialégesthai, o falar como diálogo. Se e quando o diálogo é necessariamente uma dialética, isto deixamos em aberto.
Supondo, portanto, que os filósofos são interpelados pelo ser do ente para que digam o que o ente é, enquanto é, então também nosso diálogo com os filósofos deve ser interpelado pelo ser do ente.
O ente enquanto tal dis-põe de tal maneira o falar que o dizer se harmoniza (accorder) com o ser do ente.
Para Platão e Aristóteles, o espanto é a dis-posição (1) na qual e para a qual o ser do ente se abre, o espanto é a dis-posição em meio à qual estava garantida para os filósofos gregos a correspondência ao ser do ente.
De bem outra espécie é aquela dis-posição que levou o pensamento a colocar a questão tradicional do que seja o ente enquanto é, de um modo novo, e a começar assim uma nova época da filosofia. Descartes, em suas meditações, não pergunta apenas e em primeiro lugar ti tò ón — que é o ente, enquanto é?
Descartes pergunta: qual é aquele ente que no sentido do ens certum é o ente verdadeiro? Para Descartes, entretanto, se transformou a essência da certitudo.
Para Descartes, aquilo que verdadeiramente é se mede de uma outra maneira. Para ele a dúvida se torna aquela dis-posição em que vibra o acordo com o ens certum, o ente que é com toda certeza. A certitudo torna-se aquela fixação do ens qua ens, que resulta da indubitabilidade do cogito (ergo) sum para o ego do homem. Assim, o ego se transforma no sub-iectum por excelência, e, desta maneira, a essência do homem penetra pela primeira vez na esfera da subjetividade no sentido da egoidade. Do acordo com esta certitudo recebe o dizer de Descartes a determinação de um clare et distincte percipere. A dis-posição afetiva da dúvida é o positivo acordo com a certeza. Daí em diante a certeza se torna a medida determinante da verdade. A dis-posição afetiva da confiança na absoluta certeza do conhecimento a cada momento acessível permanece o páthos e com isso a arkhé da filosofia moderna.
Mas em que consiste o télos, a consumação da filosofia moderna, caso disto nos seja permitido falar? É este termo determinado por uma outra dis-posição? Onde devemos nós procurar a consumação da filosofia moderna? Em Hegel ou apenas na filosofia dos últimos anos de Schelling? E que acontece com Marx e Nietzsche? Já se movimentam eles fora da órbita da filosofia moderna? Se não, como determinar seu lugar?
Parece até que levantamos apenas questões históricas. Mas na verdade meditamos o destino essencial da filosofia. Procuramos pôr-nos à escuta da voz do ser. Qual a dis-posição em que ela mergulha o pensamento atual? Uma resposta unívoca a esta pergunta é praticamente impossível. Provavelmente impera uma dis-posição afetiva fundamental. Ela, porém, permanece oculta para nós. Isto seria um sinal para o fato de que nosso pensamento atual ainda não encontrou seu claro caminho. O que encontramos são apenas dis-posições do pensamento de diversas tonalidades. Dúvida e desespero de um lado e cega prossessão por princípios, não submetidos a exame, de outro, se confrontam.
Medo e angústia misturam-se com esperança e confiança. Muitas vezes e quase por toda parte reina a idéia de que o pensamento que se guia pelo modelo da representação e cálculo puramente lógicos é absolutamente livre de qualquer dis-posição. Mas também a frieza do cálculo, também a sobriedade prosaica da planificação são sinais de um tipo de dis-posição. Não apenas isto; mesmo a razão que se mantém livre de toda influência das paixões é, enquanto razão, pré-dis-posta para a confiança na evidência lógico-matemática de seus princípios e regras. (2)
A correspondência propriamente assumida e em processo de desenvolvimento, que corresponde ao apelo do ser do ente, é a filosofia. Que é isto — a filosofia? somente aprendemos a conhecer e a saber quando experimentamos de que modo a filosofia é. Ela é ao modo da correspondência que se harmoniza e põe de acordo com a voz do ser do ente. Este co-responder é um falar. Está a serviço da linguagem. O que isto significa é de difícil compreensão para nós hoje, pois nossa representação comum da linguagem passou por um estranho processo de transformações.
Como conseqüência disso a linguagem aparece como um instrumento de expressão. (3) De acordo com isso, tem-se por mais acertado dizer que a linguagem está a serviço do pensamento em vez de: o pensamento como correspondência está a serviço da linguagem. Mas, antes de tudo, a representação atual da linguagem está tão longe quanto possível da experiência grega da linguagem. Aos gregos se manifesta a essência da linguagem como lógos.
Mas o que significa lógos e légein? Apenas hoje começamos lentamente, através de múltiplas interpretações do lógos, a descerrar para nossos olhos o véu sobre sua originária essência grega. Entretanto, nós não somos capazes nem de um dia regressar a esta essência da linguagem, nem de simplesmente assumi-la como herança. Pelo contrário, devemos entrar em diálogo com a experiência grega da linguagem como lógos. Por quê? Porque nós, sem uma suficiente reflexão sobre a linguagem, jamais sabemos verdadeiramente o que é a filosofia como a co-respondência acima assinalada, o que ela é como uma privilegiada maneira de dizer.
Agora, porém, haveria boas razões para exigir que nosso encontro se limitasse à questão que trata da filosofia. Esta restrição seria só então possível e até necessária, se do diálogo resultasse que a filosofia não é aquilo que aqui lhe atribuímos: uma correspondência, que manifesta na linguagem o apelo do ser do ente.
Com outras palavras: nosso encontro não se propõe a tarefa de desenvolver um programa fixo. Mas ele quisera ser um esforço de preparar todos os participantes para um recolhimento em que sejamos interpelados por aquilo que designamos o ser do ente. Nomeando isto, pensamos no que já Aristóteles diz: Tò òn légetai pollakhõs.
“O sendo-ser torna-se, de múltiplos modos, fenômeno”.
NOTAS
1. Dis-posição (Stimmung) é um originário modo de ser do ser-aí, vinculado ao sentimento de situação (Befindlichkeit) que acompanha a derelicção (Geworfenheift). Pela dis-posição (que nada tem a ver com tonalidades psicológicas) o ser-no-mundo é radicalmente aberto. Esta abertura antecede o conhecer e o querer e é condição de possibilidade de qualquer orientar-se para próprio da intencionalidade (veja -se Ser e Tempo, § 29). Jogando com a riqueza semântica das derivações de Stimmung: bestimmt, gestimmt, abstirnmen, Ges!imnitheit, Bestimmtheit, Heidegger procura tornar claro como esta disposição é uma abertura que determina a correspondência ao ser, na medida em que é instaurada pela voz (Stimme) do ser. O filósofo toca aqui nas raízes do comportamento filosófico, da atitude originalmente do filosofar. (N. do T.).
2. Já em Ser e Tempo (§ 29) se alude à dis-posição que acompanha a teoria e se afirma que “o conhecimento ávido por determinações lógicas se enraíza ontológica e existencialmente no sentido de situação, característico do ser-no-mundo (p. 138). Apontando para o fato de que a própria razão está pre-dis-posta para confiar na evidência lógico-matemática de seus princípios e regras, Heidegger fere um tabu que os sucessos da técnica ainda mais sacralizam. Mas, desde que Habermas, em seu livro Conhecimento e Interesse (Ed. Shurkamp, Frankfurt a. M. 1968), mostrou que atrás de todo conhecimento existe o interesse que o dirige, que a teoria quanto mais pura se quer mais se ideologiza, pode-se descobrir, nas afirmações de Heidegger, uma antecipação das razões ontológico-existenciais da mistura do conhecimento e interesse. Não há conhecimento imune ao processo de ideologização; dele não escapa nem mesmo o conhecimento científico, por mais exato, rigoroso e neutro que se proclame. (N. do T.).
3. A crítica da instrumentalização da linguagem visa a proteger o sentido, a dimensão conotadora e simbólica, contra a redução da linguagem ao nível da denotação, do simplesmente operativo. Não se trata apenas de salvar a mensagem lingüística da ameaça da pura semioticidade. O filósofo descobre na linguagem o poder do lógos, do dizer como processo apofântico; entrevê na linguagem a casa do ser, onde o homem mora nas raízes do humano. Em Heidegger, uma ontologia já impossível é substituída pela critica da linguagem, numa antecipação da moderna analítica da linguagem. (N. do T.).
Publicado em filopararanavai 2012
Utilizada a Versão eletrônica do livro “Que é isto – A Filosofia? (Qu’est-ce que la Philosophie?)”. Tradução e notas: Ernildo Stein
Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia)
Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/
Também podem ser citadas "Da Essência da Verdade" (1943), "Introdução à Metafísica" (1953), "Da Experiência de Pensar" (1954), "O que é isto, a Filosofia?" (1956), "Da Pergunta sobre o Ser" (1956), "O Princípio da Razão" (1956), "Identidade e Diferença (1957), "A Caminho da Linguagem" (1959), "Língua e Pátria" (1960), "Nietzsche" (1961), "A Pergunta sobre a Coisa" (1962), "Tese de Kant sobre o Ser" (1962), "Marcos do Caminho" (1967), "Sobre o Assunto Pensamento" (1969), "Fenomenologia e Teologia" (1970), "Heráclito" (1970).
Sugestão de LINKS para Primeira Série _ Teoria do Conhecimento: Correntes Filosóficas
DICAS DE SITES
PARA DESENVOLVIMENTO DE PESQUISA
CONTEÚDOS ORIENTADOS PARA AS PRIMEIRAS SÉRIES
TEORIA DO CONHECIMENTO:
AS CORRENTES FILOSÓFICAS
1. A CORRENTE FILOSÓFICA DO RELATIVISMO
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1.1 O relativismo na concepção de Protágoras
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2. A Corrente Filosófica do Dogmatismo
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2.1 O Dogmatismo Segundo a concepção de Kant
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3. A Corrente Filosófica do Ceticismo
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3.1 O Ceticismo na concepção de Montaigne
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4. A Corrente Filosófica do Racionalismo
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4.1 O Racionalismo na Concepção de Descartes
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5. A Corrente Filosófica do Empirismo
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5. O Empirismo na Concepção de LOCKE
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6. A Corrente Filosófica do Criticismo
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6.1 O Criticismo na concepção de Kant
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Filoparanavaí 2012
O que é a FILOSOFIA? BERTRAND RUSSEL e sua concepção de Filosofia
“A filosofia, conforme (...) a palavra, é algo intermediário entre a teologia e a ciência. Como a teologia, consiste de especulações sobre assuntos a que o conhecimento exato não conseguiu até agora chegar, mas, como ciência, apela mais à razão humana do que à autoridade, seja esta a da tradição ou a da revelação. Todo conhecimento definido (...) pertence à ciência; e todo dogma quanto ao que ultrapassa o conhecimento definido, pertence à teologia. Mas entre a teologia e a ciência existe uma Terra de Ninguém, exposta aos ataques de ambos os campos: essa Terra de Ninguém é a filosofia. Quase todas as questões do máximo interesse para os espíritos especulativos são de tal índole que a ciência não as pode responder, e as respostas confiantes dos teólogos já não nos parecem tão convincentes como o eram nos séculos passados. Acha-se o mundo dividido em espírito e matéria? E, supondo-se que assim seja, que é espírito e que é matéria? Acha-se o espírito sujeito à matéria, ou é ele dotado de forças independentes? Possui o universo alguma unidade ou propósito? Está ele evoluindo rumo a alguma finalidade? Existem realmente leis da natureza, ou acreditamos nelas devido unicamente ao nosso amor inato pela ordem? é o homem o que ele parece ser ao astrônomo, isto é, um minúsculo conjunto de carbono e água a rastejar, impotentemente, sobre um pequeno planeta sem importância? Ou é ele o que parece ser a Hamlet? Acaso é ele, ao mesmo tempo, ambas as coisas? Existe uma maneira de viver que seja nobre e uma outra que seja baixa, ou todas as maneiras de viver são simplesmente inúteis? Se há um modo de vida nobre, em que consiste ele, e de que maneira realizá-lo? Deve o bem ser eterno, para merecer o valor que lhe atribuímos, ou vale a pena procurá-lo, mesmo que o universo se mova, inexoravelmente, para a morte? Existe a sabedoria, ou aquilo que nos parece tal não passa do último refinamento da loucura Tais questões não encontram resposta no laboratório. As teologias têm pretendido dar respostas, todas elas demasiado concludentes, mas a sua própria segurança faz com que o espírito moderno as encare com suspeita. 0 estudo de tais questões, mesmo que não se resolva esses problemas, constitui o empenho da filosofia(...).”
Fragmento Filosófico selecionado a partir da obra: RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental. Rio de Janeiro: Cia. Editora Nacional, 1977
Dados biográficos do Filósofo: Bertrand Arthur William RUSSEL. Nasceu: 18 de Maio de 1872 em Ravenscroft, Trelleck, Monmouthshire, Wales. Morreu: 2 de Fevereiro de 1970 em Penrhyndeudraeth, Merioneth, Wales. A vida de Bertrand Russell abrange um período enorme, quase um século, estendendo-se da Inglaterra Vitoriana à era Espacial. Como o próprio Bertrand Russell costumava dizer, ele é uma espécie de relíquia vitoriana... O fascínio que Russell exerceu sobre o público dependeu de numerosos factores. Para além da sua longevidade, há muitas outras facetas que o tornam único. Grande matemático e filósofo, apóstolo da paz e discutida figura política, Bertrand Russel alcançou um enorme prestígio mundial. Era o nonagenário que cativava os mais novos e inspirava os mais velhos; o aristocrata que desprezava a Câmara dos Lordes e se arriscava a ser preso; o anarquista por temperamento que desafiava o poder constituído; o ateu que traçou armas contra o dogma religioso e a moral convencional; o matemático e lógico cujas equações destronaram Euclides; o filósofo que procurou tornar a filosofia acessível aos leigos; finalmente, o galardoado com o Prêmio Nobel da Literatura, cuja elegância de estilo, agudeza de ironia e destreza mental remontam a uma época em que se cultivava a arte de conversar e de escrever cartas.
domingo, 25 de dezembro de 2011
Noam Chomsky: Quem é o dono do mundo?
SÓCRATES, "Só sei que nada sei..." A Filosofia não precisa de apologia
Sócrates
Biografia deste importante filósofo da Grécia Antiga, considerado o ícone da Filosofia Ocidental
Organizado pelo professor Lucio LOPES para subsidiar os alunos da Primeira Série
Sócrates - (470-399 a.C) São consideradas três fontes primárias acerca da biografia de Sócrates: os autores Xenofonte (Ditos e feitos memoráveis de Sócrates e Apologia de Sócrates), Aristófanes (As Nuvens) e Platão, em seus Diálogos. Não deixou nada escrito, e o retrato de sua pessoa diverge consideravelmente nos três autores. Na comédia de Aristóteles, Sócrates aparece sem nenhum glamour.
Já em Platão ele é eleito o pai da doutrina da Academia, tornando-se seu porta-voz e muitas vezes se afastando do Sócrates histórico. Os primeiros diálogos de Platão, ditos aporéticos, são considerados os documentos mais próximos do Sócrates histórico. Era Ateniense, filho de uma parteira chamada Fenarete e de um escultor, chamado Sofronisco. Recebeu uma educação tradicional, estudando a obra de Homero (A Ilíada e A Odisséia, que contam, como vocês sabem, a história da guerra de Tróia entre gregos contra os troianos, e o retorno do herói Ulisses para sua terra natal . São de caráter épico. Muitos chegaram a duvidar da existência de Homero, ou disseram que ele seria só um coletor de contos do folclore popular, e não o legítimo autor.) Desde a juventude interessou-se pela filosofia, e conhecia o pensamento anterior e contemporâneo dos filósofos gregos. É lendário seu interesse pela conversa em locais públicos, fazia muitas andanças conversando nas praças, mercados e ginásios de sua cidade. Participou do movimento de renovação da cultura e foi um educador popular, já que não cobrava por suas preleções, como os sofistas.
“(…) Ele se levantou e se dirigiu ao banheiro com Críton, que nos pediu que esperássemos, e esperamos, conversando e pensando (…) na grandeza de nossa dor. Ele era como um pai do qual estávamos sendo privados, e estamos prestes a passar o resto da vida orfãos. (…) A hora do pôr do sol estava próxima, pois ele tinha passado um longo tempo no banheiro .(…) Pouco depois, o carcereiro entrou e se postou perto dele, dizendo:
Sócrates olhou para ele e disse:
- Retribuo tua saudação, e farei como pedes.- E então, voltando-se para nós disse:- Como é fascinante esse homem; desde que fui preso, ele tem vindo sempre me ver,e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas devemos fazer o que ele diz; Críton, que tragam a taça, se o veneno estiver preparado.(…)
Críton, ao ouvir isso fez um sinal para o criado, o criado foi até lá dentro, onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carceireiro trazendo a taça de veneno. Sócrates disse:
-Tu, meu bom amigo, que tem expêriencias nesses assuntos, irá me dizer como devo fazer.
O homem repondeu:
- Basta caminhar de um lado para outro, até que tuas pernas fiquem pesadas., depois deita-te e o veneno agirá.-Ao mesmo tempo estendeu a taça a Sócrates, (..) que segurou-a (…)
E então levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno.
Até aquele instante a maioria de nós conseguira segurar a dor; mas agora, vendo-o beber e vendo, também que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos conter; apesar de meus esforços, lágrimas corriam aos borbotões. (…) Apolodoro, que estivera soluçando o tempo todo, irorrompeu num choro alto que transformou-nos a todos em covardes. (…)
E então, o próprio Sócrates apalpou as pernas e disse:
-Quando chegar ao coração, será o fim.- (…) e disse aquelas que seriam as suas últimas palavras:
- Críton, eu devo um galo a Esculápio, vais lembrar de pagar a dívida?
-A dívida será paga - disse Críton. (…) Foi esse o fim de nosso amigo, a quem posso chamar sinceramente de o mais sábio, mais justo e melhor de todos que conheci. ”
OUTRO RESUMO/Sócrates
Texto complementar de filosofia / Prof. Lucio
Sócrates nasceu em Atenas, em 470 a.C., e se tornou uma das maiores figuras da filosofia ocidental. Ao contrário de outros filósofos, Sócrates realizava seus trabalhos em locais públicos de maneira simplificada e descontraída, de forma que todas as pessoas pudessem compreender. Segundo Platão, seu principal aluno, Sócrates não objetivava reunir discípulos e sim educar a maior parte dos residentes em Atenas. Como se dedicava às pessoas, não deixou nenhum pensamento escrito, tudo o que se sabe a seu respeito foi escrito por pessoas que o conheciam.
Sócrates " _ Animai-vos _ disse ele aos amigos que se mostravam tristes _ e dizei que estão enterrando apenas o meu corpo."
Texto de DURANT, Will. A história da filosofia. Rio de Janeiro: Record, 2000. pp.30-32.
Podemos dizer que a filosofia em suas origens na Grécia antiga passou por três momentos distintos: o primeiro momento foi aquele do rompimento com o conhecimento "convencional" estabelecido em Atenas: o cohecimento mitológico. A primeira missão dos filósofos chamados COSMOLOGISTAS ou FÍSICOS foi exatamente oferecer novas explicações para as questões existenciais acerca do COSMO.
Quadro de David (1787), “A morte de Sócrates”.
"(...) Somos privilegiados por podermos ler aquela simples e corajosa (senão legendária) "apologia", ou defesa, na qual o primeiro mártir da filosofia proclamou os direitos e a necessidade de livre pensamento, sustentou seu valor pessoal para o Estado e recusou-se a pedir clemência à multidão que ele sempre desprezara. Ela detinha poderes para perdoá-lo; ele desdenhou de fazer o apelo. Foi uma singular confirmação de suas teorias o fato de os juízes quererem pô-lo em liberdade, enquanto a multidão irada votava pela sua morte. Não tinha ele negado os deuses? Maldito aquele que ensinava aos homens mais depressa do que eles podem aprender. Por isso, decretaram que ele deveria tomar cicuta. Seus amigos dirigiram-se à prisão onde ele se achava e lhe ofereceram uma fuga fácil: haviam subornado todos os funcionários que se achavam entre ele e a liberdade. Ele se recusou. Estava com setenta anos de idade agora (399 a.C.); talvez achasse que estava na hora de morrer, e que nunca teria nova oportunidade de morrer de forma tão proveitosa. _ Animai-vos _ disse ele aos amigos que se mostravam tristes _ e dizei que estão enterrando apenas o meu corpo. "Ao acabar de proferir aquelas palavras", diz Platão em uma das grandes passagens da literatura mundial (Fédon, 116-118, na tradução inglesa de Jowett):
ele se levantou e se dirigiu ao banheiro com Críton, que nos pediu que esperássemos; e esperamos, conversando e pensando (...) na grandeza de nossa dor. Ele era como um pai do qual estávamos sendo privados, e estamos prestes a passar o resto da vida órfãos. (...) A hora de pôr-do-sol estava próxima, pois já se passara um longo tempo desde que ele entrara no banheiro. Quando saiu, tornou-se a sentar-se conosco (...), mas não se falou muito. Pouco depois, o carcereiro (...) entrou e postou perto dele, dizendo: _ A ti, Sócrates, que reconheço ser o mais nobre, o mais dedicado e o melhor de todos o que já vieram para cá, não irei atribuir os sentimentos de raiva de outros homens, que se enfureceram e praguejam contra mim quando, em obediência às autoridades, lhes mando beber o veneno... de fato, estou certo de que não ficarás zangado comigo; porque como sabes, são outros, e não eu, os culpados disso. E assim eu te saúdo, e peço que suportes sem amargura aquilo que precisa ser feito; sabes qual é a minha missão. _ E caindo em prantos, voltou-se e retirou-se. Sócrates olhou para ele e disse: _ Retribuo tua saudação, e farei como me pede. _ E então, voltando-se para nós, disse: _ Como é facisnante este homem; desde que fui preso, ele tem vindo sempre me ver, e agora vede a generosidade com que lamenta a minha sorte. Mas devemos fazer o que ele diz, Críton; que tragam a taça, se o veneno estiver preparado; se não estiver, que o encarregado o prepare. _ No entanto _ disse Críton _, o sol ainda se encontra no topo das montanhas, e vários têm tomado a bebida tarde da noite. E depois de feita a comunicação, têm comido, bebido e se dedicado aos prazeres da carne; não te apresse, pois; ainda há tempo. Sócrates disse: _ Sim, Críton, e esses de quem falas estão certos ao fazerem isso, porque pensam que vão lucrar com a demora. Mas tenho razão ao não fazê-lo, porque acho que não iria ganhar coisa alguma por beber um pouco mais tarde; estaria poupando e salvando uma vida que já se acabou, só me caberia rir de mim mesmo por causa disso. Peço-te, pois, que faças o que digo, e não te recuses. Críton, ao ouvir isso, fez um sinal para o criado; o criado foi até lá dentro, onde se demorou algum tempo; depois voltou com o carcereiro trazendo a taça de veneno. Sócrates disse: _ Tu, meu bom amigo, que tens experiência nesses assuntos, irás me dizer como devo fazer. O homem respondeu: _ Basta caminhar de um lado para o outro, até que tuas pernas fiquem pesadas; depois, deita-te, e o veneno agirá. _ Ao mesmo tempo, estendeu a taça a Sócrates, que, com a maior naturalidade e elegância, sem o menor medo ou sem a menor mudança de cor ou de fisionomia, olhando fixamente para o homem, como era seu costume, segurou-a e disse: _ O que achas de uma libação a um deus qualquer, derramando um pouco desta bebida? Posso, ou não posso? O homem respondeu: _ Nós só preparamos, Sócrates, a quantidade que achamos necessária. _ Compreendo _ disse ele. _ No entanto, posso e devo rezar aos deuses para que protejam minha viagem deste para o outro mundo; que isto, então, que é minha oração, me seja concedido. _ E então, levando a taça aos lábios, bebeu rápida e decididamente o veneno. Até aquele instante, a maioria de nós conseguia controlar a dor; mas agora, vendo-o beber e vendo, também, que ele tomara toda a bebida, não pudemos mais nos conter; apesar de meus esforços, lágrimas corriam aos borbotões. Cobri o rosto e chorei por mim mesmo; pois não havia dúvida de que não estava chorando por ele, mas por pensar na calamidade de ter perdido tal companheiro. E não fui o primeiro, pois Críton, quando se vira incapaz de conter as lágrimas, levantara-se e se afastara, e eu o segui; e naquele momento, Apolodoro, que estivera soluçando o tempo todo, prorrompeu num choro alto que nos transformou todos em covardes. Sócrates foi o único a manter a calma: _ Que tumulto estranho é esse? _ disse ele _ Mandei as mulheres embora principalmente para que eleas não causassem um tumulto desses, pois ouvi dizer que um homem deve morrer em paz. Acalmai-vos, pois, e tenhais paciência. Ao ouvirmos aquilo, sentimo-nos envergonhados e contivemos as lágrimas; e ele andou de um lado para outro, até que, como nos disse, as pernas começaram a fraquejar; então ele se deitou de costas, segundo as instruções, e o homem que lhe dera o veneno examinava-lhe, de vez em quando, os pés e pernas. Depois de algum tempo, o homem apertou-lhe o pé com força e perguntou se ele sentia; ele respondeu que não. depois apertou-lhe a perna, e foi subindo, subindo, e nos mostrou que ele estava insensível e rígido. E então o próprio Sócrates apalpou as pernas e disse: _ Quando o veneno chegar ao coração, será o fim. Ele estava começando a ficar insensível na virilha, quando descobriu o rosto (pois havia se coberto) e dise _ e foram suas últimas palavras: _ Críton, eu devo um galo a Asclépio; vais te lembrar de pagar essa dívida? _ A dívida será paga _ Disse Críton. _ Mais alguma coisa? Não houve resposta àquela pergunta, mais um ou dois minutos depois ouviu-se um movimento, e o criado o descobriu; os olhos estavam parados, e Críton fechou-lhe os olhos e a boca. Foi este o fim de nosso amigo, a quem posso sinceramente chamar de o mais sábio, mais justo e melhor de todos os homens que conheci".
FONTES consultadas:
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CHAUI, Marilena, OLIVEIRA, Pérsio S. Filosofia e Sociologia. São Paulo: Ática, 2007.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber e fazer. 8 ed. São Paulo, 1993.
DELEUZE, Gille, GUATARI, Felix. O que é a Filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
DURANT, Will. A história da Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
REZENDE, Antonio e outros. Curso de Filosofia. 13. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
filoparanavaí 2012